«Governo investe pouco em obras portuárias»
Jorge Oliveira, administrador da CPTP Como analisa a evolução da CPTP nestes 76 anos de história? Em Portugal a CPTP é uma das empresas que lidera a actividade de construção de trabalhos portuários, com a particularidade de aliar a experiência e a tradição a um elevado sentido de inovação. Grande parte das obras que a… Continue reading «Governo investe pouco em obras portuárias»
Maria João Morais
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Jorge Oliveira, administrador da CPTP
Como analisa a evolução da CPTP nestes 76 anos de história?
Em Portugal a CPTP é uma das empresas que lidera a actividade de construção de trabalhos portuários, com a particularidade de aliar a experiência e a tradição a um elevado sentido de inovação. Grande parte das obras que a empresa executou nos últimos cinco anos foi objecto de projectos variantes da nossa autoria.
Qual foi a importância do contributo holandês na fundação da empresa?
A Holanda sempre foi, e ainda hoje é, uma grande escola das obras marÃÂtimas. Essa metodologia, até ao nÃÂvel da organização da empresa, e essa cultura ainda hoje estão enraizadas na empresa.
Como se desenvolve a actuação da CPTP?
Geralmente, o dono de obra tem os seus projectistas. Nós avaliamos os projectos postos a concurso, vemos se são adequados àtecnologia que temos na empresa, aos nossos meios e aos nossos recursos e fazemos a adaptação do projecto em função daquilo que achamos que apresenta o melhor binómio qualidade/preço, e depois executamos.
Quais são as complexidades suscitadas por essas adaptações?
Isso aconteceu por exemplo no porto de Aveiro, em que utilizámos um cimbre móvel. Essa é uma tecnologia que se usa na construção de pontes e viadutos e que nós procurámos adaptar para executar uma obra de grande dimensão. Isto porque o dono de obra exigia que fizéssemos mil metros de cais num prazo bastante curto. Foi-nos colocado o desafio de executar duas obras em simultâneo, e para tal tivemos que encontrar uma solução inovadora, cujo projectista foi o engenheiro Câncio Martins. Realizámos quatro grandes obras , em simultâneo; no Porto de Aveiro. Todas elas versaram praticamente todas as grandes matérias dentro das obras de protecção costeira e portuária, implicando exploração de pedreiras, construção de cais com várias tecnologias, dragagens, vias férreas, edifÃÂcios de apoio, etc.
Que obra destacaria na história da CPTP ?
Destacaria a construção do porto de Viana do Castelo, executada no inÃÂcio dos anos 80. Foi uma obra que implicou 400 pessoas a trabalhar 24 horas por dia, uma vez que os prazos também eram limitados e a obra era de grande dimensão. Foi executado o molhe mais comprido já construÃÂdo em Portugal; o rio Lima teve que ser desviado e implicou várias técnicas de construção inovadoras, vários cais, etc. Em suma, foi uma obra marcante.
Actualmente têm em mãos a obra da ponte móvel do porto de Leixões. Que desafios tem implicado?
Estamos, de facto, envolvidos numa obra complexa, que poderá ser um marco dentro da engenharia portuguesa e que é a ponte móvel do porto de Leixões. Curiosamente, estamos a demolir a ponte antiga, cujas fundações foram feitas pela CPTP nos anos 1930. Ao nÃÂvel de engenharia, impõe um desafio de execução de fundações e demolição da ponte existente dentro de um prazo de tempo muito curto, devido àpassagem de tráfego no tabuleiro. Há uma série de soluções construtivas especiais a adoptar e em condições muito particulares, que serão feitas com a ponte actual ainda em funcionamento. De seguida haverá uma fase em que vamos interromper o trânsito durante quatro meses, No final desse tempo, a ponte estará em condições de ser reutilizada. Vai ser a quarta maior ponte móvel metálica do mundo.
Como analisa a evolução dos trabalhos portuários em Portugal?
O desenvolvimento da actividade portuária em Portugal é essencialmente da responsabilidade do Governo e, portanto, tem estado dependente das decisões estratégicas dos vários executivos. E nem sempre as polÃÂticas desses governos têm sido as mais correctas para este sector. O investimento tem sido pouco e isso traz consequências porque o mar todos os dias ataca as estruturas e os molhes. Se as frotas de navios da marinha mercante estão em constante actualização, os portos também deviam ser actualizados. O Governo devia reforçar o investimento em obras portuárias?
Tem havido pouco investimento nesta área. Comparativamente com outros paÃÂses, nomeadamente com Espanha, que tem um volume de construção de portos inacreditável, nós aqui em Portugal temos estado praticamente estagnados. E isso reflecte-se no mercado das obras públicas e em concreto nesta área. Não há investimento e quando isso acontece, muitas das vezes é para resolver situações de emergência, situações limite. São realizadas obras de emergência para resolver situações insustentáveis, como sejam molhes que estão a cair e a desaparecer, deixando de existir condições de abrigo dos portos.
Há uma falta de preocupação?
Não é falta de preocupação, o que se passa provavelmente é que existem outras prioridades, outras necessidades. Esta área concretamente tem estado um bocado abandonada e com falta de estratégia.
Na sua opinião este deveria ser um sector prioritário?
Deveria haver uma intervenção mais planificada de toda a actividade, não só portuária, como de protecção costeira e de intervenção junto das costas. Temos que ter essa preocupação pelo meio ambiente e pela intervenção que o homem produz sobre a costa e sobre determinadas zonas, porque isso depois vai ter influência sobre outras zonas, a norte e a sul do paÃÂs.
Por exemplo?
Recentemente fizemos uma intervenção muito grande na Costa da Caparica, que consistiu na reabilitação de dez esporões. Essas estruturas podem vir a ter influência no processo de transporte de areias e correntes ao longo da costa. Estão ali precisamente para provocar essas alterações no funcionamento, de forma a reter as areias na praia. O mar está a avançar acima da praia, por isso já quase não há praia na Costa da Caparica.
Como é que essas situações podem ser evitadas?
Tem que haver uma monitorização. Estas situações têm que ser todas acompanhadas. O projecto para a Costa da Caparica ainda não está acabado. Complementarmente àexecução que nós fizemos dos esporões, há que encher a costa de forma artificial com areia e isso ainda não foi efectuado. Será feito provavelmente no próximo ano mas em termos teóricos já devia ter sido feito, porque foi executada uma intervenção que não foi estudada para ser assim, mas sim para funcionar com aqueles esporões de pedra e com as praias devidamente cheias com a areia. Os esporões estão a ser atacados pelo mar e eles não estão ali para agredir o mar, estão ali para proteger e para, conjuntamente com as praias, e defenderem aquela zona costeira. Mas são as tais prioridades de investimento, de planeamento… Nós nesta área podemos dizer que pontualmente foi mal decidido.
É capaz de apontar alguma zona em Portugal que merecesse mais intervenções desse género?
Praticamente toda a costa portuguesa. Desde a zona de Espinho, que está sempre a ser atacada, passando pela zona de Aveiro e até ao Algarve. Há uma série de situações que têm de ser corrigidas., porque vemos todos os anos nos órgãos de comunicação social dizendo que o mar atacou casas, e que estas estão quase a cair, e que podem trazer consequências graves. Mas se fizermos a correcta intervenção na costa portuguesa, poderemos minimizar os impactos da interferência do homem, que provoca desequilÃÂbrios.
A nÃÂvel da engenharia, quais as complexidades que este tipo de trabalhos coloca, devido às diferenças fÃÂsicas em relação às outras obras?
Há algumas particularidades. Da minha experiência profissional, penso que as obras marÃÂtimas são viciantes. Porque são desafios permanentes ànossa imaginação. Enquanto noutro tipo de obras, por exemplo, na construção de um edifÃÂcio, sabemos que se começa pelos alicerces, depois se passa para os pilares, as vigas, as alvenarias, etc, nas obras marÃÂtimas muitas vezes começamos ao contrário. O nosso edifÃÂcio é feito de cima para baixo e só no final é que chegamos às fundações. Dentro deste tipo de obras, nem sempre os meios e equipamento que temos ou as condições locais nos deixam executar os trabalhos da forma mais fácil. Por isso, nós temos a cada passo que estar a inventar soluções para a construção. E isso é entusiasmante , tanto para o próprio projectista como para o empreiteiro.
Há sempre novidades.
Sim, há um padrão, mas temos sempre que estar a inventar coisas. Por isso lhe dizia que temos muitas variantes. Temos constantemente que fazer adaptações. Fazemos adaptações aos projectos, para melhor rentabilizar os equipamentos que temos.
Na fase de projecto há questões que não são tidas em conta?
Um projecto deve procurar ser neutro. Não deve privilegiar uma determinada empresa, isso faz parte das regras básicas de transparência. O que é aliciante nestas obras marÃÂtimas é fazer as adaptações, onde nós pomos muito de pessoal em cada obra, na concepção e execução ou de soluções construtivas.
CPTP
O inÃÂcio da actividade da Companhia Portuguesa de Trabalhos Portuários (CPTP) deu-se em 1930, enquanto sucursal de um grande grupo holandês de obras marÃÂtimas. Ao longo dos seus 76 anos de história, a empresa tem realizado intervenções regulares e qualificadas ao longo de toda a costa portuguesa. Obras como o porto de Luanda (1942), o porto de Viana do Castelo (1979) ou o de Aveiro destacam-se no percurso do grupo.
Desde 2003 que é detida a 100 por cento pela Mota-Engil, sendo agora a empresa de obras marÃÂtimas do grupo. Actualmente conta com 130 trabalhadores no quadro permanente , onde se incluem engenheiros, topógrafos, encarregados, manobradores, marÃÂtiimos, todos eles altamente especializados.