Ateliê àLupa – Bugio
Assente numa filosofia de intervenção baseada em critérios de exigência, fundamentais para criar espaços onde as pessoas se sintam bem, João Favila Menezes compara a arquitectura àculinária, uma vez que ambas necessitam de tempo e muita prática para alcançar um determinado conhecimento e maturidade Exigência como ingrediente Como nasceu o ateliê? João Favila Menezes… Continue reading Ateliê àLupa – Bugio
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Assente numa filosofia de intervenção baseada em critérios de exigência, fundamentais para criar espaços onde as pessoas se sintam bem, João Favila Menezes compara a arquitectura àculinária, uma vez que ambas necessitam de tempo e muita prática para alcançar um determinado conhecimento e maturidade
Exigência como ingrediente
Como nasceu o ateliê?
João Favila Menezes (JFM): O atelier foi fundado pelo meu pai, João LuÃÂs de Sousa Menezes em 1980, e eu quando acabei de me formar fui trabalhar com ele. Entretanto, a determinada altura teve alguns problemas gerados por um projecto e o meu pai depois decidiu fechar o atelier. Nessa altura, há cerca de oito anos, eu decidi com mais dois colaboradores manter o atelier do Bugio.
Tem muitos trabalhos na Madeira. Por alguma razão em especial?
JFM: Eu sou de famÃÂlia madeirense, e apesar de nunca ter vivido lá tenho uma grande proximidade com a Madeira, daàforam surgindo trabalhos.
E o nome Bugio?
JVM: Bugio é o nome de uma ilha deserta na Madeira, é o primeiro promontório que se vê quando se chega àMadeira de barco.
Que balanço faz destes anos de actividade?
JVM: Acho que os últimos anos foram positivos, embora bastante difÃÂceis, porque o tipo de arquitectura que fazemos e o tipo de relação que temos com a prática é uma espécie de temática com um grau de exigência bastante elevado.
Na descrição dos projectos focam muito a questão da paisagem e do território. Qual é a importância da envolvente para o desenvolvimento do projecto?
JFM: É fundamental. Cada vez mais as pessoas têm essa noção, hoje em dia não faz sentido dissociar a arquitectura do território e da paisagem, são coisas que estão intimamente ligadas. Uma coisa é ir a um sÃÂtio, por exemplo na nossa costa, onde se respira um espaço natural, respeitado e com uma arquitectura integrada; outra coisa é ir para um sÃÂtio mal desenhado, impositivo. Mas isso também tem a ver com a forma como se trata o espaço público, ao nÃÂvel dos espaços verdes dentro da cidade de Lisboa, raramente existe um espaço integrado e bem desenhado para servir a cidade. Eu acho que é possÃÂvel intervir com controle e exigência de forma a manter esse conforto.
Podemos concluir que os arquitectos intervêm pouco no desenho das cidades?
JFM: As figuras de planeamento não resultam e os arquitectos são excluÃÂdos do processo. E como o mercado é relativamente pequeno e existem muitos arquitectos, muitos deles acabam por ceder a pressões por parte de promotores imobiliários que os obrigam a atropelar algumas questões.
Actualmente a sociedade já reconhece o papel do arquitecto?
JFM: Hoje em dia têm uma ideia do que é o papel do arquitecto. Eu acho que a questão do ensino também é importante e também contribui para essa situação, uma vez que os arquitectos saem das universidades mal preparados. Eu costumo comparar a arquitectura com a culinária. Um bom cozinheiro antes de fazer 40 ou 50 anos nunca é verdadeiramente um conhecedor. A questão do conhecimento na arquitectura é uma coisa que leva tempo e que obriga a uma espécie de maturidade, um certo conhecimento e muita prática, é preciso fazer muita sopa. Por exemplo se pensarmos numa açorda alentejana e numa casa tradicional alentejana, tem tudo a ver, ambos utilizam elementos pobres dos quais resulta uma grande qualidade.
O projecto da Quinta da Casa Branca foi nomeado para um prémio Secil e para um Mies van der Rohe. Qual é a importância deste tipo de nomeações?
JFM: É um estÃÂmulo, mas acho que é mais importante para o público porque ganha uma espécie de confiança, de crédito. Agora o estÃÂmulo para nós é olhar para a obra passados alguns anos e ver que a mesma permite qualidade de vida, se respira qualidade ao nÃÂvel do ambiente geral.
Em termos de clientes, a encomenda do atelier tem mais públicos ou privados?
JFM: A nossa encomenda é mais pública, mas em ambos sinto que existe uma espécie de dificuldade gerada por diversos factores, uma espécie de pouca disponibilidade para se virarem para as questões da arquitectura. Por exemplo existe uma grande dificuldade em conseguir construir em Lisboa, a cidade continua em grande transformação mas nunca se sabe bem quem está a fazer essa transformação, não é um processo muito abrangente. Depois custa-me perceber porque que é que não se dá espaço a pessoas com grande qualidade, bem como, porque razão a Baixa Pombalina continua neste estado.
Acha que o sistema está viciado?
JFM: Acredito que também possa ser isso, mas é mais do que isso. Acho que os próprios promotores ainda não se aperceberam dos benefÃÂcios de ter um bom arquitecto a trabalhar para eles. Existe uma falta de visão.
Construir ou reconstruir?
JFM: Eu não tenho uma visão historicista, acho que cada edifÃÂcio deve ser avaliado de forma a concluir se o edifÃÂcio tem qualidade para ser reconstruÃÂdo ou recuperado, ou se tem de ser deitado abaixo para se refazer. Agora a recuperação exige competências muitas das vezes mais elevadas, exige um conhecimento técnico da construção, humildade e reconhecimento do que está feito, uma compreensão e um diálogo com essa autoria prévia. O que acontece na classe dos arquitectos é que muitas vezes existe uma espécie de excesso de autoria, e nesse sentido a recuperação é mais exigente porque obriga a um diálogo.
Na descrição de um projecto residencial têm uma citação do arquitecto Louis Kahn que dizia , “(…)ao conceber o espaço o arquitecto materializa o intangÃÂvel(…)â€Â. O que querem dizer com isto?
JFM: Tem muito a ver com uma determinada lógica da estrutura e do desenho, uma estratégia de exigência, com a utopia do arquitecto de levar o planeamento àexaustão, programar tudo e planear tudo de maneira a libertar um espaço de qualidade.
Como define a arquitectura do Bugio?
JFM: É uma arquitectura que tem como objectivo criar espaços para se viver, que tenta equacionar as questões essenciais e permitir que as pessoas vivam num ambiente de qualidade.
Quais são os ingredientes para a sua sopa?
JFM: A paisagem enquanto entendimento do território, a estrutura no aspecto construtivo, a questão da matéria, a experiência da vida, a harmonia, a questão da luz como elemento da matéria, e a ideia enquanto conceito.
Que projectos estão a desenvolver actualmente?
JFM: Estamos a fazer um SPA em Porto Santo, um Hotel em Sintra inserido num contexto de quintas, e a reabilitação e reconversão em unidade hoteleira do Palácio da Rosa, perto do Castelo de São Jorge em Lisboa.
ficha técnica
Nome: Atelier Bugio
Morada: Rua da Alfandega nº108, 2ºesq, 1100-016 Lisboa
Telefone: 218870552
Fax: 218860405
E-mail: atelierbugio@atelierbugio.com
Site: www.atelierbugio.com
Projectos: Reconversão do forte de Nª Sr.ª da Conceição no Funchal (1994-1996); Estalagem da Quinta da Casa Branca no Funchal (1994-1998); Casa Ornelas Monteiro (1994-1999); Casa Ricardo Diogo de Freitas (1997-2001); Ampliação da estalagem Quinta da Casa Branca (1999-2002); Ampliação do Hotel do Porto Santo (2002-2007)