Coberturas – Reabilitação estratégica para este mercado
Qualquer que seja a empresa, seja de que segmento de mercado for, para se manter activa tem de procurar a excelência e a diferenciação, sobretudo como forma de se precaver para quebras cíclicas de mercado. De acordo com a análise da Federação Portugu
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Qualquer que seja a empresa, seja de que segmento de mercado for, para se manter activa tem de procurar a excelência e a diferenciação, sobretudo como forma de se precaver para quebras cíclicas de mercado. De acordo com a análise da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (FEPICOP), referente a Janeiro, os “principais indicadores do sector da construção mantiveram uma trajectória descendente e os níveis de confiança dos empresários permaneceram com sinais negativos, devido à quebra das encomendas em carteira”. Segundo os dados da federação, o índice de produção de obras de engenharia civil recuou em Janeiro 15,3%, o índice de produção de edifícios para habitação 36,6% e o índice de produção de edifícios não residenciais 4,7%. Os valores, que se associam a uma quebra significativa já verificada nos anos anteriores traz naturalmente complicações a vários sectores de actividade. Um desses casos é o mercado das coberturas, envolto que está num conjunto de transformações por que passa o sector, associadas não só à componente de reabilitação como naturalmente à componente energética. Até há uns anos – largos anos, talvez – a principal função atribuída às coberturas passava pela garantia da estanquidade das casas e dos edifícios. Actualmente percebe-se com cada vez maior insistência que associada às coberturas deve estar também a garantia de isolamento térmico e acústico das habitações.
Benefícios fiscais
O início de 2010 fica marcado por implicações no Orçamento de Estado associadas à eficiência energética, nomeadamente na instalação de vidros duplos e isolamento de telhados. Com a possibilidade de agora os portugueses poderem deduzir no IRS a instalação de vidros duplos ou o isolamento dos telhados, o Governo “pretende reforçar o estímulo directo aos contribuintes na realização de despesas que, além de possuírem retorno financeiro a longo prazo para os próprios contribuintes, conduzem também à redução da factura energética do País”. O Orçamento de Estado para este ano inclui o “Programa Reabilitação Eficiente”, que tem como objectivo promover intervenções de reabilitação que melhorem a eficiência energética dos edifícios existentes, através de medidas de incentivo ao isolamento térmico (fachadas, pavimentos e coberturas) no sector residencial e medidas de incentivo à renovação das características térmicas dos vãos envidraçados (caixilharia, vidro e protecções solares). Para o responsável comercial da Margon, Luis Miguel Marques, a empresa está a apostar em duas soluções que “assentam como uma luva no mercado de reabilitação”. Uma dessas soluções é uma telha Marselha-Ultra, um modelo de telha de traço marcadamente tradicional, e que caracteriza de forma tão proeminente zonas históricas do país como é exemplo a baixa Pombalina de Lisboa e a baixa Ribeirinha do Porto. Segundo Luís Miguel Marques, “trata-se de um modelo que permite uma execução em fiadas longitudinais alinhadas ou, fiadas longitudinais desencontradas, assegurando um encaixe perfeito em qualquer das opções. Na possibilidade de se utilizar este modelo de telha executado em fiadas longitudinais desencontradas, dispomos de elementos acessórios que permitem o perfeito acabamento sem necessidade de cortes ou remendo, nomeadamente através da utilização de meias-telhas ou telhas duplas e remates laterais”. Além da telha-marselha, a Margon promove também uma solução que passa pela utilização da telha Ibérica, um modelo aba-canudo que recria visualmente a antiga telha de canudo portuguesa. A grande mais-valia deste modelo está precisamente em permitir que se obtenham todas as vantagens de uma telha de encaixes tipo aba-canudo, a custos significativamente mais contidos do que a utilização de telha canudo, mas simulando o mesmo efeito visual desta.
Eficiência energética
A pensar nestas potencialidades, a Universidade do Minho e a Universidade Nova de Lisboa estão prestes a apresentar (espera-se que seja já em 2011), o resultado de um conjunto de investigações que têm sido produzidas nos últimos anos e que vai resultar na criação de telhas com capacidade de produzir energia. A radiação solar pode ser convertida em energia eléctrica graças ao efeito fotovoltaico, uma tecnologia que tem sido alvo de grande interesse por ser geradora de “uma energia eléctrica amiga do ambiente e economicamente atractiva”. Como explica Vasco Teixeira, coordenador da equipa Solar Tiles, tecnicamente, a produção dos equipamentos conversores baseia-se em estruturas multicamada de silício microcristalino, na forma de painéis fotovoltaicos, e “que se encontram actualmente disponíveis no mercado”. Através de um filme que é depositado nos revestimentos cerâmicos, consegue-se captar a energia emitida pelo sol, armazená-la e transformá-la em energia eléctrica. Tal tem como base uma tecnologia extremamente sofisticada, desenvolvida à escala laboratorial e, por isso, com um custo de investimento muito elevado, o que justificou o recurso ao apoio do QREN. Tecnicamente, consiste no desenvolvimento de protótipos funcionais de produtos cerâmicos fotovoltaicos integrados, de elevada eficiência, para o revestimento de edifícios (telhas e revestimentos exteriores de fachada) que incorporem filmes finos fotovoltaicos (da última geração). Pretende-se que os protótipos a desenvolver se caracterizem por uma elevada qualidade estética e desempenho técnico. Entre as empresas envolvidas neste projecto está a Coelho da Silva, especialista em coberturas cerâmicas, que conjuntamente com a Revigrés, a Dominó, a De Viris e com organismos como Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro , o Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Centro de Física da Universidade do Minho, o Centro de Investigação em Materiais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e a ADENE, estão envolvidos neste projecto inovador. Garantem os responsáveis por este projecto que a inovação desta solução, em comparação com outras soluções existentes no mercado, encontra-se na deposição directa na telha e nos revestimentos cerâmicos de células solares à base de filme fino de Silício amorfo (obtido não a partir de silício metalúrgico mas sim de um gás) usando portanto só uma fracção (em espessura) de material. Trata-se de uma solução mais versátil pois permite depositar as células sobre bases flexíveis, vidro (o habitual) e plásticos. Do ponto de vista das telhas para cobertura e até mesmo das cerâmicas de fachada, a inovação prende-se com a necessidade de desenvolver uma camada compacta que evite difusão de impurezas da telha para a célula, maximizar eficiência, durabilidade, cor estética final e fazer o encapsulamento final (filme especial de polímero e revestimento impermeável ao oxigénio e humidade) de modo a evitar a degradação das propriedades ópticas e eléctricas do dispositivo fotovoltaico exposto às condições adversas atmosféricas, no que resultaria perda da eficiência. A equipa de investigação e em especial as duas universidades envolvidas utilizarão o know-how adquirido na investigação científica que tem sido desenvolvida desde há vários anos na área de ciência de nano-materiais, dos filmes finos funcionais , dos óxidos transparentes e condutores, das células solares e da nano-tecnologia aplicada a sistemas eficientes de energia, o que permitirá desenvolver as camadas cerâmicas e filmes finos funcionais para aplicações de energia solar fotovoltaica envolvendo integração arquitectónica e o eco-design. Mas para onde caminha este segmento de mercado? Para Luis Miguel Marques, responsável pelo departamento comercial da Margon, este “é um segmento em expansão, que será tão mais rápida quanto os estímulos financeiros que venham a ser criados, quer ao nível de benefícios fiscais como de linhas de crédito especializadas”. “Existe em Portugal um património arquitectónico imenso que urge ser reabilitado sob risco de se perder se não for intervencionado atempadamente. No entanto, a falta de confiança na estabilidade do mercado imobiliário tem levado os seus proprietários a adiar sucessivamente as necessárias acções interventivas”, acrescentou. “Pensamos que, em matéria de inovação nesta área, a tendência será criar/ melhorar materiais que tragam valor acrescentado efectivo ao projecto de reabilitação. A mais-valia de um projecto de reabilitação não está apenas em obter-se melhores coeficientes de eficiência energética, ou refazer-se apenas o que já existia, mas sim conjuga-los por forma a que se mantenha o traço arquitectónico existente, integrando-se de forma harmoniosa com a arquitectura e elementos construtivos contemporâneos, sem descurar o respeito pelos padrões actuais de conforto habitacional”, sublinhou Luís Miguel Marques.
Onduline aposta na reabilitação
Quem também está atenta ao segmento da reabilitação é a Onduline Portugal. A empresa de Vila Nova de Gaia, filial da francesa Onduline SA, aposta neste mercado não só por via das quebras na construção nova como por factores estratégicos, o que acontece desde a década de 80. Para o director técnico comercial da empresa, Miguel Silva, “perante a forte crise que o sector da construção nova está a atravessar e cuja retoma será, no nosso entender, lenta, é o mercado da Reabilitação aquele que nestes momentos é procurado como possível saída para muitos dos intervenientes na fileira da construção”. Para Miguel Silva, “as soluções para a área da reabilitação de coberturas, evoluíram bastante nos últimos anos (qualidade e variedade da telha cerâmica, mais opções em termos de isolamentos térmicos, novos sistemas de impermeabilização, etc..)” . No entanto, o responsável comercial da Onduline acrescenta que “mais do que procurar novas soluções, o que não deixa de ser importante, dever-se-ia apostar também na melhoria técnica das já várias soluções existentes. Falamos de questões fundamentais para as coberturas, tais como a ventilação, o isolamento térmico e a impermeabilização das mesmas, por exemplo. A melhoria dos serviços prestados pelas empresas do sector também é, no nosso entender, crucial”. Daí que a estratégia da empresa passe também pela prestação de serviços associada à prescrição de soluções e que vão desde o apoio técnico na elaboração do projecto, “mediante ferramentas de trabalho como os pormenores CAD, passando pela ajuda na orçamentação para concursos e pelo apoio técnico em obra de forma a optimizar a aplicação dos produtos. No fim dos trabalhos, poder-se-ão emitir pareceres técnicos que darão uma maior segurança a todos os intervenientes no processo da obra”. E por que apostas passa a estratégia da Onduline? Miguel Silva considera que face à qualidade que atribuem ao sistema de impermeabilização de coberturas, a aposta vai passar pelo sistema de Sub-telha Onduline (e na sua melhoria contínua). Esta é uma solução fácil de aplicar, leve e segura, de custo reduzido, que permite impermeabilizar as coberturas tradicionais de telha, sem alterar, quando pretendido, a imagem original das mesmas, aproveitando ainda na maior parte dos casos as estruturas e outros materiais já existentes na construção original. É uma solução muito fácil de integrar na reabilitação de coberturas, dado que permite recuperar a mesma tecnicamente, sem qualquer choque estético e conjugá-la perfeitamente com outras soluções técnicas (ex: isolamentos térmicos)”, refere o director técnico e comercial da empresa.
Cobertura polémica
A Associação Feiras e Mercados da Região Norte (AFMRN) considerou “um acto estapafúrdio e medíocre” a cobertura central do Mercado Bolhão, no Porto, prevista no projecto da Direcção Regional de Cultura do Norte (DRCN). A cobertura fazia parte do projecto original do Bolhão, do arquitecto Correia da Silva, mas ficou no papel desde que o mercado foi inaugurado, em 1914, até hoje, alegadamente por falta de meios financeiros. A DRCN pegou nesse plano e recuperou-o no essencial, o que quer dizer que o novo Bolhão terá um visual muito semelhante ao que abriu as portas há quase um século. A cobertura será como estava previsto inicialmente, em vidro e em ferro, e “é muito ventilada”, acrescentou Paula Silva, adiantando que a ventilação faz lembrar a do Mercado Ferreira Borges, também no Porto. “É um bocado esse princípio”, acrescentou Paula Silva, referindo que haverá “umas grelhas” para esse efeito.
No entanto, a AFMRN desaprova esta solução, dizendo que ela quebra toda a lógica de comercialização de produtos frescos, “descaracterizando o conceito arquitectónico e mercantil daquele que é um dos cartões de visita da cidade do Porto”.
A associação opina ainda que a cobertura “provocará consumos energéticos elevadíssimos, derivado das ventilações forçadas de equipamentos de ar condicionado, que incitarão atmosferas viciadas de cargas víricas, nefastas para os utilizadores e bens alimentares”.
A AFMRN conclui que “a praça aberta de mercado desaparecerá e anuncia-se, novamente, uma imagem de shopping semelhante à da empresa TCN”.
Esta empresa, recorde-se, ganhou, em 2007, um concurso para a reabilitação do Bolhão, mas foi afastada pela autarquia por “grave incumprimento dos compromissos assumidos”. A associação defende que o Bolhão deve ser reabilitado segundo “a única proposta existente e pronta a executar, já totalmente paga e aprovada pelo Ministério da Cultura e C. M. Porto, da autoria do arquitecto Joaquim Massena”.
Na última sessão da Assembleia Municipal do Porto, o vereador do Urbanismo da autarquia, Gonçalo Gonçalves, admitiu que as obras de recuperação do Mercado do Bolhão pudessem começar no “início de 2011”.