«A revisão dos projectos não envergonha ninguém»
Para o presidente do conselho de administração da Coba, Ricardo Oliveira, é importante que se alterem os procedimentos em relação aos projectos de obras públicas, feitos a baixo preço e em tempo insuficiente. Ao Construir, o responsável recorda a figura do revisor de projecto, esquecida na quase totalidade dos projectos, e fala do crescimento da… Continue reading «A revisão dos projectos não envergonha ninguém»
Análise: Mercado de escritórios em Lisboa em “forte recuperação”
Soluções do Grupo Preceram para a reabilitação e reconversão do edificado
OERS acolhe primeira edição dos ‘Prémios de Excelência na Academia’
B. Prime coloca modelo “inovador” da Regus em Lisboa
Porcelanosa: “2024 será marcante para o desenvolvimento da construção offsite em Portugal”
Dstgroup integra laboratório vivo para a descarbonização “Afurada LL”
CIN investe 3,5M€ na automação do Centro de Distribuição de Tintas na Maia
Freeport Lisboa Fashion Outlet lança nova fase de remodelação
Kyndryl expande colaboração com a consultora EY
Museu do Biscainho e ICOMOS debatem reabilitação no património
Para o presidente do conselho de administração da Coba, Ricardo Oliveira, é importante que se alterem os procedimentos em relação aos projectos de obras públicas, feitos a baixo preço e em tempo insuficiente. Ao Construir, o responsável recorda a figura do revisor de projecto, esquecida na quase totalidade dos projectos, e fala do crescimento da Coba no mercado externo
«É fundamental que, a bem da engenharia e mesmo da qualidade dos trabalhos que são desenvolvidos, sejam alterados alguns procedimentos», garante Ricardo Oliveira, presidente do conselho de administração da Coba em entrevista ao Construir, corroborando também as mais recentes declarações do bastonário da Ordem dos Engenheiros, segundo as quais há exagerados desperdÃÂcios de fundos nas Obras Públicas. Para o responsável pela maior consultora nacional de engenharia, «o eng. Fernando Santo apontou algumas razões, mas não todas. E há outras essenciais que são responsáveis por essa menor qualidade dos projectos. No meu entender o esmagamento de preços dos projectos, onde são apresentados os projectos ao preço mais baixo e que são mais baixos ainda quando as empresas estão em situação complicada na esperança de ganhar o concurso a qualquer preço, sendo que depois os projectos derrapam, são apresentados custos elevadÃÂssimos que deixam as empresas aflitas ao fim de três meses». Por outro lado, Ricardo Oliveira entende que os prazos que são praticados para elaboração dos projectos são «perfeitamente irrealistas». Segundo aquele responsável, «para se cumprirem prazos então é natural que os projectos tenham de ser feitos em cima do joelho. São duas facetas que o Bastonário conhece melhor que ninguém, mas é verdade que os projectos podem melhorar com duas intervenções que devem ser feitas». Ricardo Oliveira recorda que actualmente ainda existe um Conselho Superior de Obras Públicas, um organismo que até há alguns anos verificava todos os projectos antes de entrar em fase de obra, e que agora «não avalia nenhum». «A revisão dos projectos por uma entidade independente não envergonha ninguém e é mais uma forma de colocar mais alguns olhos a analisar o projecto», salienta o administrador da Coba, acrescentando que «o próprio LNEC deveria ser mais solicitado para obras do Estado no domÃÂnio da assessoria. Os projectos melhoravam se houvesse maior recurso àfigura do revisor. Mas as situações dos concursos levam a que isso não seja possÃÂvel». Apesar de reconhecer que as questões em matéria de procedimentos não são as mais desejáveis, Ricardo Oliveira reconhece a excelência da engenharia nacional. «Desde sempre a engenharia conseguiu ser suficiente para a resolução de todos os problemas do paÃÂs. E tem conseguido, apesar da internacionalização e da grande quantidade de fundos comunitários, dar conta da maior parte dos projectos significativos que se têm construÃÂdo e que te irão construir nos próximos anos». O administrador daquela que é também a mais antiga consultora nacional ao nÃÂvel da engenharia, salienta ainda que isso se deve «ao facto do paÃÂs ter boas escolas de engenharia, ter o apoio de empresas como o LNEC e implica ainda a preocupação pela formação contÃÂnua dos quadros das empresas». A Coba tem um programa anual de participação dos seus colaboradores em acções de formação de todo o tipo, pós-graduações, mestrados, entre outros.
A empresa atravessa neste momento a conclusão de um processo de Management Buy Out, após o qual a totalidade do capital da consultora ficará na posse de 78 colaboradores de todos os segmentos. A operação, no entender do administrador da consultora, atesta a confiança que existente no seio da empresa em relação às suas capacidades e em relação às potencialidades no mercado. «De há quatro anos a esta parte, a facturação da empresa estabilizou nos 20 milhões de euros». Apesar de animado com esta perspectiva, Ricardo Oliveira não deixou, no entanto, de reconhecer que «os resultados operacionais têm vindo a reduzir-se». «Não são negativos mas os resultados depois de impostos têm vindo a diminuir, sobretudo a partir de 2001, 2002. Esperamos vir a melhorar esta situação nos próximos anos», diz o administrador. Ricardo Oliveira mostra-se ainda convicto de que «o ciclo de recessão no próprio paÃÂs está a chegar ao fim, muitas das grandes coisas de que se fala vão ter de se concretizar». Por outro lado, o administrador da empresa salienta que a actividade da Coba, além do mercado nacional, faz-se também em mercados estratégicos que têm sido trabalhados há quase duas décadas, como é o caso de Angola e da Argélia. «A expressão dos resultados é diferente também porque temos alargado a nossa actividade nesses mercados. Na Argélia só fazÃÂamos barragens, mas neste momento estamos presentes em projectos como adutores de água, aeroportos, estradas…Nesta fase actual estamos a trabalhar nesses paÃÂses com mais contratos, inclusivamente alargados àagricultura e desenvolvimento rural», diz Ricardo Oliveira. «Sempre fomos uma empresa nacional com uma forte actividade no estrangeiro. No próprio ano em que fundámos os escritórios em Lisboa, em 62, inaugurámos também a empresa no Brasil e em 63 a Consulpresa em Madrid. Ainda na década de 60, já trabalhávamos em variadÃÂssimos paÃÂses como a Costa Rica, Angola, Moçambique, Grécia. O parâmetro internacional esteve sempre presente e tem crescido ou diminuÃÂdo dependendo do juÃÂzo que atempadamente fazemos do sucesso da actividade», garante o responsável.
Sobre os grandes projectos que se avizinham no panorama das parcerias entre o sector público e o privado, Ricardo Oliveira entende que «não deixa de ser uma realidade que antes de termos feito um projecto para o TGV em Espanha não tÃÂnhamos qualquer experiência neste tipo de trabalhos. Mas tÃÂnhamos feito muitos outros projectos como a modernização da linha do Norte, onde ainda decorrem as obras, de Lisboa ao Entroncamento e as diferenças entre esses projectos de velocidade alta e de alta-velocidade existem mas não são abissais. A Coba considera-se capaz de desenvolver esses projectos de alta-velocidade e tem vindo a fazê-lo a contento do cliente». Neste momento, a consultora tem dois projectos em Espanha, nomeadamente a ligação Mérida-Badajoz e das ligações de Espanha até Portugal. Ainda assim, admitem que grande parte do sucesso deve-se àreciprocidade em relação ao parceiro espanhol. «A certa altura tomámos consciência de que seria pertinente entrar no mercado espanhol e a única solução, atendendo àcircunstância de que é muito mais fechado que o português, a solução seria formar uma parceria com uma empresa espanhola em regime de reciprocidade. Resultou totalmente». «As empresas portuguesas têm sido capazes de se preparar para as grandes pontes, barragens, não precisam de grande apoios exterior para fazer projectos nessas áreas. Repare no que aconteceu com as barragens. Ao inÃÂcio, a engenharia portuguesa não estava ainda capaz de responder a esse desafio. Depois de acompanhadas as primeiras obras do género em Portugal, não mais houve projectistas estrangeiros a elaborar os projectos para este tipo de obras no nosso paÃÂs. Não havia gabinetes de projecto até 1957, mas depois disso, a engenharia portuguesa tem dominado neste tipo de projectos, não só em Portugal como no mercado externo, como Angola, Argélia… Importa reter que as empresas que prestam serviços de engenharia e de construção têm know-how suficiente para dar resposta àgeneralidade de infraestruturais que falta construir porque se têm conseguido actualizar, porque têm equipamento». A Coba é uma empresa de projectos, essencialmente de infraestruturas. Temos estado em projectos diversos para o aeroporto da Portela, Sá Carneiro, Angola, Argélia…mas nas infraestruturas como as pistas, nos runaways, taxiways. Em outros domÃÂnios, a Coba não tem domÃÂnio e é nesse sentido que tentamos aparecer associados a outras empresas.