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As consequências dos resultados do referendo, que ditou a vontade dos britânicos de sairem da UE, não são ainda claras, mas a expectativa aumenta. E as oportunidades, eventualmente, não desaparecerão
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Volvida mais de uma semana, as dimensões da decisão estão ainda por apurar tal a dimensão do terramoto mas há pelo menos uma certeza: chamados a pronunciar-se sobre o futuro do Reino Unido no contexto da União Europeia, os britânicos escolheram, na sua maioria, que o melhor seria seguirem por um caminho diferente dos seus (até agora) parceiros europeus. O povo britânico escolheu sair da União Europeia, numa decisão histórica e de consequências difíceis de prever cabalmente. Com nove círculos eleitorais por apurar (em 382), é já claro que há uma maioria no Reino Unido a favor de abandonar a União Europeia (UE). O referendo teve uma participação de 72%, tendo ido às urnas 33.568.184 dos 46.500.001 eleitores registados. Desses, 52% votaram para sair e 48% para ficar, com uma diferença de 1,2 milhões. As consequências deste resultado fizeram-se sentir de imediato, com os mercados internacionais muito agitados, as bolsas asiáticas a descer e a libra a cair para valores inéditos em 30 anos. A moeda britânica chegou a cair para o valor mais baixo desde 1985, abaixo de 1,35 dólares.
Histórico aliado
Quem já reagiu a esta decisão foi a Associação Empresarial de Portugal, considerando que o resultado do referendo no Reino Unido, “um histórico aliado de Portugal”, constitui “uma má notícia para o nosso país e um sério aviso para a Europa”. Para o presidente do Conselho de Administração da AEP, “a decisão do povo britânico tem fortes implicações políticas, económicas e empresariais. Mesmo admitindo que os participantes no referendo possam ter acrescentado alguma coisa à sua vivência democrática, representa um revés para esta União Europeia”. Segundo Paulo Nunes de Almeida, a decisão “está já a ter gravosas consequências nos mercados financeiros, podendo atrasar ainda mais a construção da União Económica e Monetária Europeia. Interfere negativamente no comércio internacional e subtrai riqueza ao PIB mundial. Neste quadro, a vitória do ‘Brexit’ constitui uma perda para as empresas e para a economia portuguesas”. O presidente da AEP assegura que “o excelente relacionamento entre os povos português e britânico e a secular aliança entre os dois países, no entanto, não estão em causa. Para os empresários portugueses, a alternativa a considerar é reforçar e melhorar esse relacionamento e dar-lhe uma nova dimensão económica, valorizando a fachada atlântica da Europa”. Contudo, lembra, “importa ter em conta que está em causa aquele que, no ano passado, foi o quarto maior mercado das exportações portuguesas de bens, com uma quota da ordem dos 7% do total, e o nosso sexto fornecedor, responsável por cerca de 3% das nossas importações. Mas, estes indicadores são ainda mais expressivos se considerarmos a balança de bens e serviços. Então, o peso das nossas exportações para a Grã-Bretanha sobe para 9,5% e o das importações cresce para 4,8%”.
De acordo com dados apurados pelo CONSTRUIR junto do Instituto Nacional de Estatística, no capítulo dos serviços afectos à Construção, Portugal exportou 23,1 milhões de euros para o Reino Unido, um crescimento de 28,7% face ao registado em 2014, mas ainda assim distante dos 36,3 milhões de euros registados em 2011. Há por isso, segundo Paulo Nunes de Almeida, “razões de sobra para todos os agentes políticos que irão ser chamados, no Reino Unido e na Europa, a traduzir em actos uma decisão democrática do povo britânico serem confrontados com a responsabilidade histórica de não transformarem num divórcio litigioso a renúncia, democraticamente legítima, de um dos 28 estados-membros da UE aos fundamentos do projecto europeu”. Para o presidente da AEP, “a situação exige bom senso a todos e abre caminhos novos aos povos europeus que continuam a acreditar num futuro de paz, bem-estar e desenvolvimento económico no único continente que num século foi palco de duas guerras mundiais”. Para Portugal, para os profissionais e para as empresas portugueses este é, também, um tempo de oportunidades. Os laços que nos unem ao Reino Unido têm muitos mais anos e História do que os do projecto europeu. Há que reinventar esses laços, dando um novo conteúdo às relações institucionais, económicas e culturais existentes entre os dois países”, revela aquele responsável. “Como o crescimento económico global iria ser ainda mais moderado, o crescimento da economia portuguesa também abrandaria/estagnaria, e, consequentemente, assistir-se-ia a menores crescimento dos rendimentos das famílias”, disse à Lusa o economista-chefe do banco Montepio, Rui Bernardes Serra. Além disso, o turismo português “poderia ser especialmente atingido, dado o elevado peso dos turistas britânicos no total dos turistas que visitam Portugal”, que representam 20,2% das dormidas de não residentes, uma queda da procura que resultaria “da recessão que o Reino Unido vivenciaria, bem como da queda da libra, que tornaria as viagens ao exterior bem mais caras”, acrescentou o analista.
Potencial
O Reino Unido é um dos mercados chave para a estratégia da Global Portuguese Construction, marca colectiva criada pelos empresários da construção civil para promover internacionalmente as empresas do sector. Apresentada em Maio, a nova marca insere-se na estratégia subjacente ao projecto “Rede Internacional da Construção Portuguesa” que pretende marcar o futuro do sector com o apoio do Portugal 2020. A Rede Internacional da Construção Portuguesa aponta como mercados estratégicos Espanha, França e Reino Unido, na Europa, e a Colômbia, Peru e Cuba, na América Latina (Colômbia, Peru e Cuba), estando previstas várias missões empresariais a estes mercados até 2017.
Segundo Reis Campos, em termos de internacionalização o sector da construção vive actualmente “uma situação particular e preocupante”, com o seu principal mercado – Angola, responsável por 2,1 mil milhões dos 10,4 mil milhões de euros das exportações do sector em 2014 – a atravessar sérios problemas, Moçambique a evoluir a um ritmo abaixo do previsto e o Brasil a revelar-se “muito complicado”. Globalmente, África representava em 2014 cerca de 63% do volume de exportação do sector e Angola 38%. “Há que alargar esta plataforma de internacionalização e abrir novos caminhos”, defendeu Reis Campos por ocasião da apresentação da marca.
Energias
No Reino Unido, a área das energias é uma das que maior potencial apresenta pelo manancial de iniciativas com vista à economia e uso eficiente dos recursos. Em curso está uma nova estratégia para garantir que o fornecimento de energia que não passa, unicamente, pela produção de mais energia mas sim pela poupança da energia existente na procura industrial, sem consequências para as empresas e negócios. Na base desta estratégia estão as chamadas “empresas agregadoras”, que procuram compromissos por parte dos negócios e empresas industriais, sobretudo, para reduzir a utilização de energia. Dois exemplos citados pela Reuters: os supermercados podem reduzir alguns graus a intensidade dos seus frigoríficos, durante um curto período de tempo e sem impacto; e as estações de tratamento de água desligar as bombas de água de tempos a tempos. Depois, estas empresas agregadoras vendem a redução energética ao respectivo operador da rede, que apostar numa estratégia de gestão da procura energética para pagar às grandes empresas eléctricas para aumentar a geração de energia mediante as necessidades. Ainda de acordo com a agência noticiosa, os resultados do modelo – cobaia – britânico poderão ser replicados noutros países europeus, com a Alemanha à cabeça. Também a França está a apostar neste modelo que ajuda a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e a cortar nas emissões de dióxido de carbono.