Molhe Norte da Barra do Douro vale Prémio Secil a Silveira Ramos
“É um prazer e uma honra muito grande, dado que, hoje em dia, o Prémio Secil de Engenharia, é uma espécie de Nobel da engenharia nacional.”
Pedro Cristino
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“É um prazer e uma honra muito grande, dado que, hoje em dia, o Prémio Secil de Engenharia, é uma espécie de Nobel da engenharia nacional.” Foi assim que Fernando Silveira Ramos descreveu ao Construir o que significa, para si, ter alcançado este galardão, que distingue o seu trabalho na obra do Molhe Norte da Barra do Douro, uma estrutura construída na margem norte da embocadura do rio Douro, para resistir à acção directa das ondas de tempestade e das correntes das grandes cheias. Esta estrutura tem incorporados mais de 65 mil metros cúbicos de betão e 2.500 toneladas de aço.
Defender a solução
Esta obra resultou de um extenso “trabalho colectivo”, concretizado por uma “equipa técnica de projecto e de consultoria coesa e multidisciplinar”. Nesta obra recorreu-se a várias especialidades, destacando o engenheiro “as especialidades de estruturas, de hidráulica, de sedimentologia e também importantes componentes na parte de engenharia do ambiente”. Por outro lado, Silveira Ramos salienta também “uma colaboração muito importante, feita numa equipa que integra arquitectura”. Esta área ficou a cargo do arquitecto Carlos Prata. “Nós desenvolvemos o projecto de concepção do Molhe Norte”, esclareceu o gerente da Consulmar, que assume a autoria do projecto, considerando-se “uma peça importante, não só na solução, como na defesa da mesma”, sem deixar, contudo, de referir o trabalho de muitos profissionais das mais diversas disciplinas. Esta obra “foi muito escrutinada na sociedade civil” e, daí, surge a importância da defesa desta solução por parte do seu principal autor. Silveira Ramos considera positivas as discussões e sessões de debate sobre esta solução, na medida em que “introduziram melhorias na obra, porque obrigaram a equipa deprojecto a pormenorizar, a encarar alternativas” e também porque obrigou a que este projecto “fosse muito pensado para ultrapassar a contestação”. O especialista em engenharia costeira e portuária considera-se grato, uma vez que “é a primeira vez que uma obra marítima recebe o Prémio Secil”.
Um consórcio de valor
O Molhe Norte da Barra do Douro integra-se num conjunto de obras na embocadura do estuário, “cuja coerência e comportamento hidráulico e sedimentar são determinantes para o seu êxito”, refere a nota de imprensa da Secil. Tendo como dono de obra o Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, a concepção geral das intervenções na barra do Douro esteve a cargo de um consórcio projectista liderado por Silveira Ramos, ficando o desenvolvimento do projecto a cargo da Consulmar. A construção da obra coube à Somague Engenharia e aos Irmãos Cavaco, enquanto que a fiscalização foi realizada pela DHV-Tecnopor e DHV-Fbo. Os objectivos primordiais da intervenção residiam na melhoria das condições de segurança no canal da Barra, na protecção das zonas marginais da Cantareira e do Passeio Alegre, e da acção destrutiva das ondas e das correntes, e ainda facilitar a auto-limpeza do canal, através da diminuição do esforço das dragagens de manutenção.
Meio quilómetro de infra-estrutura
Para a concretização desta obra, recorreu-se à utilização de vários tipos de peças de betão armado, aduelas e caixotões, pré-fabricados, salientando-se a execução por deslize, em doca flutuante, no interior do Porto de Leixões, de 16 caixotões de grandes dimensões. O transporte foi feito unidade a unidade, em flutuação, durante cerca de cinco quilómetros em mar aberto, após o qual, os caixotões foram afundados sobre uma base regularizada por mergulhadores. Formou-se, desta forma, a infra-estrutura que acabou por atingir cerca de meio quilómetro de comprimento. O reforço e conclusão desta estrutura foi depois feita no local, com uma “super-estrutura” em betão, que no seu interior continha moldada uma galeria técnica, situada “imediatamente abaixo do coroamento do Molhe, que garante o acesso ao farol, “mesmo em condições de mau tempo”. Com esta solução, criaram-se dois circuitos pedonais, ligando a cabeça do novo Molhe ao Passeio Alegre. Um dos circuitos, situado no nível superior da estrutura, só é utilizável em condições de bom tempo, enquanto que o outro, no nível inferior, continha uma galeria técnica dotada de vigias sobre o canal de entrada, utilizável em más condições de mar. Estes circuitos interligam-se, numa extremidade pelo interior do Farol, e, na outra extremidade, pelo enraizamento do Molhe. O júri do prémio considerou as soluções “muito criativas e inovadoras em todas as frentes de desenvolvimento do projecto, traduzidas nos conceitos e nos pormenores, na tecnologia, na integração urbana e na sustentabilidade ambiental”.