Ateliê á Lupa – Ateliê de Santos
Nascido como consequência de concursos ganhos, nomeadamente o da Biblioteca Central da Universidade dos Açores que foi nomeado para o Prémio Mies van der Rohe 2004, o Ateliê de Santos continua a apostar nos concursos por estes serem «grandes momentos de investigação» Metodologia sem preconceitos Como nasceu o «Ateliê de Santos»? Pedro Machado Costa (PMC):… Continue reading Ateliê á Lupa – Ateliê de Santos
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Nascido como consequência de concursos ganhos, nomeadamente o da Biblioteca Central da Universidade dos Açores que foi nomeado para o Prémio Mies van der Rohe 2004, o Ateliê de Santos continua a apostar nos concursos por estes serem «grandes momentos de investigação»
Metodologia sem preconceitos
Como nasceu o «Ateliê de Santos»?
Pedro Machado Costa (PMC): Basicamente foi uma espécie de coincidência. Tinhamos acabado o curso há um ano, metemo-nos nos concursos e ganhámos quatro seguidos. Fomos quase obrigados a montá-lo como consequência dos concursos ganhos.
Ambos tiveram uma experiência na Holanda, ainda antes de formarem o ateliê.
PMC: Sim, ainda estávamos no curso. A Célia estagiou na Holanda, o seu primeiro trabalho foi num ateliê holandês, enquanto que eu estive em Macau a estagiar com o arquitecto Manuel Vicente. Depois voltámos, eu fui trabalhar para o arquitecto Manuel Vicente no ateliê de Lisboa e passado um ano entrámos nos concursos, ganhámos e tivemos de nos divorciar dos ateliês onde estávamos e abrir o nosso. Foi uma consequência e não uma vontade consciente.
São influênciados por essas experiências?
Célia Gomes (CG): Eu acho que contribuàsempre. Uma experiência profissional quando corre bem contribuàsempre de uma forma positiva. Acho que a nÃÂvel de pensamento ajudou muito e talvez se reflicta no trabalho mas não consigo dizer exactamente onde.
PMC: O Manuel Vicente é um autor relativamente especial e que tem um universo muito próprio, e eu sinceramente não me revejo muito nesse universo conceptual e de imagens. Mas é curioso que a metodologia de abordagem ao projecto, e isso é o mais significativo no partilhar experiências com outros profissionais, aàadquirimos muito a maneira de ver a arquitectura. Ou seja, não é o objecto em si, do Manuel Vicente neste caso, mas genericamente a maneira de olhar o mundo. E curiosamente existem semelhanças, que podem ser aparentes ou não no trabalho.
Estamos a falar de método de abordagem.
PMC: Método de abordagem, metodologia de intervenção, pensamentos, eventualmente o significado que se dá àcidade, àmaneira de pensar cidade que é um território muito complexo. A grande vantagem de passarmos por experiências diferentes é que adquirimos essa maneira de olhar o mundo, independentemente de os projectos serem parecidos ou não, que eu acho que não são nada.
Na altura em que participaram na exposição «Metaflux», descreveram-vos como «a influência das novas tendências holandesas era clara». Querem comentar?
PMC: Eu diria que é por termos uma abordagem muito pragmática e muito livre. Essa arquitectura holandesa que falam é uma arquitectura que sobreveio àcultura arquitectónica contemporânea por uma imensa liberdade em relação a constrangimentos disciplinares. Existe um conceito muito disciplinar em Portugal, e a ideia de vir fazer arquitectura sem ter as caracteristicas daquilo que deve ser a arquitectura portuguesa visto por fora implica uma espécie de exercÃÂcio de liberdade, bem como o descolamento dessa imagem tipica da arquitectura branca de volumes encerrados sobre eles próprios que são altamente disciplinares no sentido da integração na cultura arquitectónica portuguesa mas que apesar de tudo estão muito presos a uma maneira de pensar.
Existe alguma linha ou estilo que seja inerente a todas as vossas obras?
PMC: No fundo os nossos projectos são todos muito parecidos embora se vistam de roupagens distintas que tem a ver com as condicionantes económicas, construtivas, financeiras, culturais, e do cliente. Agora o aspecto conceptual, todas as relações intrinsecas são sempre as mesmas, e isso é o mais interessante, perceber que no fundo olhando para os projectos e lendo-os de uma certa forma são todos parecidos, tem o mesmo estilo, mas não é um estilo formal, gráfico.
A «Metaflux» serviu, entre outras coisas, para dar a conhecer duas novas gerações de arquitectos da qual fazem parte. O que é que a vossa geração trás de novo para a arquitectura portuguesa?
PMC: A geração X , dos anos 90, eram pessoas que tinham passado por ateliês de referência em Portugal, e portanto a obra deles era o culminar desse momento muito especial. Na chamada geração Y, da qual faziamos parte, a grande diferença era ser a primeira cuja experiência passou pela Europa, quer dizer que foi a primeira «gente» que saiu, que estudou e trabalhou fora. Quer isto dizer que, quer queiramos quer não, o mundo que nos rodeia é completamente distinto, e isso percebe-se. A única coisa que se pode trazer com isso é a vantagem de olhar para as coisas com alguma liberdade, ter a capacidade de dar resposta sem grandes preconceitos.
CG: Dentro da geração Y somos todos muito diferentes, e na geração X essa diferença esbate-se muito.
Ir para fora é actualmente uma moda?
PMC: É mais uma necessidade, por se calhar não terem oportunidades cá que têm lá fora, mas outras vezes é por curiosidade, o mundo não acaba na fronteira com Espanha. E isso tem consequências na arquitectura, agora o que é que isso trás para a arquitectura portuguesa? Para já não sei se vale a pena continuar a falar de arquitectura portuguesa nesse sentido, estamos outra vez a falar de um «International Style», que é uma coisa um bocadinho violenta, porque contradiz muito a ideologia da arquitectura portuguesa que é uma arquitectura do lugar, e quando se fala de um estilo internacional é muito complicado porque cria choques ideológicos bastante grandes.
Qual é o estado da arquitectura em Portugal?
PMC: A arquitectura não depende só do autor, é uma espécie de reflexo condicionado de um conjunto de situações. Eu acho que temos bons arquitectos e escolas razoáveis, é mais ou menos igual a todo o lado. O que não é igual, e é ai que se nota o desequilÃÂbrio, são as condições que fazem com que a arquitectura exista, e que são muito mais restritas em Portugal do que em qualquer parte da Europa. Quer dizer que a vontade de estabelecer arquitectura de alta qualidade, a criação de um conjunto de oportunidades ou de liberdades ou de maneiras de pensar que criam um campo passÃÂvel de criar coisas novas não existe em Portugal. Ou temos o Estado que investe em arquitectura mas é uma arquitectura institucional com uma ideia pré-estabelecida, ou então existem privados que nem sequer percebem o que é uma arquitectura de qualidade. A arquitectura de qualidade é um luxo, mas não é um luxo financeiro, é uma espécie de luxo intelectual, ou seja, há pouca gente que se dá ao luxo de pensar que pode ter uma boa arquitectura.
Em termos de encomenda do ateliêr, são mais os clientes privados ou mais os concursos?
CG: Nós começamos com os concursos e no ateliêr investe-se muito em concursos, mas também temos alguns clientes privado.
E qual o balanço que fazem desses concursos?
CG: Investe-se muito, mas ainda é a melhor maneira de inicar um processo.
PMC: Noventa por cento do nosso trabalho são concursos, e todos os trabalhos que temos com algum significado resultaram de concursos. Os projectos por concurso tem uma grande vantagem, permitem uma reflexão mais cuidada, e para além disso, na arquitectura os concursos são os grandes momentos de investigação dos ateliês, é uma oportunidade para experimentar coisas, e existe um confronto de ideias entre ateliês que é um processo curioso de criação.
Ganharam o concurso da Biblioteca Central da Universidade dos Açores, e com ela foram nomeados para o Prémo Mies van der Rohe, e para o Prémio FAD, ambos em 2004. O que significaram estas nomeações?
CG: Foi o primeiro projecto, o primeiro concurso e a primeira obra. Tinhamos terminado o curso há um ou dois anos, fizemos o concurso e ganhámos. Ganhámos de uma forma inconsciente e ficámos surpreendidos. O projecto surgiu através de um programa tipico de biblioteca, onde nos era dado um sitio e um problema, e o que é curioso é que nunca fomos ao local, o que se tornou numa mais valia, assim como no concurso para as residências universitárias, também nos Açores.
O arquitecto Bernardo Rodrigues referiu numa entrevista que «os Açores estão em alta no mundo da arquitectura portuguesa como um dos sitios ideais para a nova geração se expressar». Sentem isso?
PMC: Tudo o que aconteceu há dez anos atrás em Portugal Continental está a acontecer agora nos Açores, só que essa decalage é a de uma geração, quer isto dizer que as pessoas disponiveis para trabalhar são completamente diferentes. Num espaço muito pequeno, como os Açores, aconteceram muitas coisas em poucos metros quadrados e isso foi interessante. No entanto, o fazer dez anos depois não quer dizer que não se façam os mesmos erros. Na verdade o que o Bernardo fala é de uma coincidência feliz a determinada altura, não me parece que seja um laboratório fisico da arquitectura nacional.
Do vosso percurso profissional conseguem eleger uma obra que tenha sido um maior desafio?
PMC: Eu diria que é um projecto que estamos a fazer no Porto. Trata-se de dois edifÃÂcios de escritórios que o cliente quer transformar em edificios de habitação, o que tem sido muito complicado. Arranjar uma maneira de resolver isso através de um modelo tipológico que servisse melhor todos os atributos positivos do edificio e anulando os negativos tem sido muito curioso. Integra-se no tema da reabilitação da baixa do Porto, e será uma espécie de «testa de ferro» de polÃÂtica de intervenção. É portanto muito experimental, envolve arquitectos, artistas plásticos, designers, a própria tipologia é bastante especial.
E em termos de legislação, como é que se contorna? PMC: Estamos a tentar contornar. Apesar de tudo existe uma grande vantagem e uma grande desvantagem em construir em Portugal que passa pela mesma questão, que é o facto de existir pouca legislação. Não há normativas, não existe nenhuma regra legal que impeça que os projectos e as obras sejam muito más, isso é a grande desvantagem. A grande vantagem é que podemos pegar nessa liberdade e fazer o que quisermos, por exemplo, existem mil maneiras de fazer uma janela, e quem diz uma janela diz outra coisa qualquer. Essa liberdade, única na Europa, dada pela ausência de regra permite-nos inventar muita coisa.
ficha técnica
Nome: Ateliê de Santos
Morada: Rua de Santa Justa nº 60, 5ºpiso, 1100 – 485, Lisboa
Telefone: 213 426 304
Projectos: Residências de Estudantes de S. Miguel; sistema de construção para parqueamento automóvel para a sede da Vodafone; projecto de duas escolas para Bolzano (Itália); a sede da Ellipse Foundation; Biblioteca Central da Universidade dos Açores; Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Aveiro; projecto para dois edifÃÂcios no centro do Porto