“Desenha-se no sítio e para o sítio”
Pedro Maria Ribeiro, Ana Pedro Ferreira e José Gustavo Freitas foram os vencedores do primeiro concurso de ideias lançado pela Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, no âmbito do Programa “escolha-arquitectura”. Coordenados por Vasco Tomás Rosa a equipa a que deram o nome de Ponto, foi “eficazmente ao encontro do Programa do Parque Natural,… Continue reading “Desenha-se no sítio e para o sítio”
Ana Rita Sevilha
Sindicato dos Arquitectos reúne com objectivo de aprovar “primeiras tabelas salariais”
FEP traz a Portugal economista David D. Friedman
António Fragateiro assume direcção de Real Estate para Portugal do Numa Group
Habitação: Mais de 200 ideias integram nova versão da Carta Municipal
Bison Bank lança solução de crédito à habitação para não residentes
Projecto “Baterias 2030” concluído
Escritórios em Lisboa e Porto aceleram face a 2023
O Wolf Group e a Penosil estarão presentes na TEKTÓNICA 2024
CBRE Portugal lança programa para “jovens talentos”
APT IIN prevê crescer 13% face a 2023
Pedro Maria Ribeiro, Ana Pedro Ferreira e José Gustavo Freitas foram os vencedores do primeiro concurso de ideias lançado pela Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos, no âmbito do Programa “escolha-arquitectura”. Coordenados por Vasco Tomás Rosa a equipa a que deram o nome de Ponto, foi “eficazmente ao encontro do Programa do Parque Natural, garantindo com o tempo um carácter de ‘organismo endémico’, apoderando-se da topografia”, pode ler-se no relatório do júri presidido por João Favila Menezes. O concurso, a que concorreram 63 propostas, previa a construção de duas novas casas, uma na Ilha Selvagem Grande e outra na Ilha Selvagem Pequena, em substituição das existentes, que têm por função servir de abrigo aos vigilantes das ilhas durante os seus períodos de estada e a eventuais visitantes, mas que necessitam de uma reformulação, dado o estado actual em que se encontram e o seu programa inadequado, de forma a proporcionarem condições de habitabilidade aos seus utilizadores. A proposta da Equipa Ponto estabeleceu diferentes soluções para cada uma das ilhas.
Selvagem Grande
Ao Construir, a equipa explicou as suas propostas, começando pela casa pensada para a Selvagem Grande, que se desenvolve “no eixo longitudinal, orientando-se e encostando-se sensivelmente à rocha para fazer parte dela. A casa é o percurso de acesso à ilha e o alpendre é o ponto central da casa”.
Na proposta da Equipa Ponto, o “acesso faz-se no desembarque do portinho das cagarras, à cota 13 e aproveitando as fundações da casa existente estão algumas das zonas técnicas incluindo o sítio para guardar o bote. Subimos uma escada até à cota 17 e encontramo-nos no alpendre”. Chegamos ao ponto central da casa, à cota onde esta se desenvolve. “O alpendre divide dois espaços. A zona de dia onde se encontram os espaços comuns (cozinha, salas, i.s. visitas, sala multimédia, etc.) e a zona de noite onde se encontram os espaços de dormir com as casas de banho”, explicam, acrescentando que, “os espaços de dia, comunicam com o mar através de vãos estrategicamente colocados como se pontos de vigia se tratassem.
O espaço de noite vira-se para a rocha, onde ecoam subtilmente os sons do mar e da ausência”. Pedro Maria Ribeiro, Ana Pedro Ferreira e José Gustavo Freitas pensaram o alpendre como a continuação do percurso. Aliás, “a nova casa é um novo percurso que dá continuidade entre o desenho dos caminhos que marcam aquele lugar” e “a nova cobertura é também um pavimento como um plateau sobre o mar que serve de novo sistema de vigilância onde se pode parar e olhar”. Para não se destacar da rocha existente, a casa é construída em betão e inertes da demolição da casa existente. A sua constituição é composta por cimento, pó de rocha e areia com sedimentos vulcânicos da própria ilha. A espessura dos muros entre os 40 e 55 cm garante a satisfação das exigências actuais de eficiência energética. “Desenha-se no sítio e para o sítio” e assim, explicam, “não tenta ser natural, mas sim uma peça que dialoga com o lugar”.
Selvagem Pequena
“Atracamos no portinho da selvagem pequena e caminhamos adentro do planalto.
Não é como as outras ilhas. Avista-se uma espécie de pirâmide, à medida que avançamos até chegarmos a ela, privilegiamos a ausência humana”. Na casa da Selvagem Pequena, “a primeira linha define um limite” e “esse limite é uma cobertura de estrutura leve de madeira, que protege da exposição solar forte, dos ventos e da natureza”. “É coberta por uma lona branca que cobre a estrutura e possibilita a luz natural filtrada. Debaixo da cobertura significa que estamos abrigados e seguros, é ai que a casa acontece”, contam os arquitectos.
Os espaços interior e exteriores da casa “são como peças num tabuleiro, estrategicamente colocados.
A casa divide-se em zonas de interior e exterior coberta que se relacionam umas com as outras de maneiras e perspectivas diferentes”. A zona comum está separada da zona privada dos quartos, como se de zonas de dia e noite se tratassem. Já os espaços exteriores cobertos são como elementos estruturais da grande cobertura e estes elementos desenham uma composição inseridos numa quadrado de 17mx17m e desenham os espaços dentro e espaços fora.
“A casa entendida como um abrigo alberga os seus espaços por debaixo desta grande cobertura.
Estes volumes definem interiores e exteriores. Todos com uma função diferente. Os exteriores mas ainda protegidos pela cobertura principal contem funções ao nível do solo, espaços de estar e convívio. Contudo outros espaços acontecem a uma cota superior. Sobre estes volumes são alojados os depósitos de água salgada e doce, bem como todo o material de apoio. A esta conta podem também acontecer espaços de estar, privados da vista em torno e protegidos da intempérie”. A sua construção
define-se em 3 fases e os materiais vão ao encontro de não perturbarem as características do sítio.
“Todas as zonas da casa são construídas com blocos de cimento, preenchidos com areia do próprio sitio resolvendo assim as questões de isolamento acústico e térmico”, explicam
Pensar espaços que dialogam
Em entrevista ao CONSTRUIR, os três arquitectos falaram sobre a experiência de projectar para um território como as Ilhas Selvagens e sobre as expectativas do programa lançado pela OASRS
Como foi a experiência de projectar para um sítio com as qualidades paisagísticas e naturais das Ilhas Selvagens?
Desde logo a participação neste concurso motivou-nos por questões de afectividade ao sitio, e por questões de ordem básica e pertinente, o habitar e o lugar.
Sendo um território isolado, distante e com características únicas, o projecto permite relançar questões sobre o modo de habitar com o desenho das duas casas e dos espaços. A relação com a paisagem e o oceano, numa condição solitária, de silêncio, difícil, permitiu-nos pensar espaços que dialogam e constroem o lugar.
Que referências do lugar agarraram para criar um conceito e desenvolver as propostas?
Partimos logo pela as condições que encontrámos.
A Selvagem Grande, a maior das ilhas, tem estruturas humanas básicas que definem a implantação e o desenho da casa: uma casa, da família Zino e um percurso que começa no ponto de desembarque até á plataforma mais acima. O que concluímos foi desenhar uma casa-percurso com espaços de diferentes relações com paisagem, de diferentes ambientes como ponto de partida para aceder ao topo da ilha e continuar outros percursos de ligação à casa da família Zino e à restante ilha. O que constrói esta casa é a própria escarpa, em que se adoça, e com uma materialidade familiar á rocha existente (betão leve com sedimentos do sitio), materializam-se os espaços, num sentido de integrar e fundir a casa com o lugar.
Na Selvagem Pequena, o contexto é diferente. Temos uma ilha plana com um grande areal, com a excepção do Pico do Veado, um domínio maior sobre o oceano, com uma única referência humana, um percurso que aponta para o centro. A dimensão do habitar torna-se maior. Propomos um abrigo que delimita uma área exterior coberta e protege os espaços da casa, marcando uma chegada e uma relação com a paisagem em diferentes temperaturas, condições e ambientes. A própria casa é em si uma referência ao chegar e introduz-se uma dimensão espacial de acolhimento a que habita.
Falou-se na possibilidade de materializar as vossas ideias?
Sim, essa possibilidade foi aberta por parte das entidades regionais e há interesse para avançar com o projecto. A partir de agora é preciso trabalhar no acerto da proposta e do próprio programa face às condicionantes do sitio.
Qual a vossa opinião acerca da iniciativa “escolha-arquitectura” e que expectativas têm da mesma?
Achamos que é uma iniciativa bastante positiva e inovadora no contexto nacional, conseguindo reunir um conjunto de propostas, iniciativas e ferramentas para arquitectos e para o público em geral, aumentando o dialogo da arquitectura com a sociedade civil. Esperamos que concursos como este em que participamos tragam novas abordagens sobre o território e propostas que introduzam novas questões e discussões sobre a prática da arquitectura.