Alterações aos créditos à habitação podem afectar 80% dos contratos
“No limite, [as medidas] podem afectar 80% das operações de crédito à habitação”, disse Paulo Sousa, que referiu que o valor estimado é elevado “tendo em conta a abrangência das medidas propostas” pelos partidos
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A associação dos bancos disse hoje no Parlamento que a abrangência das medidas que estão a ser estudadas pelos deputados para o crédito à habitação pode afectar 80% dos contratos e que algumas podem “estimular o incumprimento”.
A Associação Portuguesa de Bancos (APB), e em específico o seu presidente, Faria de Oliveira, está esta quarta-feira ser a ouvido pelo Grupo de Trabalho parlamentar sobre os contratos de crédito à habitação.
A APB, através de Paulo Sousa, administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), fez uma apresentação inicial aos deputados em que detalhou os impactos negativos das medidas na economia e, sobretudo, no sistema financeiro.
“No limite, [as medidas] podem afectar 80% das operações de crédito à habitação”, disse Paulo Sousa, que referiu que o valor estimado é elevado “tendo em conta a abrangência das medidas propostas” pelos partidos.
A APB recordou que, em Portugal, 63% do crédito em Portugal (aproximadamente 150 mil milhões de euros) está relacionado com o sector imobiliário e que 80% das carteiras de crédito estão concentradas nos principais cinco bancos a operar em Portugal (CGD, BCP, Santander Totta, BES e BPI), com destaque para o banco público.
Para a associação que representa os principais bancos a operar em Portugal, algumas das medidas levantam “forte preocupação” nas entidades bancárias, com receios de que se criem “estímulos ao incumprimento”.
A APB referiu-se em específico à proibição de agravamento de `spreads` (margem de lucro do banco) no âmbito da renegociação do crédito, afirmando que a existência desta possibilidade contratual, tal como outras, tem um “forte impacto dissuasor do incumprimento”.
A APB mostrou-se ainda preocupada com os impactos das medidas que estão a ser avaliadas pelos deputados nas carteiras de crédito titularizadas, a maior parte feitas a partir do crédito à habitação.
“Estas medidas podem conduzir a um pedido de reembolso antecipado com impacto de nove mil milhões de euros”, disse Paulo Sousa.
O responsável considerou também “preocupantes” os impactos destas medidas nos colaterais que servem para aceder à liquidez do Banco Central Europeu (actualmente a principal fonte de financiamento dos bancos portugueses), estimando em “50 mil milhões de euros os colaterais afectados”.
A audição de hoje da APB inaugurou a fase em que serão ouvidas várias personalidades da sociedade portuguesa sobre os contratos de crédito à habitação, com vista a chegar a um texto de consenso dos vários anteprojectos de lei apresentados pelos partidos, cujo objectivo genérico é proteger as famílias mais carenciadas, nomeadamente as que têm membros desempregados.