“Principal desafio da engenharia na Europa é a situação do sector público”
“Hoje, todo o planeta é um mercado único, onde todas as empresas de engenharia importantes competem, o que irá empurrá-las para galgarem terreno em todas as frentes” – Luc Hellemans
Pedro Cristino
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Para Luc Hellemans, a Europa terá, durante 2016, condições “favoráveis” para o sector da engenharia civil. Em entrevista ao Construir, o CEO da Arcadis para a região do Sul da Europa, explica que o sector se está a ressentir com a falta de investimento público e revela que o facto de a multinacional holandesa de engenharia ter um protfólio tão diversificado tem-lhe permitido fazer frente aos impactos negativos que afectam os diferentes mercados onde opera.
Em retrospectiva, como foi o ano de 2015 para o negócio da Arcadis no sul da Europa?
Como empresa pública, não podemos revelar a nossa informação financeira sobre a nossa performance individual em cada país. Na região da Europa Comntinental, a Arcadis teve um bom crescimento de receitas em 2015. O crescimento advém principalmente da aquisição da empresa de consultoria Hyder e dos nossos clientes do sector privado. As nossas receitas brutas aumentaram de 559 milhões e euros em 2014 para 613 milhões em 2015. O nosso EBITA operacional aumento de 36 milhões de euros para 44 milhões (margem de 8,1% para margem de 9,2%).
Que sectores representaram um maior volume de trabalho para a Arcadis nesta região, durante o ano transacto?
Na Europa Continental, a nossa linha de negócio de Edifícios (37% das receitas brutas globais) registou um forte crescimento orgânico. As receitas brutas da linha de negócio de Infra-estruturas (25% das receitas brutas globais) e de Ambiente (também representa 25% das receitas brutas globais) registou um crescimento nulo na região. A linha de negócio de Água (13% das receitas globais brutas) decresceu. A principal razão para a performance destas três últimas linhas de negócio é o baixo investimento no sector público.
Como analisa a situação actual do mercado de consultoria em engenharia civil na Europa? Quais as tendências recentes neste sector?
O principal desafio do mercado de engenharia civil na Europa Continental é a situação do mercado público. Os governos locais e nacionais estão sob uma pressão orçamental cada vez maior, o que reduz a despesa pública e o crescimento das empresas de engenharia nesse sector. Pense em investimentos em rodovias, ferroviais, “utilities” de água e outra infra-estrutura pública. Felizmente, a Arcadis assegurou uma posição suficientemente diversificada de forma a não estar dependente apenas do sector público. De facto, em 2015, registámos crescimento orgânico na Europa Continental, principalmente graças ao sector privado na nossa linha de negócio de Edifícios.
Como uma empresa global de engenharia, contamos com alguns motores de crescimento a longo prazo com impacto nos mercados globais, tanto agora, como no futuro. A globalização é um deles e é importante. Empresas com operações globais necessitam de apoio onde quer que operem e procuram fornecedores de soluções que possam trabalhar com elas harmoniosamente em todo o mundo. Podemos também citar a urbanização e a senda das cidades relativamente ao investimento interno para apoiar isto. Estreitamente ligada à urbanização está a mobilidade, que tem um impacto significativo em economias locais e nacionais. As alterações climáticas estão a proporcionar oportunidades uma vez que a necessidade de medidas para reduzir os seus efeitos está a aumentar, bem como relativamente a medidas para nos protegermos contra os seus impactos (como infra-estruturas de protecção face a cheias). Estamos também a tirar proveito da tendência global rumo a maior sustentabilidade e ao uso consciente dos recursos como energia, água, alimentos mas também finanças. Por fim, existe uma atenção crescente para a produtividade de activos, onde as infra-estruturas e os edifícios são cada vez mais criados como todo o ciclo de vida em vista.
Como se posicionam face a estas tendências?
Respondemos às necessidades de várias formas, como o fornecimento global – a Arcadis proporciona uma qualidade consistente de serviços aos seus clientes em todo o mundo, mas com atenção a factores locais. Podemos prestar os mesmos serviços em qualquer local, de forma a que as empresas multinacionais possam trabalhar com apenas um fornecedor para todas as suas operações em todo o mundo. Os projectos estão a tornar-se mais complexos e estão a ser integrados em programas. A nossa abordagem global significa que podemos garantir baixos riscos e certeza no resultado. Por outro lado, há um aumento do foco na sustentabilidade, na medida em que ajudamos as cidades a criar condições de vida mais sustentáveis e as empresas a melhorarem a sustentabilidade das suas operações. Há também a integração da cadeia de fornecimento. Os métodos alternativos de entrega de projectos que dependem numa cadeia de fornecimento mais integrada estão a aumentar. As abordagens de concepção e construção, e de concepção, construção, financiamento e operação encorajam a inovação, reduzem os erros, baixam os custos, partilham os riscos e optimizam os projectos ao longo dos seus ciclos de vida. A Arcadis pode aconselhar tanto o cliente final como os membros do consórcio que implementa o projeto. Por fim, as parcerias público-privadas – os governos procuram atrair o capital privado para (co)financiar investimentos em infra-estruturas. Isto é activamente encorajado pela Comissão Europeia, com o seu “Plano Jucker” que é suposto atrair 350 mil milhões de euros em investimento privado para infra-estruturas e para a economia. A Arcadis liga os donos de obra e os financiadores dos projectos e presta aconselhamento na estruturação e gestão deste tipo de esquemas financeiros público-privados.
Que sectores prevê que proporcionem mais oportunidades para as empresas de engenharia civil na Europa no curto prazo?
A Arcadis foca as suas actividades na Europa Continental em vários sectores, dos quais espera o maior crescimento e o melhor resultado. Esses sectores são as cidades, os empreiteiros, os promotores comerciais, energia, o sector automóvel, a indústria química e farmacêutica, as instituições financeiras e a produção industrial e de bens de consumo.
Em termos globais, quais os principais desafios enfrentados actualmente pelo sector?
Referi já algumas das principais tendências para o futuro e algumas delas representam desafios importantes para o sector da engenharia civil. A globalização é um deles. Hoje, todo o planeta é um mercado único, onde todas as empresas de engenharia importantes competem, o que irá empurrá-las para galgarem terreno em todas as frentes: empresas globais com equipas locais, inovação para a diferenciação, partilha fácil de conhecimento em todas as empresas… Outros dois importantes desafios são a concentração progressiva de uma população em crescimento nas cidades, o que irá pressionar ainda mais as infra-estruturas existentes, ao mesmo tempo que leva essa população a tornar-se mais consciente sobre assuntos relativos à sustentabilidade, ao mesmo tempo, a necessidade de recursos tornar-se-á mais concentrada e a disponibilidade destes continuará a dispersar-se, tornando-se mais caro levá-los para as cidades.
Sente que o sector está a ser afectado pela queda dos preços das “commodities”, especialmente o petróleo e o gás?
A queda dos preços das “commodities” tem dois lados. Por um lado, tem ajudado a manter a inflação a um nível mínimo em todos os mercados da construção. Isto mantém o mercado da construção saudável e atractivo para os investidores. Os preços de energia baixos têm também apoiado os sectores da indústria, do lazer e do retalho, que têm o potencial para impulsionar a procura por serviços destes sectores. Por outro lado, estes preços em queda, causada pela decrescente procura, aumento da oferta e pelo aumento da concorrência, estão a causar danos ao sector de petróleo e gás, que é um importante segmento de mercado da Arcadis. Felizmente, como temos um portfólio de negócios forte e diversificado, os efeitos negativos das tendências de mercado num sector são contrabalançados pela prosperidade nos outros sectores.
Quais as suas previsões relativamente à performance da Arcadis em 2016?
Para 2016, esperamos condições relativamente favoráveis na Europa Continental.
Que regiões terão melhores oportunidades para empresas de consultoria em engenharia no futuro próximo?
As regiões que, neste momento, são vistas como as mais interessantes são o Irão, o Norte de África e, se os preços do petróleo voltarem a subir, o Médio Oriente. Também olhamos para a América Latina como uma região muito interessante. A população está a crescer, o que é uma tendência económica positiva a médio e curto-prazo (obviamente afectada pelos ciclos económicos) e assegura a necessidade de investimento nacional e internacional em todos os tipos de infra-estruturas (estradas, água, caminhos-de-ferro, energia) e em activos de construção de forma a desenvolver totalmente o potencial económico destes países. Na Europa, há fortes sinais positivos da Polónia e da Alemanha, com alguns bons sinais de recuperação em Espanha e Itália. Testemunhamos também um sentimento positivo por parte dos investidores (confiança) relativamente aos países mais estáveis e economicamente viáveis no Leste de África e na África Central e, claro, na África do Sul.
Na sua opinião, que tendências podemos esperar do sector da engenharia civil nos próximos anos?
A partilha de informação e conhecimento é um grande tópico no sector, tanto quando é referente à partilha de informação dentro das organizações, como quando é referente a clientes. O BIM (Building Information Modelling) é um bom exemplo de partilha de informação relativa a projectos, o que está a tornar-se uma exigência para todos os projectos, incluindo os menos complexos. Também a sustentabilidade e a certificação energética estão a tornar-se um factor comoditizado mas cada vez mais recorrente. Uma tendência interessante é a utilização da madeira como material de construção, substituindo o betão. Este elemento tem provado ser mais flexível, resistente a sismos, acessível, sustentável e mais amigo do ambiente.