«São necessários consensos na arquitectura»
Numa conversa informal, os quatro arquitectos que encabeçam o ateliê holandês, deram a sua opinião sobre a arquitectura e o planeamento que se faz em Portugal. Deram a conhecer, também, uma visão holandesa da arquitectura contemporânea. Trabalharam os diversos projectos em conjunto, ou cada um é responsável pelo seu? Temos certo tipo de trabalhos que… Continue reading «São necessários consensos na arquitectura»
Filipe Gil
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Numa conversa informal, os quatro arquitectos que encabeçam o ateliê holandês, deram a sua opinião sobre a arquitectura e o planeamento que se faz em Portugal. Deram a conhecer, também, uma visão holandesa da arquitectura contemporânea.
Trabalharam os diversos projectos em conjunto, ou cada um é responsável pelo seu?
Temos certo tipo de trabalhos que se divide, mas estamos sempre juntos em cada projecto. Todas as segundas-feiras temos reuniões para falar e decidir sobre os projectos em que estamos a trabalhar. Somos todos co-autores dos projectos que fazemos.
E é mais fácil trabalhar assim? Já que se trata de quatro pessoas diferentes?
Falamos os quatro a mesma linguagem arquitectónica, por isso é fácil de lidar.
Como definem a vossa linguagem arquitectónica?
Definimos por não ir atrás de um estilo, não somos fundamentalistas na arquitectura, o que fazemos, e gostamos, é de experimentar várias direcções.
Mas projectam no estilo arquitectónico holandês mais clássico ou direccionam-se para um arquitectura mais moderna?
Temos projectos que juntam o novo com o velho. Como um dos nossos projectos de Amesterdão onde temos, no mesmo edfÃÂcio uma fachada tÃÂpica holandesa com elementos actuais e contemporâneos.
Mas, se tiverem que dar uma definição da vossa arquitectura…
Para definir a arquitectura que fazemos, utilizamos, por vezes, a metáfora do misturador de cocktail porque podemos ver misturas de estilos na nossa arquitectura. Mas ainda se tem o sabor das referências históricas com aquilo que é contemporâneo, inserido no contexto.
Como é que os promotores holandeses e os consumidores finais vêm a vossa arquitectura?
No momento existe uma grande moda de pensar em coisas retro, e ao jogar com essas referências históricas as pessoas gostam, já que a maioria das pessoas não gosta de arquitectura moderna. Gostamos de trabalhar entre as duas coisas. Trabalhamos no chamado «romantic gap», entre a arquitectura moderna e a antiga.
Mas a vossa arquitectura segue as tendências do mercado, ou fazem mesmo aquilo que gostam de projectar?
Não se trata de seguir uma moda, mas muitas vezes somos muito influenciados nas escolas de arquitectura. Mas, por exemplo, 99 por cento das pessoas gostam do centro de Amesterdão, que nada tem a ver com a arquitectura moderna. E mesmo as pessoas que gostam de arquitectura moderna gostam desse centro. Por isso há projectos que se forem pensados e feitos com qualidade provocam uma reacção positiva nas pessoas, é apenas isso que procuramos fazer.
Como referiram anteriormente, a vossa arquitectura segue algum do estilo da tradição arquitectónica holandesa. Assim sendo, acham que conseguiriam projectar noutro paÃÂs, que não os PaÃÂses Baixos, como por exemplo em Portugal, continuando fiéis ao vosso estilo?
Sim claro, mas aàterÃÂamos que olhar para a arquitectura portuguesa e estudá-la. Tal como o Rem Koolhaas fez com a Casa da Música.
Novos projectos
Actualmente, em que novos projectos estão envolvidos?
Estamos a trabalhar em projectos de habitação, por toda a Holanda. Foi uma opção desde o inÃÂcio do ateliê projectar habitação. Mas estamos também a começar a apostar mais noutras áreas. Estamos, por exemplo, a fazer um projecto de uma escola que deverá começar ainda este ano a ser construÃÂda. E estamos também a fazer um edifÃÂcio de escritórios na cidade de Haarlem. Temos igualmente projectos para centros de cuidados de saúde. E continuamos envolvidos em vários planos urbanos, especialmente um que está a ser finalizado perto da cidade de Utrecht.
E têm trabalhos no estrangeiro?
O primeiro projecto que tivemos foi em Granada, Espanha, e depois ganhámos um concurso em Gent, na Bélgica, e temos também um projecto perto de Paris.
Actualmente, e por obrigação comunitária, existem regras para a construção sustentável. A vossa arquitectura engloba a preocupação ambiental para aquilo que está legislado? Temos por exemplo um projecto a que chamamos «forte sustentabilidade». Que tem um desempenho energético muito interessante, em vez dos normais 1.0, usamos o 0.67 de uso de energia, o que é muito bom. Mas também no uso de madeiras, como por exemplo o pinho que utilizamos é cozinhado e tratado para ser mais sustentável. Não seguimos apenas as obrigações, mas tentamos inovar.
Arquitectura portuguesa
E o que conhecem da arquitectura portuguesa?
Conhecemos sobretudo a obra de Siza Vieira e de Souto de Moura. É uma escola. Mas somos da opiniâo que, desde que Portugal entrou na União Europeia construiu-se muito. E especialmente em locais muito bonitos, construiu-se muito mal, nota-se algo um pouco caótico. Mas é a primeira impressão que tivemos. Achamos que é um desperdÃÂcio e uma pena. Mas talvez seja também porque somos holandeses e fazemos as coisas muito organizadas. O que por vezes é mais um sentimento do que a realidade. O que é interessante é que em Portugal se vê sobretudo escola de arquitectura portuguesa, e muito pouca vinda do exterior. Mas a Casa da Música poderá mudar esse panorama e tornar possÃÂvel a vinda de mais arquitectos estrangeiros a construir no vosso paÃÂs.
Mas os projectos construÃÂdos por estrangeiros levantam sempre alguma discussão entre os arquitectos portugueses por se ir buscar arquitectos de fora, em vez de apostar no trabalho nacional…
Passa-se o mesmo na Holanda. Certos projectos que estão a ser feitos por arquitectos estrangeiros levam a uma discussão acessa sobre o assunto. É normal.
E qual o actual estado da arquitectura holandesa?
Continua muito florescente, especialmente em projectos de habitação, mas por outro lado existe muita repetição de ideias. Por vezes parece um pouco previsÃÂvel. Mas é fruto do que aconteceu nos anos setenta, tivemos de resolver uma questão social e construir muita habitação para muitas pessoas e da melhor forma. Assim, temos o know-how de como construir dessa forma, mas por falta de idealismo na nossa arquitectura temos alguns edifÃÂcios estranhos porque somente querem ser diferentes dos outros. É uma ideia que vem de fora da arquitectura e do modelo holandês.
Mas que modelo holandês é esse?
Na Holanda temos o modelo, que utilizamos noutras áreas da nossa sociedade, chamado o «Modelo do Polder» que serve para chegar a consensos. É, sobretudo, um modelo de consensos. Se todos tentarem dar o seu melhor, e não fizerem apenas as coisas que pretendem e, ao invés, trabalharem como verdadeira equipa, os resultados são melhores. Por exemplo, actualmente vê-se muito na Holanda planos urbanisticos muito grandes que são divididos em planos mais pequenos até chegar àarquitectura, e para isso é necessário consensos.
E com a globalização que actualmente vivemos, será que ainda faz sentido falar de uma arquitectura do norte da Europa diferente da feita na Europa do sul. Não haverá uma altura em que todos, do norte e sul, iremos ter o mesmo tipo de arquitectura?
Somos da opinião que as pessoas irão continuar a ser tradicionalistas o suficiente e se fartarem desta dita arquitectura globalizada, as pessoas voltam a desejar as maneiras mais tradicionais da arquitectura, pelo menos no aspecto, e isso já está a acontecer na Holanda. Mas a maneira de planear no sul é bastante diferente do planeamento no norte. Contudo edifÃÂcios ecléticos irão sempre existir, e não vemos isso como um problema
O arquitecto Rem Koolhaas pode ser considerado o embaixador da arquitectura holandesa?
Koolhaas é embaixador de um certo tipo de arquitectura holandesa…mas não de toda. Koolhaas é muito mais conhecido no estrangeiro que certos arquitectos «retro» holandeses. Mas, por exemplo, não sabemos o que pensam os portugueses de Rem Koolhaas, mas temos a ideia e sabemos que é o arquitecto holandês mais conhecido no estrangeiro. Embora não represente a arquitectura holandesa, havendo muitos arquitectos holandeses que nem sequer gostam da sua arquitectura.
Visita ao Porto e o Urbanismo Português
Porque escolheram o Porto para visitar?
O Porto tem mais arquitectura moderna que Lisboa. De facto não sabemos muita coisa sobre a arquitectura que se faz em Lisboa. Não querÃÂamos deixar de visitar a Casa da Música que é um projecto fantástico, para além de outras obras no norte de Portugal como o Estádio de Braga da autoria de Souto de Moura.
E o que acham da Casa da Música? É um projecto que tem a ver com a cidade onde está inserida?
É um «alien», mas algo muito bem feito. Podia ser algo que conceptualmente poderia ser feito noutro local, mas que seria certamente diferente por causa dos jogos de luz e de sombras. Mas também nos podemos perguntar porque o Porto escolheu Rem Koolhaas e Bilbao escolheu Ghery para o Gugheinhem? Achamos que Koolhaas tem mais a ver com o Porto, uma forma mais cultural de fazer a arquitectura. Se se escolhe Ghery escolhe-se status, ao escolher Koolhaas escolhe-se conceito.
O que pensam das principais cidades procurarem as estrelas da arquitectura para fazerem projectos?
É um catalisador para as cidades. Senão será viver sempre no passado, e tem a ver com os vários marcos das várias épocas que as cidades necessitam. Para além disso, as cidades competem umas com as outras e necessitam desses «inputs» arquitectónicos. Como aconteceu em Paris, com o Centro Pompidou, ou até mesmo Amesterdão que tem um projecto de Renzo Piano, o edifÃÂcio Nemo, muito moderno e mesmo no centro da capital holandesa.
Pensam que as cidades devem ter uma abordagem para ter este tipo de edifÃÂcios?
A arquitectura vende, por isso é importante para as cidades.
Daquilo que perceberam da arquitectura portuguesa, e da forma como se constrói e planea, pensam que, em termos de ordenamento, há volta a dar?
Há que trabalhar em consensos e pensar qual a direcção que querem tomar. Talvez seria interessante que quem desenvolve os planos urbanÃÂsticos fosse menos preocupado em ganhar dinheiro depressa. Para que o urbanismo tivesse tempo para se cimentar. Claro que Portugal veio de uma ditadura e depois entrou na União Europeia, será agora o tempo para parar e pensar um pouco em relação àqualidade. Não achamos que Portugal seja um caso perdido de ordenamento. Mas tudo tem a ver com a posse da terra. O que se passa na Holanda é que os diferentes governos controlam melhor os processos. Por exemplo, pode-se chegar a um acordo de construir em altura, mas acorda-se mais qualidade. São consensos. Mas claro que também existem problemas no nosso paÃÂs.
Acham que seria interessante fazer esse tipo de planos em Portugal?
Seria muito importante perceber primeiro como se faz em Portugal e ver a maneira como se poderia desenvolver planos urbanos aqui, mas seria um desafio muito interessante.
Especialistas em urbanismo
Hugo de Clercq, Jurgen van der Ploeg, Coen Kampstra e Pieter Weijnen são os responsáveis do ateliê Faro Architecten. Formado no inÃÂcio dos anos 90, na cidade de Delft, entre Haia e Roterdão, o ateliê encontra-se hoje entre os melhores dos PaÃÂses Baixos. Embora se tenham especializado em arquitectura de habitação apostam também noutro tipo de obras, como na construção de escolas. Mas o grande «knowhow» deste ateliê está no planeamento urbano – tão importante num paÃÂs como a Holanda. Para além de efectuarem muita pesquisa no que toca a densidade populacional.
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