Arquitecto Souto de Moura admite que património histórico mantém-se melhor se for usado
O arquitecto criticou a tendência para se criar “uma imagem artificial do património e se associar a uma coisa que tem de ser preservada para a cultura”
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O património histórico mantém-se melhor se for usado, independentemente da função, defendeu o arquitecto Eduardo Souto Moura, responsável pelo projecto de transformação do Mosteiro das Bernardas, em Tavira, em habitação.
O edifício – que era o maior de cariz conventual do Algarve e o único da Ordem de Cister na região -, vai ser transformado num condomínio de luxo composto por 78 “lofts” para fins residenciais.
Fundado em 1509, o Convento das Bernardas acolheu durante três séculos religiosas oriundas de Tavira e de todo o Algarve, havendo ainda referências históricas à presença de monjas do Alentejo e Açores.
Seriamente danificado na sequência do terramoto de 1755, o edifício foi vendido em hasta pública, em 1834, devido à extinção das ordens religiosas em Portugal, passando a acolher a Fábrica de Moagem e Massas a Vapor.
O arquitecto criticou a tendência para se criar “uma imagem artificial do património e se associar a uma coisa que tem de ser preservada para a cultura”, o que muitas vezes resulta que edifícios fiquem abandonados ou caiam por não se encontrar aplicação.
“Não me sinto repugnado”, garantiu, a propósito deste empreendimento, lembrando que, no passado, outros mosteiros foram transformados no passado em quartéis, escolas ou hospitais.
“O uso”, enfatizou Souto Moura, “é o grande segredo. Mesmo que provisoriamente se cometa algum erro, o facto de estar lá gente pelo menos arranja o telhado e não chove lá dentro: o pior inimigo do património é a água”.
Todavia, admitiu que a transformação do Convento das Bernardas foi sido “um dos projectos mais difíceis” que realizou por ter de adaptar um edifício construído para outras funções com requisitos de outros tempos.
“O facto de ter de furá-lo para conseguir o mínimo de luz para as respectivas divisões da casa foi uma operação de alto risco; se furasse de menos não tinha luz, se furasse demais partia o mosteiro”, explicou à agência Lusa.
O projecto, que implica um investimento que ronda os 20 milhões de euros, tem a fase da estrutura terminada e vai iniciar a fase de acabamentos, devendo estar terminado no final de 2011, estima António Guerreiro, administrador da promotora imobiliária Entreposto.
Na sua opinião, ter Souto Moura como responsável do projecto “é claramente diferenciador” e que ajuda a vender as habitações, que foram apresentadas em Londres na quinta feira juntamente com o empreendimento Bom Sucesso, em Óbidos, onde o arquitecto portuense está igualmente envolvido.
Souto Moura é o responsável pelo projecto do hotel, cuja construção irá arrancar no terceiro trimestre do ano.
O Bom Sucesso é um ‘resort’ de golfe com habitações de arquitectura contemporânea, das quais 200 das 600 previstas já foram entregues, enquanto outras 100 estarão terminadas até ao início do verão.
O administrador da promotora, que tem o mesmo nome do complexo, António Pereira, revelou ter nesta fase “mais de 80 por cento” das casas vendidas.