Victor Palla… flash de uma vida
Victor Palla faleceu aos 84 anos de idade. O arquitecto e fotógrafo que se dedicou às diversas formas de arte, ficou conhecido no panorama arquitectónico pelos projectos dos primeiros snack-bares do paÃÂs, entre os quais o Pique-Nique, situado no Rossio, em Lisboa O arquitecto e fotógrafo Victor Palla faleceu na noite do dia 28 de… Continue reading Victor Palla… flash de uma vida
Ana Rita Sevilha
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Victor Palla faleceu aos 84 anos de idade. O arquitecto e fotógrafo que se dedicou às diversas formas de arte, ficou conhecido no panorama arquitectónico pelos projectos dos primeiros snack-bares do paÃÂs, entre os quais o Pique-Nique, situado no Rossio, em Lisboa
O arquitecto e fotógrafo Victor Palla faleceu na noite do dia 28 de Abril, aos 84 anos de idade. Nascido em Lisboa em 1922, caracterizou-se pelo gosto de ligar todas as formas de expressão, e por isso se dedicou a diversas formas de arte, entre elas àarquitectura, fotografia, pintura, cerâmica, escultura, design gráfico, edição de livros e revistas e àorganização de exposições, sendo em muitos destes campos pioneiro. Como arquitecto, formou-se em 1946 na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), e partilhou ateliê durante 25 anos com o arquitecto Bento de Almeida. Desta parceria nasceram os primeiros snack-bares do paÃÂs, entre os quais o Galeto (classificado pelo IPPAR), o Carossel e o Pique-nique, situados em Lisboa, e o Cunha, situado no Porto, tendo ficado conhecido pela concepção dos mesmos.
Para além destes projectos, a equipa Victor Palla e Bento de Almeida projectou dois grupos escolares, Vale Escuro (1956) e Olivais (1959), a fabrica Martini e a fábrica Kores, estabelecimentos comerciais, escritórios, institutos de beleza, várias moradias em Lisboa, e nos anos 60, assinou individualmente a Aldeia das Açoteias em Albufeira. Victor Palla e Bento de Almeida, tentaram ao longo da carreira fazer reviver a técnica do azulejo decorativo, empregando-o largamente na sua obra.
Conhecido também na área da pintura e da fotografia, Victor Palla recebeu em 1999 o Prémio Nacional de Fotografia, destinado a destinguir a carreira de um fotógrafo cuja intervenção criativa fosse considerada relevante no panorama global da fotografia portuguesa, tanto pelo seu carácter inovador, como por desencadear processos renovadores.
Filho de um fotógrafo amador e iniciado na arte ainda criança, foi com a fotografia que o seu nome correu mundo, quando em 2001, um júri internacional elegeu o livro que publicou em 1952 em conjunto com o também arquitecto e fotógrafo Manuel Costa Martins, intitulado “Lisboa, Cidade Triste e Alegre†como um dos melhores livros do século XX. Começado em 1956 e exibido em 1958 nas galerias do Diário de NotÃÂcias e Divulgação no Porto, foi publicado em fascÃÂculos em 1959.
Homenageado numa retrospectiva da Gulbenkian em 1992, Victor Palla foi também escritor e autor de diversas capas de livros, tradutor, co-fundador de revistas e galerias, pintor e organizador de exposições gerais de artes plásticas.
Um snack-bar no Rossio
O Pique-nique, nasceu em Lisboa em 1957 com a designação inglesa de snack-bar e uma integração com o Rossio caracterizada como perfeita. Esta obra, «honesta e bem sucedida», teve parte do seu êxito devido àfórmula escolhida. Em escassos metros quadrados, o programa foi organizado de uma forma inteligente e agradável, de forma a aproveitar ao milÃÂmetro o espaço disponÃÂvel, sem com isso criar um espaço enfadonho. O estabelecimento, foi pensado de forma a apresentar um bom aproveitamento linear, tendo no entanto uns pontos de inflexão no balcão um pouco incómodos, e completa-se com uma zona de mesas agradável, onde o doseamento de espelhos e flexwood destrói de uma forma eficaz os limites do espaço interior, tornando-o maior através de ilusão óptica, e contribuindo para não tornar o espaço num local fatigante. A pormenorização decorativa do Pique-nique, foi na altura alvo de diversas crÃÂticas violentas e frequentemente injustas que incidiam sobre malabarismos decorativistas e o vasto leque de materiais utilizados no seu revestimento. A confusão agradável obtida pela acumulação dos elementos decorativos, e o modo inteligente e hábil como os arquitectos resolveram a organização dos espaços em todos os aspectos, tinham por objectivo a destruição de elementos de referência para a avaliação das dimensões úteis do estabelecimento, e a rotação rápida da sua clientela. Ainda relativamente àdecoração, é de salientar certos efeitos dinâmicos que atraem quem passa e fatigam quem está, deixando no entanto uma lembrança suficientemente agradável para que apeteça voltar. Em termos de iluminação, esta foi bem doseada e realiza a diferenciação natural entre zonas, contribuindo os volumes dos tectos para uma boa disposição da mesma.
Um bom exemplo
Com um programa compacto e necessidade do maior aproveitamento possÃÂvel do terreno, a fábrica Kores foi um bom exemplo de uma obra honestamente conseguida face a todas as limitações e condicionamentos que rodeavam a arquitectura naquela época. A intenção de uma solução económica foi um dos factores primordiais do estudo, levando assim os arquitectos a adoptarem por uma solução em que todos os elementos de betão armado foram deixados simplesmente descofrados e pintados. Panos de tijolo àvista e grandes superfÃÂcies envidraçadas formam o restante da fachada, em que não existe portanto uma única superfÃÂcie rebocada. Através desta simplicidade e honestidade de materiais e processos construtivos foi possÃÂvel obter volumes interiores de grande clareza que se tornam particularmente agradáveis no segundo piso da fábrica, onde pórticos livres, uma inclinação da cobertura acusada interiormente, e as paredes divisórias dos escritórios terminadas por panos de vidro sem caixilho, sublinham o seu carácter não-suportante e reforçam a iluminação das dependências. A cor desempenha uma função importante na valorização desta obra, sendo o seu tema fundamental o vermelho, cor dominante da marca da fábrica. Construtivamente é de notar um extremo cuidado por parte dos técnicos na resolução dos problemas tais como a construção e ligação aos pilares das vigas pré-esforçadas junto ao muro de suporte do lado norte. A realização de uma pormenorização muito cuidada contribuiu para valorizar e harmonizar todo o conjunto edificado. Estamos assim perante uma obra plástica, estrutural e funcional, que forma um todo uniforme, e que se apresenta como um bom exemplo de concisão e atenção, revelando-nos mais do que um primeiro olhar nos faz supor.