Luta contra o Cancro: quando a Arquitectura faz parte do processo terapêutico
“Um doente com cancro quer viver. Pode ou não a arquitectura fazer parte desse processo e ajudar a viver?” questiona Charles Jencks, que estará na Fundação Calouste Gulbenkian a falar sobre os Centros Maggie
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A Fundação Calouste Gulbenkian vai promover esta quarta-feira, integrada no Fórum Gulbenkian de Saúde 2015: Saúde e Arquitectura, uma sessão em que a investigadora Ana Tostões do Instituto Superior Técnico comenta a intervenção do arquitecto britânico Charles Jenks para responder à pergunta “Pode a arquitectura afectar a sua saúde?”
Charles Jencks é um teórico de arquitectura americano, paisagista e designer que fará uma palestra sobre a história dos Maggie’s Centres, os centros de apoio a doentes com cancro de que é cofundador. Na Grã-Bretanha existem já cerca de duas dezenas destas instituições, localizadas junto de hospitais.
No entender de Ana Tostões, os arquitectos devem acompanhar a evolução tecnológica na medicina e criar espaços hospitalares que contribuam para curar e cuidar, facilitando a mobilidade e incentivando o bem estar psicológico. Segundo a investigadora, “estamos num tempo de grandes desafios e é em face dessa necessidade de promover um ambiente construído capaz de ser sustentável que é fundamental que os arquitectos, engenheiros e urbanistas se preparem para acompanhar a medicina e as ciências sociais nesta procura de uma nova agenda programática, disciplinar e política”.
Para Ana Tostões, é importante “reconhecer os valores patrimoniais e o que pode ser reutilizado nos conjuntos” hospitalares já existentes e ter em conta aspectos como ventilação, iluminação, insolação, mas também questões relacionadas com aspectos ergonómicos, para facilitar a mobilidade dos doentes em funções tão simples como lavar as mãos.
A estes pontos junta-se o bem estar psicológico que pode resultar de atenções diversas como a decoração do quarto ou a imagem tranquilizadora de um tecto, para os doentes que passam a maior parte do tempo deitados na cama. Trata-se de “partir do princípio que esse sentimento de agradibilidade, de bem estar, é factor favorável à cura, [assim como] ajuda a curar também a questão psicológica”, realçou a arquitecta.
Para a investigadora do IST, está na agenda contemporânea perceber que “a questão da saúde está intimamente ligada com o bem estar, com a arquitectura e com o urbanismo” e é função destas disciplinas criar melhores lugares para as pessoas viverem, nas cidades, nos espaços urbanos, nos equipamentos públicos, nos empregos, nas habitações e “trabalhar antes que os problemas aconteçam”.
Centros Maggie
Os Centros Maggie são o legado de Margaret Keswick Jencks, uma mulher em estado terminal que acabou por falecer em 1995 e que tinha a noção de que os ambientes de tratamento contra o cancro – e os resultados do processo – poderiam ser drasticamente melhorados através de um bom projecto. A sua visão foi concretizada e continua a propagar-se através de inúmeros arquitectos, incluindo Frank Gehry, Zaha Hadid, e Snøhetta – para nomear apenas alguns. No total, são quase 20 os centros Maggie no Reino Unido, todos desenhados por reconhecidos arquitectos. Em Glasgow está o novo centro desenhado por Rem Koolhaas e Ellen van Loon, do atelier OMA. Na Escócia está a obra premiada com um “Stirling”, de Richard Rogers, premiado também pelo centro “Maggie” em Londres. A partir do momento em que a ideia começou a ganhar forma e passou de um projecto pontual para uma rede nacional, Charles Jencks passou a estar sobre um intenso escrutínio desde logo pela comunidade científica, que questionava a validade das suas propostas, e a comunidade projectista, que questiona se os Centros Maggie não estão a adoptar mais arquitectura em espaços de cuidados de saúde do que a estritamente necessária. Jencks acredita nos efeitos placebo da arquitectura, mais do que advogar que uma parede ou uma escada mais detalhada pode curar um cancro maligno. “É minha esperança, tal como era a esperança da minha mulher que os pacientes pudessem viver durante mais tempo mesmo com um cancro. Um doente com cancro quer viver. Pode ou não a arquitectura fazer parte desse processo e ajudar a viver?”, questiona Jencks.