Secil Universidades distingue sete projectos
Contando com um número recorde de candidaturas – totalizadas em 59, o Prémio Secil Universidades 2009 premiou este ano sete projectos, nas categorias de arquitectura e engenharia civil.
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Contando com um número recorde de candidaturas – totalizadas em 59, o Prémio Secil Universidades 2009 premiou este ano sete projectos, nas categorias de arquitectura e engenharia civil. Na categoria de Engenharia Civil os prémios foram para os projectos de construção de edifícios em meios aquáticos, da autoria de José Ferreira do Instituto Superior Técnico, e o projecto de reabilitação e reforço do Quartel dos Bombeiros das Lajes, da autoria de João Alves, também ele aluno do Instituto Superior Técnico. Em arquitectura os premiados foram os projectos do Museu da Mina de São Domingos, da autoria de André Costa e o Museu Mineiro de São Domingos, de João Monteiro, ambos da Universidade Autónoma de Lisboa; o Museu da Indústria Zona Oriental de Lisboa, de Fábio Ferreira do ISCTE; a Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia, de Sara Bysch, da Universidade do Porto; e o Cluster Cultural na Acrópole da Penitenciária de Coimbra, projecto da autoria de Gerson Rei, José Gama e Rui Baltazar, da Universidade de Coimbra.
Vazio como agente principal
“Nesta intervenção o vazio é o agente principal”, refere Fábio Neves acerca do seu Museu da Indústria em Marvila. O equipamento implanta-se em torno das escadas de Israel, “local que se apresenta com extrema precariedade”, e “por onde se desenvolve uma das ligações entre as cotas mais altas de Marvila e o aterro”. O edifício constrói-se “reinventando uma relação perdida, com a área onde se implantava o antigo pátio de Israel, uma das muitas vilas operárias da Zona Oriental da Cidade”, pelo que, segundo a autora do projecto, “é a reinterpretação dos antigos fragmentos do passado que inspiram o projecto do Museu”. Desta forma, “o ingresso no museu estabelece-se ao nível das cotas inferiores, numa área fortemente caracterizada pela presença de um volume evocativo do arquétipo de casa. O percurso ascendente, realizado já no interior do museu, realiza-se por meio de um ascensor que relaciona o ingresso com a cota dos espaços expositivos. Toda a área prevista para exposições é pontuada por aberturas de grande dimensão que introduzem o próprio território Marvila na exposição sobre a indústria”. Nesta intervenção o equipamento museológico “protagoniza os pressupostos da regeneração de Marvila”.
Síntese formal
O projecto de Sara Lía dos Santos Vieira inseriu-se na disciplina de Projecto IV. O tema era o de uma biblioteca municipal que implicava um estudo de relações entre o objecto arquitectónico e o território envolvente. Para Sara Vieira, o desafio “consistiu na tentativa de encontrar um diálogo coerente entre o existente e a decorrente proposta, de modo a permitir uma transformação favorável do contexto urbano onde se insere”, explica. Situada em Vila Nova de Gaia, numa área territorial em profunda transformação urbana, “a forma do edifício surgiu da tentativa de encontrar uma relação mais próxima com a envolvente, de modo a privilegiar o espaço de entrada, no afunilamento dos alinhamentos”. Na proposta de Sara, praticamente toda a biblioteca se desenvolve num só piso, funcionando o átrio como “um centro radial de onde nasce tudo”, e também como separador entre as zonas mais públicas e mais privadas. Já o pátio interior, tem como principal função iluminar e criar permeabilidade visual entre o espaço de entrada e a área infantil, refere a aluna da Universidade do Porto. Construído em betão armado aparente, e apesar de “aparentar uma organização complexa, pela torção das várias paredes, a construção é relativamente pacífica e regular, sendo o encontro das várias direcções no espaço do átrio e no pátio interior”. Na memória descritiva da proposta, Sara Vieira conclui que “a proposta final foi o resultado de um longo processo de pesquisa e constante busca por uma síntese formal e uma clareza conceptual que resolvesse de forma simples e eficaz o programa imposto”.
“Espaço gerador de cidade”
Gerson Gonçalo Oliveira Rei, José Gil Correia Gama e Rui Vítor Rico Baltazar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, saíram igualmente vencedores do concurso com uma proposta que torna a Acrópole da Penitenciária “num espaço gerador de cidade”. O exercício tinha como objectivo reestruturar a Penitenciária de Coimbra e o Quartel Santana, bem como as áreas adjacentes, e nesse sentido transformar estas duas plataformas “através da instalação de um cluster cultural destinado à fixação de Indústrias Criativas em conexão com áreas de expansão para a Biblioteca Geral (Biblioteca de Arte), Centro de Exposições, Centros de investigação, Mediatecas, Auditórios, Workshops e Residências artísticas”, explica o colectivo na descrição da proposta. No mesmo documento, os alunos da Universidade de Coimbra revelam ainda que, “o actual isolamento da Acrópole da Penitenciária é marcado, principalmente, pela existência de uma muralha em redor da mesma. Contraria-se este fechamento, oferecendo o cluster à cidade e a cidade ao espaço da Acrópole. Largos atravessamentos rasgam a área projectada, ligando as cotas altas dos bairros a Nascente com as cotas baixas da Praça João Paulo II, Bairro Santa Cruz e Jardim Botânico. Estes atravessamentos, vão cerzindo o programa do cluster, fazendo as ligações entre jardins, praças e edifícios”. Neste contexto, o actual edifício da Penitenciária é ocupado pela Biblioteca das Artes que complementa a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, e “a segregação e a pequena escala das salas das alas prisionais são convertidas em amplas salas de leitura, tendo o panóptico como espaço central de distribuição do programa”.
Um Museu na Mina
“Depois de uma extensa avaliação e várias visitas ao local, constatou-se que, apesar de estar claramente abandonado, a beleza e a força da paisagem industrial é realmente arrebatadora e começa a revelar-se como potencial destino de lazer”, pode ler-se na memória descritiva de André Rodrigues Costa sobre o seu Museu da Mina de São Domingos. De acordo com o estudante de arquitectura da Universidade Autónoma de Lisboa, o trabalho pretende reflectir “sobre os diversos percursos e interligações entre ruínas, procurando preservar o carácter sublime da paisagem, transformada pela ocupação humana ao longo de mais de um século”. Desta forma, através do Museu, foi criado um novo sistema de informação/exposição que irá substituir/complementar os existentes e “abraçar” as ruínas, devolvendo uma coesão que foi perdida. Rasgos de luz que iluminam o espaço museológico, são, à superfície, linhas que percorrem o território e que desta forma estabelecem um percurso que toca as ruínas. “Pretende-se portanto, partindo destes rasgos, criar novos caminhos, substituindo alguns existentes, que possam requalificar o espaço envolvente”, explica André no documento descritivo do projecto. Em suma, explica, “a intervenção começa com a recuperação do espaço em torno do bloco metálico de acesso ao Museu”. Foi criado um parque de estacionamento que, através da sua forma, redirecciona o trânsito de modo a controlar a circulação automóvel dentro do complexo. É criada também uma praça de acesso ao Museu capaz de estabelecer a transição entre Aldeia e Espaço Museológico. Em termos de programa, o projecto assinado por André Costa “consiste na criação de um espaço museológico, parcialmente enterrado, capaz de unir as ruínas entre si e por outro lado interligar o museu com a envolvente. O Museu divide-se assim em três zonas distintas. Uma zona A que compreende a entrada principal que se materializa num volume que indica o início do percurso, e que “pretende preparar o visitante para o conjunto de experiências que terá, uma vez dentro do museu”. A zona B, que consiste num espaço amplo caracterizado por vários volumes e dentro do qual se encontram diversos espaços expositivos. E a zona C onde se encontram serviços como loja e cafetaria. “A organização do Museu consiste na criação de um percurso totalmente enterrado, que se organiza segundo uma lógica de sucessão de espaços sem divisões aparentes, pontuado por elementos, dentro dos quais se situarão todas as dependências do Museu”. Foi com o projecto do Museu Mineiro de São Domingos, em Mértola, que João Charters Monteiro foi distinguido neste Secil Universidades. Para o também aluno da Universidade Autónoma de Lisboa o conjunto mineiro de São Domingos, hoje em ruína, representa um lugar singular. “Devido à intensidade no nível de modificação do lugar e na sua extensão territorial, a paisagem criada ao longo de séculos, manifesta hoje um lugar sublime, onde o perigo de destruição do sítio imanente reforça a importância da reflexão do lugar na sua reconstrução através da Paisagem e da Arquitectura”, revela João Monteiro. No documento descritivo da proposta, o futuro arquitecto explica: “num território amplo em constante transformação desde a época romana, a implantação do museu deve ser pontual e ao mesmo tempo sublime. O lugar deve ser marcado de um modo intenso, sem no entanto alterar a percepção da reforma natural do conjunto mineiro ao longo do tempo. Assim, a reconstrução do lugar com a Arquitectura e com a Paisagem é baseada num conceito que corporiza a história da transformação da mina”. Para João Charters Monteiro, “a chegada ao Museu é como a chegada a um templo”, e “pela sua carga emocional e simbólica, o museu procura ser ambicioso não do ponto de vista da sua área mas sim na sua implantação, na sua espacialidade e correspondente materialidade”. No seu projecto, João explora três temas que considera cruciais na concepção de um museu: “a divisão espacial, a circulação, e a relação com a envolvente e consequente entrada de luz, que é zenital neste caso concreto. Para se passar à materialização do edifício deve-se entender a evolução de cada um dos temas explorados, estando todos eles associados à matéria construtiva que os sustenta”, explica. João Charters Monteiro sublinha ainda que, “a materialização e a construção do museu procuram dar continuidade ao raciocínio conceptual da sua implantação correspondente ao retorno dos antigos depósitos extraídos da Corta através de um cubo betonado in situ em betão cinza rugoso e tosco que é rigorosamente esculpido de modo preciso e hirto”. Genericamente o programa divide-se em cinco pisos mais uma cobertura habitável, e de acordo com o autor da proposta, “houve a preocupação de organizá-lo em consonância com a organização espacial baseada no núcleo em forma de cruz desfasada que para além de corresponder à estrutura do edifício, e de dividir os diversos espaços, possui as circulações e as áreas técnicas de serviço às várias funções do museu”.