‘O luxo, aqui é o espaço, o local e a paisagem’
Especialista no planeamento de projectos para indústria turística, Teixeira Pinto trabalha em Portugal há mais de 20 anos, e em conjunto com o seu arquitecto sénior Filipe Bonito, tem trabalhado no projecto do Martinhal, desde o seu início, há cinco
Ana Rita Sevilha
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Especialista no planeamento de projectos para indústria turística, Teixeira Pinto trabalha em Portugal há mais de 20 anos, e em conjunto com o seu arquitecto sénior Filipe Bonito, tem trabalhado no projecto do Martinhal, desde o seu início, há cinco anos atrás. Para a equipa do JLTP Arquitectos, liderada por Teixeira Pinto, “a principal característica do Martinhal é a sua localização privilegiada, situada numa encosta entre o mar e o parque natural”. Nesse sentido, a opção foi a de “adaptar os edifícios ao solo mantendo-os simples e de baixa densidade para tomar partido das vistas e do ambiente”. O Construir foi a Sagres, e numa conversa com Teixeita Pinto, ficou a saber que o luxo aqui não significa a utilização de itens caros mas o privilégio de ser capaz de caminhar descalço até à praia.
Luxo Confortável” é o conceito que define o Hotel Martinhal. Colocando este conceito em palavras, no que se materializa?
Teixeira Pinto: Honestamente, penso ser mais difícil explicar as ideias por palavras pois efectivamente é mais fácil ver a imagem da obra feita, no entanto antes de se chegar ao dito “Luxo Confortável” houve um conceito mais baseado no enquadramento do local onde se inseria o projecto, do que em qualquer interioridade do próprio edifício. Em minha opinião, o luxo começa no próprio terreno. Com efeito, antes de mais, tivemos o privilégio de construir num terreno, que não é fácil encontrar muitos iguais no Algarve. Se estes factos – paisagem, local e terreno – já são sinónimos de qualidade de vida, o resto resume-se a pequenas coisas que apreciamos, relacionadas com conforto. O luxo, aqui, repito, é o espaço, local e paisagem.
A envolvente acabou por contaminar o projecto?
Óbvio que sim. Acho que nesta obra o que deve ser valorizado é este “quadro natural”, paisagem, local e terreno, depois o resto vem por acréscimo. Valorizar a edificação, neste contexto é fundamental e fácil.
Mas se o desenho do Hotel partiu de um contexto que é o lugar e a sua envolvente, de que forma é que a paisagem influenciou o seu desenho?
Não foi só a paisagem. É preciso que se note o seguinte, este não é um projecto de uma autoria, mas sim um projecto de uma vasta equipa. Não podemos esquecer que há um programa base feito por um atelier inglês – Conrad & Partners, e que foi a partir daqui que nasceu o resto. Há um conceito, um programa base/masterplan, com o qual começámos de início a trabalhar. Em conjunto o projecto é um todo, não nasce de uma só cabeça, pois a arquitectura funciona com o contributo de muita gente e neste caso não posso deixar de acentuar o trabalho do meu colega Filipe Bonito. Depois, claro está, trabalhamos e adaptamos conceitos. Conceito que é materializado neste hotel com um diferenciado funcionamento do mesmo. Isto é, há uma ideia base que depois é trabalhada. O próprio terreno foi potenciador desta ideia, não esquecendo também o aproveitamento de toda a vegetação existente. Portanto, a própria localização do hotel estava dependente do que disse anteriormente, e o projecto foi aparecendo com naturalidade. A contemporaneidade do edifício é o resultado que apareceu com naturalidade, à medida que foram introduzidas as premissas do programa.
Por um lado dizem que optaram por formas geométricas, por outro que as “silhuetas foram desenhadas de forma a alinharem-se na perfeição com a envolvente natural”, o que sugere formas mais orgânicas…
Orgânicas não têm de ser obrigatoriamente formas arredondadas. Nós temos de viver e interpretar a envolvente que temos normalmente. Associamos orgânicas a linhas naturalmente arredondadas, mas aqui o terreno era plano. Aqui não poderia haver outra leitura que não fosse de linearidade. É evidente que se podia colocar todo o projecto muito arredondado, mas não fazia sentido. A tal forma orgânica, neste terreno e com esta localização, é esta, é a linearidade que sobressai e não poderia ser outra.
Em termos de desenho, o que diferencia o Hotel do Resort?
Existem somente algumas pequenas diferenças arquitectónicas, principalmente de ordem plástica, mas é evidente que existe um ponto comum, isto é, a tal linearidade que resultou do que o próprio terreno efectivamente pedia, não é uma questão de moda, é um resultado da leitura da maneira que interpretamos o terreno. No aldeamento o princípio está nas janelas rasgadas e no máximo aproveitamento do espaço exterior, mas adaptado à sua própria utilização.
Este é um Boutique Hotel. No que consiste este conceito?
É um espaço mais intimista, com algum design. É o extrapolar a vivência “cosi” de uma casa. No fundo é criar uma situação mais intimista, como se a pessoa estivesse confortavelmente em casa.
E em termos de materialidade, onde recaiu a opção?
Em materiais locais, o que era fundamental e não deveria ser de outra maneira.. Essa era a obrigatoriedade do próprio promotor como premissa. É importante frisar que o promotor definiu à partida nos cuidados que devíamos ter na concepção/construção, sem esquecer a integração paisagística, pois não podemos esquecer que estamos inseridos num parque natural e que em termos de paisagismo deveríamos respeitar a vegetação o mais possível. O que nos obrigou a olhar com muito mais cuidado para qualquer proposta que tivéssemos de fazer. De uma forma geral o que foi utilizado resume-se ao que é aparente, muito uso de madeira e de pedra da região.
Tendo em conta que estamos num sítio onde abunda sol e muitas vezes vento, foram equacionadas medidas de eficiência energética?
Temos ao nível dos painéis solares. Aliás, este será com certeza um Resort certificado energeticamente, pois tudo funciona muito suportado no aproveitamento da energia solar. Há um reaproveitamento muito grande dessa energia. Penso que a percentagem de aproveitamento ronda os 60%.
Neste tipo de projectos – hoteleiros, a forma segue a função ou a função segue a forma?
Eu sou um bocado pragmático em relação a isso, nunca me esqueço qual é a função a que se destina o edifício que se projecta. É óbvio, que poderá ser criticável, mas acho que os arquitectos têm de ter o engenho e a criatividade, para perante o programa mais difícil dar uma boa resposta arquitectónica, tanto plástica como funcional. Portanto eu não vou atrás da forma e depois o uso, é exactamente o contrário. Nas dificuldades é que a arquitectura deve aparecer.
E quais são as principais preocupações quando se desenha e pensa num Hotel?
Há uma coisa que é fundamental, o fim a que se destina. Grande parte do meu percurso é em hotelaria, e nunca me posso esquecer que estou a trabalhar para um hotel. Um hotel tem particularidades onde a forma muitas vezes tem de ser subjugada. Acho que a funcionalidade é fundamental, e não consigo pensar de outra maneira.
Que análise faz ao desenvolvimento destes programas, no Algarve?
Existe uma maior sensibilidade, e principalmente sinto que os promotores já começam a ouvir mais os técnicos. De todas as áreas, isto é, a arquitectura e os engenheiros das diversas especialidades. Não posso deixar de sublinhar que nunca tive um promotor tão aberto à inovação como este.