Os desafios do Europan
Estes concursos, em que Portugal participa desde 1998, têm como objectivo a inovação “ubano-arquitectónica na Europa, com temas e emergentes, facultando o intercâmbio de oportunidades para equipas de jovens profissionais”
Pedro Cristino
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Na 13.ª edição do Europan em Portugal, participaram, num contexto nacional, as câmaras municipais de Odemira, Barreiro e Santo Tirso, que contou com 1.300 equipas de candidatos de 50 cidades e 15 países que concorreram sob o tema “A Cidade Adaptável”. Sob este mote, os arquitectos procuraram integrar “situações muito diversas de necessárias transformações urbanas”. No total, foram distinguidas 93 equipas, com 44 prémios e 49 menções honrosas, tendo sido atribuídas ainda 61 citações especiais. Bruno Oliveira Rodrigues, com uma menção honrosa, e Sara Ferreira e David Castanheira, com duas citações especiais, foram os arquitectos portugueses distinguidos. Em Portugal, às três cidades participantes, concorreram 87 equipas. O arquitecto italiano Alessandro Labriola venceu em Azenha do Mar/Odemira, com o projecto Limenochora, enquanto que, no Barreiro, foi a arquitecta francesa Lucie Webercom, com o projecto Between the Lines, que venceu o prémio. A arquitecta espanhola, Laura Alvarez venceu o prémio em Santo Tirso com o projecto Foodlab Santo Tirso.
Azenha do Mar
“A Azenha do Mar é uma aldeia piscatória recente. A sua adaptabilidade corresponde a um desafio relacionado com as dinâmicas de uma sociedade contemporânea, referentes à identidade de um local em particular”, refere o programa. Neste contexto, respondendo à questão colocada pelo tema do concurso – “como pode o local contribuir para a “Cidade Adaptável”? -, o programa refere que esta área tem como objectivo “as complementaridades urbanas, articulando a paisagem natural e as actividades (agricultura e pesca), através da potenciação dos recursos locais”, que incluem o produto proveniente do mar (peixes, marisco e algas), vegetais (agricultura de subsistência), recursos energéticos (sol, vento e marés) e os recursos paisagísticos (trilhos e biodiversidade). Ao mesmo tempo, este local pode promover a flexibilidade nestas áreas de uma forma que permite “alvos específicos de alojamento” e também uma maior diversificação de actividades económicas, culturais e sociais”.
Estratégia
O rumo escolhido pelo arquitecto visa combater a degradação e a exclusão através da transformação da Azenha do Mar num “cluster” sustentável, aumentando a sua capacidade de produção associada aos recursos locais, e tornando-a atractiva numa perspectiva de turismo direccionado para a natureza – caminhadas, mergulhos, passeios na zona ribeirinha – e para a saúde – relaxamento, meditação, terapias naturais – com uma diversidade de capacidades para sustentá-las durante um longo período de tempo. “A perspectiva de um desenvolvimento estruturado consiste num turismo responsável, onde a experiência turística deverá ser diluída com a experiência local, gerando uma procura por visitantes durante o ano”, refere o programa.
Um símbolo da pesca artesanal
As características naturais das rochas “de frente para o mar aberto”, as falésias verdades e as “pitorescas labutas da pesca” tornam esta “conurbação num símbolo de pesca artesanal e é actualmente parte de uma secção da multi-premiada Rota Vicentina (um trilho pedonal com 350 quilómetros)”. Integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina e na rede Natura 2000, o local em estudo cobre áreas vazias de um anterior loteamento municipal – que nunca foi completamente executado -, integrando também edifícios que mostram uma imagem urbana degradada “e acentuam os problemas relacionados com a fragilidade económica e exclusão social”.
Aumentar a habitação
“A densidade populacional muito baixa que caracteriza o município de Odemira, e também a limitada capacidade humana e financeira para manter um grande número de instalações, paisagens, espaços públicos urbanos e edifícios requer que as áreas e instalações locais seja o mais flexíveis e adaptáveis possível para albergarem diferentes eventos e actividades”, explica o programa do concurso. Segundo a mesma fonte, o compromisso para a eficiência exige soluções arquitectónicas e de espaço público que permitam “a acomodação de diferentes actividades com necessidades de manutenção reduzidas, respeitando a escala e a identidade do local”. O objectivo consiste em aumentar a habitação disponível, tanto em termos turísticos – de curto prazo – como residenciais – de longo prazo – dando preferência às soluções arquitectónicas adaptadas a uma mais vasta panóplia de necessidades socio-económicas a médio e longo prazos, com eficiência no consumo de recursos. Neste contexto, o desafio consiste em projectar o conceito do edificado turístico para criar “dinâmicas positivas com as condições existentes, e que possa ser adaptado para um centro de dia com residências para idosos”, criando ainda projectos de tipologias residenciais que supram as necessidades de turismo residencial e de primeira ou segunda habitação. A localização da área de estacionamento e de reparação de barcos “deve ser também implementada, bem como o planeamento de pequenas unidades comerciais para a instalação de lojas básicas de bairro e/ou para promover produtos, restaurantes e bares locais”. Os espaços públicos são necessários para dar ênfase à relação entre a terra (área superior da conurbação) e o mar (parte inferior do pequeno porto), “respeitando as características naturais e paisagísticas do local”. Por sua vez, poderão ainda ser integrados jardins comunitários no contexto urbano, bem como ligações às vias pedonais, ao cais dos barcos e aos locais para a prática de pesca desportiva, que deverão ser “estruturadas”.
Ligações fluviais
No Barreiro, Lucie Webercon enfrentou o desafio de “adaptar e transformar um espaço de interface de transporte, revertendo o seu processo de decadência e obsolescência, com um novo significado e uma maior integração territorial”. “Dentro de um processo de regeneração urbana de uma zona ribeirinha de uma cidade, o objectivo é desenvolver uma nova centralidade, combinando as características hereditárias e paisagísticas actuais com novas actividades”, explica o programa desta área. De acordo com a mesma fonte, a “excelente posição” deste local permite a reconstrução de ligações com a cidade e os “territórios vizinhos fragmentados” – “sobre o rio, ligando a uma cidade mais próxima (Seixal) e uma melhor integração com o tecido urbano envolvente”. A localização e a diversidade de elementos exige que as soluções sejam “versáteis e flexíveis”, perspectivando-se que as mesmas possam ser faseadas ou construídas independentemente, “assegurando sempre a coerência global e local da intervenção”.
Regenerar o tecido urbano
Localizado na Área Metropolitana de Lisboa (AML), dentro do estuário do Tejo, o Barreiro tem uma longa história industrial que ainda se reflecte na sua paisagem urbana e na sua “forte identidade”. A cidade pretende desenvolver estratégias de regeneração para grandes espaços industriais desactivados, com novas e mais diversas actividades. Para Webercom, esta é a oportunidade para “reparar o tecido urbano e ligá-lo a outros núcleos da AML”. Isto será feito através da reabilitação de antigos interfaces de transportes, melhorando a área ribeirinha com novas actividades de turismo, desporto e lazer. Por sua vez, a transformação de espaços ferroviários desactivados e de barreiras urbanas com novos espaços de continuidade, com conectividade urbana e actividades partilhadas, tem também o seu lugar nesta estratégia. Por último, a arquitecta frisa a importância da ligação através do rio, assegurando movimentos pedestres e cicláveis, aproveitando, como vantagem, a existência de secções de uma antiga ponte ferroviária.
Aproveitar todo o potencial
O local corresponde principalmente a uma área de aterro sobre o rio, actualmente ocupado com instalações e infra-estruturas de transportes – algumas desactivadas, outras ainda em funcionamento, mas com relocalização já pensada – sujeita à descoberta e ao desenvolvimento de novas utilizações e ligações. “Historicamente ligado à actividade ferroviária, o local do projecto foi gradualmente abandonado, resultando numa quantidade assinalável de espaços vazios, sem significado ou função correntes para a dinâmica da cidade”, explica o documento. Apesar disto, o local inclui “uma importante herança reconhecida na cidade e na memória colectiva das pessoas”. Na área circundante, o local em estudo apenas se devota a assegurar as ligações entre os transportes – ferry, comboio, autocarro ou automóvel – não tirando partido do seu potencial total. A inserção do estuário do Tejo potencia ligações mais vastas, seja a Lisboa ou a outras cidades.
Nova centralidade
Para Webercom, a oportunidade reside em formar “uma nova área de centralidade na cidade, associada às transformações das funções industriais e a uma possível nova localização do actual interface de transporte”. Segundo a arquitecta, isto desencadeia a promoção de “novas experiências e actividades para a comunidade local e também para visitantes e turistas”, ao focar valores e recursos locais, assegurando a eficiência e sustentabilidade de soluções. “O equilíbrio entre a conservação da herança e a sua “activação” para novos usos, reciclar estruturas construídas para novos propósitos com uma interactividade urbana maior, juntando público diferente e actores privados”, explica. Estas novas actividades poderão incluir elementos permanentes e temporários, que podem adaptar-se aos recursos financeiros e que podem ser construídos autonomamente, dependendo dos actores e dos prazos futuros. A localização ribeirinha assegura uma paisagem “privilegiada”, proximidade a áreas naturais sensíveis e zonas ribeirinhas recentemente “redesenhadas”, incluindo uma pequena comunidade piscatória e a praia fluvial a ser melhorada. Para Lucie Webercom, a existência de espaços obsoletos e não funcionais justifica a adaptação – o antigo interface de transporte e a área circundante (a área do projecto) e a ligação ferroviária ao Seixal desactivada. Outras áreas, como o actual interface e a zona de estacionamento, ou a as ligações rodoviárias projectadas estão também incluídas nas diferentes possibilidades para o local.
Santo Tirso
A área do projecto em Santo Tirso está perto do centro da cidade e dos Paços do Concelho. Segundo o programa, o Mercado Municipal tem vindo a perder a função que outrora teve na vida quotidiana, devido às mudanças ocorridas na oferta de retalho comercial. Contudo, tendo em conta a localização estratégica e o reconhecimento da sua importância no tecido social e urbano, “é importante combater a tendência actual de abandono, através do compromisso para uma estratégia de adaptação mais compreensiva que se relaciona com o mercado e o seu espaço público contíguo, com áreas urbanas que oferecem utilizações diversas e contribuem para novas possibilidades para a vitalidade e centralidade urbanas”.
Ligar as margens do Ave
A estratégia colocada a Laura Alvarez visava tornar Santo Tirso “mais atractiva e competitiva enquanto centro urbano a uma escala regional” e inclui a necessidade de melhores acessibilidades e a promoção dos seus valores arquitectónicos e ambientais. A contribuição para esta estratégia surge de intervenções de reforço que ligam o centro cívico e administrativo ao sistema junto ao rio, através da regeneração de ambas as margens do Rio Ave e do Parque Urbano do Ribeiro do Matadouro. Os projectos em curso focam-se em questões de regeneração urbana, da herança do edificado, no reforço das funções urbanas centrais e na melhoria dos espaços públicos, ligada às soluções de lazer e mobilidade.
Revitalizar o Mercado
Santo Tirso está englobada na Área Metropolitana do Porto, “uma conurbação dispersa”. É uma cidade de dimensão média, com uma área periférica espalhada ao longo do Vale do Ave, onde indústria, agricultura e infra-estruturas se misturam. A área de projecto é definida pelo Mercado Municipal e a sua área circundante que, em conjunto com os Paços do Concelho, define o eixo central urbano da cidade. O principal objectivo consiste na revitalização pela expansão de actividades no centro, à volta do mercado ou na zona envolvente próxima. Esta área está articulada com uma área maior, onde o objectivo é explorar diferentes usos, através de conexões que a ligam às margens fluviais através de “suaves modos circulantes” e da potenciação da paisagem com qualidades cénicas.
Novo processo de gestão
O principal elemento desencadeador deste processo é a adaptação do Mercado Municipal a um novo processo de gestão. “A cidade procura uma imagem inovadora e um novo conceito funcional que anteveja uma diversidade de usos para o centro”, tanto em termos de actividades permanentes – dentro do edifício – como temporárias, com eventos adicionais na feira que decorre às segundas e outros conceitos temporários para gerar novas possibilidades – restaurantes, oficinas, diversão nocturna – com “promoção/intensificação de experiências urbanas em ruas de comércio, que cruzam a área do mercado amplificada pela possível utilização de novos rumos dentro de passagens, através de quarteirões acessíveis, ao adaptar o local a uma realidade comercial e culturalmente viva, como novos “inputs” de rede”. n