“Empresas sentem necessidade de voltar a crescer”
A Allied Steel Buildings é uma empresa norte-americana, especializada na construção em aço. Sedeado em Miami, o grupo tem já actividade realizada em mais de 64 países – com especial destaque para a América Latina e Caraíbas – e viu a sua aposta no Panamá ser recompensada com o volume de negócio que lhe trouxe… Continue reading “Empresas sentem necessidade de voltar a crescer”
Pedro Cristino
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A Allied Steel Buildings é uma empresa norte-americana, especializada na construção em aço. Sedeado em Miami, o grupo tem já actividade realizada em mais de 64 países – com especial destaque para a América Latina e Caraíbas – e viu a sua aposta no Panamá ser recompensada com o volume de negócio que lhe trouxe – directa e indirectamente – o projecto de expansão do Canal. Em entrevista ao Construir, Michael Lassner, presidente da Allied Steel Buildings, falou do actual momento do sector da construção dos Estados Unidos e do desenvolvimento da economia panamiana.
Como classifica a performance actual do sector da construção em aço nos Estados Unidos?
Nos Estados Unidos tem vindo a sentir-se uma retoma, algo lenta, há alguns anos, mas embora se registe um ligeiro crescimento do sector da construção no país – acho que menos de 2% – começamos a observar uma aceleração na construção em aço, que, normalmente, está adiantada face à economia. Por isso, é um bom sinal.
O betão é predominante no mercado norte-americano?
Depende do tipo de construção. Grande parte dos produtos competitivos nos Estados Unidos são em betão mas, no fundo, depende da utilização final da estrutura. As estruturas de índole industrial têm tendência para o aço, enquanto que as comerciais e residenciais – tendem a ser em betão.
Que balanço faz da actividade da Allied Steel Buildings relativamente a 2015?
É razoavelmente bom. Mantivemos o crescimento do ano anterior, expandimos a nossa actividade para mais 10 países, o que é muito importante para nós, pois constitui uma rampa de ascensão para 2016.
E como está a correr 2016?
Está a correr bem. Estamos realmente muito satisfeitos. Tem sido uma expansão global para a empresa, não apenas no número de países onde trabalhamos, mas também no tipo de projectos que temos estado a desenvolver para os nossos clientes.
Como descreveria o actual momento da fileira da construção nos EUA?
Da nossa perspectiva, e no segmento em que operamos, tem-se mantido. Penso que se reformou durante os desafios económicos, em 2009, acabando por ganhar uma nova forma, mantendo a sua estrutura desde então. Normalmente, após atravessarmos uma conjuntura económica negativa como essa, temos as grandes empresas a fazerem as suas aquisições de serviços e o negócio começa a movimentar-se no sentido de satisfazer o desenvolvimento das necessidades de mercado. Isso abranda à medida que a economia se relança e observamos que são as pequenas e médias empresas que estão agora a fazer os projectos, constituíndo assim uma parte grande do crescimento económico.
Desapareceram muitas empresas do sector quando a crise se abateu no país?
Penso que algumas pequenas empresas foram baixas desse período. Num modo geral, muitos dos “players” de peso da indústria de há sete anos atrás ainda prevalecem hoje. Mantiveram as suas posições, venceram os desafios económicos. Talvez tenham perdido massa crítica mas foram capazes de dar a voltar e manter as suas posições e acredito que muitos estejam a crescer. Inicialmente, a maior recuperação deu-se no mercado de construção residencial. A construção comercial e industrial seguiu, de certa forma, o mercado e está agora, a um ritmo mais brando, a recuperar.
O sector encontra-se então, de um modo geral, a crescer no país…
Está a crescer e parte disso deve-se, penso, a cautela face à potencial inflação. Já vemos isso no sector do aço. Mas a outra razão é nada mais do que uma lenta e firme recuperação da economia norte-americana. As empresas demonstram confiança e vontade para começarem a investir e isso está a reflectir-se na indústria da construção. Esperamos que o nosso negócio cresça nos Estados Unidos este ano.
Como se pode caracterizar o investimento público em obras nos EUA?
Existe investimento. Existe também um burburinho de que deve haver mais. Aparentemente abrandou nos últimos dois anos mas têm ocorrido muitos debates em Washington. Esperamos que essa seja uma das áreas prioritárias, independentemente de quem for eleito presidente no próximo ano. Esperamos mais um projecto de lei para infra-estruturas.
Quais são os principais desafios que as empresas do vosso mercado enfrentam actualmente?
Acho que devem ser vistos uma escala “macro”. Queremos ver crescimento continuado e confiança. A confiança que procuramos é a mesma que os nossos clientes procuram. Estamos naquele momento em que as empresas sentem que precisam de voltar a crescer, seja através de recrutamento, ou através de investimento. Temos um negócio robusto nos EUA, gerimos mais de 200 projectos de construção por anos no país e por isso temos uma boa noção do mercado. Quando falamos com os nossos clientes, o que ouvimos é “deverei investir agora? Deverei investir no próximo ano? Ou devo esperar pelas eleições?”. De um modo geral, estamos numa posição estável perante a economia e temos uma presença muito diversificada em termos nacionais e internacionais. Segundo o que ouvimos por parte dos nossos clientes e parceiros é que, existe, de facto, alguma hesitação, mas a confiança é maior do que a hesitação.
Isso também poderá ser uma das vantagens de ter um mercado interno tão grande e de diversificar geograficamente a actividade para muitos países…
[A presença geográfica] é de importância crítica! Somos uma empresa jovem, com apenas 13 anos, mas isso esteve sempre no nosso plano de negócios. Diversificámos para fora dos EUA com apenas dois anos de actividade. Entrámos no Panamá em 2008, uma altura crítica para o mundo. O “timing” foi perfeito para nós. Lançámos o nosso negócio neste hemisfério, para a América Latina e Caraíbas e tem-nos corrido bem. Por isso, a mensagem que deixamos às empresas é que é fulcral diversificar, seguir as tendências e os mercados que se erguem e caem. Essa diversificação é a chave para estabilidade duradoura.
Quais são as vantagens competitivas da construção em aço?
Muitos dos aspectos técnicos do trabalho de campo é feito em fábrica pela Allied Steel Buildings. O que montamos é um sistema pré-cortado, pré-soldado que, quando chega ao local é mais fácil de construir. Temos prazos de construção mais curtos e isso aplica-se a todos os produtos que entregamos, desde um simples armazém, a um edifício logístico ou a uma torre de múltiplos pisos. A nossa principal diferença é que as nossas soluções são pré-concebidas.
Na Europa, a construção em aço enfrenta a concorrência chinesa. Isso também sucede nos Estados Unidos?
Não tenho os dados exactos, mas surgiu uma proposta de lei este ano com vista a aumentar as tarifas para produtos de aço com origem em seis países, com a China à cabeça da lista. É um acréscimo de cerca de 220%. É a primeira vez que vi isto na minha carreira. Existe uma proposta para uma tarifa anti-”dumping” e esperamos que seja assinada este Verão. Normalmente os Estados Unidos e a Europa observam-se mutuamente no campo das tarifas, para verem o que resulta melhor. O mercado aqui vai estar protegido e prevejo que na Europa será igual.
A empresa esteve envolvida na obra de expansão do Canal do Panamá?
Sim, de formas diferentes. Desenvolvemos alguns projectos na zona específica do canal – alguns edifícios de escritórios e administrativos e uma central hidroeléctrica que está a fornecer energia ao país.
Presumo que seja entusiasmante para a empresa trabalhar num projecto tão icónico…
Absolutamente! Ficámos entusiasmados com o telefonema e a parte interessante do projecto é que o mesmo foi inicialmente desenhado em aço convencional, mas existiam vários aspectos técnicos desafiantes que levaram o consórcio vencedor a procurar outra solução. Quando intervimos para apresentar uma solução para um desafio no local da obra, isso é muito gratificante. Foi um projecto que conseguimos alterar e conseguir satisfazer os prazos de entrega.
Embora a empresa tenha instalado recentemente um escritório no Panamá, já trabalha no país há vários anos…
Em 2007 vencemos os nossos primeiros projectos e hoje já temos realizados 60 projectos no país – mais de 400 mil metros quadrados de projectos em aço. Realizámos já uma grande variedade de edifícios de logística para multinacionais. Neste momento, não nos limitamos a este tipo de edifícios e estamos a concluir uma loja de ferragens e um supermercado no país.
Que oportunidades identificaram neste país?
Quando queremos trabalhar no mercado global, o factor-chave é deslocarmo-nos para o país em questão. Temos de o visitar, ver o que está a acontecer. Foi um mercado em que descobrimos potencial de crescimento mas não percebemos a escala até lá chegarmos. Se olharmos à volta, vemos construção em todo o lado. Depois de um ano neste mercado percebemos que foi boa ideia gastarmos os nossos recursos para o mercado internacional no Panamá e tornou-se óbvio que, com a expansão do Canal, as multinacionais teriam uma grande necessidade em estarem presentes no país e sabíamos que isso iria impulsionar a procura de parques logísticos e de armazéns.
A América Latina e Caraíbas são mercados naturais no contexto de internacionalização das empresas dos Estados Unidos?
Penso que sim. Encontrámos alguma concorrência de empresas dos EUA nestes mercados, mas não tanta como esperava. Na maioria das vezes damos por nós a concorrer global ou localmente. A forma como o mercado norte-americano está estruturado no nosso sector faz com que as empresas se mantenham a trabalhar nas suas regiões, dentro do país.
Quais os principais desafios que encontraram no Panamá?
No início, o principal desafio foi a reputação. A um nível local, as pessoas pensavam “quem são estes? Posso confiar neles? Vão cumprir? Vão trazer o produto que necessito? Vão compreender o meu mercado e como construir no Panamá?” Esse é um dos desafios que são frequentemente encontrados por quem inicia a sua actividade numa nova região e nós vencemo-lo ao passarmos um período considerável de tempo no país, provando a nossa capacidade, projecto após projecto. A logística é um outro desafio mas temos conseguido levar os nossos projectos a todo o país.
Qual a importância deste país para o negócio global da empresa?
É de importância crítica. Com a expansão do Canal, tornou-se uma localização crítica para empresas de logística, para multinacionais e, assim tornou-se também muito importante para a Allied Steel Buildings. Em certos períodos, representou 50% da actividade total da empresa, durante os anos de crescimento significativo. Além disso, há a exposição global a estas empresas de grande dimensão, que conhecemos no Panamá e que, desde então, nos têm levado a todo o mundo.
As parcerias são importantes para a actividade internacional?
São fulcrais. Entregamos frequentemente soluções de construção a clientes que se estão a expandir para outros países onde não estão presentes. Neste sentido, procuram a Allied não apenas pela solução de construção em si, mas também uma unidade coesa para entregar todas as soluções de que necessitam no local de construção. Para nós é importante trabalharmos com quem designamos os melhores parceiros, seja para nos proporcionarem soluções de logística, materiais ou soluções de construção. Se queremos ser uma organização de nível mundial, temos de ter uma rede de grandes parcerias para fornecermos a solução adequada ao cliente.
Agora que foi concluída a expansão do Canal do Panamá, acredita que sucederá um impulso não apenas da economia do país, mas da região no geral?
Esperamos crescimento. Já se começa a observar no Panamá. Podemos ver onde o Governo tem investido de forma significativa e vemos uma expansão para o interior, no campo da infra-estruturação – estradas, novos sistemas ferroviários, etc. Esperamos continuar a observar este crescimento. Em termos regionais, será interessante ver. É fácil ver como influencia directamente o Panamá, mas ainda não há certezas de como irá impactar o resto da região. Acredito que, através de rotas comerciais, pode haver crescimento nas economias vizinhas, que irão beneficiar de um acesso mais directo ao mercado global.
Têm reforçado a vossa carteira de encomendas neste país?
Sim. Temos já assegurado um “pipeline” de projectos em que continuamos a trabalhar. Observamos um bom e estável crescimento. Penso que o período do “boom” económico já passou, levando a este período. Actualmente, o nosso crescimento está dividido por segmentos, como armazenamento refrigerado, retalho de grande dimensão e projectos orientados para o comércio, como centros comerciais. Este é o tipo de trabalho que tem entrado no “pipeline”.
O sector de retalho está em grande expansão no Panamá?
Tem estado e isso é, em parte, resultado do crescimento económico do país. O Governo panamiano tem investido o retorno no desenvolvimento de pequenas comunidades e isso tem entusiasmado o mercado de promoção no retalho. Há mais acessos, mais estradas, há crescimento demográfico. Temos observado o regresso ao país dos que partiram para estudar, que têm impulsionado também o investimento local.
Que conselhos deixa para as empresas que pretendam iniciar actividade no Panamá?
Para as empresas que procuram um destino para o seu investimento, penso que é um grande mercado, tal como era em 2007. Foi muito aberto à entrada de uma empresa como a Allied, que pôde aproveitar a oportunidade para reforçar a sua marca e a sua actividade no país. É um mercado muito acolhedor para a comunidade global. O mercado em si, deve ser olhado como um mercado global.
Está então optimista quanto a actividade nesta região?
Sim. O Panamá tem crescido 7% anualmente. Está a abrandar agora, mas o que penso que acontecerá agora, é um crescimento estável durante muitos anos.
Quais as previsões e objectivos da empresa para 2016 e 2017?
Temos um horizonte de longo prazo no nosso negócio. Procuramos locais no mundo onde possamos fazer a diferença como fizemos no Panamá. E isso inclui também os Estados Unidos. Procuramos sectores onde podemos fazer a diferença. Já trabalhamos em 64 países mas tentamos encontrar as áreas específicas onde podemos ter um peso maior no desenvolvimento desses países, ou um determinado sector que possa ter necessidades especializadas, como o de armazenamento refrigerado. A curto prazo, posso dizer-lhe que iremos continuar a crescer nos próximos dois anos e estamos muito entusiasmados com isso. A longo prazo, o foco não recai tanto na percentagem de crescimento, mas sim onde poderemos ter o maior impacto para os nossos clientes.
Que outros países poderão ter interesse para a Allied Steel Buildings?
Registamos um crescimento maravilhoso na Colômbia, neste momento. Também nos estamos a sair muito bem no Chile. Em toda a região das Caraíbas, o balanço é positivo – em Trindade estamos a desenvolver alguns projectos-chave. África é um mercado muito grande e onde também temos tido boa performance. Levámos as “lições” aprendidas no Panamá para este mercado, já realizámos 12 projectos neste continente e estamos optimistas quanto às perspectivas. O nosso maior desafio é manter o nível de serviço nos países e para os clientes que servimos.