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    Engenharia

    Volta ao mundo em geotecnia

    Em entrevista ao Construir, Alexandre Pinto, Rui Tomásio e António Cristóvão falam da filosofia da JET SJ e da situação actual do mercado português da construção

    Pedro Cristino
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    Volta ao mundo em geotecnia

    Em entrevista ao Construir, Alexandre Pinto, Rui Tomásio e António Cristóvão falam da filosofia da JET SJ e da situação actual do mercado português da construção

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    1_AV.REP.25 - 10_01_13 - 22Alexandre Pinto, António Cristóvão e Rui Tomásio são as caras da JET SJ. Esta empresa, especializada na área da geotecnia, iniciou já o seu processo de internacionalização e, neste momento, tem trabalho realizado num destino pouco usual para o tecido empresarial português: a Nova Zelândia. Para os responsáveis da JET SJ, o esforço de internacionalização tem de ser precedido pela análise de perfil de risco dos mercados-alvo

    Em entrevista ao Construir, Alexandre Pinto, Rui Tomásio e António Cristóvão falam da filosofia da JET SJ e da situação actual do mercado português da construção.

    Como surge a empresa?

    AP – A JETsj Geotecnia surgiu em 2004. Inicialmente, começamos por partilhar instalações com a JSJ Estruturas. Nessa época e tendo por base as oportunidade que existiam no mercado nacional, houve a possibilidade de criar uma empresa mais dedicada aos projectos de geotecnia e, também por iniciativa dos nossos colegas da JSJ Estruturas, decidimos então criar a JETsj Geotecnia. No entretanto, a JETsj Geotecnia foi-se desenvolvendo e, neste momento, apesar de mantermos a relação de parceria com a JSJ Estruturas, ambas as empresas funcionam em regime de total autonomia e em instalações independentes.

    A área da geotecnia é muito requisitada em Portugal?

    AC – A geotecnia é e será sempre requisitada, quer em Portugal, quer no estrangeiro. Independentemente do tipo de obras (edificações, pontes, obras rodoviárias ou portuárias…) todas têm um factor em comum: a geotecnia. Esta disciplina acaba por ser transversal a todas as outras áreas da engenharia. A nível pessoal considero que este aspecto constitui um dos grandes aliciantes desta área, dados os novos e constantes desafios que nos são colocados em cada projecto que desenvolvemos.

    Quais são os maiores desafios que enfrentam no mercado?

    RT – Sentimos as mesmas dificuldades que as outras empresas da área de engenharia que são a escassez de obras, pelo menos no mercado interno, e a escassez de projectos em quantidade suficiente, pelo meno, para a capacidade instalada que existe actualmente nas empresas na nossa área. O que tentamos fazer, sempre que possível, é diferenciarmo-nos. Tentar que os projectos sejam o mais diferenciados possível, que as soluções sejam de algum modo inovadoras e ajustadas às necessidades do cliente e aos condicionamentos de cada projecto. No fundo, tentar que as soluções sejam concebidas à medida de cada situação e fazer com que seja essa a nossa mais-valia face à concorrência, que é obviamente forte.

    Como se pode caracterizar o mercado nacional no ramo da engenharia?

    AP – O mercado foi obrigado a redimensionar-se. Até 2007/2008, tivemos a oportunidade de participar em grandes projecto e em grandes obras, com a Expo 98, o Euro 2004, as concessões, entre outras, e atravessámos um período de crescimento e, sobretudo, de evolução técnica. Depois, de um momento para o outro, houve uma travagem brusca e o mercado foi obrigado a um redimensionamento não planeado, com sequelas que ainda todos sentimos. De facto estávamos dimensionados para um pico de trabalho, que não seria sustentável a médio a longo prazo. Neste momento, estamos perante um novo paradigma, com um mercado nacional mais pequeno, com trabalhos de menor dimensão e a exigir maior flexibilidade por parte das empresas, pois as perspectivas de evolução do mercado continuam muito incertas. Para compensar e sempre que possível, as empresas, com capacidade para tal, tentam oportunidades em outros mercados.

    Sentiram que por meados de 2007, puxaram o tapete às empresas do sector da construção em Portugal?

    AP – Estivemos a projectar e a construir várias infra-estruturas públicas em simultâneo. Deveríamos prever que não seria sustentável. Aliás, se olharmos para outros países que, em termos do estado da evolução das infra-estruturas são superiores a Portugal, verificamos que isso também aconteceu, embora e em geral, a menor escala. Poderíamos ter diluído alguns investimentos em períodos temporais mais alargados e, sobretudo, ter tido mais critério na escolha dos referidos investimentos. Isso faria com que o sector não se tivesse dimensionado para um pico de trabalho e, mais do que isso, saberia com o que contar a médio e longo prazo. As empresas teriam oportunidade para planear e para manter uma actividade mais regular e previsível a médio prazo. Agora, não foi nada disso que aconteceu. Foi exactamente o contrário.

    AC – Considero que existe um outro aspecto que acabou por condicionar fortemente a estabilidade das empresas portuguesas. Toda a alteração que observámos no mercado interno ocorreu num curto espaço de tempo e de uma forma totalmente inesperada, não permitindo que as empresas planeassem com a devida antecedência e de forma sustentada a sua posição num mercado totalmente diferente do que existia anteriormente. Estes aspectos dificultaram o processo de adaptação das empresas nacionais, colocando fortes obstáculos à sua projecção imediata nos mercados internacionais. De uma forma geral, as empresas portuguesas não estavam preparadas: a angariação de trabalhos em novos mercados ocorre numa fase em que as empresas demonstravam já indícios de alguma fragilidade financeira derivado da crise vivida no país nos anos anteriores. Para além disso, todo o processo de internacionalização não é fácil: para além do esforço financeiro, há que conquistar a confiança de novos clientes e contar igualmente com a concorrência de outras empresas que se encontram já fortemente instaladas nesses mercados.

    Todo este conjunto aspectos faz com que o retorno do investimento que se faça fora de portas não seja garantido e/ou não ocorra no imediato.

    Actualmente é visível algum sinal de retoma da actividade?

    AP – Aparentemente vislumbram-se alguns sintomas de retoma, mas, no geral, através de trabalhos de dimensão reduzida, e isso também é fruto da redução do número de empresas. O volume de trabalho é globalmente muito menor do que o anterior a 2008, mas como o mercado se redimensionou e existem menos empresas, essas vão tentando aproveitar as ainda poucas oportunidades. Pode ser um bom presságio, embora as empresas continuem muito defensivas porque, depois do que passaram nos últimos oito anos, necessitam de maior conforto nos investimentos para eventual reforço das suas equipas. Na área de geotecnia, vão surgindo alguns trabalhos lançados por entidades públicas, quase sempre de reabilitação e reforço, nomeadamente na parte de estabilidade de taludes, junto a vias férreas, estradas e arribas. São trabalhos que têm de ser feitos pois a natureza nem sempre está alinhada com os planos de austeridade. Mas é sobretudo do lado privado, muito associado ao investimento estrangeiro, que sentimos que poderão existir alguns sintomas de retoma. Mas continuamos a sentir uma ausência de planeamento por parte de quem tem poder de decisão. Por exemplo, investimentos que estavam previstos mas que já sabemos que, a serem feitos, não serão nas datas que inicialmente estavam programadas.

    Nem contam com isso…

    AP – Infelizmente, em Portugal, contamos pouco com apoios. Contamos sobretudo connosco próprios e com os nossos clientes. Depois vamos para o mercado externo, e as empresas concorrentes têm apoios e enquadramentos muito superiores aos nossos, o que torna a concorrência algo desleal. Temos que sobreviver com os nossos meios e com os nosso clientes e não contar com muito mais. Se surgir ajuda, será, naturalmente, bem vinda e tiraremos o máximo partido da mesma

    Vêem com bons olhos a iniciativa de incentivar o mercado da reabilitação urbana?

    AP – Claro que sim, mas desde que efectuado com preocupações de natureza técnica, em particular segurança estrutural e geotécnica, o que ainda sucede pouco.

    Mas o Estado ainda lança alguns programas, como o Reabilitar para Arrendar…

    AP – Sim, mas esse tipo de reabilitação tem uma grande percentagem não estrutural e não geotécnica. Muitas vezes fica-se pela parte arquitectónica. Se quisermos fazer uma reabilitação que melhor de forma evidente a segurança estrutural, teríamos, por exemplo, que analisar o caso da Baixa Pombalina e verificar o comportamento sísmico, estrutural e geotécnico, daqueles edifícios.

    É curiosa a referência à Baixa Pombalina cujas obras de reabilitação foram já criticadas por engenheiros pelo facto de retirarem resistência sísmica aos edifícios intervencionados..

    AP – Exactamente. Depois, o sismo é uma acção muito complicada, porque, em Portugal, tem um período de retorno muito longo e há uma tendência para esquecer isso, sobretudo quando há pouca capacidade de investimento. Nós somos muito reactivos e pouco pró-activos e essa abordagem, depois dos fenómenos ocorrerem, tem um preço bastante mais elevado do que a pró-actividade.

    AC – Gostaria de partilhar casos de outros mercados em que a JETsj tem trabalhado e nos quais se aposta igualmente na reabilitação urbana e no reforço de edifícios existentes. Constatamos que, a par da reabilitação estrutural, procede-se igualmente ao reforço das fundações. Trata-se de uma janela de oportunidade que não deveríamos desperdiçar. Devemos trabalhar no sentido de conjugarmos a reabilitação estrutural com o adequado reforço ao nível das fundações.

    E talvez também para consciencializar a sociedade para a vulnerabilidade sísmica?

    AC – O facto de não experienciarmos eventos sísmicos regulares faz com que este aspecto tenda a cair no esquecimento da nossa sociedade. Considero que a maioria das pessoas apenas fica sensível após terem tido contacto directo com uma má experiência.

    RT – Há alguns instrumentos municipais dedicados à zona específica da Baixa Pombalina, no sentido de garantir que as intervenções que são feitas actualmente não são como as de há 20 anos atrás. Contudo, apenas se pretende garantir que a resistência original dos edifícios não se deteriore com as intervenções, quando deveríamos estar a aproveitar estas intervenções para melhorar significativamente o desempenho sísmicos dos edifícios.

    No actual panorama da reabilitação urbana, as obras envolvem geotecnia, ou são, na sua maioria, obras que apenas deixam a fachada?

    AC – A reabilitação urbana requer necessariamente a criação de espaços para estacionamento automóvel e isso é determinante para nossa actividade profissional neste sector. Tratando-se de pisos enterrados, em zonas urbanas e com condicionamentos de vizinhança importantes, qualquer escavação na vertical exige a construção de estruturas de contenção que limitem ao máximo as deformações do terreno, salvaguardando a integridade das estruturas adjacentes. Nestes investimentos, o preço por metro quadrado é muito elevado e por esta razão todo o espaço disponível tem de ser muito bem aproveitado. A utilização do espaço subterrâneo é, por isso, fundamental. Em zonas como a Avenida da Liberdade ou o Chiado, um apartamento que não possua lugar de estacionamento muito dificilmente será atractivo para um eventual comprador.

    AP – A ideia que temos é que alguns promotores, por vezes, por não terem uma adequada assessoria geotécnica, não conseguem estimar bem as vantagens desse tipo de investimento. Por exemplo, a construção do estacionamento na vertical ao próprio edifício, em caves, valoriza imenso a propriedade e traz um aumento significativo da qualidade de vida dos utilizadores. Se for bem aferido na fase do investimento, o custo desses trabalhos, mesmo em edifícios existentes ou em edifícios demolidos e reconstruidos com preservação das fachadas, acaba por corresponder a uma muito boa relação custo / benefício.

    Segundo a vossa experiência, há a consciência geral de que a parte do reforço sísmico dos edifícios não tem um peso significativo no custo global de um projecto?

    AP – Uma vez mais, estaremos a falar da relação custo-benefício e, de facto, o sismo chega ao edifício através do terreno, portanto, a geotecnia é fundamental para garantir um comportamento sísmico o mais eficaz possível do edifício. Hoje, existem técnicas relativamente pouco intrusivas, como por exemplo micro-estacas, que acabam por ser uma mais-valia para o comportamento global do edifício. A geotecnia é, contudo, um produto difícil do ponto de vista da venda, pois, em geral, tudo o que projectamos e construímos fica enterrado e, no geral, só se dá valor ao trabalho realizado quando surge um problema. Ora, nós trabalhamos precisamente para que não surjam problemas de origem geotécnica, os mais complexos e custosos de resolver em qualquer construção. Em contraponto, o produto arquitectónico é mais fácil de vender. Quem é que pergunta, quando vai comprar uma casa, “como são as fundações?”

    AC – Por se encontrar oculta, a maioria das pessoas desconhece que a obra geotécnica é, na grande maioria das vezes, bastante mais complexa e exigente do que a obra que se observa a partir do exterior. Considero que a reabilitação é uma janela de oportunidade para se adaptar o património edificado às novas exigências funcionais dos espaços. É também uma oportunidade para se planear o futuro procedendo-se ao reforço sísmico das fundações. Se tal não for feito agora, muito dificilmente será feito nas próximas décadas. Acontece que este tipo de intervenções requer investimentos nem sempre fáceis de conciliar com o actual o enquadramento económico do país. Os orçamentos são bastante limitados e o retorno tem de ocorrer quase no imediato. Obviamente que têm de ser feitas escolhas e, infelizmente, essas escolhas nem sempre recaem sob as valências técnicas, mas sim nos aspectos que mais contribuem para a venda dos edifícios.

    AP – Segundo um ditado tradicional: tira-se de onde faz falta, para colocar onde faz vista.

    Têm encomendas no campo da obra pública?

    RT – Temos algumas. Já não ocorrem muitas obras em simultâneo, mas vão havendo algumas obras públicas, principalmente na área do risco. Por exemplo, intervenções de estabilização de taludes que permitam garantir que uma via ferroviária ou rodoviária tenha um comportamento adequado e garanta a segurança dos seus utilizadores. Existe também um foco importante na vertente do risco das arribas das praias, pelo que esta é uma área que vai sempre tendo algum investimento. Muitas vezes, esses investimentos não são tão abrangentes quanto as entidades públicas gostariam, mas, pelo menos, o risco associado à segurança das pessoas tem vindo a registar algum investimento. Felizmente, nos últimos anos, temos conseguido ganhar e desenvolver alguns trabalhos nessa área.

    Por outro lado, o país está relativamente infra-estruturado, e, assim, também há que manter as infra-estruturas…

    AP – Os técnicos do sector público estão, em geral, muito sensibilizados, mas igualmente muito condicionados pelas verbas que há para investir nessa área, cuja alocação, em geral, depende de gestores, por vezes, com menor sensibilidade técnica. Vamos, contudo e ainda assim, assistindo a alguns concursos públicos nas áreas da prevenção e da remediação de potenciais situações de risco que podem conduzir a acidentes, como taludes e arribas.

    AC – Notamos que alguns investimentos são feitos quando a obra atinge um estado limite que é impossível contornar. Seria preferível apostar-se num melhor acompanhamento das estruturas existentes, privilegiando-se intervenções mais antecipadas. Deste modo, o investimento que se faria para reabilitar, conservar e reforçar seria certamente mais reduzido por comparação com o que é requerido numa obra que atinge uma situação limite.

    No âmbito dos concursos públicos, deparam-se frequentemente com preços anormalmente baixos e com o preço baixo como critério de escolha?

    AC – A respeito deste tema gostaria de salientar um aspecto que se prende com a sustentabilidade económica do trabalho que é feito pelas empresas de engenharia e projecto. Notamos que o grau de exigência dos projectos têm vindo a aumentar, o que obriga necessariamente a um maior esforço e consumo de tempo por parte dos engenheiros projectistas no desenvolvimento do seu trabalho. Valorizamos e defendemos um grau de exigência elevado na elaboração dos projectos, contudo, não observamos um impacto directo nas verbas disponibilizadas para o desenvolvimento dessa mesma actividade.

    Por outro lado, haver mais trabalho não poderá ser encarado com uma perspectiva positiva se o mesmo não reflectir um equilíbrio com o valor dos honorários praticados. O que estamos a assistir, fruto da presente conjuntura económica – ou não, porque essa situação já existia inclusive num período anterior à crise – é que os preços praticados, especialmente na vertente de projecto, estão muito aquém do esforço feito pelas empresas, com o tempo consumido, com o grau de exigência que é pedido.

    Isso acaba por reflectir-se na qualidade do trabalho?

    AC – Na qualidade do trabalho, no ambiente que se vive nas empresas, na qualidade de vida das pessoas, no bem-estar das famílias…e sobretudo na maior ou menor motivação e disponibilidade dos colaboradores para responderem às dificuldades imediatas do mercado, interno e externo.

    Destaco ainda os prazos de pagamento. Neste campo, continuamos muito aquém daquilo que são os padrões europeus. Quando partilhamos com colegas nossos, que desenvolvem a sua actividade profissional em outros países, nomeadamente no Norte da Europa, quais os prazos de pagamento que praticamos em Portugal, ficam incrédulos. Têm dificuldade em entender como é que as empresas se conseguem manter com prazos de pagamento tão dilatados. Tenho pena que não exista legislação própria que estabeleça as condições de pagamento na nossa área…

    AP – Nem era preciso ir ao Norte da Europa. Temos o Brasil, um país da América Latina, em que os prazos de pagamento são entre duas e quatro semanas e quem não pagar terá dificuldades em manter a actividade. Mas isto não é um problema só da engenharia. É um problema transversal da cultura económica portuguesa.

    RT – Na questão dos prazos de pagamento, penso que a tradição da economia portuguesa é que o prolongar dos prazos de pagamento acaba por ser, indirectamente, uma forma de financiamento das empresas. Ao esticar o pagamento, estão a ganhar liquidez momentânea. Na nossa área, em que os nossos fornecedores são, por assim dizer, os nossos colaboradores, se tivermos que absorver esse prazo de pagamento mais dilatado por parte do mais cliente, não o conseguimos transmitir ao nosso colaborador. Todos esperamos receber os nossos salários a horas.

    AP – Existiram bastantes empresas no nosso ramo que tiveram de cessar a actividade e não foi por falta de capacidade técnica. Foi por problemas deste género. Tiveram os clientes errados, à hora errada. Perderam-se boas empresas, com capacidade técnica, exactamente por problemas que não se relacionam com a referida parte técnica.

    Por outro lado, o desaparecimento de empresas acaba por se traduzir em menor concorrência para as que se mantêm no mercado…

    AC – Essa questão deverá estar igualmente associada ao mérito de algumas empresas, porque o próprio mercado vai fazendo a própria triagem. Isto acontece em todo o lado. Na verdade, uma empresa que não seja competitiva e sustentável acaba por desaparecer. Enquanto colegas de profissão, vemos com tristeza as empresas de engenharia que se vêm obrigadas a abandonar o mercado por motivos que não estão relacionados nem com a falta de trabalho, nem com falta de competência ou de competitividade, mas sim por questões derivadas de atrasos ou faltas de pagamento. Trata-se de situações injustas que poderão acontecer a qualquer empresa.

    Como se tem desenvolvido o vosso trabalho no mercado internacional?

    RT – Temos trabalhado em vários mercados, se calhar aqueles mais evidentes e também onde estão muitas das empresas portuguesas, como os dos PALOP – Angola e Moçambique –, pela facilidade da língua e pelo facto de muitos dos nossos clientes portugueses também estarem nesses mercados. Nos últimos anos temos feito vários trabalhos nesses mercados. Actualmente, em Angola o panorama é mais complicado. Tivemos também algumas experiências no Brasil, com menos continuidade, e no mercado da Nova Zelândia, onde temos também realizado algum trabalho.

    AC – O que acaba por acontecer com as pequenas e médias empresas (PME) é irem “à boleia” das empresas que possuem maior dimensão e capacidade para se internacionalizarem. No caso particular da JETsj e derivado da nossa proximidade com os empreiteiros, acabámos, de certa forma, por ser arrastados para os mercados onde estes operavam. Exemplos disso são os trabalhos que desenvolvemos em países como o Togo, a Argélia a Guiné, a Gâmbia, entre outros. São casos isolados. Relativamente ao mercado dos PALOP, embora tenhamos a facilidade da língua, a verdade é que continuamos a sentir outro tipo de dificuldades. O processo de internacionalização apresenta inúmeros desafios, exige disponibilidade de investimento, bons contactos, credibilidade e aceitação por parte de empresas e donos de obra que não conhecem o nosso trabalho. Esta confiança é imprescindível e demora tempo a construir. Temos de trabalhar no sentido de conquistarmos o nosso espaço e a confiança necessária para que nos possam adjudicar trabalho. No caso da Nova Zelândia, mercado onde temos vindo a operar desde 2013, o nosso trabalho tem por base uma parceria que estabelecemos com uma empresa local. A nossa primeira intervenção surge na sequência da reconstrução da cidade de Christchurch, que foi afectada por dois fortes eventos sísmicos nos anos de 2010 e 2011, tendo o parque imobiliário e toda a parte de infra-estruturas sofrido danos muito significativos. Vimos uma janela de oportunidade e essa oportunidade surgiu através de contactos com um parceiro local. Abriram-se as condições para desenvolvermos o nosso trabalho e temos vindo a colaborar de forma sistemática desde então.

    Também no âmbito da reconstrução de Christchurch?

    AC – Sobretudo no âmbito da reconstrução de Christchurch, mas não só. Temos desenvolvido trabalhos de prospecção comercial no país tendo como perspectiva uma maior intervenção em Auckland [a maior cidade neozelandesa]. Este é um mercado em franco desenvolvimento, sobretudo, devido ao forte investimento chinês. Em complemento, apostamos igualmente numa maior proximidade com o mercado de Wellington [capital do país], que sofreu um sismo de menor intensidade e que despertou para a necessidade do reforço sísmico, nomeadamente, ao nível das fundações. Nesta cidade com construções antigas, o Estado Neozelandês está efectivamente empenhado no reforço estrutural e das fundações dos edifícios. Houve um alarme que despertou a atenção de a toda a sociedade e das entidades governamentais.

    É um mercado com potencial?

    AC – Sim, sem dúvida. É um mercado muito distante – a distância é a principal dificuldade – mas também tem um benefício: podemos trabalhar 24 sobre 24 horas. Muitas vezes estamos a dar resposta a questões que nos são colocadas ao final do dia na Nova Zelândia, ou seja, início da manhã em Portugal. Desenvolvemos o trabalho durante o dia para enviarmos resposta até ao final da tarde. No dia seguinte os nossos parceiros têm a sua resposta, que na prática foi desenvolvida durante o seu período nocturno. Existem obviamente outras vantagens: bom equilíbrio entre o trabalho desenvolvido e o do valor dos honorários (mesmo apesar da desvalorização que o dólar neozelandês sofreu recentemente); condições de pagamento atractivas. Usualmente as facturas são liquidadas a 30 dias, sem problemas. Existe igualmente a facilidade em transitarmos o dinheiro para Portugal. Este último aspecto é algo que infelizmente não observamos frequentemente em outros mercados, incluindo os PALOP. Se existe uma comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa, com protocolos de colaboração, é pena que não existam condições mais atractivas e flexíveis neste campo.

    O mercado neozelandês é transparente?

    AC – É um mercado transparente, mas também é um mercado difícil. O exemplo que normalmente dou, é este: se aparecesse uma empresa estrangeira a querer fazer trabalho em Portugal, também encontraria resistência, sobretudo por parte das empresas locais, que vêem que há uma nova empresa a fazer-lhes concorrência. Existem igualmente dificuldades relacionadas com a legislação e normativas específicas de cada país…torna-se crucial o estabelecimento de relações empresariais com um parceiro local, que esteja implementado há vários anos naquele mercado, que seja reconhecido e possua uma boa base de contactos. É sempre mais fácil sermos apresentados através de uma empresa neozelandesa, ou de uma empresa que já opere há vários anos no novo mercado, do que avançarmos sozinhos no desconhecido.

    Sentiram, em Angola, os efeitos negativos da queda do preço do petróleo?

    AP – Isso é uma lição que acho que as empresas portuguesas têm que tirar. Por via da abrupta redução de trabalho no mercado nacional, a internacionalização que fizemos foi uma internacionalização de emergência. Fomos para os países que eram mais acolhedores e, aparentemente, onde a probabilidade de sucesso era maior. De facto, isso aconteceu em Angola durante alguns anos em que houve bastante trabalho. Mas esquecemo-nos que a maior parte desses países tinha um denominador comum: as matérias primas, em particular o petróleo. Quando as cotações do petróleo desceram, quase todos os países para onde as empresas portuguesas se internacionalizaram entraram em crise. Este caso da Nova Zelândia é um exemplo de que, se tivermos essa capacidade, devemos diversificar os países para onde tentamos a internacionalização. A Nova Zelândia é apenas um exemplo. Se conseguimos competir com as empresas desses países no mercado externo – e não é só pelo factor língua que temos sucesso, mas sobretudo pela capacidade técnica – conseguiremos diversificar o risco da internacionalização.

    Que outros mercados se mostraram interessantes para a JET SJ?

    AP – Fizemos recentemente um trabalho em Macau, através de uma empresa portuguesa. Foi um trabalho bastante interessante e é um mercado que tem um potencial muito grande na área da geotecnia. Recentemente tivemos igualmente uma oportunidade do Chile, um país um pouco diferente dos outros da América Latina, com um nível educacional e técnico um pouco acima da média. Mas não podemos ir directamente para esses mercados. Temos de ter um cliente ou um parceiro nesses países. Neste momento, temos 15 colaboradores na JETsj e empresas associadas (JETao em Angola e JETmoz em Moçambique), portanto não podemos ter a ambição de ir para Nova Iorque ou Londres abrir escritórios. Temos é que estudar muito bem os mercados e ajudar os nossos clientes a ter sucesso nestes mercados, pois se eles tiverem sucesso, nós também teremos.

    Sentem que o conhecimento técnico que caracteriza normalmente a engenharia portuguesa é apreciado no mercado externo?

    AC – Absolutamente. Estamos a par, ou até mesmo a um nível ligeiramente superior da média. A nossa abordagem à internacionalização, mais do que uma aposta num mercado em particular, tem sido uma procura por oportunidades pontuais. Mas estas oportunidades vão surgindo porque as empresas e os nossos clientes acabam por reconhecer a qualidade do trabalho que desenvolvemos. O que temos sentido ao trabalhar nos mercados externos é que, efectivamente, a nossa engenharia é valorizada e reconhecida.

    AP – Basta constatar o que sucede actualmente com os nossos jovens engenheiros civis, que acabam os mestrados integrados. Os mais qualificados já começam a conseguir escolher os países para onde irão trabalhar. E naturalmente vão escolher os países mais apelativos, que lhes podem proporcionar melhor qualidade de vida e uma melhor perspectiva de carreira.

    Qualquer dia não existem é engenheiros em Portugal…

    AP – Infelizmente, essa tendência é preocupante. A chamada “escola de engenharia” está a gradualmente desaparecer. Na realidade se tivermos de resolver um problema em projecto ou em obra, não é apenas a ler livros que lá chegamos. Temos de viver o problema na prática para o podermos resolver, sentindo as respectivas dificuldades do dia-a-dia. Isto é uma área que obriga a ter experiência e vivência profissional. Não é uma área abstracta, mas sim de aplicação prática. Com o redimensionamento do mercado, muitos profissionais portugueses, desde os recém-formados aos já com bastante experiência profissional, foram trabalhar para outros países. E a tendência que verificamos agora é que a maioria desses profissionais vão para países que eles próprios começam a conseguir seleccionar e onde, em consequência, a probabilidade de um dia regressarem a Portugal é cada vez menor.

     

     

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    Portugal Railway Summit regressa 21 e 22 de Maio

    O encontro anual, organizado pela Plataforma Ferroviária Portuguesa, Cluster da Ferrovia, realiza-se na próxima semana, nos dias 21 e 22 de Maio, no Museu Nacional Ferroviário, no Entroncamento. A edição de 2024 tem como lema “Este comboio não pode parar!”

    A Plataforma Ferroviária Portuguesa, realiza a edição de 2024 do Portugal Railway Summit, sob o mote “Este comboio não pode parar!”, nos dias 21 e 22 de Maio, no Museu Nacional Ferroviário.

    O encontro acontece num contexto de grande expectativa quanto ao desenvolvimento futuro da ferrovia nacional, pelo que este evento terá um interesse particular no que diz respeito aos planos de investimento anunciados e aos seus instrumentos financeiros, nomeadamente a ligação de Alta Velocidade Lisboa-Porto-Vigo, o novo material circulante e a expansão das redes de metropolitano.

    São cinco as áreas temáticas que serão abordadas nos dois dias do encontro: investimentos nacionais; negócio ferroviário e as experiências internacionais; os desafios para a Ferrovia Nacional e a Alta Velocidade; os desafios para inovação, sustentabilidade ambiental e económica; e os novos conceitos de mobilidade sustentável.

    O painel dedicado aos “Investimentos nacionais” abre o primeiro dos dois dias de encontros e contará com a participação, dos presidentes da Infraestruturas de Portugal, da CP,  do Metro do Porto, da Carris e da Medway, respectivamente Miguel Cruz, Pedro Moreira, Tiago Braga, Pedro Bogas e Carlos Vasconcelos, para além de Carlos Mota Santos, presidente da Mota-Engil, e Maria Helena Campos da administração do Metropolitano de Lisboa.

    Da parte da tarde, o encontro segue com as “Experiências internacionais”, com a presença, entre outros, do ministro dos Transportes de Angola, Ricardo Viegas de Abreu, e do administrador dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique, Aboobacar Mussa, num painel que porá em evidência, também, as experiências de internacionalização de algumas empresas portuguesas.  A discussão da Alta Velocidade fechará o primeiro dia do encontro.

    O segundo dia do Portugal Railway Summit é dedicado à discussão dos desafios que se colocam ao nível da inovação, da sustentabilidade, económica e ambiental, mas também dos recursos humanos.

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    “Espanha acaba por ser um destino de expansão natural”

    No ano em que inaugura a primeira unidade em Espanha, o presidente e fundador da Vila Galé fala do potencial do grupo no mercado ‘vizinho’, assumindo que Sevilha e Madrid são destinos atractivos e a considerar num plano de expansão, pelo dinamismo que apresentam. Jorge Rebelo de Almeida garante ao CONSTRUIR que Moçambique e Angola estão no radar mas não são prioridade para já. Até porque, assume, com a entrada em Espanha e Cuba, “já temos bastante trabalho pela frente e muito que fazer”. As prioridades do novo Governo e a crise da Habitação também merecem resposta por parte de Rebelo de Almeida

    Ao CONSTRUIR, o fundador da Vila Galé explica o sucesso no Brasil, o potencial do mercado espanhol e o que torna a actividade do Grupo tão atractiva em várias regiões. No ano em que inauguram a primeira unidade em Isla Canela e Cuba, Jorge Rebelo de Almeida garante que pouco se faz se não houver uma estrutura financeira sólida e um controlo de gastos muito rigoroso.

    Em Janeiro, quando foram apresentados os resultados do Grupo, apuraram lucros de 100 milhões de euros no final de 2023. Classificaram o resultado como o ‘melhor de sempre’. Em que assentou esta performance?
    De facto, no ano passado o Turismo viveu um ano de grande recuperação e dinamismo, que se refletiu no resultado das empresas do sector. Surpreendeu-nos a todos e superou as expectativas, a conjugação de um explícito aumento da procura e de uma melhoria do preço médio.

    Os resultados de 2023 cresceram 12/13% face a 2022. Quais são as suas expectativas para os resultados de 2024? Há algum indicador que possa acalentar continuar a crescer este ano?
    Para este ano, os primeiros indicadores apontam ainda para um ligeiro crescimento. Por exemplo, Janeiro e Fevereiro estiveram acima do ano passado e as reservas para o resto do ano também estão a um ritmo muito positivo. Se se mantiverem, será excelente.

    Nos últimos dias voltámos a assistir a movimentações bélicas, nomeadamente no Médio Oriente, que podem representar novos factores de incerteza. De que modo um grupo como a Vila Galé se pode posicionar para passar, tanto quanto possível, incólume a estes focos de incerteza?
    Acontecimentos como guerras, crises, desastres ambientais têm sempre impacto na indústria do turismo e na economia. Pode dar-se o caso de as pessoas terem menos hipóteses de viajar – por insegurança e incerteza, por indisponibilidade de rendimento, por redução das acessibilidades. Mas também podem significar mais custos para as empresas do sector, como temos vindo a assistir com a subida do preço da eletricidade, dos combustíveis, dos materiais de construção e de alguns produtos alimentares. A única forma que temos de resistir a estes riscos é estar preparados previamente, ter uma estrutura financeira sólida e um controlo de gastos muito rigoroso, para evitar os desperdícios. Temos de trabalhar mais e melhor, ser inventivos e inovadores, e não podemos paralisar. Por exemplo, durante a pandemia, abrimos quatro hotéis – três em Portugal e um no Brasil –, fizemos uma central de fruta no Alentejo, construímos a nova sede da Vila Galé, em Oeiras.

    Entrar no segmento Habitação faz, de algum modo, parte da vossa estratégia, seja pela conversão de alguma unidade em apartamentos ou por outra via?
    Na Vila Galé estamos muito atentos às questões da habitação no seu todo. Há dez anos que ando a alertar para esse problema em Portugal. Sei que esse é um grande motivo de preocupação das nossas equipas e, por isso, estamos a criar uma fundação em que um dos grandes objetivos será ajudar os colaboradores a ter casa e a pagar os seus empréstimos. O nosso envolvimento na construção de habitação não é mais um negócio, mas apenas uma via para ajudar a resolver este grave problema às nossas equipas.

    A este respeito e numa visão mais global: pode o sector hoteleiro ser parte da solução para a escassez de oferta habitacional?
    A solução para o problema da habitação terá de passar sobretudo por outras medidas com muito mais relevância e efeito, tanto do sector público como do privado, com envolvimento de governo central, do poder local e câmaras, da banca, dos promotores imobiliários, dos fundos de investimento. Está tudo por fazer. Precisamos de garantir que há oferta a preços justos que os jovens e a classe média consigam pagar, ter mais habitação social e dar incentivos à iniciativa privada para construírem casas acessíveis, até para fixarmos os jovens em Portugal e contribuirmos para reduzir as assimetrias no território.

    Há hoje um foco particular no Brasil. O Jorge chegou a dizer, por diversas vezes, que lhe chegaram a oferecer terrenos para a Vila Galé desenvolver projectos. O que vos torna tão diferenciadores naquele mercado?
    Vários aspetos, mas, desde logo, o rigor e empenho constante, o profundo conhecimento do mercado, onde estamos há quase 25 anos, e a confiança na nossa capacidade para cumprir, criando riqueza e gerando emprego. Fazemos um acompanhamento muito próximo de todos os processos, desde a construção das unidades, à formação das equipas, à promoção e divulgação dos produtos e ao posicionamento da marca, legislação, funcionamento do sector. Claro que também é importante a proximidade cultural entre os dois países. Temos dez unidades no Brasil, onde somos a maior rede de resorts, e fomos dos primeiros a oferecer o ‘tudo incluído’, que teve logo uma grande aceitação junto do público brasileiro e permitiu, a partir daí, diferenciar a marca Vila Galé. Além disso, distingue-nos a oferta muito vocacionada para famílias e crianças, a qualidade e a simpatia das equipas, sempre muito próximas dos clientes. Hoje temos um prestígio grande no Brasil e somos muito reconhecidos pelo desenvolvimento que temos promovido em determinadas regiões, criando emprego e gerando riqueza para as comunidades.

    Admito que pode ser manifestamente exagerado pensar tão à frente. Mas além do Sunset do Cumbuco, que prevêem abrir este ano, ou o projecto de Cachoeira do Campo, têm previstas mais unidades no futuro mais imediato?
    Sim, o Vila Galé Collection Sunset Cumbuco abre este ano, a 30 de Novembro. E o Vila Galé Collection Ouro Preto, em Minas Gerais, está previso para 25 de Abril de 2025. Aqui até vamos testar a produção de vinhos e azeites, como já fazemos no Alentejo, com a marca Santa Vitória, e no Douro, com Val moreira. Além destes, estamos também já a trabalhar num segundo resort em Alagoas, o Vila Galé Coruripe Alagoas, que será um resort de praia, que deverá estar concluído em 2026. E temos ainda projetos para Brumadinho, próximo do museu de arte contemporânea de Inhotim, para o centro histórico de São Luís do Maranhão e para Belém do Pará. Na Vila Galé, continuamos a ter um grande prazer em realizar projetos diferenciadores e inovadores e em recuperar património histórico.

    Olhando para o Programa de Governo, e olhando para a política fiscal e de incentivos públicos, enquanto empresário como avalia a estratégia que está pensada? E, não concordando com algo, o que acha que deveria ter sido introduzido?
    Sempre que um novo Governo toma posse, torcemos para que tudo corra pelo melhor. No entanto, à partida, continuam a faltar reformas essenciais para o país – reorganização administrativa do país e da administração pública, que é decisiva sobretudo num período em que se avizinha o risco de instabilidade governativa. Falta também um programa de emergência para resolver o gravíssimo problema da habitação para os mais pobres e também mudanças para a classe média em termos de crédito bonificado, rendas limitadas, propriedade resolúvel, etc. Para este programa é fundamental envolver Governo, câmara municipais, fundos de investimento, bancos, senhorios e todos os empenhados neste processo.

    Na ocasião em que foram apresentados os resultados de 2023, adiantou também que a Vila Galé estava a estudar ou tinha estudado a possibilidade de abrir hotéis em África, nomeadamente a África lusófona. Quais são as prioridades? Cabo Verde? E, já agora, que tipo de hotel seria?
    Vamos vendo alguns projetos e analisando algumas possibilidades, mas, neste momento, não há nada de concreto. Com tantos projetos em Portugal e no Brasil, e com a entrada em Espanha e em Cuba, onde abrimos um resort em Cayo Paredón Grande, numa praia paradisíaca, a verdade é que já temos bastante trabalho pela frente e muito que fazer. No entanto, Cabo Verde e Moçambique continuam no nosso radar.

    O vosso balanço marca igualmente o pontapé-de-saída da vossa estratégia em Espanha. O que tem a Vila Galé para acrescentar a um mercado tão competitivo?
    Sim, abrimos a 15 de Abril a nossa primeira unidade em Espanha, em Isla Canela. O Vila Galé Isla Canela, no Sul, em Huelva, é resort com acesso direto à praia e decoração e arquitetura de influência árabe, muito pensado para receber famílias. E permite começar a mostrar ao mercado espanhol o que diferencia a nossa marca. Acaba por ser um destino de expansão natural, pela proximidade com Portugal e com o Algarve, e que fazia sentido para complementar a nossa oferta. Já tínhamos feito várias tentativas para entrar e, naturalmente, queremos continuar a crescer em Espanha. Madrid e Sevilha são cidades de que gosto muito e em que vejo muito potencial, pelo seu grande dinamismo. A nossa visão não é fazer um hotel em cada sítio só por fazer. Quando entramos, queremos ter uma posição consolidada e forte.

    A proximidade ao Real Madrid, por via da Fundação Real Madrid, pode ser um factor importante na vossa entrada na capital espanhola?
    Sim, fizemos essa parceria com a Fundação Real Madrid para ter clínicas de futebol para crianças nalguns dos nossos hotéis em Portugal, em particular no Algarve e Alentejo. Uma das imagens de marca da Vila Galé é ter propostas atrativas para famílias e para os mais novos e este projeto é mais um exemplo disso. Paralelamente, é claro que é importante ter estes parceiros de peso para ganhar notoriedade junto do mercado espanhol e abrir novas frentes de divulgação e diversificação da oferta.

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    Ricardo Batista

    Director Editorial
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    Jorge Bota, presidente da Associação de Empresas de Consultoria e Avaliação Imobiliária (ACAI)

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    B.Prime antecipa com “expectativa” crescimento do investimento no 3º trimestre

    Jorge Bota, managing partner da consultora, considera que a confirmação de corte de juros do BCE, assim como a “estabilização de medidas” do novo Governo poderão resulta numa “maior dinâmica de crescimento” deste sector

    De acordo com a B.Prime, o primeiro trimestre do ano revela um “forte” arranque no sector dos escritórios. Mais “hesitante” tem estado o investimento, ainda que Jorge Bota, managing partner da consultora, veja com “expectativa” a confirmação de corte de juros do BCE, o que pode resultar numa “maior dinâmica de crescimento” deste sector a partir do terceiro trimestre.

    Ainda que os níveis de transacções esperados não sejam suficientes para ter mais um “grande ano de investimento no mercado imobiliário comercial em Portugal”, como foi 2023, Jorge Bota considera que “alguma definição” e “estabilização de medidas” do novo Governo serão factores que contribuirão para esse retomar de actividade.

    Neste sentido, segundo o Market Profile trimestral indica que o regime de pré-arrendamento dos escritórios “continua a ditar o ritmo da conclusão dos negócios”, sendo que, já é possível afirmar, que no decorrer do ano de 2024, 42% da nova oferta já se encontra arrendada, apesar de ainda estar em construção.

    Também o indicador do take up reflecte um crescimento “vertiginoso” que ascendeu a 64% na Região de Lisboa e de 44% no Porto, com a zona 5, no Parque das Nações, em Lisboa e a Boavista, no Porto, a serem as mais procuradas pelas empresas.

    No segmento de logística verificou-se uma maior diversificação da procura em diferentes regiões de Portugal, nomeadamente em Lisboa, Porto, zonas do Centro e Norte. Os projectos que estão em pipeline e que deverão estar concluídos até 2026 trarão um “grande dinamismo” a este sector, considera Jorge Bota, na medida em que a “qualidade construtiva” corresponde aos mais elevados padrões que os operadores procuram, tanto na abertura de novas unidades de negócio, como nos planos de expansão dos seus respectivos negócios.

    No retalho, o comércio de rua foi o elemento mais forte e responsável por 47% das aberturas de portas, com o retalho alimentar a liderar as inaugurações. Este segmento registou, ainda, 42% do volume do investimento comercial total que ascende a 278 milhões de euros, ainda assim, 15% abaixo do investimento verificado no período homologo.

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    Arco Retail Park nasce em Santo Tirso

    O novo espaço, que ocupa as antigas instalações da Fábrica do Arco têxtil, agrega seis lojas, totalizando 6.600 m² e mais de 150 lugares de estacionamento. A componente residencial do projecto deverá arrancar no final de 2024

    As antigas instalações da Fábrica do Arco Têxtil, em Santo Tirso, dão hoje lugar ao Arco Retail Park. Com seis lojas das insígnias Sport Zone, Homa, Rádio Popular, Tienda Animal, Action e KiK, numa área de 6.600 m² e com mais de 150 lugares de estacionamento, o projecto do novo espaço, incluindo arquitectura, engenharia e execução da obra, tem a assinatura da Garcia Garcia.

    Fruto da requalificação das antigas instalações do Arco Têxtil, o Arco Retail Park tem uma localização privilegiada no centro de Santo Tirso, nas proximidades do tribunal e da estação de camionagem e insere-se numa zona em forte desenvolvimento, com instalação de novos espaços de comércio e serviços. Na mesma área está também previsto um projecto habitacional para finais de 2024.

    Caracterizado pela centralidade, o espaço foi desenvolvido para acomodar as necessidades das grandes marcas que se irão instalar no complexo, destacando-se o seu modernismo e elegância, com linhas intemporais que nos remetem para a arquitectura industrial que caracterizava outrora o espaço.

    A história da Arco Têxtil e da construtora nacional está intrinsecamente ligada. Em 2022, a Garcia Garcia instalou-se no renovado edifício de escritórios da antiga Fábrica do Arco Têxtil, construído há décadas pela própria Garcia Garcia, cujas origens remontam a Vila das Aves, Santo Tirso.

     

     

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    Fonte: site da Topeca

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    Topeca apresenta a nova gama Kaltech

    Sendo “natural e sustentável”, a Topeca destaca como principais vantagens da argamassa o facto de ser “altamente permeável, poroso na sua estrutura interna, compatível química e mecanicamente e com capacidades de captação e reação ao CO2”

    100% à base de Cal Hidráulica Natural (NHL), a nova gama Kaltech apresenta oito novos produtos, em resultado de um processo de três anos de pesquisa e desenvolvimento e cuja apresentação oficial decorreu na edição de 2024 da Tektónica, em Lisboa.

    Sendo “natural e sustentável”, a Topeca destaca como principais vantagens da argamassa o facto de ser “altamente permeável, poroso na sua estrutura interna, compatível química e mecanicamente e com capacidades de captação e reação ao CO2”.

    “Na gama Kaltech estão juntas a tecnologia do futuro com o ligante mais tradicional e amigo do ambiente, naquilo a que chamam um regresso ao futuro”, destaca a empresa em comunicado.

    A utilização da NHL permite a aplicação “fácil e rápida” dos produtos, que foram pensados para a reabilitação de edifícios históricos, mas, também, na sustentabilidade da construção nova. Além disso, foi, também, formulada a pensar nas diferentes soluções que contribuem para o bem-estar dos edifícios e das pessoas, promovendo a “melhoria da qualidade do ar interior” e na protecção de microorganismos e alergénicos.

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    Odalys Campus Porto Asprela integra soluções da Vicaima

    Para garantir um “perfeito equilíbrio” entre segurança e bem-estar, a Vicaima foi a marca seleccionada para fornecer as múltiplas soluções de portas de interior e de revestimentos

    O Grupo Odalys inaugurou, recentemente, o Odalys Campus Porto Asprela. Localizado na principal artéria da Universidade do Porto e no coração do maior polo universitário da cidade, este complexo residencial oferece 264 estúdios. A nova residência de estudantes combina uma “variedade de serviços”, onde além dos quartos, inclui-se um ginásio, piscina aquecida, sala de relaxamento e espaços de coworking.

    Para garantir um “perfeito equilíbrio” entre segurança e bem-estar, a Vicaima foi a marca seleccionada para fornecer as múltiplas soluções de portas de interior, onde se inclui a gama Portaro, com o modelo EI30 AC34dB. Esta solução, com performance corta-fogo e acústica, responde “eficazmente às necessidades do espaço,” assegurando a “protecção e tranquilidade” necessárias.

    O projecto inclui, ainda, outras soluções Portaro, com conjunto que integram porta, aro e acessórios numa peça única, nomeadamente a Portaro Inverse, uma porta faceada pela guarnição ou painéis que apresenta uma superfície retilínea e contínua, e o Portaro de Correr Interior, para a maximização das áreas e mobilidade entre espaços.

    Para reforçar a “durabilidade e simplificar” a manutenção, optou-se pelos revestimentos Dekordor HD Branco e Dekordor HD Garlic Grey. Pertencentes à gama Dekordor HD Colours, estes laminados de cor plana oferecem “elevada resistência” aos riscos, sendo “ideais para ambientes de tráfego intensivo” como o das residências de estudantes.

    Refira-se, ainda, que as soluções aqui instaladas integram a ampla oferta de produtos da Vicaima, disponíveis com certificação FSC® (Forest Stewardship Council®), entidade que promove a gestão responsável das florestas.

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    Créditos: Paolo Rossell

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    Nature Based Solutions em conferência

    NBS Summit Urban Edition realiza-se a 23 e 24 de Maio, e trará ao Porto especialistas, investigadores e profissionais. Durante dois dias o debate e a partilha irão centrar-se nas soluções baseadas na natureza (Nature Based Solutions, NBS) e a sua importância no desenvolvimento urbano sustentável e no combate às alterações climáticas. A organização é da Associação Nacional de Coberturas Verdes, com o apoio do município através da Águas e Energia do Porto  

    O NBS Summit Urban Edition pretende ser um palco para a partilha de conhecimento, de práticas e de exemplos de soluções para tornar as cidades mais sustentáveis. A urgência é real e este é um momento decisivo para começar a delinear cidades mais resilientes e capazes de se adaptar às alterações climáticas como nos conta Ana Mesquita, membro da direcção da Associação Nacional de Coberturas Verdes (ANCV), que em conjunto com o município do Porto, através da Águas e Energia do Porto organiza o encontro que durante dois dias reúne especialistas, investigadores e profissionais em torno de um tema cada vez mais vital.

    Ana Mesquita, membro da direcção da Associação Nacional de Coberturas Verdes (ANCV)

    Como é que surge a NBS Summit e qual a sua relevância para o momento actual?

    Este encontro nasce da relevância do tema para as cidades, que têm de se adaptar às alterações e ao stress que terão nas próximas décadas. A intenção é a de criar um evento que agrega todas as partes interessadas: os municípios, os projectistas, a indústria e os centros de investigação e as universidades. Surge também em sequência de um outro evento que realizámos com a Câmara do Porto, o Internacional Green Infrastructure Conference, em 2018, que contou com a presença de uma série de especialistas internacionais.

    Agora, seis anos depois, o palco do debate é o Superbock Arena, podemos fazer a analogia com o significado e a importância destes temas no momento actual?

    Estes temas estão no centro do debate e da discussão de hoje sobre as cidades do futuro e o futuro da urbanização. Estamos todos muito felizes por ir à praia em Abril, mas não temos noção do que é que isso significa, na verdade, não é? Há uma certa ingenuidade da nossa parte, quando estas situações devem-nos alertar.

    As coisas estão a mudar a uma velocidade maior do que aquela que era o expectável, e temos de alterar a forma como pensamos as cidades e desenhamos os edifícios, temos de perceber que já não é uma questão de combate às alterações climáticas, mas é uma questão de tentar adaptar-nos. De sermos resilientes. Este termo que está muito na moda, mas que é uma propriedade física dos corpos de sofrer um impacto, um stress, e voltar à sua forma original. E é isso que as cidades vão ter de conseguir fazer. Vão ter de conseguir lidar com temperaturas extremas e, de alguma forma, conseguir manter algum microclima dentro das ruas.  Vão ter de conseguir lidar com grandes volumes de água em curtos períodos de tempo, sem riscos de inundações.

    Como é que em Portugal é percepcionada esta questão?

    Está a demorar a ser percepcionado quer pelas cidades, pelas entidades públicas e também pelos projectistas. E já nem falo pelos donos de obra.

    Eu diria que a indústria e os centros de investigação, as universidades, estão um passo mais à frente. A indústria está preparada para fornecer esse tipo de soluções, para dar apoio técnico à instalação desses materiais. Os grupos de investigação têm já dados e estudos que comprovam os benefícios e a viabilidade económica das nature based solutions.  Onde é que esbarramos? Muitas vezes nos municípios, que estão a começar a acordar para o assunto, nos projectistas e profissionais que ainda têm algum receio, ou falta de conhecimento, mas sentimos que as coisas estão a mudar. O caminho que percorremos nos últimos 10 anos foi gigante, claro que ainda há um caminho a percorrer.

     

    Para além das coberturas verdes

    Que soluções falamos quando falamos em soluções baseadas na natureza? Em coberturas verdes?

    O summit não irá falar só de coberturas verdes, soluções de base natural são soluções que tentam simular e mimetizar os processos naturais, trabalhando com a natureza e não contra a natureza. Podemos usar as soluções de base natural em conjunto com as soluções de engenharia estática, que são aquelas que estamos mais habituados a fazer. Por exemplo, os túneis de drenagem que Lisboa está a construir. As soluções de base natural não são a única solução ou uma solução no singular, mas têm de entrar para a ordem do dia quando planeamos as cidades e, sobretudo, quando desenhamos edifícios.

    Porque se pensarmos no que vai acontecer nos próximos 30 a 40 anos e nos desafios que as cidades vão ter, que os edifícios vão ter, e se pensarmos que estamos a construir hoje os edifícios que vão existir daqui a 30 anos, percebemos que estamos a agir demasiado tarde. É hoje que temos de agir, não é daqui a 20 anos que vamos começar a pensar nisso, quando sentirmos os problemas na pele. É hoje porque estes são os edifícios que vão estar cá nas próximas décadas.

    E por isso o summit foca-se em soluções para as cidades.

    Porque são as cidades que vão sofrer esse impacto. Até 2050 estimamos que mais de 70% da população viva nas cidades e 2050 é quase amanhã. As cidades têm um impacto muito grande na natureza, são paisagens altamente artificializadas. Pegamos nas paisagens naturais e artificializamos em cidades. Para quê? Porque precisamos de um ambiente construído, para aquilo que são as nossas actividades económicas, sociais… e acabamos por ter um impacto muito grande nos ecossistemas, na natureza…

    Os casos práticos

    O NBS Summit irá focar-se muito em exemplos, que soluções nacionais estarão em destaque?

    Em termos de exemplos do que temos em Portugal, teremos o novo Terminal Intermodal da Campanhã

    É um excelente case study. Estamos a falar de uma zona da cidade que estava degradada e muito esquecida e o projecto alavancou toda uma nova urbanidade e mobilidade urbana, unindo ali três tipos de transporte públicos e isso também é um factor importante. Estamos a falar de perto de 13 mil m2 de cobertura verde, para além do parque urbano que não está sobre o edifício.

    Aliada à componente ambiental, o projecto teve também uma componente social e até estratégica para a cidade e para aquilo que é a vivência na cidade e a movimentação da população, da sua mobilidade.

    Que outros exemplos serão debatidos e estudados?

    Teremos várias visitas nestes dois dias de encontro que se irão centrar no Porto, que é a cidade onde o summit se realiza. Teremos a Praça de Lisboa, junto aos Clérigos, que é outro exemplo de uma área que esteve degradada e ao abandono e que mudou por completo com a instalação de uma cobertura verde que devolveu a natureza ao centro consolidado do Porto. Se perguntasse há uns anos, “é possível ter um jardim ao lado dos Clérigos, ao lado da reitoria, no meio da Praça dos Leões quase, um jardim com árvores, com oliveiras, com relevado, onde as pessoas possam estar?”. A resposta seria “não é possível”, a cidade do Porto está consolidada, a malha urbana está já completamente definida, portanto, não há espaço para trazer a vegetação. Mas, de facto, houve espaço, houve espaço para uma nature based solution. Lá está, uma cobertura verde. E isso também é algo importante, ou seja, em muitos locais, onde já não é possível pôr jardins e parques, as coberturas verdes podem ser a solução. Não queremos que seja percepcionada de alguma forma que as coberturas verdes são a única solução. De todo!

    Outro exemplo bastante emblemático da cidade do Porto, é a Escola do Falcão, que é uma escola que foi também renovada no ano passado e que tem uma série de nature-based solutions.

    Depois teremos também os exemplos internacionais. (Ver caixa)

    O nosso convidado mais especial é o Kongjin Yu, o reconhecido arquitecto chinês, criador do conceito das Sponge Cities, e que nos vem falar exactamente sobre este conceito e sobre a forma como nós lidamos com a água. Yu é reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho inovador na criação de espaços urbanos que harmonizam de forma única a natureza e a função humana nomeadamente pelo conceito Sponge Cities que visa enfrentar os desafios de inundações urbanas e escassez de água por meio de infraestruturas naturais e sustentáveis.

     

    Este evento irá chegar a quantas pessoas?

    Esperamos casa cheia, cerca de 400 a 500 participantes. É essa a nossa expectativa. Não vamos abrir streaming, porque o objectivo foi trazer os especialistas, os profissionais, os investigadores ao local, para uma experiência muito mais imersiva.

    Os últimos dez anos foram importantes, mas como vê que estas questões venham a evoluir nos próximos cinco anos?

    Eu quero acreditar que daqui a cinco anos estamos a lidar com estas temáticas – com a vegetação, com as coberturas, com as paredes, com as soluções para a água – como quem lida com o resto das componentes de um edifício. Tem de ser. Como é que vamos lidar com a água neste edifício? Como é que vamos conseguir reter a água no edifício? Além da eficiência energética os edifícios têm de ser hidricamente eficientes e isso não é só focarmos na torneira, mas temos de pensar na grande torneira que vem do céu. Como é que aproveitamos a água? Como vamos retê-la para depois reutilizá-la? Como vamos reciclá-la? São grandes desafios!

     

    O programa

    Durante os dois dias do evento, a 23 e 24 de Maio, a Super Bock Arena será palco de partilha e debate dos principais focos das metas europeias de sustentabilidade para o ambiente urbano construído. Um leque de especialistas, académicos e líderes do sector abordarão temas cruciais como a conservação de ecossistemas urbanos, infraestruturas verdes, gestão sustentável de águas pluviais, eficiência energética e energias renováveis, com o intuito de partilharem as suas ideias e soluções para tornarem as nossas cidades mais sustentáveis, biodiversas, resilientes e verdes.

    O arquitecto paisagista Kongjin Yu é o nome mais sonante. Yu é reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho inovador na criação de espaços urbanos que harmonizam de forma única a natureza e a função humana nomeadamente pelo conceito Sponge Cities que visa enfrentar os desafios de inundações urbanas e escassez de água por meio de infraestruturas naturais e sustentáveis. Mas o evento trará “outros líderes visionários no campo das Soluções Baseadas na Natureza”, como Laura Gatti, co-autora do famoso Bosco Verticale, em Milão, ou Per Malmos, responsável pelo Copenhill, a cobertura verde que também é uma pista de ski e que está localizada em Copenhaga, na Dinamarca.

    Para além dos projectos, nacionais e internacionais, Luigi Petito, especialista em assuntos públicos europeus, abordará os últimos desenvolvimentos nas políticas e regulamentações relacionadas com a infraestrutura verde na Europa. O discurso de Petito será fundamental para a compreensão do contexto político em evolução na Europa, especialmente no ano de 2024, que marca um período com mudanças significativas previstas nas políticas e regulamentações que impactam directamente a sustentabilidade urbana. Entre estas destaca-se o acordo político entre os Estados Membros e o Conselho da UE sobre o Regulamento Restauro da Natureza e as revisões das directivas de Tratamento de Águas Residuais Urbanas (UWWTD) e de Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD), salientando-se, em todos os casos, o compromisso da UE em promover Soluções Baseadas na Natureza para enfrentar desafios ambientais das cidades contemporâneas.

    O NBS Summit contará também com a presença de Martin Košťál e Jürgen Preiss que falarão das políticas a ser implantadas nas cidades europeias de Brno e Viena, respectivamente.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Krest apoia WIRE na promoção de um sector imobiliário “mais equilibrado”

    Esta iniciativa reforça o posicionamento da promotora nos seus objectivos de “inclusão” e “forte” compromisso com os princípios da sustentabilidade

    A Krest Investments reforça o seu posicionamento de “inclusão e forte compromisso” com princípios de sustentabilidade, assumindo-se como patrocinador da WIRE Portugal – Women in Real Estate.

    “É com enorme entusiasmo que damos este passo. Na Krest estamos comprometidos com o ESG nas suas diversas componentes e a filantropia também faz parte do nosso ADN. A WIRE é uma associação fundada por mulheres, para mulheres, e ter um sector imobiliário pautado por uma maior igualdade e equidade é uma causa que também nos é particularmente próxima, pelo que partilhamos essa ambição”, refere Márcia Oliveira, head of Marketing & Sales na KREST

    “Queremos que as mulheres tenham uma voz activa e é necessário o apoio de todos para criar as condições em que isso seja possível. As nossas mais de 70 associadas ocupam posições de liderança em diversas entidades ligadas ao imobiliário e à construção, sendo o seu contributo e papel na evolução positiva do sector, inegável”, afirma Filipa Arantes Pedroso, Presidente da WIRE.

    A WIRE Portugal nasce no final de 2022 com o propósito de “aumentar” a visibilidade das mulheres na fileira do Imobiliário e da Construção, impulsionando a sua representatividade e defesa dos seus interesses, posicionando-as como participantes “activas e de referência”.

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    Novo Aeroporto: IP chamada a concluir estudos da Terceira Travessia e Alta Velocidade

    O ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, explicou que foi aprovada a antecipação da conclusão da ligação ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, incluindo a TTT, e foi ainda aprovada a “definição de um novo modelo de gestão para as três travessias do Tejo, em Lisboa, que inclua a construção da TTT”

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    O Governo decidiu esta quarta-feira mandatar a Infraestruturas de Portugal para concluir os estudos para a construção da Terceira Travessia do Tejo (TTT) e da ligação ferroviária de alta velocidade Lisboa-Madrid.

    O anúncio foi feito em conferência de imprensa, na residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros, onde foi aprovada a construção de um novo aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete, que se vai chamar Luís de Camões.

    O ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, explicou que foi aprovada a antecipação da conclusão da ligação ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, incluindo a TTT, e foi ainda aprovada a “definição de um novo modelo de gestão para as três travessias do Tejo, em Lisboa, que inclua a construção da TTT”.

    O governante adiantou ainda que é compromisso do Governo iniciar os estudos de desenvolvimento da linha ferroviária de alta velocidade Lisboa-Madrid, com o objetivo de concluir os trabalhos do lado português ao mesmo tempo que Espanha, que aponta para 2034, “de forma a garantir uma execução coordenada e atempada do projeto, otimizando plenamente a disponibilidade de financiamento”, e lembrou que o primeiro troço preparado para a alta velocidade em Portugal, entre Évora e Caia, deverá estar concluído em meados de 2025.

    Quanto à terceira travessia do Tejo, entre Chelas (Lisboa) e o Barreiro (Setúbal), o prazo estimado pelo Governo para a sua conclusão é também 2034, mas não está ainda decidido se a infraestrutura terá capacidade para transporte rodoviário e ferroviário ou apenas ferroviário.

    O executivo salientou que a nova ponte permite libertar os constrangimentos de capacidade da infraestrutura ferroviária nas ligações a sul e aumentar a competitividade dos serviços ferroviários entre Lisboa e a região sul, Alentejo e Algarve, com redução de cerca de 30 minutos face aos percursos atuais, bem como aumento da frequência dos serviços.

    A terceira travessia permitirá também, segundo o Governo, reduzir o tempo do percurso no eixo Lisboa/Barreiro em 10 minutos e Lisboa/Setúbal em 30 minutos, bem como permite reforçar a oferta ferroviária suburbana (Cintura, Sintra e Eixo Norte/Sul).

    Assim, o Governo apontou como próximos passos a conclusão dos estudos relativos às características da TTT, a assinatura com Espanha e com a Comissão Europeia da decisão de implementação relativa à Ligação de Alta Velocidade Ferroviária Lisboa — Madrid e a submissão na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) dos estudos de impacte ambiental do troço Lisboa-Poceirão-Évora, incluindo a TTT.

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    Novo Aeroporto: Alcochete com quatro vantagens estratégicas face à concorrência (Governo)

    O custo total para duas pistas é de 3 231 M€ (primeira pista) e de 2 874 M€ (segunda pista), no total de 6 105 M€, “2030 e 2031 temos de dizer aos portugueses com clareza que não é possível. Para nós, um prazo de 10 anos, 2034, será razoável”, afirmou o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz

    Ricardo Batista

    O primeiro-ministro defendeu esta quarta-feira que a opção por um aeroporto único é a “solução mais adequada aos interesses estratégicos do país”, e que Alcochete garante margem de expansão e crescimento do ‘hub’ da TAP.

    São apresentadas, essencialmente, quatro justificações para a escolha de Alcochete, em detrimento de Vendas Novas: Alcochete localiza-se inteiramente em terrenos públicos, enquanto a opção por Vendas Novas implicaria expropriações; Alcochete já teve uma declaração de impacte ambiental favorável, ainda que esta já esteja caducada; tem maior proximidade ao centro de Lisboa do que Vendas Novas; e está mais próximo das principais vias rodoviárias e ferroviárias, permitindo descentralizar o tráfego do centro de Lisboa.

    A justificar a opção por Alcochete está, ainda, a possibilidade que esta localização oferece de uma expansão para lá das duas pistas previstas inicialmente, sobretudo num cenário, como aquele que está a ser antecipado, de crescimento exponencial da procura nos próximos anos. No relatório de conclusões, a CTI estimava que, em 2050, a procura aérea para Lisboa seja já cerca do triplo daquilo que é hoje, o que significa que, nesse ano, a região poderá movimentar mais de 100 milhões de passageiros por ano.

    O custo total para duas pistas é de 3 231 M€ (primeira pista) e de 2 874 M€ (segunda pista), no total de 6 105 M€. “2030 e 2031 temos de dizer aos portugueses com clareza que não é possível. Para nós, um prazo de 10 anos, 2034, será razoável”, afirmou o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz

    O Governo está a negociar com Concessionária para abreviar os prazos para a ANA concorrer ao novo aeroporto, como está previsto no contrato de concessão.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

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