A poética da Arquitectura
Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1980, muitas foram as experiências profissionais até decidir, em 86, que «tinha o direito de só fazer arquitectura em ateliê sossegadamente». Marcado por uma geração de poetas, compara o acto de projectar com o de reinventar uma história, e o pilar, a coluna e a… Continue reading A poética da Arquitectura
Ana Rita Sevilha
TdC dá luz verde ao prolongamento da Linha Vermelha
Century 21 Portugal espera “crescimento” nos próximos anos
A estratégia da MAP Engenharia, as casas impressas pela Havelar, o ‘novo’ rumo da Mexto e a TRAÇO no CONSTRUIR 503
Consumo de cimento aumentou 23,6% em Janeiro
Encontro de Urbanismo do CIUL regressa com ‘Há Vida no Meu Bairro’
Autódromo Internacional do Algarve desenvolve CER com SES Energia
Rita Bastos assume direcção da Sekurit Service e da Glassdrive Portugal
Dst ganha obra de 5M€ para Volkswagen Autoeuropa
IP conclui intervenção no Viaduto Duarte Pacheco
Hydro produz primeiro lote de alumínio reciclado com pegada de carbono quase nula
Licenciado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa em 1980, muitas foram as experiências profissionais até decidir, em 86, que «tinha o direito de só fazer arquitectura em ateliê sossegadamente». Marcado por uma geração de poetas, compara o acto de projectar com o de reinventar uma história, e o pilar, a coluna e a parede como forma de contar e ensinar uma experiência
Classificando a cidade como a primeira maravilha do mundo, é nos tecidos urbanos cheios de vivências e histórias que encontra o seu fascÃÂnio.
Como foi o seu percurso profissional?
Tirei o curso na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, que terminei em 1980. Durante a licenciatura trabalhei em vários gabinetes e experimentei muitas coisas. Trabalhei na Administração Local, tive uma experiência na Administração Central, experimentei fazer o mestrado em património, trabalhei no Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) até que na viragem dos quarenta anos, sensivelmente em 1996 achei que tinha direito de só fazer arquitectura em ateliê sossegadamente.
Consegue definir alguma marca arquitectónica ou na sua obra?
Consigo, sou eu próprio. Quando aos 40 anos comecei a trabalhar a tempo inteiro nisto, já me conhecia suficientemente, já tinha fixações, sistemas de comunicação com o mundo através das formas arquitectónicas que definiram alguma matriz de comportamento naquilo que eu sou e na forma de ver o mundo, no fundo é um auto-retrato em forma de construção, em forma de tijolo e betão, e a partir daàexistem temas que de facto são recorrentes.
Diz que é influenciado pela poesia. Essa influencia vem desde sempre?
Fui muito marcado por uma geração de poetas. Essa sÃÂntese prolongou-se na arquitectura. O pilar, a coluna e a parede como forma de ensinar uma experiência. Tudo isto é instintivo, em qualquer intervenção, seja na arquitectura ou noutra arte qualquer há factores que racionalizamos mas existem outros que é aquilo que saàde nós, o nosso sentimento, e depois podemos de uma forma racionalizada alterar e modelar, mas existem coisas para as quais sentimos apelos.
Como vê a arquitectura e os arquitectos portugueses?
Nos anos 50 e 60 produziu-se óptima arquitectura. Entretanto, com o 25 de Abril ocorreram dois factos: por um lado existiu uma promoção privada que baixou qualidade, por outro houve um decréscimo na viragem dos anos 80 do investimento público, um perÃÂodo de crise que condicionou a produção arquitectónica. A partir de meados dos anos 80, perdeu-se um bocadinho a dimensão social da actividade do arquitecto. Por isso eu penso que hoje os arquitectos produzem muito para si próprios, para um certo gozo em produzir espaço e menos com a dimensão social. Não devemos deixar de fazer aquilo que nos dá gozo e aquilo que achamos bem, mas por outro lado, temos de saber sempre que o primeiro investimento é para quem habita o espaço que estamos a produzir e não para pôr nas revistas.
Acha que o arquitecto é interventivo ao nÃÂvel do planeamento das cidades?
O arquitecto já não intervêm em lado nenhum a esse nÃÂvel. A cidade liberalizou-se, mas vai chegar a altura em que vamos ter que recoser um conjunto de coisa, até porque temos uma lógica de economia que vai exigir um certo retorno àcidade enquanto sistema sustentável economicamente e socialmente. Vai haver uma ordem económica que vai repor alguma qualidade.
Acredita nas figuras de planeamento?
Acredito em algumas delas. O problema do planeamento não está nas pessoas que o executam está muitas vezes na forma como se implementam. As formas de planeamento previstas eventualmente carecem de alguma definição. Ao demorarem dez anos a ser feitas e mais cinco a publicar tornam-se obsoletas.
Prefere concursos ou trabalhar com privados?
O concurso é uma inevitabilidade. Legalmente é a maneira de acedermos a um mercado de trabalho, mas do ponto de vista de um gabinete é altamente penalizador, isto porque obriga a imensa documentação para depois, na maior parte dos casos os júris serem maus julgadores do projecto e não haver uma forma de compensação do investimento. Por outro lado existem concursos que eu acho que são obrigatórios por serem uma aprendizagem extraordinária.
Quando se trabalha com privados não se corre o risco de se deixar de ser arquitecto e passar a ser desenhador?
Acho que não. Quando investem em nós é para que se faça melhor, e a ideia de um privado quando vem ter connosco é pedir que o seu investimento tenha retorno, e o retorno é cada vez mais a qualidade do espaço e a forma de habitá-lo. Um indivÃÂduo que venha pedir uma coisa que já tenha na cabeça é limitadÃÂssimo e se eu tiver em condições de poder evitá-lo, ou o doutrino ou o mando embora.
Têm-se falado muito em sustentabilidade, tem essa preocupação quando projecta?
Só se estivesse na Lua é que não tinha. As questões energéticas são fundamentais, não só para se poupar dinheiro com a energia, mas também para que as pessoas se sintam bem no seu espaço, no espaço que habitam.
Construir ou reconstruir?
É tudo a mesma história, nós quando construÃÂmos estamos a reinventar uma história. Todo o projecto é um discurso, e para esse discurso vamos buscar um enredo, portanto qualquer uma delas é fascinante.
Como vê a revogação do decreto 73/73?
A eficácia é a forma como nós arquitectos enquanto classe conseguimos fazer valer pela qualidade da nossa intervenção. É fundamental estarmos lá, mas temos de ser nós a mostrar essa inevitabilidade não o decreto. Considero o decreto fundamental para a sensibilização daquilo que é o papel do arquitecto, e para dar uma responsabilidade acrescida aos arquitectos que tem uma visão menos dedicada da sua actividade.
Que projectos estão a desenvolver actualmente?
Estamos a desenvolver um projecto para Cabo Verde com uma dimensão de cidade, com cerca de 100 hectares e que tem sido extremamente interessante, um complexo de formação de novos talentos para o desporto, de um concurso que ganhámos na Argélia , para onde estamos também a realizar um projecto para um complexo de piscinas olÃÂmpicas de um concurso que também ganhámos. Para além disso estamos a acabar uma obra no castelo de Portalegre, que consiste numa estrutura, nomeadamente um centro cÃÂvico, que visa retomar o sentido estruturador do castelo, tornando-o num ponto de encontro.
Ficha técnica
Nome: Cândido Chuva Gomes
Morada: Rua de “o Século†nº50 1ºDrto
Telefone: 213 432 545 Fax: 213 461 568
URL: arq.chuva@oniduo.pt
Projectos: Estudo Prévio de Loteamento, Cidade da Praia, Cabo Verde (2006); Projecto de um centro cÃÂvico para o Castelo de Portalegre (2006), Projecto do centro de formação de jovens talentos, Setif, Argélia (2006); Projecto de uma piscina olÃÂmpica em Setif, Argélia(2006); Loteamento, Quinta de Santo António, Torres Vedras(2005-2006); Projecto de requalificação urbana da zona do castelo da Barbacã, Portalegre (2002-2006); Projecto Cidade Viva – Ciência Viva, Tomar (2003); Habitação em São Pedro do Estoril (2001-200&); Estudo de loteamento, Cidade da Praia, Cabo Verde (2001-2004); Núcleo sede do museu municipal de Vila Franca de Xira (1998-2002).