Ateliê àLupa: Fátima Fernandes e Michele Cannatà, arquitectos: Simplicidade nas formas e materiais
Fátima Fernandes é portuguesa e Michelle Cannatàitaliano. Começaram por formar um ateliê em Itália, em 1984, mas seis anos mais tarde vieram para Portugal, tendo-se estabelecido no Porto. Autores dos Módulos Autosuficientes, rejeitam ser catalogados de arquitectos sustentáveis. Aliás, para ambos essa distinção nem sequer deveria existir Michele Cannatá afirma que a arquitectura não… Continue reading Ateliê àLupa: Fátima Fernandes e Michele Cannatà, arquitectos: Simplicidade nas formas e materiais
Ana Baptista
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Fátima Fernandes é portuguesa e Michelle Cannatàitaliano. Começaram por formar um ateliê em Itália, em 1984, mas seis anos mais tarde vieram para Portugal, tendo-se estabelecido no Porto. Autores dos Módulos Autosuficientes, rejeitam ser catalogados de arquitectos sustentáveis. Aliás, para ambos essa distinção nem sequer deveria existir
Michele Cannatá afirma que a arquitectura não pode ser a única responsável pelas questões da sustentabilidade
Para Michel Cannatàe Fátima Fernandes a arquitectura actual baseia-se na reinvenção e na criação de espaços simples e ao mesmo tempo complexos, que reservem surpresas a quem os habita.
Construir: Como é que foi esta experiência de ir para Itália e formar um ateliê?
Fátima Fernandes (FF): Fui para Itália fazer o estágio de arquitectura no último ano do curso da Escola Superior de Belas Artes e acabei por ficar lá e formar o ateliê. A experiência foi muito importante e o meu objectivo era entrar em contacto com um património arquitectónico que lia e estudava.
Porque é que vieram para Portugal?
Michele Cannatà(MC): Em 1981 fiz um seminário de arquitectura em Espanha e conheci um grupo de arquitectos portugueses. De todas as nacionalidades que lá estavam, achei o método de trabalho do grupo português o mais interessante. O que me levou a fazer intercâmbios com arquitectos portugueses e a conhecer a Fátima. Na altura estava a montar um escritório e tinha algum trabalho e convidei-a para estágio, mas depois acabou por ficar. Estivemos seis anos em Itália e viemos para Portugal quase por acaso, mas também porque naquela altura em Itália havia uma grande crise social e da arquitectura, e Portugal tinha algum potencial e um respeito pela arquitectura que não existia em Itália.
Esse respeito pela arquitectura ainda existe?
MC: Existe mas pode existir ainda mais, se as pessoas a divulgarem. O importante é perceber que a arquitectura não é apenas uma actividade artÃÂstica, mas também pode ser uma necessidade. O homem tem direito a viver num ambiente de qualidade.
Vocês dividem-se entre Portugal e Itália?
FF: Essa divisão entre Portugal e Itália já não faz sentido, uma vez que estamos também a fazer projectos para a Alemanha e Espanha, e também porque a realidade italiana não tem concretizado muitas obras nos últimos anos. Muitos projectos que temos feito não avançam, e em alguns dos concursos em que participamos nem são anunciados os resultados. É difÃÂcil continuar a trabalhar para um território que àpartida sabe que a concretização das obras é nula. Temos projectos que estão em obra há 18 anos.
Como é projectar lá fora?
FF: É igual. Os problemas são iguais, aliás, os problemas da arquitectura são iguais em todo o mundo. Fazer arquitectura é muito difÃÂcil e é muito difÃÂcil em qualquer parte do mundo.
Como surgiu o projecto dos Módulos Autosuficientes?
FF: Os módulos autosuficientes seguem um outro projecto que fizemos para a Concreta – a Casa Inteligente -, uma vez que há já alguns anos que fazemos assessoria para a feira, no âmbito de coordenação dos eventos de arquitectura. Todos os anos desenvolvÃÂamos uma temática, e em 2002, a Concreta disse-nos que gostaria de fazer um protótipo no âmbito das questões da dómotica e da tecnologia aplicada àhabitação, que pudesse ser visitado pelas pessoas para que elas se relacionassem com a técnica. A experiência correu bem e no ano seguinte a Concreta sugeriu novamente que fizéssemos um novo protótipo. Nós sugerimos a produção dos módulos autosuficientes, que não só são sustentáveis como podem ser colocados em qualquer lado, e não têm de estar dependentes da presença de uma rede de água e esgotos ou de uma rede eléctrica. Têm uma autonomia que dura uma semana e semana e meia.
Que prémios receberam com os módulos?
MC: Os módulos receberam um prémio de Arquitectura Sustentável, em Ferrara, Itália, uma menção honrosa no Prémio Residência Singular, em Espanha, e foram ainda seleccionados para o prémio FAD. Mas este projecto não tem apenas a ver com sustentabilidade, mas sim com o objecto e com o espaço que se constrói em função de exigências contemporâneas. Aplicámos a inovação tecnológica ao serviço da arquitectura e da qualidade do espaço. Como arquitectos não inventamos nada, apenas aplicamos o conhecimento tecnológico actual para aumentar a qualidade das casas.
Qual é para vocês a importância da sustentabilidade na arquitectura?
FF: A sustentabilidade é apenas mais uma questão que a arquitectura tem de resolver, porque é uma questão actual. A arquitectura tem vindo a dar resposta às exigências do homem, na medida em que constrói ambientes confortáveis e de qualidade fÃÂsica. Existem necessidades que têm de ser equilibradas, o que cabe aos arquitectos e àsua equipa. Isto porque a arquitectura não é o resultado de um arquitecto só mas sim de um conjunto de especialidades. MC: A importância que se tem vindo a dar àsustentabilidade é um bocado falsa, porque parece que são os arquitectos os únicos responsáveis. Mas esta é uma questão social, económica e polÃÂtica. Os Estados Unidos da América não assinaram o acordo de Quioto, porque não estão preocupados, por exemplo, com o gasto excessivo de electricidade. Eles têm capacidade económica para gastar essa electricidade. O que é preciso esclarecer é que os arquitectos apenas têm de dar a melhor resposta a nÃÂvel arquitectónico e não ser responsáveis pela sustentabilidade. Uma boa obra é sempre sustentável e não existem arquitectos e arquitectos que fazem arquitectura sustentável. FF: Por outro lado, as melhores arquitecturas são as que gerem bem os recursos naturais e isso foi usado ao longo dos anos pelos arquitectos. Não é uma novidade.
Fala da arquitectura tradicional?
FF: Não. Falo da arquitectura feita por mestres como Corbusier e Mies Van der Rohe. MC: O tradicional é muitas vezes uma necessidade inerente e não uma opção. Então a arquitectura acaba por ser um fenómeno social? MC: A arquitectura é uma expressão da cultura de um povo. E infelizmente não é considerada produtiva. Temos 14 mil arquitectos, se quatro ou cinco mil têm um ateliê com uma média de três ou quatro arquitectos então temos a maior indústria de Portugal
Conseguem definir alguma linguagem na vossa forma de fazer arquitectura?
FF: Gostamos de fazer trabalhos com muito poucos materiais e de criar espaços depurados da sua forma e da sua expressão. No entanto, esse mesmo espaço deve ser simples mas com surpresas, ou seja, tem de dar a sensação de que tem orientações infinitas, quer seja através de eixos visuais ou mesmo de relações verticais: pés direitos duplos por exemplo.