'Postura contemporânea' dá a SAMI-arquitectos Prémio Tektonica 2009
Inês Vieira da Silva e Miguel Vieira, que formam o colectivo SAMI-arquitectos, foram os vencedores, por unanimidade, do Prémio Nacional Tektonica 2009, nesta edição subordinado ao tema "Arquitectura Emergente […]

Ana Rita Sevilha
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Inês Vieira da Silva e Miguel Vieira, que formam o colectivo SAMI-arquitectos, foram os vencedores, por unanimidade, do Prémio Nacional Tektonica 2009, nesta edição subordinado ao tema "Arquitectura Emergente – Inovação e Criatividade". O projecto distinguido foi o Centro de Visitantes da Gruta das Torres, na ilha do Pico, Açores, uma encomenda da Secretaria Regional do Ambiente inaugurada em Maio de 2005, e uma solução que segundo a acta do júri contempla uma ideia, conceito e poética material que se reflectem numa "postura contemporânea na cuidada atenção ao lugar, fundando neste as suas próprias lógicas". No mesmo documento, o júri justifica ainda a sua escolha com "a economia de meios utilizados, seja no projecto em si, seja nos aspectos matéricos ou construtivos" que de acordo com os mesmos "reforça a sua condição de sustentabilidade, entendida de modo operativo e actual e não tão só como dispositivo técnico. A serenidade proposta pela construção emergente, prolonga à superfície o carácter poético do túnel de lava que serve e que em última análise a sustenta e justifica."
O projecto
Aquando da conferência de imprensa da atribuição do prémio, Inês Vieira da Silva deu a conhecer o projecto vencedor, o primeiro que a dupla de arquitectos levou a cabo para aquela ilha açoreana. "Foi um projecto que realizámos em 2003 e que teve uma concretização muito rápida porque foi concluído no ano de 2005. A ilha do Pico é uma montanha no meio do Oceano Atlântico, numa paisagem imponente, rural, vulcânica, e no fundo é este o tema que dá o mote ao nosso projecto", iniciou a arquitecta. "Um cone vulcânico deu origem à Gruta das Torres, e foi através de um chamado skylight (um orifício no solo que resulta de um abatimento da gruta) que se descobriu a mesma, o que no fundo dá umas condições naturais de projecto muito especial, onde grandes árvores são as responsáveis pela estabilidade das paredes da gruta, que ajudam a consolidar esta zona dentada". Do abatimento resultam dois skylights, refere Inês Vieira da Silva, "e o que nos foi pedido na altura pela Direcção Regional do Ambiente foi que fizéssemos a protecção destes dois 'buracos' e construíssemos também um centro de visitantes para dar auxílio às pessoas que quisessem conhecer esta gruta. O que fizemos foi, com o mesmo gesto que já existia num muro de delimitação destes orifícios, resolver o projecto protegendo os dois skylights. Portanto, reforçamos o muro existente de delimitação, aumentámos um pouco a sua altura, consolidámo-lo e no fundo o edifício surge depois como o fecho deste muro de pedra". Numa paisagem sem qualquer contexto urbano, a arquitecta sublinha que não era objectivo "marcar demasiadamente o território". Portanto, para responder a um dos factores mais importantes do cliente, que era a questão do vandalismo, por ser um edifício que se encontra isolado e fora de núcleos urbanos, a opção recaiu sobre uma solução "adequada e interessante", a de construir "um muro em pedra para a protecção do skylight que depois se abria num rendilhado tendo como ponto de partida uma técnica tradicional local que é usada para a protecção de árvores de figueira".
Assim, sustenta, "ao invés de abrirmos portas e janelas nas fachadas do edifício optámos por fazer um rendilhado de pedra justamente na zona em que o edifício toca no muro". Ao nível programático Inês Vieira da Silva explicou que o edifício compreende "um pátio de entrada no edifício, a sala de acolhimento onde as pessoas compram o bilhete de entrada, depois a zona de casas-de-banho e um auditório onde se faz uma pequena apresentação antes dos visitantes irem para a gruta".
"Quando se faz o retorno da visita os grupos são encaminhados por uma pequena rampa que os traz directamente para a sala de entrada permitindo que naturalmente os circuitos possam funcionar sem haver troca de visitantes". Um dos aspectos focados pela arquitecta foi a passagem do exterior para o interior: "O pátio de entrada foi um ponto que achámos muito importante quando estávamos a desenhar o projecto, porque sendo uma paisagem tão ampla e tão natural como aquela era importante o momento e a maneira como nós entrávamos no edifício, não podia ser uma fachada com uma porta em que num momento estávamos numa paisagem enorme e ampla e natural e de repente estávamos dentro de um edifício, para nós era importante um período de transição, pausa e adaptação do exterior para o interior do edifício propriamente dito, e por isso fizemos um pequeno pátio onde temos dois vãos que foram os elementos onde aplicámos material um pouco mais delicado". Do ponto de vista estrutural a preocupação foi a de não tocar e não mexer no terreno, "estando junto da gruta, não queríamos fazer fundações, então aproveitando a inclinação e a pendente do terreno fizemos uma cama de betão sobre a qual pousamos o edifício". Outro dos problemas apresentados foi o de como percorrer os primeiros 40 metros da gruta, revelou a arquitecta. "Existiam grande desabamentos no interior, e das duas uma, ou regularizávamos o pavimento ou tínhamos de encontrar outra solução, e ao invés de explodir estas rochas optámos por fazer um passadiço que vai evitando estes elementos e que no fundo leva as pessoas nos primeiros 40 metros".
As reacções
João Belo Rodeia, presidente da Ordem dos Arquitectos, mostrou-se satisfeito aquando da conferência de apresentação do projecto e sublinhou que "o prémio foi bem atribuído na certeza de que estas novas gerações vão cada vez mais, gerando novos valores". Francisco Aires Mateus, presidente do júri do prémio revelou na mesma altura, e no âmbito das propostas analisadas e da vencedora em especial, que "em arquitectura, a qualidade do projecto está associada à sua capacidade de sobreviver na memória, está associada à maneira lúcida de se afirmar e contar o seu tempo e em última análise à sua capacidade de influenciar outros projectos. Hoje verifica-se uma excessiva preocupação em fazer do ofício de arquitecto uma carreira rápida e de estrelato. A competitividade entre arquitectos é uma actividade sem tréguas na qual se torna difícil trabalhar com serenidade e a partir de convicções, o que conduz em muitos casos a arquitecturas fáceis, imediatas, enquadradas pelo mundo da imagem e da moda. Na minha opinião, o termo jovem arquitecto que enquadra este concurso é só um eufemismo para limitar uma selecção que não deve ser incompatível com o rigor e na qual se torna imprescindível viver a aventura que significa abordar o projecto como um acto criativo pleno, um olhar introspectivo, um olhar interior de cada um de nós. Projectar, fazer arquitectura, é um acto fundativo, pleno", conclui Francisco Aires Mateus.