Da bateria Tesla à União Energética Europeia
Se a mais recente solução da Tesla Energy, Powerwall, poderá constituir o detonador que revolucionará todo o mercado global de consumo da energia, Portugal, Espanha e França poderão, com o acordo da Cimeira de Madrid, ter dado um dos primeiros passos para a constituição de um mercado livre de energia à escala europeia O mundo… Continue reading Da bateria Tesla à União Energética Europeia
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Se a mais recente solução da Tesla Energy, Powerwall, poderá constituir o detonador que revolucionará todo o mercado global de consumo da energia, Portugal, Espanha e França poderão, com o acordo da Cimeira de Madrid, ter dado um dos primeiros passos para a constituição de um mercado livre de energia à escala europeia
O mundo da produção de energia poderá estar prestes a sofrer uma autêntica revolução. Isto porque Elon Musk, milionário de origem sul-africana e proprietário da Tesla Motors anunciou o lançamento da Powerwall, a bateria de iões de lítio recarregável, concebida para armazenar energia a um nível residencial, para servir de reserva ou auto-consumo. Com preços entre os 3 mil e os 3.500 dólares (cerca de 2.600 e 3 mil euros, respectivamente), esta inovação da Tesla consiste num “pack” de baterias de iões de lítio, sistema de control térmico líquido e “software” que recebe comandos de um inversor solar, que se monta na parede e se integra na rede local para exponenciar a energia em excesso e proporcionar aos clientes a flexibilidade de extrair energia das suas próprias reservas. Com estas capacidades, a Powerwall pode bem consistir num ponto de viragem no mercado da produção de energia a partir de fontes renováveis ao sensibilizar uma franja assinalável da população global para as vantagens da aquisição e operação de sistemas neste campo. O preço poderá parecer, a priori, alto, contudo, também já os paineis fotovoltaicos foram considerados demasiado altos para serem competitivos, tendo os seus encargos vindo a cair, como resultado de uma inovação tecnológica que diminuia os custos de produção e, consequentemente, reduzia o investimento que o cliente final teria de fazer. Neste contexto, a Fronius, empresa norte-americana, anunciou já uma parceria com a Tesla no âmbito da qual agregará os seus inversores solares ao sistema Powerwall. Neste contexto, os especialistas da Fronius irão colaborar com a empresa de Elon Musk no quarto trimestre deste ano, para conjugarem o seu inversor Symo Hybrid com a bateria da Tesla de forma a distribuírem este pacote, inicialmente, aos clientes alemães, antes de disponibilizarem esta solução ao resto da Europa e à Austrália. “O objectivo é a transformação completa de toda a infra-estrutura de energia do mundo, para um nível de carbono zero completamente sustentável”, afirmou Musk à imprensa, antes de revelar a Powerwall ao mundo, num armazém em Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos.
Olhar atento de Bruxelas
O impacto desta revelação da Tesla no mecado do armazenamento de energia esteve sob o olhar atento de Bruxelas, onde a União Europeia apelou a uma renovação das envelhecidas redes de distribuição de electricidade. Segundo a Comissão Europeia, que lançou um plano segundo o qual prevê que, até 2030, a Europa consiga que, pelo menos, 27% da energia produzida seja através de fontes renováveis, as redes futuras “terão em conta os fluxos entre fronteiras, produção renovável variável e a capacidade de resposta à procura e de armazenamento”. Neste contexto, os projectos de pesquisa dirigidos ao armazenamento de energia são eligíveis para financiamento sob o auspício do programa Horizonte 2020, que conta com um orçamento de 80 mil milhões de euros. Em Fevereiro passado, os responsáveis políticos da União Europeia (UE) anunciaram planos para a constituição de uma União Energética, apresentando-a como uma das maiores mudanças no mercado da energia em mais de meio século. “É o maior projecto de energia desde a Comunidade do Aço e do Carvão”, afirmou Maros Sefcovic, vice-presidente da Comissão Europeia responsável por este novo projecto, à Euractiv. Segundo este responsável da União Europeia, a recente instabilidade com a Federação Russa resultante da anexação da região ucraniana da Crimeia significa que há fortes motivos para agregar recursos entre os estados membros, uma vez que a UE depende de Moscovo para satisfazer cerca de um terço das suas necessidades energéticas. Este plano visa melhorar a infra-estrutura de forma a partilhar os recursos disponíveis através das fronteiras – em parte com financiamento europeu -, reduzir a regulação dos preços, aumentar o número de terminais de gás natural liquefeito (GNL) e reforçar a lei da concorrência europeia existente. A estratégia europeia inclui um conjunto de medidas que será seguido por propostas legislativas, mas, atingir o balanço certo entre garantir os poderes da UE e respeitar o princípio da subsidiariade – a alocação de poderes e responsabilidades – será um desafio, afirmaram alguns peritos da União Europeia à publicação Euractiv. “A Comissão só será capaz de formar uma União Energética com significado se os estados membros estiverem dentro do mesmo barco”, afirmou Jacopo Moccia, director de políticas e operações na Ocean Energy Europe.
Portugal, Espanha e França deram o primeiro passo
Pedro Passos Coelho afirmou, no final do Conselho Europeu de Março passado, que o sucesso para a criação da União Energética passa por uma “integração física”, bem como por uma “maior integração regulatória” entre os estado membros, apelando à necessidade de regras comuns ou harmonizadas nos mercados de energia. Conforme afirmou o semanário Expresso, o primeiro ministro português falava no final da reunião de chefes de Estado e de Governo, e considerou que o trabalho de Portugal com Espanha e com França se “insere neste esforço”, um trabalho que foi “reconhecido pelo Conselho Europeu”. O presidente do Conselho, Donald Tusk, afirmou que a decisão de criar a União Energética é um marco importante, especialmente no que concerne à “segurança energética”. De acordo com o i, este acordo engloba a electricidade e o gás e Tusk destacou que o mesmo obrigará a uma maior transparência nos contratos de gás que “deveriam ser sobre economia e negócio, e não para serem usados como armas de guerra”. No primeiro dia deste Conselho Europeu, Jean-Claude Juncker destacou o projecto de interligações estabelecido entre Portugal, Espanha e França, como uma boa iniciativa no sentido de garantir uma “livre circulação de energia”, defendendo que o mesmo deverá ser seguido noutras regiões. Segundo o presidente da Comissão Europeia, esta é uma das grandes prioridades do organismo que lidera. Juncker acrescentou ainda que, ao lado das quatro liberdades fundamentais, deverá existir, ainda que não juridicamente, uma quinta – “a livre circulação de energia”. Para este responsável, o plano acordado entre Pedro Passos Coelho, Mariano Rajoy e François Hollande coloca um ponto final ao isolamento energético da Península Ibérica. O plano, que pretende garantir um mínimo de 10% de interligações, de modo a que a Península Ibérica deixe de ser “uma ilha”, em matéria de energia dentro da União Europeia, será “complementado por outros projectos noutras regiões”. No primeiro dia do Conselho Europeu, os 28 líderes europeus acordara “acelerar os projectos de infra-estruturas de electricidade e gás”, bem como a criação de grupos de trabalho para monitorizarem os desenvolvimentos no terreno. De acordo com a TVI24, que citou uma fonte diplomática, o grupo de trabalho que irá monitorizar as interligações entre Portugal, Espanha e França juntará representantes dos estados membros, dos reguladores e das operadoras que, no caso de Portugal, consiste na REN – Redes Energéticas Nacionais. Este grupo irá trabalhar em conjunto com a Comissão Europeia na identificação de projectos a deesenvolver no âmbito das infra-estruturas energéticas e no seu financiamento e surge do acordo alcançado entre os três países na Cimeira de Madrid.
“Momento único” na constituição da União Energética
Em Fevereiro deste ano, Jorge Moreira da Silva afirmou que se vive “um momento único” na construção de uma união energética europeia. Ao Público, o ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, mostrou-se optimista quanto ao futuro do mercado energético comum, salientando o impulso proporcionado pelo reforço das interligações eléctricas entre a Península Ibérica e França. Ao diário, Moreira da Silva destacou, como pontos positivos do novo pacote de energia, o facto de a Comissão Europeia ter assumido, “pela primeira vez”, as interligações como “matéria prioritária”, classificando como “críticas” as ligações entre Península Ibérica e França. Para além disso, o ministro salientou o facto de Bruxelas reconhecer a necessidade de encontrar novas fontes de financiamento além do CEF, o fundo europeu para as interligações, que não ultrapassa os 5 mil milhões de euros, quando os investimentos identificados como necessários para a meta dos 10% são de, pelo menos, 35 mil milhões.
Renováveis valem 55,2% da produção de energia no país
Segundo a Direcção Geral de Energia e Geologia, entre Março de 2014 e Fevereiro de 2015, o peso da energia eléctrica renovável atingiu 55,2% relatiamente à produção bruta mais saldo importador. Contudo, de acordo com a metodologia da directiva 2009/28/CE, que estabelece os objectivos a atingir em 2020, essa percentagem situou-se em 50,5%. A energia hídrica e a eólica foram as que mais contribuíram, em Fevereiro passado, para este peso, com 13.996 e 11.546 GWh, respectivamente. A energia fotovoltaica foi a que, entre 2006 e Fevereiro de 2015, cresceu mais, passando de 5 GWh para 675 GWh em seis anos – embora os dados de 2015 sejam ainda provisórios.
Código de boas práticas
A Schneider Electric anunciou que passou a integrar o Comité Científico Nacional do projecto europeu Transparense, apoiando o lançamento do Código Europeu de Boas Práticas para o mercado de serviços energéticos. Este código visa aumentar a transparência e honestidade do mercado europeu, através da definiçãod e valores e princípios fundamentais que permitirão “melhorar a qualidade dos serviços energéticos e facilitar a elaboração e implementação dos Contratos de Desempenho Energético (CDE)”. “Se pensarmos que o principal obstáculo ao crescimento do mercado nacional das empresas de serviços energéticos é precisamente a falta de transparência, rapidamente percebemos que faz todo o sentido a criação de um Comité Científico Nacional e a implementação de um código de boas práticas em Portugal”, afirmou Luís Hagatong. O energy efficiency manager da Schneider Electric Portugal acredita que “só assim é possível estimular a procura de contratos de desempenho energético”. Segundo a multinacional de origem gaulesa, o código proposto defende os valores da “eficiência, profissionalismo e transparência”, e visa promover “maior sustentabilidade a longo prazo, transparência em todas as etapas dos projectos e acordos de financiamento e confiança”. Destes três valores básicos sobre os quais assenta o código, derivam nove princípios que consistem em proporcionar poupanças economicamente eficientes, assumir riscos de desempenho, garantir a poupança a ser determinada por medição e verificação, apoiar a implementação a longo prazo da gestão de energir, garantir um relacionamento leal e transparente com o cliente, conduzir todas as etapas dos projectos de forma legal e íntegra, apoiar o cliente na obtenção de financiamento, garantir o serviço de profissionais qualificados e ter em atenção a qualidade e ética em todas as etapas de implementação. Para Luís Hagatong o Código Europeu de Boas Práticas, “no âmbito do desenvolvimento de contratos de desempenho energético, reflecte o compromisso dos seus signatários em desenvolver um trabalho profissional e credível, numa perspectiva colaborativa, clara e transparente com todas as partes envolvidas, de forma a desenvolver um mercado de serviços energéticos de qualidade e sustentável”. Em Portugal, o código do Projecto Transparense conta já com o apoio e envolvimento da Direcção Geral de Energia e Geologia, da ADENE – Agência para a Energia e da Schneider Electric.