«A construção em Portugal não tem margem de progressão»
António Araújo, prevê que o mercado internacional represente, até 2009, 50% da facturação da construtora, em parte devido ao alargamento e consolidação em mercados externos Num momento em que o sector das obras públicas atravessa uma fase complicada, o administrador para a área internacional da Empreiteiros Casais, António Araújo, fala sobre a estratégia de internacionalização… Continue reading «A construção em Portugal não tem margem de progressão»
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António Araújo, prevê que o mercado internacional represente, até 2009, 50% da facturação da construtora, em parte devido ao alargamento e consolidação em mercados externos
Num momento em que o sector das obras públicas atravessa uma fase complicada, o administrador para a área internacional da Empreiteiros Casais, António Araújo, fala sobre a estratégia de internacionalização da empresa. O mercado nacional mostra sinais de saturação e a alternativa é procurar alternativas credÃÂveis no mercado internacional.
Construir: Que balanço faz do ano de 2004 e como avalia os primeiros meses de 2005 da actividade da Empreiteiros Casais ? António Araújo: A avaliação que podemos fazer nesta altura e as perspectivas de futuro não assentam exclusivamente na análise dos anos em si. Ou seja, a Empreiteiros Casais comemorou recentemente os dez anos de internacionalização e o balanço que foi feito na altura demonstrou que o ano de 2004 foi sobretudo um ano de consolidação em novos mercados. Permitiu-nos estabelecer planos mais ambiciosos para os próximos quatro ou cinco anos. 2004 foi um ano de consolidação da área internacional e que nos deu ânimo para ampliar esta vertente na estratégia da empresa.
Essa consolidação fez-se essencialmente em que paÃÂses? No ano passado começámos a operar em Marrocos e consolidámos os paÃÂses onde já estávamos, nomeadamente Bélgica, Alemanha, Rússia e Angola. Gibraltar também já foi uma aposta para 2005.
Tem noção do peso que o mercado internacional tem para a construtora ? O sector internacional tem, no grupo, um peso de 21 por cento e na Casais de 33. O objectivo é, até ao ano de 2009, aumentar o peso da área internacional para os 50 por cento.
O que representa esta vossa intenção de fazer com que o mercado internacional represente metade do volume de negócios da empresa? Digamos que é um misto de situações. Por um lado há uma clara saturação do mercado nacional, além de que está praticamente tudo construÃÂdo. Sabemos que nos próximos anos o volume de construção vai baixar e ao nÃÂvel da habitação Portugal está servido. Em relação às chamadas grandes obras públicas, as dúvidas ainda subsistem em relação não só ao TGV como também em relação ao próprio aeroporto. O sector da construção em Portugal não tem margem de progressão. Note-se também o numero de empresas de construção que existem no paÃÂs e veja-se se há mercado que consiga evoluir nesta situação. As empresas estão a concorrer com margens muito reduzidas, quase a preço de custo.
Acha que deveria começar a haver uma selecção natural das empresas que devem permanecer no sector? Essa seria a solução mais lógica mas é complicado. As regras do nosso mercado existem mas não são para todos e normalmente as empresas que têm um certo estatuto são as que vão cumprindo com as regras estabelecidas. As outras conseguem contornar os processos.
De que forma é que se pode inverter a situação ? Eu tenho uma opinião mas para a referir teria de ser politicamente incorrecto. Tudo começa por uma questão de vontade. Até a questão dos alvarás e do IMOPPI, que tem sido tão discutida, é uma forma de não se pegar o problema pela sua essência. Andamos todos àvolta dos problemas. E o paÃÂs vai ser obrigado a enfrentar esses problemas pois a contenção de despesa anunciada pelo Governo vai obrigar muitos intervenientes a repensar estratégias.
Perante o cenário do previsÃÂvel corte de investimentos em resultado dos efeitos do défice, de que forma é que a Empreiteiros Casais se está a posicionar no mercado? A Empreiteiros Casais procedeu, há alguns anos, a uma reestruturação interna, que teve os seus custos elevados. Essas transformações estão praticamente em fase de conclusão, mas permitiram optimizar recursos, a relação entre o grupo e as empresas. Estamos agora em novas instalações, mais próximos dos estaleiros, e assim reduzimos também alguns custos. Parecendo que não, esses são custos que acabam por fazer diferença nas contas finais. Investimos também numa aplicação informática que a médio / longo prazo vai optimizar custos humanos e que, entre outras coisas, gere o papel que é utilizado. Em pequenas coisas vamos notando a diferença até porque não temos seguido uma polÃÂtica de despedimentos, antes pelo contrário. A nÃÂvel internacional, o mercado apresenta-nos duas vantagens. Por um lado dilui os custos fixos. Em momentos de crise, em que as margens são muito reduzidas a área internacional permite-nos absorver esses custos através da deslocalização de funcionários para as obras no estrangeiro.
Em que áreas é que, no mercado internacional, a empresa está a desenvolver trabalhos ? A construção é maioritariamente o nosso alvo nos trabalhos que estamos a desenvolver no mercado internacional, embora estejamos envolvidos em trabalhos de projecto no Brasil. Mas neste momento é a única excepção. Aqui trata-se de uma experiência, que poderá resultar em trabalhos de construção. Mas estamos a equacionar, de futuro, alargar a nossa área de intervenção a outros sectores. A diversificação da área de negócios a nÃÂvel interno resultou de experiências que tivemos nos mercados externos onde estamos a operar. Contudo, também por superstição, não quero adiantar quais as áreas em que estamos a pensar apostar. Mas posso adiantar que serão a nÃÂvel internacional e que será uma adaptação de áreas onde estamos presentes a nÃÂvel interno. O projecto no Brasil implica a requalificação de uma área considerável em Belo Horizonte. Por outras palavras, vamos recriar uma parte importante da cidade. Será um trabalho que comporta cerca de 40 mil habitantes, cujo equivalente ao Plano Director Municipal está ainda em fase de avaliação. É um projecto que tem uma componente turÃÂstica, habitacional, uma componente ligada ao governo regional e inclusivamente com a universidade. O Brasil é um mercado de sonho e só não estamos a trabalhar fisicamente lá porque não queremos investir pelo facilitismo. Queremos entrar no paÃÂs, mas com os pés assentes na terra. Os trabalhos de construção poderão arrancar em finais de 2005 ou no inÃÂcio de 2006. A ideia passa também por convidar parceiros portugueses para se associarem ao projecto.
Qual é a estratégia de entrada nos mercados externos? Até ao momento a estratégia que temos seguido passa, não pela aquisição de uma empresa local, mas pela constituição de uma sucursal, ou mesmo a criação de uma empresa de direito totalmente local. Mas aqui, a situação acaba por resultar de alguma forma no estabelecimento de parcerias com agentes locais. Mas depende de vários factores, entre os quais a legislação de cada paÃÂs. Seja no Brasil, seja na China.
Se de alguma forma o investimento no Brasil ou Angola se explica pela proximidade cultural, como se explica o investimento no Casaquistão? Por incrÃÂvel que pareça, todos os mercados têm caracterÃÂsticas comuns. É evidente que a proximidade com a cultura e com a lÃÂngua facilita os processos, mas há caracterÃÂsticas que são quase transversais aos mercados externos. O Brasil, apesar da lÃÂngua ser semelhante, tem uma cultura muito própria que importa conhecer e compreender. Assim, seja no Casaquistão ou no Brasil, importa que nos coloquemos ao mesmo nÃÂvel dos operadores locais, através de uma adaptação àlÃÂngua. Numa primeira fase isso é essencial, embora com o passar dos tempos possa haver uma combinação entre a nossa cultura e a cultura local. A nossa aposta no Casaquistão resulta da intervenção que foi feita na Rússia. O Casaquistão é uma antiga república russa e alguns contactos feitos nesse paÃÂs permitiram-nos constatar que havia uma oportunidade de negócio. Esta é a sequência dos nossos trabalhos. Os nossos clientes levam-nos para outros mercados. A Rússia, por exemplo, surgiu através dos parceiros do projecto que desenvolvemos na Alemanha. Depois há ainda que salientar que os concurso públicos na Rússia aos quais apresentamos propostas são de domÃÂnio internacional, obras financiadas por entidades internacionais. É uma forma de fugir ao sistema instaurado naquele paÃÂs, onde as condições de competição são complicadas.
E de futuro, em que mercados equacionam entrar? Estamos a estudar mais cinco paÃÂses, nomeadamente dois africanos, dois a leste e um no Médio Oriente. Estamos numa fase adiantada de análise. São paÃÂses que têm potencialidades elevadas na nossa área de negócios.
Como é que uma empresa de obras públicas reage a este cenário de indefinição em torno do investimento do Estado, nomeadamente o aeroporto que não avança, o TGV que tarde, os novos hospitais… É muito complicado. São situações que nos afectam directamente, já há consórcios formados que ainda não se sabe muito bem para que finalidade. Não é, também por estes factores, por acaso que estejamos a apostar na internacionalização, pois é uma forma de escapar às variações que vão surgindo no mercado interno. Se fizermos um planeamento a cinco anos, e nesse planeamento estiverem incluÃÂdos grandes projectos como os hospitais ou o TGV, se passados três anos não acontece nada, então é natural que a empresa tenha de arranjar alternativas aos projectos em que contava apostar fortemente.
As previsões iniciais para o ano de 2005 apontavam para um volume de negócio na ordem dos 100 milhões de euros. A avaliar pelo actual estado do mercado, sentem necessidade de rever esta meta ? Não, a expectativa de atingirmos um valor próximo dos 100 milhões de euros mantém-se. Até ao momento estamos dentro dos objectivos a que nos propusemos inicialmente, e a nÃÂvel internacional estamos a cumprir integralmente as nossas metas. Mas não é uma imposição. Não é algo que temos de atingir a qualquer preço. Nada disso.
Esta é uma empresa que tem uma estrutura de gestão maioritariamente composta pela famÃÂlia Casais? Sou único administrador que não pertence àfamÃÂlia. Apesar da estrutura familiar da empresa, a Empreiteiros Casais tem uma filosofia extremamente profissional. Acima de tudo esta é uma empresa e deve ser gerida como tal, independentemente das relações de parentesco que possam existir. A empresa está organizada de forma a que essa condição familiar não seja por si uma salvaguarda de que o lugar na empresa está garantido, ou seja, há que dar mostras de que existe valor acrescentado para integrar os quadros da Empreiteiros Casais. Isto também não significa que tenhamos as portas fechadas àentrada de novos capitais na empresa, mas seguramente que a estratégia que tem sido adoptada será para manter. Até mesmo para os nossos clientes, é importante que eles tenham a noção e conheçam com quem é que estão a falar e não uma situação abstracta. Isso é efectivamente uma mais-valia que temos sabido aproveitar.
perfil
Nascido a 25 de Dezembro de 1964, António Araujo conclui a licenciatura em Engenharia Civil pela Universidade do Minho no ano de 1990. A sua experiência pessoal é iniciada ao serviço da Monte&Monte, onde permanece como director de obras até 1992.
A entrada na Empreiteiros Casais, onde hoje em dia é o único administrador que não pertence àfamilia Casais, dá-se também em 92, então como director de Produção de obras em Portugal. Actualmente, António Araujo é director da ÃÂrea Internacional da Empreiteiros Casais