‘Redimensionar, especializar e exportar’
O administrador da TPF Planege, Jorge Nandin de Carvalho, revelou os resultados, as perspectivas e as estratégias que a empresa abriga na sua actividade.
Pedro Cristino
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O administrador da TPF Planege, Jorge Nandin de Carvalho, revelou os resultados, as perspectivas e as estratégias que a empresa abriga na sua actividade.
Que balanço faz relativamente ao vosso último exercício?
O ano passado foi melhor em volume de negócios do que o ano anterior. Subimos a facturação em cerca de 10%, embora a rentabilidade tenha decrescido ligeiramente. Em todo o caso, manteve-se em bons níveis e o EBITDA também teve bons valores.
A que se deveu a quebra na rentabilidade?
A quebra deveu-se, em parte, a problemas de recebimentos e de tesouraria. A crise também nos afectou nos mercados externos, principalmente em Angola. Por outro lado, 2008 foi um ano excepcional. Foi dos melhores anos do decénio, em termos de rentabilidade. Foi praticamente um recorde e obter dois recordes seguidos é sempre difícil.
Porque é que a vossa quebra de rentabilidade vos afectou principalmente nos mercados externos e não tanto em Portugal?
Por causa da crise em geral. A crise, em Portugal, sente-se mais este ano. Felizmente, estas situações não são coincidentes.
Qual foi a vossa facturação no ano passado?
Foi um pouco mais de 14 milhões e em 2008 foi quase 13 milhões.
Que perspectivas têm agora para 2010?
O nosso objectivo para 2010 consiste em manter a nossa facturação, porque este ano é que a situação está muito difícil em Portugal, embora coincida também com alguns problemas na Argélia, com a suspensão de uma obra, o que também não nos ajuda.
Nos mercados externos nota algum sinal de retoma?
Estamos presentes, essencialmente, em quatro mercados que são o angolano, o argelino, o polaco e o romeno. O mercado romeno não está muito bem. A Polónia teve uma ligeira retoma. Em Angola continuam a existir problemas e a Argélia não tem problemas nenhuns.
A que se devem os problemas no caso de Angola?
Angola continua com um problema de divisas e de transferências. Julgo serem esses os principais problemas. O petróleo tem estado a subir e já há algum tempo que se mantém acima dos 70 dólares. Penso que está a recuperar lentamente de tudo o que se passou em 2009 e nos anos anteriores.
Acha que a Polónia poderá ser o motor principal para a vossa facturação no estrangeiro?
Não. Na Polónia colaboramos com a empresa local do grupo e a nossa participação é secundária. Nos consórcios com essa empresa polaca raramente ultrapassamos os 30%. Temos uma fatia do trabalho, mas, naturalmente, a empresa polaca tem a maior parte.
E estão presentes na Argélia e em Marrocos, também…
Em Marrocos não. Há uma empresa do grupo, chamada Pyramide, que é marroquina, mas, por enquanto, e embora trabalhemos nesse sentido, não conseguimos ainda um trabalho em conjunto. Na Argélia temos lá trabalho. Neste momento temos quatro trabalhos adjudicados.
Referem-se a que áreas?
Referem-se todos à área ferroviária, embora um deles se refira ao Metropolitano de Constantine, que é um metro de superfície. As outras são obras ferroviárias tradicionais.
Que outras oportunidades de negócio vos oferece o mercado argelino?
Várias. Concorremos há pouco ao controlo de um estádio em Argel, estamos também a concorrer a hospitais, porque temos know-how e experiência nessa área, e, na parte rodoviária, também temos tido vários concursos. Por coincidência ou não, a maioria das obras que temos ganho têm sido na área ferroviária. Contudo, a TPF Engineering está a concorrer agora para uma obra na área farmacêutica. Lançaram um curso de estudos e projectos para melhoramento de diversas indústrias farmacêuticas. Nós concorremos e estamos numa boa posição, pelo menos em preço.
Em que sectores estão envolvidos em Angola?
Entrámos nesse mercado em 2006, por uma indústria cimenteira, devido ao nosso forte know-how nessa área. Mais tarde, participámos na construção de três urbanizações que ainda estão a decorrer. Duas delas são ao redor de Luanda e uma outra na província de Lunda Norte.
E têm em vista mais projectos nesse país?
Sim. Temos respondido a diversas solicitações, inclusivamente na área rodoviária, na qual temos um trabalho referente a um troço de estrada de 100 quilómetros, junto ao Congo. A nossa expectativa é melhorarmos também a nossa performance no ramo rodoviário. Angola tem um potencial enorme, mas todas estas coisas têm de ser feitas aos poucos e o crescimento tem de ser sustentável.
Que desafios enfrentam as empresas do vosso ramo em Angola?
Não é muito fácil encontrar técnicos locais e, por outro lado, os custos de expatriação exigem um grande investimento.
Nos casos da Polónia e da Roménia, em que áreas operam?
Operamos nas infra-estruturas. A área rodoviária acaba por ter mais peso. No mercado romeno abrimos uma sucursal no ano transacto e temos um trabalho de urbanização numa pequena cidade turística. É um projecto que se está a desenvolver devagar. Estamos à espera que as coisas melhorem. Este ano continuaremos só com esse trabalho. Temos que esperar um pouco porque sentimos que ainda há pouco trabalho e os preços oscilam entre o muito alto e o muito baixo.
Ponderam expandir-se para outros mercados?
Claro. Acabámos de ganhar dois lotes de uma estrada em Moçambique, que é um dos mercados onde pretendemos apostar. Será a nossa primeira incursão em Moçambique, que é um mercado que cresce a 6%. É um país organizado que está a começar a melhorar as suas infra-estruturas e onde a concorrência não é tão grande como em Angola. Além deste mercado, tentamos colaborar o máximo possível com as empresas do grupo em Marrocos e na Tunísia e, por outro lado, com a empresa brasileira que o grupo adquiriu no princípio deste ano.
Quanto representam actualmente os mercados externos na vossa facturação?
No ano passado representaram exactamente 50%, porque foram facturados cerca de 7 milhões em Portugal e outros 7 milhões lá fora.
Nesse sentido, prevêem manter esses níveis ou aumentar a facturação lá fora?
Eu diria que a tendência será aumentar a facturação no exterior, porque cá tem havido uma grande escassez de obras e mesmo de concursos. Os concursos, tanto na área pública como na privada, tem rareado bastante. Na área pública têm-se feito, inclusivamente, diversas pré-qualificações com vista à apresentação de propostas a concursos e algumas dessas pré-qualificações até têm sido anuladas e os trabalhos são, consequentemente, suspensos.
Refere-se à revisão das grandes empreitadas?
Exacto.
Em que diferem as três áreas do grupo?
A TPF Planege é a actividade pela qual somos mais conhecidos e consiste na coordenação e fiscalização de obras. A Engineering é outra parte da actividade que sempre tivemos – em todo o caso, sempre com uma facturação inferior à da Planege – e refere-se à elaboração de estudos e de projectos de engenharia, e agora também de arquitectura, principalmente na parte urbanística. A TPF Contract também é uma área que sempre tivemos e diz respeito à gestão de projecto industrial. Tanto a Partex-CE como a Planege – a TPF Planege surge da fusão destas duas empresas – tinham algumas especificidades industriais, uma na área petrolífera, outra na área cimenteira, e continuamos com esse know-how.
A área de gestão de projecto industrial mantém-se rentável?
Sim. Neste momento um dos bons trabalhos que temos é justamente um revamping e uma expansão da refinaria da Petrogal no Porto. Estamos a colaborar com a Fluor Daniels, que é uma grande empresa americana na área petrolífera.
Como caracteriza o mercado português?
O mercado português encontra-se numa das piores crises que já vi. Esta empresa tem 30 anos, passou uma crise complicada entre 83 e 84, mas acho que esta está a ultrapassar tudo o que é normal. Isso é claro nos concursos e nos preços. Os preços estão completamente degradados. Normalmente um cliente indica um preço base e o preço anormalmente baixo é 50% inferior, que é o preço que a maior parte das empresas apresenta. Há uma concorrência enorme e parece que as empresas estão a garantir o pagamento dos seus custos fixos, porque, com estes valores, não é possível obter rentabilidade.
Com estes valores, acha que a qualidade da engenharia também sai lesada?
É muito normal que sim.
O que deverá ser feito para dar a volta a esta situação?
Penso que as empresas têm de apostar no caminho da exportação e terão de se redimensionar. Provavelmente as empresas estão demasiado grandes para um mercado que já foi também grande. Acho que, basicamente, a solução passa por redimensionar, especializar e exportar, porque, em Portugal, não acho que seja possível manter os níveis que tivemos. Fusões entre empresas podem ser solução.
Acha que existe uma falta de regulamentação no que concerne aos preços praticados?
Não. Se já se considera o preço base, se já se tem o preço anormalmente baixo, para considerar essas hipóteses, se, muitas vezes, embora cada vez menos, a ponderação é referente a preço-qualidade, não vejo grandes problemas de regulamentação. Penso que o mercado está curto e as empresas são obrigadas a apresentar preços extremamente competitivos. Isto há de ter consequências que não serão muito boas a longo termo, mas não penso que se devam a falta de regulamentação.
O mercado da reabilitação poderá afigurar-se interessante para a empresa?
Sim. Principalmente no campo dos estudos e projectos. Temos já feito trabalhos de reabilitação, na área de engenharia. É uma área para a qual estamos bem preparados. Também estamos preparados para qualquer área industrial, especialmente para todo o processo industrial e toda a complexidade da coordenação eléctrica e mecânica, com a parte da construção civil.