Conheça as ideias dos candidatos a bastonário da Ordem dos Engenheiros
Carlos Mineiro Aires e Paulo Bispo Vargas, ambos candidatos ao cargo de bastonário da Ordem dos Engenheiros, revelam ao Construir as suas ideias sobre o rumo que a associação deve seguir no futuro próximo
Pedro Cristino
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No âmbito das eleições para os órgãos nacionais e regionais da Ordem dos Engenheiros (OE), o Jornal Construir colocou aos líderes das listas A e B, Carlos Mineiro Aires e Paulo Bispo Vargas, respectivamente, as seguintes questões:
1- Quais os objectivos da candidatura desta lista à Ordem dos Engenheiros? Em que pontos primordiais assenta o programa?
2- Quais os principais desafios enfrentados pelo sector da Engenharia em Portugal?
3- Como analisa os mandatos de Carlos Matias Ramos? Os esforços levados pela Ordem dos Engenheiros, nestes últimos anos, no sentido de expandir o reconhecimento das qualificações dos engenheiros portugueses além-fronteiras são para continuar?
4- Na sua opinião, em que se deverá focar a estratégia da Ordem para o futuro próximo?
Carlos Mineiro Aires
1 – Em primeiro lugar, dar continuidade aos 80 anos de história que esta prestigiada instituição comemora este ano, com uma linha de credibilidade perante a sociedade, com uma linha de afirmação da imprescindibilidade dos engenheiros perante o país e, sobretudo, sendo o garante que a Ordem ficará em boas mãos. Não sendo uma candidatura de continuidade, quero também deixar expresso que não é de rotura, porque estive seis anos no Conselho Directivo Nacional, mas também dei suficientes demonstrações, à frente da Região Sul, daquilo que sou capaz de fazer diferente, de inovar e de modificar. Penso que tenho estratégias e visões diferentes para a Ordem e, portanto, é essa a ambição que nos move: continuarmos a ter o respeito da sociedade mas com a dimensão institucional que uma organização destas deve ter. Atravessámos os piores seis anos da engenharia nestes dois últimos mandatos e é óbvio que, durante esse período, modificou-se o paradigma da empregabilidade, a economia foi seriamente abalada, toda a parte legislativa sofreu alterações, começando pela criação de uma ordem paralela, em 2013 ainda [Ordem dos Engenheiros Técnicos]. Depois, com os estatutos temos vindo a assistir à invasão de outras profissões na nossa área. Tivemos, durante esse seis anos, de travar combates grandes com o poder politico, diga-se, sem sucesso, devido à surdez, à incapacidade e à incompreensão que este poder tem perante as situações que eu referi. Isso não invalida que não tenham sido dois mandatos com realizações grandes, com vitórias grandes, noutros aspectos. Agora, muitas vezes quer-se fazer passar a imagem – nomeadamente por parte da lista concorrente – de que houve imobilismo, o que só pode ser por desconhecimento e ignorância absoluta. Quem nunca esteve por dentro da Ordem, desconhece os programas e tem um discurso fácil, que é aquele discurso de ser contra tudo e contra tudos, porque a realidade do que é o quotidiano de uma organização profissional como esta não é exactamente esse. Voltando à referência da minha candidatura não ser de continuidade nem de rotura, há uma coisa que eu estou fortemente apostado e que é em preservar uma boa imagem e a dimensão que a Ordem tem perante a sociedade e o país – aí há continuidade. Não podemos entregar a Ordem a alguém que nem sequer currículo profissional tem, que não tem dignidade para exercer um cargo destes – porque estes cargos exigem dignidade e não apenas direitos estatutários – e, portanto, eu sinto que tenho condições para isso. Por outro, quando refiro que não é de rotura, é óbvio que devemos um respeito ao bastonário, mas isso não significa que esteja de acordo. Quando refiro isso, acho que os engenheiros se deixaram apagar um pouco, em termos de imagem e comunicação. Devemos e podemos fazer mais e ir mais além. Também é preciso desmistificar alguma confusão, que há no espírito de algumas pessoas, de que a Ordem é um sindicato. A Ordem dos Engenheiros não é um sindicato. É uma associação profissional, que regula a profissão e, obviamente, tem que ser uma voz activa. Não pode é ter posturas sindicalistas, nem posturas elitistas ou corporativistas, mas tem de ser uma Ordem que se afirme pela positiva e que seja reconhecida e respeitada.
2- Houve um impacto económico particularmente forte da engenharia civil, uma das 12 especialidades representadas pela Ordem. Os engenheiros mudaram de paradigma e tiveram de começar a procurar emprego fora do país, bem como em algumas outras especialidades, mas isso faz parte de uma mudança global que o mundo teve. Estávamos habituados a encontrar engenheiros de outras nacionalidades um pouco por todo o mundo e, hoje, encontramos os portugueses. É óbvio que isto tem custos sociais, porque as famílias dividem-se, tem custos para o país porque, enquanto esses engenheiros não voltam para Portugal, fazem cá falta. É uma juventude bem formada e capacitada que sai. Portanto, temos, como perspectiva, procurar que esses colegas nunca se afastem da Ordem, o que tem acontecido. É de notar e de salientar que, na sua quase totalidade, continuam a pagar quotas e a ser membros da Ordem. Temos de apostar na sua inclusão, criando uma rede de interligação com esses membros, uma rede de influências global porque, se tivemos acesso, se tivermos contactos, se tivermos esses membros perto de nós, dispomos de uma rede global de informação, uma rede global de acolhimento e uma rede global sobre os mercados. Assim, poderemos tirar partido dessa situação [a fuga de engenheiros portugueses] para o mercado externo, que espero que seja passageira. Mas não tenhamos ilusões: nada mais será como antes. Como candidato a bastonário, não tenho qualquer veleidade em tentar dizer o contrário. Aquelas décadas em que havia obras e investimentos massivos não voltarão. Mesmo que se dê a retoma, ficaremos aquém desses níveis. É preciso pensar que o país tem de se redimensionar. Eu não queria referir apenas a engenharia civil mas, é um facto que, a fuga que houve de engenheiros civis para o estrangeiro, e a fuga que houve, sobretudo, de jovens à área de engenharia civil, vão criar-nos, a curto prazo, um problema. Hoje, de superavit, possivelmente teremos de importar engenheiros civis. Portanto isso é uma questão que coloco aos jovens. O nosso programa eleitoral está muito focado em três pontos, que são a profissão, os jovens e o ensino da engenharia. Acho que deve haver, até à exaustão, uma explicação e uma tentativa de clarificar jovens sobre o facto de que a engenharia civil é uma engenharia que, tal como as outras, tem oportunidades e também as terá no futuro.
3- Sem dúvida. Os engenheiros e a engenharia são dos principais activos nacionais. Das melhores coisas que Portugal tem para exportar é a capacidade da engenharia e dos seus engenheiros. Não falo, neste caso, em civil porque, se observar as notícias que saem diariamente, repara que há engenharias emergentes como a bioengenharia, a engenharia dos materiais, a engenharia informática, entre outros. Portanto, há casos notáveis de sucesso em Portugal e, obviamente, isso é exportável, cria riqueza, é um bem transaccionável e ajuda-nos a sair de onde estamos. O caminho é por aí. Neste momento, temos firmados convénios com todos os mercados e todos os países onde os portugueses têm mais interesse e isso é para continuar. É um trabalho em que tive uma participação forte e estou muito contente com o contributo que consegui dar para isso. Aliás, sou o focal para alguns desses países e, caso seja eleito bastonário, vou passar a ser o pivot principal nessas articulações e, obviamente, que a Ordem dos Engenheiros tem de estar, hoje, posicionada perante o mundo e perante os mercados interessantes com uma especial atenção ao contexto da lusofonia. Além dos países com que já temos formados acordos, posso dizer-lhe que São Tomé e Príncipe, Timor e Guiné-Bissau irão merecer-nos uma atenção especial, pois queremos incluí-los na engenharia lusófona e hoje existem condições para isso.
4- No futuro próximo, não tenho dúvida que deve focar-se em repôr a justiça em muita da legislação que, ultimamente, saiu, inclusive alguma que deu origem a transposições incorrectas e indevidas do Direito Comunitário que penalizam unicamente os engenheiros portugueses. Também deve tentar acabar com a invasão da área profissional dos engenheiros por outros profissionais não qualificados. Em terceiro lugar, deve apostar fortemente na imagem e na comunicação para dar uma maior visibilidade aos engenheiros e à Ordem. Não entremos em conversas demagógicas ou irrealistas, porque conhecemos o mundo, temos experiência associativa e sabemos exactamente aquilo que nos espera para os próximos seis anos.
Paulo Bispo Vargas
1- O objectivo principal é o de tirar do marasmo uma instituição que deveria defender os interesses de todos os engenheiros, mas que na realidade tem estado pouco activa nesta missão, essencialmente neste período exigente e competitivo que temos vivido nos últimos anos. Temos necessidade de criar uma mudança para termos MAIS ENGENHARIA. O nosso programa é pragmático e ambicioso, numa mudança radical da abordagem dos interesses da Engenharia em Portugal. Vamos focar-nos essencialmente em simplificar e tornar mais eficiente o actual apoio que a OE presta, e criar muito mais apoio aos seus membros. Temos programas específicos para simplificar os procedimentos, criando uma OE digital e online, em criar incentivos ao emprego para estagiários, desempregados com pouca e muita experiência, colegas seniores reformados que queiram manter-se activos, utilizando e congregando informação pertinente de fundos de investimento e Portugal 2020. Criar processos de validação e controlo de todos os actos de engenharia, fazendo da OE o real garante perante a sociedade civil da qualidade da engenharia portuguesa; promover uma correcta inserção do crescente número de colegas mulheres como uma natural evolução da participação igualitária em cargos de responsabilidade; criar novas especializações de acordo com os desafios dos novos mercados emergentes, com acesso a critérios transparentes e objetivos; diligenciar o apoio à actividade internacional dos engenheiros que por opção ou obrigação procuram no estrangeiro uma continuidade da sua carreira profissional, criando um gabinete de apoio específico com a informação relevante para uma correcta integração dos colegas nos vários países.
2- O principal desafio é a evolução do sector. A estagnação produtiva do país limitou e reduziu a evolução contínua dos profissionais da engenharia, que no seu processo de produção necessariamente se auto actualizavam com as modernas técnicas que aparecem todos os dias. O desemprego e a falta de uma estratégia de industrialização do país estão a levar a uma desqualificação dos engenheiros. Somente quem se “auto exporta” é que consegue manter-se actualizado neste mundo de evolução vertiginosa e constante. Neste sentido, há que reformular e flexibilizar a formação, encontrar uma correcta coordenação entre o mundo empresarial e as universidades e dar garantias que a profissão não é minimizada na sua função e responsabilidade perante a sociedade civil.
3- O mérito do actual bastonário enquanto profissional é sobejamente reconhecido. No entanto, perante uma análise dos factos e uma pequena amostragem de colegas, constatamos de imediato que, como líder da OE, a sua função não foi de todo cumprida. Esta actuação levou a um distanciamento enorme dos engenheiros da OE, bem patente na alta abstenção nas eleições para o seu 2ª mandato (2013-2016) que foi de 92%. De mencionar que esta abstenção refere-se somente aos colegas inscritos e com quotas pagas. Estimamos, que possa existir um mínimo de 40.000 profissionais de engenharia que nem sequer estão inscritos na OE. Os esforços a que nos propomos na internacionalização mereceram um cuidado especial no nosso programa. O mercado português é global e, por isso, iremos multiplicar, no mínimo por 10, a atenção dada pela actual Direcção nesta matéria, que foi muito reduzida.
4- A estratégia da Ordem terá de se focar fundamentalmente em mais Acção em vez de Reacção. A engenharia é um motor da sociedade e, por isso, temos que o lubrificar, aumentar a sua eficácia, diminuir o seu consumo e aumentar o seu rendimento e a sua produção. Em conclusão, é essencial uma Ordem mais eficiente e com MAIS ENGENHARIA.