‘Falta regulamentação na área da fiscalização de projectos’
Pedro Braga é o director-geral da delegação portuguesa desta multinacional.
Pedro Cristino
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Pedro Braga é o director-geral da delegação portuguesa desta multinacional. Em conversa com o Construir, este responsável explicou a actividade e as motivações do grupo que ganhou o estudo de impacte ambiental do Novo Aeroporto de Lisboa.
Como entrou a empresa em Portugal?
O grupo entrou em Portugal em 1992, quando adquiriu a Fernando Brás Oliveira, uma empresa dedicada a fiscalização de obras e gestão de projecto. Mais tarde, adquiriu também a Tecnopor. Durante alguns anos, coexistiram no mercado as três marcas, até 2007, quando se fez um processo de fusão, e passaram a estar reunidas sobre um único “chapéu”, que é o da DHV.
A que soluções se referem as patentes desenvolvidas pela DHV?
O grupo, mais do que ser uma empresa de consultoria e de engenharia, investe muito nos seus activos, na formação dos seus quadros e no desenvolvimento de tecnologias. No que concerne ao mercado da água, que é muito importante na indústria do ambiente no nosso país, a DHV é a inventora de uma tecnologia que está consolidada mundialmente e se chama Carrossel. É a tecnologia de base convencional das estações de tratamento de águas residuais (ETAR). Agora evoluímos para uma segunda geração, que se chama Nereda e vai de encontro a uma das maiores necessidades que existem hoje relativamente à exploração dos sistemas de tratamento de águas residuais – a optimização dos custos da operação destes próprios sistemas. Nós desenvolvemos e apostamos muito em tecnologia e temos uma articulação muito forte com as universidades, nomeadamente com a de Delft, na Holanda. Esta universidade é muito conhecida por ter uma larga tradição no campo do estudo e na procura de soluções para o tratamento de águas residuais. Portanto, desenvolvemos uma nova tecnologia que estamos a introduzir no mercado. Em Portugal temos um piloto a funcionar numa das maiores ETAR, que é a de Frielas e, basicamente, a característica distintiva desta tecnologia relativamente àquela que é vulgarmente conhecida como Carrossel reside, desde logo, no facto de o investimento na aquisição da área da implantação estar reduzido a um terço. Isto porque, ao contrário dos outros processos de tratamento, que têm, fisicamente, unidades ou componentes diferentes, esta tecnologia concentra no reactor todas as fases. Por outro lado, em termos de obra de construção civil, propriamente dita, com preços bem mais competitivos porque requer menos quantidades do que aquelas que estão afectas a uma ETAR convencional em termos dos materiais.
Mas é uma tecnologia mais complexa…
Eu diria que é mais evoluída no processo tecnológico, porque aquilo que faz a grande diferença no aspecto tecnológico é que, enquanto numa ETAR convencional, o processo de tratamento se dá por floculação, esta tecnologia, em vez de flóculos, produz grânulos que, sendo muito maiores e mais pesados, têm uma velocidade de sedimentação muito maior. Portanto, isto permite atingir rácios de poupança entre os 30% a 40%, uma vez que se alcança o mesmo resultado muito mais rapidamente face à tecnologia convencional.
Além desta tecnologia, desenvolvem mais patentes?
Ainda no negócio da água, posso dizer-lhe que temos uma outra ferramenta chamada Opir que consiste num software que procura uma optimização naquilo que são as necessidades e os consumos em sistemas de abastecimento de água e acaba também por ter um reflexo na poupança na gestão desses sistemas. Por outras palavras, num sistema em alta que tem um conjunto de necessidades de bombagem da água, de estações elevatórias e de reservatórios, este software faz uma análise dos picos de consumo e percebe que não é preciso estar sempre em carga porque não há consumo que justifique, a determinadas horas do dia, que aquele reservatório esteja completamente cheio, porque não vai haver necessidade daquela água. Faz esse diagnóstico e vai optimizando as necessidades energéticas em função dos consumos que realmente existem, permitindo obter poupanças na casa dos 10%.
O mercado nacional valoriza esse tipo de sistemas patenteados?
Acho que, infelizmente, existe um certo receio. Apesar de, nos termos da lei, estar completamente salvaguardada a possibilidade de haver tecnologias únicas e de as mesmas poderem ser adquiridas, a verdade é que as entidades públicas têm algum receio em enveredar por tecnologias únicas, com base nas regras da concorrência. Diria que a vantagem da DHV em termos dos outros concorrentes, é que não somos novatos. Já temos provas consolidadas e entendemos que o capital de confiança que conquistámos no mercado nos permite transmitir aos potenciais clientes uma salvaguarda de que a tecnologia oferece todas as garantias que mencionamos. Por outro lado, quem está atento a este mercado, sabe que o custo que, hoje em dia, cada um de nós paga para ter o serviço de disponibilidade de água em casa e também para o tratamento de águas residuais, não é condizente com o integral custo de investimento, exploração e manutenção dos sistemas que hoje estão implementados.
Não é condizente em que aspecto?
Nós pagamos um preço muito baixo. A maior parte das Câmaras Municipais não quer fazer repercutir nos seus munícipes o integral preço que estes serviços custam. No dia em que os poderes políticos tiverem que aumentar o preço da água e isso se reflectir na factura que cada um de nós recebe em casa, vão estar muito mais sensíveis e receptivos para introduzirem um conjunto de tecnologias que lhes permita baixar os custos de exploração. Esta é a única forma de amortecer o impacto que a subida das tarifas terá no consumidor final.
O mercado nacional continua a crescer …
É um mercado que está a conhecer uma mudança importante. As empresas de engenharia, como estão infra-estruturadas até agora, estão a viver dias muito difíceis no país. O valor dos serviços associados à engenharia estão muito pressionados e, portanto, as taxas horárias que se pagam estão absolutamente depreciadas. É a perversão total, quando os empreiteiros partem para um negócio a perder dinheiro. Em regra, uma empresa de construção civil vai para uma qualquer empreitada a perder 15%.
A que se deve essa perda?
A pressão sobre o preço é tanta que depois tentam recuperar essa perda através daquilo que se chama processos de optimização durante o processo construtivo. Isso é trocar as regras a meio do jogo e, na minha opinião, merece intervenção da regulação no sentido de acautelar que estas coisas não aconteçam. Quando uma construtora necessita de uma empresa de engenharia como a DHV e de uma qualquer cotação com serviço associado de, por exemplo, um projecto de estruturas, e vai para uma empreitada a perder 15%, olha para a empresa de engenharia como um parceiro que também tem que perder dinheiro para se introduzir naquele negócio. Contudo, a empresa de engenharia não está no processo de construção e não consegue recuperar esse valor como a construtora consegue. Desta forma, não queremos estar em todos os projectos, só queremos estar em projectos de referência.
E que projectos são esses?
De preferência, mas não exclusivamente, queremos estar em projectos em que o drive não seja o preço. Se se analisar o mercado, conclui-se que a DHV, no ano de 2009, ganhou os maiores estudos de consultoria que houve no país. Ganhou o estudo de impacte ambiental do Aeroporto de Lisboa, em que o preço valia 30%. 70% referia-se à qualidade técnica e à metodologia da proposta. Neste caso, avançámos sem medo nenhum para o mercado e conseguimos, através do esforço e do empenho, vencer empresas como a CH2M Hill, que é uma das maiores empresas de consultoria do mundo. Em termos de planos de bacia que foram lançados o ano passado, a DHV ganhou os lotes mais importantes, como Lisboa – as águas superficiais e a parte económico-financeira – e a coordenação do Norte. Só em planos de bacia, no volume de consultoria, atingimos números que não são muito comuns. Estamos a falar de 2 milhões de euros em Lisboa e, no Porto, de 550 mil euros. Uma vez mais, a componente do preço valia 20%, porque o que o cliente privilegiou a qualidade e o mérito da proposta, e é assim que tem de ser porque, quando um país como Portugal tem que fazer, na decorrência de directivas da União Europeia, planos de bacia para gerir os seus recursos hídricos, isto é feito uma vez na vida. Portanto, o critério não pode ser o preço. Tem de ser qualidade, tem de ser a segurança de que o Estado português, neste caso através das administrações de recursos hídricos, vai ter um trabalho cuja integridade não é posta em causa.
Esta vossa filosofia não poderá reduzir a vossa carteira de encomendas?
É óbvio que se, circunstancialmente, eu tiver colaboradores desocupados, terei de fazer um esforço para ser mais competitivo. Mas essa não pode ser a regra, porque isso condena qualquer empresa. Apesar da crise e, no advento desta materialização que correu em 2009, nós temos um trabalho em carteira para dois anos e meio. Estamos todos a viver uma situação difícil. Mas o plano de negócios da DHV em Portugal não é feito exclusivamente no próprio ano, portanto, estamos relativamente optimistas quanto ao futuro.
Como caracteriza as áreas de fiscalização de obra e de consultoria no grupo?
A fiscalização é uma componente importante do grupo, onde temos uma carteira de clientes muito significativa que inclui empresas como a Refer, a EDP ou a Águas de Portugal. Temos, nesse sentido, projectos plurianuais nesta área também. O negócio da fiscalização é um negócio de grande volume em termos financeiros, mas as margens são mais estreitas, enquanto que na consultoria, sobretudo na consultoria de elevada especialização, que é o caminho que estamos a seguir, há um valor acrescentado bem mais confortável.
A que se deve esse factor?
Não há uma entidade que regule a actividade de fiscalização e a DHV, como outras empresas do mesmo nível, apresenta propostas com um preço, para depois verificar que surgem outras propostas com um terço desse preço. Isto é incomportável. Para se exercer actividade de construção civil, é necessário ter tipos diferentes de alvará, consoante a obra. Apesar de alguns clientes fazerem um processo de pré-qualificação, a maior parte dos concursos públicos não obedece a este tipo de requisitos. Por sua vez, o negócio da consultoria é diferente, porque aqui o cliente ainda valoriza o conhecimento que o consultor tem para lhe transmitir.
Em termos de actividade internacional, que países são interessantes para a empresa?
Temos o objectivo de, nos próximos cinco anos, sermos a maior empresa de consultoria de engenharia no país. Neste momento, a prioridade é consolidar a posição no mercado português. Isto não significa que não estejamos atentos a oportunidades de negócios noutros países. Podemos considerar o Magrebe e Cabo Verde, onde já tivemos projectos, como lugares importantes no plano de negócios da empresa.
Qual o peso destes mercados para a facturação do grupo?
Neste momento, o peso do mercado internacional para a DHV deve rondar os 7%. O objectivo será conseguir, depois de estabilizada e consolidada a operação em Portugal, ter uma fatia desta facturação que oscile entre os 20% e 30%.
Qual é, actualmente o volume de negócios da DHV?
O grupo tem um volume de negócios global na casa dos 500 milhões de euros. Há três anos atrás andava na casa dos 350 milhões. Isto mostra que a DHV tem crescido de uma forma sustentável.
Sentiram algum efeito da actual conjuntura económica?
Sim. Nós em Portugal decrescemos, em termos de facturação, de 18 milhões de euros, em 2008, para cerca de 13 milhões em 2009. Tivemos que fazer um processo de adaptação a novas realidades e preparar a empresa para o futuro.