Casa das Artes de Felgueiras ganha versatilidade
O terreno continha o Cine-Teatro Fonseca Moreira num estado de conservação que não permitia uma “utilização condigna”,
Ana Rita Sevilha
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O terreno continha o Cine-Teatro Fonseca Moreira num estado de conservação que não permitia uma “utilização condigna”, e uma oficina de reparação automóvel sem qualquer qualificação arquitectónica. As palavras são de Filipe Oliveira Dias, arquitecto que levou a cabo o projecto de requalificação do equipamento considerado “fundamental na elevação da qualidade de vida e da cultura da cidade [Felgueiras] e da região”, pode ler-se na memória descritiva do projecto. No mesmo documento o arquitecto contextualiza a situação: “em Portugal, após um longo período de decadência de cinemas e teatros, face ao impacto da televisão e dos modernos suportes audiovisuais, assiste-se ao surgimento e consolidação de uma rede, com malha cada vez mais fina, de novos espaços dedicados às artes performativas, à projecção de imagens e a todos os eventos que reúnem a população, reforçando a sua unidade em torno de gostos comuns”. De acordo com Filipe Oliveira Dias, este foi um projecto ambicioso, com elevadíssimas exigências.
A fachada
Na memória descritiva do projecto, Filipe Oliveira Dias salienta as questões que dizem respeito à revitalização “da imagem da bela fachada existente”, bem como à fixação da capacidade da sala de espectáculos (267 espectadores), e “às suas características fundamentais”. No mesmo documento o arquitecto autor do projecto refere a importância que tinha que do exterior a Casa das Artes valorizasse Felgueiras e que atraísse visitas. Posto isto, ponta de honra do projecto era que “a cuidada articulação arquitectónica entre a imagem consolidada existente e a nova imagem contemporânea, a organização e qualificação dos espaços exteriores, a adequada lógica dos acessos e percursos e especialmente a beleza estética do conjunto, deviam impressionar favoravelmente todos quantos se acerquem do Teatro Fonseca Moreira e do Café Concerto.
Implantação
Manteve-se a implantação existente, foi revitalizada e intervencionada a fachada de maior destaque do Teatro virada para o arruamento principal, “com equilíbrio, para que a afectação do novo programa interior não só a respeitasse mas também valorizasse”, explica o arquitecto na memória descritiva. Neste enquadramento, “a fachada do Café Concerto foi modulada de modo a criar uma leitura contínua com a fachada do Teatro mas marcando a contemporaneidade da construção”. No documento descritivo da proposta, Filipe Oliveira Dias ressalva ainda que “uma opção verdadeiramente decisiva na concepção e organização espacial da Casa das Artes, consistiu na agregação dos espaços com actividades conexas, em quatro espaços interligados”. Nesse sentido, no primeiro espaço – correspondente ao maior volume, ficou instalada a sala de espectáculos, o palco e respectiva torre cénica e os serviços anexos; no menor volume – segundo espaço que por sua vez fica ligado física e estruturalmente ao primeiro, situa-se a entrada do público, o foyer que compreende a função de área expositiva, o bengaleiro e os sanitários públicos. O pátio exterior de acesso ao foyer configura-se como o terceiro espaço, “um espaço exterior de crucial importância pois permite a concentração de pessoas antes e depois do espectáculo e/ou visita de exposição – como que uma antecâmara do foyer – evitando que as mesmas se acumulem no arruamento antes ou após um espectáculo”. Por último, o quarto espaço corresponde ao Café Concerto que é também parte integrante da Casa das Artes de Felgueiras.
Elo de ligação
O Teatro Fonseca Moreira e o Café-Concerto são “valências que se completam”, e por isso, têm como elo de ligação um espaço exterior de acesso no qual se podem cruzar e concentrar pessoas com o mesmo interesse e motivação: a cultura. A localização da sala de exposições no foyer é também ela útil no plano cultural, explica o arquitecto: “quem vai apenas adquirir bilhetes, acaba também por dedicar alguns minutos para ver a exposição. Quem vai para ver o trabalho de um artista plástico, talvez saia com bilhetes comprados”.
Versatilidade
Entre os objectivos traçados por Filipe Oliveira Dias na requalificação do equipamento cultural, esteve a sua transformação num “equipamento público de elevada qualidade e muito versátil”, capaz de permitir a realização de espectáculos tão variados como: concertos musicais com orquestra até 70 figuras, representação teatral com palco à italiana, espectáculos de dança e ballet, cinema, concertos musicais de banda, e ainda conferências e eventos de idêntica natureza. Como resultado da intervenção, a sala de espectáculos do “novo” Teatro Fonseca Moreira dispõe de 267 lugares sentados e dois espaços dedicados à assistência por deficientes motores em cadeiras de rodas. Quanto à plateia, a primeira, segunda e a tribuna têm inclinações diferentes, uma opção que permite “o melhor posicionamento para observação da cena”, uma disposição que “acentua uma envolvência do espectador face ao evento”, explica o arquitecto. A qualidade acústica da sala de espectáculos “foi cuidadosamente estudada e o projecto da sala considerou o seu tratamento por forma a garantir excelente audição, com clareza e sem ecos, tendo por este motivo três grandes painéis de reflexão das ondas acústicas, dois laterais e um no tecto. A energia distribuída é assim adequada à curva média entre a palavra (teatro) e a música (concertos)”, explica Filipe Oliveira Dias, ressalvando que “a sala, é integralmente envolvida exteriormente com isolante térmico/acústico e é garantido confortável aquecimento e renovação do ar”. Versatilidade é também característica do espaço do Café Concerto: “a disposição e articulação dos lugares favorece uma boa visibilidade do palco, quer ao nível do rés-do-chão devido à ligeira sobrelevação do palco, quer ao nível das galerias do 1ºpiso por estarem dispostas em torno do palco”. Sobre o mesmo espaço, o arquitecto refere ainda que “a parede curvilínea limítrofe do Café-Concerto assume o papel de contemporaneidade. No exterior a sua convexidade traduz-se por uma transição temporal quando posicionada na continuidade da fachada arquitectónica que reveste o Teatro datada da segunda década do século XX”, sublinha. “Em contraponto, a concavidade da parede reflecte-se no interior do Café-Concerto por envolvência, que proporciona uma sensação de aconchego para os espectadores e optimiza, em termos acústicos, as reflexões do som originado no palco”, conclui.