CONTRIBUTOS (?) PARA UMA SOCIOLOGIA DO COMÉRCIO
Por: JOÃO BARRETA Nos últimos dias, em vários órgãos de imprensa, foi sendo noticiado que este Natal bateu recordes em termos dos valores gastos pelos Portugueses durante tal período festivo. Obviamente que escrito desta forma haveria um conjunto de questões, talvez de pormenor, que importaria dissecar, pois com toda a certeza que se a fonte… Continue reading CONTRIBUTOS (?) PARA UMA SOCIOLOGIA DO COMÉRCIO
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Por: JOÃO BARRETA
Nos últimos dias, em vários órgãos de imprensa, foi sendo noticiado que este Natal bateu recordes em termos dos valores gastos pelos Portugueses durante tal período festivo. Obviamente que escrito desta forma haveria um conjunto de questões, talvez de pormenor, que importaria dissecar, pois com toda a certeza que se a fonte tem a ver, por exemplo, com os levantamentos/pagamentos efetuados com cartão (multibanco, visa, etc..) parece-me óbvio que se tratarão, para ser mais exato, de valores transacionados em Portugal, o que não significa que o tenha sido apenas por Portugueses, por exemplo. Mas deixando de lado pequenos preciosismos que em tantas outras questões nos desviam do foco da discussão, centremo-nos naquilo que tentarei evidenciar nesta breve reflexão que aqui vos proponho!
Basicamente a “notícia” é esta:
“Entre 23 de novembro e 27 de dezembro, os portugueses pagaram 3712 milhões de euros em compras efetuadas com o cartão multibanco, mais 7,3% do que em igual período de 2014. Segundo os dados mensais registados pelo Banco de Portugal, estas quatro semanas natalícias de 2015 foram aquelas em que os portugueses mais gastaram desde que há registo, isto é, desde 2000″. (Jornal de Notícias, dezembro de 2015).
Independentemente do valor verdadeiramente astronómico (quase 4 mil milhões de euros) que terá sido de facto movimentado, e muitos Portugueses poderão confirmar que gastaram mais do que em anos anteriores, vindo, quiçá, muitos mais do que aquilo que seria desejável, chegar à conclusão de que não só gastaram mais, como também gastaram … demais, o curioso é que do lado da oferta a realidade parece não se espelhar naquilo que a procura parece refletir (isto, claro está, com base nos números acima transcritos)”
Isto é, uma vez mais, ano após ano, a oferta (leia-se os comerciantes e as suas estruturas associativas tidas como representativas) lamenta-se das vendas reduzidas, das faturações baixas, chegando-se mesmo a ouvir, em entrevistas de circunstância em alguns canais televisivos, e não só, que se tratou de um dos piores Natais de sempre (em vendas, entenda-se!).
Depois e por arrasto, em paralelo, lá vêm as reportagens em que muitos (a procura, o consumidor, …) dizem preferir, desde sempre, o comércio de rua, o comércio tradicional, etc., etc.. Fazem filas intermináveis pelo bolo-rei do estabelecimento x, esperam horas pelo bacalhau da loja y, aguardam o tempo que for necessário pelos sonhos e filhoses da loja w, chegando a deslocar-se, inclusive, ao mercado municipal por causa da couve ou do polvo.
Mas tal preferência é igualmente noticiada para outros ramos de comércio e artigos mais emblemáticos, sejam as luvas e os cachecóis, os casacos e os chapéus, os suspensórios e as bengalas, as malas e as carteiras, enfim (…) alguma reportagem me terá escapado, mas a estas pude assistir!
Apesar de algumas entrevistas, que mais não poderão ser do que a exceção que confirma a regra, o comércio que alegadamente pouco vendeu foi o mais procurado e o comércio que não se queixa (antes pelo contrário e leia-se … centros comerciais) nesta altura pouco é “falado”!
Dificilmente há explicação com alguma lógica para este tipo de fenómenos, no entanto, tenho para mim que o tema do Comércio, em sentido lato, – o binómio oferta-procura, a dicotomia entre o comércio versus o consumo, as dinâmicas evidenciadas pelos distintos formatos, o(s) comportamento(s) do(s) consumidor(es), os hábitos (locais, regionais, nacionais) de compra, a(s) política(s) pública(s) para o Comércio, a(s) tutela(s) do(s) Comércio(s), o Planeamento Urbano e o Comércio, as Cidades e o Ordenamento do Comércio, o potencial papel do Comércio na coesão das Comunidades Rurais, o papel dos Mercados e das Feiras na animação e dinamização do(s) espaço(s) urbano(s), entre muitos outros temas que terão “tanto de falados” como de “pouco trabalhados”, pelo que continuará a residir nestes e noutros focos o grande desafio e o infindável aliciante de quem teimosamente insiste em falar, escrever e debater o Comércio.
Mas, agora, que mais um Natal passou, os saldos (perdão, as promoções!) aí estão, e um novo ciclo se inicia, também para o Comércio, aguardando-se com legítimas e redobradas expectativas o que o novo ano possa trazer ao Comércio. Também o Comércio necessita de governo, mas isso julgo já ser do conhecimento de quase todos.
Sem pretensões, pretensiosismos ou saudosismos, creio que aquilo que se tem estudado e observado, no que ao Comércio diz respeito, tem sido pura e simplesmente descurado na hora de definir políticas, delinear medidas e projetar ações. Há que não começar, de novo, do zero, pois por muito que alguns possam em tal não crer, outros tantos creem que algo já foi feito – para tal basta conhecer o Comércio, estudando-o (ou lendo estudos!).