“Acredito que o Prémio decorreu, provavelmente também, da concepção do objecto como um todo”
O Edifício Técnico Administrativo da EDP, em Leiria, foi o vencedor do Prémio Palmarés 2015 da Technal, na Categoria “Trabalhar”. Rafael Balestra foi o responsável pelo projecto e em entrevista ao Construir explica algumas das suas especificidades
Ana Rita Sevilha
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O Edifício Técnico Administrativo da EDP, em Leiria, foi o vencedor do Prémio Palmarés 2015 da Technal, na Categoria “Trabalhar”. Rafael Balestra, do gabinete Regino Cruz Arquitectos, foi o responsável pelo projecto e explicou ao Construir que o Edifício resultou da procura do Grupo EDP por concentrar todos os serviços, até então dispersos, num só edifício, estimulando uma produtiva convivência de proximidade. Para Rafael Balestra, o edifício espelha a contemporização da marca EDP e ao Construir o arquitecto sublinhou que “a complexidade incontornável das visíveis infra-estruturas da eletricidade, serviu de contraponto à necessária simplicidade do volume da nova construção. Por isso, este volume destaca-se do espaço envolvente como uma longa caixa de betão, de forma pura e linhas minimalistas. Para Rafael Balestra, “a serenidade da sua beleza impõe uma presença independente de ‘modas arquitectónicas’, que se integra no consistente dinamismo da imagem do Grupo EDP”.
Serenidade, boa integração e materiais duráveis e de fácil manutenção, foram alguns dos aspectos enunciados pelo júri do Prémio Palmarés Technal 2015, relativamente ao Edifício Técnico e Administrativo da EDP. Na sua opinião, que outras características e mais-valias levaram a que o edifício fosse premiado?
Acredito que o Prémio decorreu, provavelmente também, da concepção do objecto como um todo, da sua aparente simplicidade e da inovação nos ambientes de trabalho. O novo edifício surge como um volume singelo que serve de palco onde o cenário é a envolvente e os intervenientes são os utentes sempre em movimento na corrida do dia-a-dia. À primeira vista o objecto identifica-se como um monólito de linhas minimalistas, mas, mais tarde percebe-se a existência de alguns elementos que intrigam o observador e, como tal, despertam a sua curiosidade.
Um destes elementos é a sala de “brain storming”. Esta consiste num volume camuflado por um vidro reflector que se difunde na textura das árvores. Está situada no meio do bosque, intelectualmente desconectada do resto do edifício. Este espaço foi concebido para que as equipas de trabalho pudessem se sentir desinibidas e inspiradas pelo entorno natural.
Outros elementos como passagens, pontes e caminhos, incentivam os utentes a usufruírem o contacto com a natureza, diferenciando este projecto do “típico” ou “tradicional” office space.
Refere na memória descritiva do projecto que o mesmo espelha as linhas de força da marca EDP, nomeadamente “excelência, modernidade, inovação, eficiência e sustentabilidade ambiental”. Em termos práticos de que forma foram retratados estes aspectos na linguagem arquitectónica e nas soluções construtivas?
De certa maneira o design do edifício tentou corresponder a várias características que visam a responsabilidade social corporativa da EDP. A aparência sólida da construção e a escolha dos materiais foram determinantes na vontade de transmitir esses aspectos, também como um sentimento de confiança, credibilidade e transparência.
O resultado é uma obra em que a linguagem arquitectónica é simples e honesta. Onde os materiais são expostos com a sua beleza crua, e, a energia é focada nos ambientes e não na complexidade de trejeitos acessórios.
Dinamismo e flexibilidade são outras das palavras referidas na memória descritiva, nomeadamente em relação aos espaços de trabalho, caracterizando-os como compartimentos “desligados” da fachada. Pode esclarecer esta ideia?
Considerando que a forma de trabalhar está em constante evolução, a nossa equipa desenvolveu o projecto tendo sempre o trabalhador como ponto inicial de ponderação. Hoje em dia, os técnicos que utilizam estas instalações têm necessidades especificas (iluminação artificial, climatização, redes de dados, condicionamento acústico) que culminam numa vasta rede de infra-estruturas. Esta, é colocada no centro do edifício, dando lugar a uma flexibilidade incremental do espaço para futuras adaptações. Por contraponto, junto às fachadas, permitiu-se a criação de um espaço com a altura completa, onde os materiais aparecem de uma maneira mais crua (betão, alumínio e o vidro). Neste espaço de transição é proporcionado um sentimento de serenidade e contemplação, ao ligar o trabalhador ao bonito arvoredo preservado no lado Poente da construção e ao paisagismo mais regularizado existente no lado Nascente.
Ainda relativamente às fachadas, estas assumem grande importância, nomeadamente sendo o “melhor meio de comunicar os valores do promotor”. De que forma se tornam neste veículo de expressão?
O edifício concebeu-se para ver e ser visto, acarinhando uma relação de transparência e diálogo de proximidade com a vizinhança e os utentes. Neste enquadramento, as fachadas são, por si, o primeiro elo de “conversação” entre os arquitectos que idealizam e as pessoas que, de longe a percebem. Por consequência, os princípios de sustentabilidade, de transparência, de contemporaneidade e de presença institucional da EDP, estão nelas reflectidos.
A eficiência energética e sustentabilidade ambiental fazem parte integrante deste edifício, estando o mesmo dotado de um sistema inteligente de gestão energética. Que sistema é este e que tipo de soluções e decisões foram tomadas no desenho do edifício para que o mesmo respondesse de forma satisfatória a este desafio?
A preocupação com a sustentabilidade está sempre presente em todos os nossos projectos. Neste, em especial, foi tido um cuidado acrescido com diferentes tipo de soluções técnicas, para que, dentro do enquadramento de custos adequado, a construção atingisse a classificação energética desejada.
Sem pretender qualquer ordem de importância e a título de exemplo, posso mencionar o design do edifício, que considerou a topografia do terreno de maneira a que não fosse necessária a movimentação de terras para a sua implantação, poupando a energia consumida pelas máquinas de grande porte.
Também a orientação do volume, que enalteceu a transparência das fachadas, induzindo a menor dependência da iluminação artificial com o equilíbrio necessário entre as superfícies envidraçadas e as opacas.
A colocação do edifício junto ao pinhal permitiu aproveitar o sombreamento natural do lado Poente do terreno. No lado Nascente, a fachada tem elementos de sombreamento automaticamente reguláveis com baterias recarregáveis pelos painéis fotovoltaicos implantados na cobertura.
Nota biográfica:
Rafael Balestra é Mestre em Arquitectura pela Accademia di Architettura di Mendrisio (Suíça 2009-2011) e Licenciado em Arquitectura pela Faculdade de Arte de Edimburgo (Escócia 2003-2006). Concilia o trabalho em nome individual com o trabalho desenvolvido no gabinete Regino Cruz Arquitectos (2011-2016), onde já havia passado de 2004 a 2008 como Arquitecto Júnior, depois de ter desenvolvido trabalho como Técnico de Arquitectura no Office for Metropolitan Architecture (OMA / AMO) em 2007 e como Trainee no Bjarke Ingels Grupo (BIG ) em 2007. No decorrer do seu percurso profissional passou também pela India em 2009 como Arquitecto no Urban Nouveau e pela Noruega em 2010 e California em 2011, onde aprofundou conhecimentos sobre agricultura biológica.