Reabilitação sustentável com cunho escandinavo
Foi através do traço do arquitecto de origem norueguesa Casper Mork-Ulnes que Lars Richardson e Laila Carlsen viram a transformação de um devoluto celeiro que jazia numa quinta californiana num estúdio artístico com 762 metros quadrados
Pedro Cristino
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Casper Mork-Ulnes tem colaborado com Lars Richardson, um empresário que trabalha com antiguidades e arte escandinavas, e Laila Carlsen, uma pintora, desde que o casal se mudou de São Francisco para Sonoma, em 2005. Tudo começou com o projecto de várias estruturas novas na quinta deste duo, uma propriedade que o arquitecto classifica de “invulgar”, na medida em que “exemplifica a espontaneidade criativa e uma predilecção para o experimentalismo dos seus donos e do seu arquitecto”. Recentemente, Mork-Ulnes e o atelier homónimo concluíram um pavilhão, que toma a “forma de uma ameba”, e que compreende uma cozinha e um salão de jantar – a extensão para um estúdio artístico que o arquitecto escandinavo havia desenhado no ano anterior, para Richardson e Carlsen. Da obra original, resultou um celeiro com um telhado borboleta invertido, que acomoda um estúdio e uma oficina artísticos. A nova extensão “flui para o jardim”, onde os proprietários plantaram bambu, estrelícias, aloés, ínhames-dos-Açores e uma figueira. Apesar de facilmente selado dos elementos, o pavilhão dispõe de portas deslizantes em vidro que podem abrir completamente, tirando partido do acolhedor clima deste condado.
Indoor/outdoor
“Queríamos criar um ambiente interior/exterior confortável, interessante e atraente – um local conducente a um estilo de vida sustentável”, explicam os clientes, citados pelo comunicado de imprensa do atelier de arquitectura. Richardson e Carlsen perceberam que necessitariam de mais espaço para trabalhar, de um espaço seguro face ao clima para armazenar obras de arte e colecções e de um local adequado para servir de estúdio de pintura. Assim nasceu a extensão para o celeiro – um salão de jantar denominado “Amoeba” (“ameba”, em português). O projecto inclui ainda uma nova piscina e uma casa de apoio à referida piscina, em frente à Amoeba, actualmente ainda em esboço, pronta a ser edificada em 2017.
Primeira fase do projecto: o celeiro
O catalisador e factor impulsionador do projecto foi a criação de uma “segunda vida” para um antigo e decrépito celeiro na propriedade rural localizada em Sebastopol, a uma hora de São Francisco. Todavia, este elemento teve de ser transformado num novo edifício, uma vez que a estrutura existente não era recuperável. Ainda assim, os responsáveis do atelier concluíram que a utilização da tipologia do celeiro existente teve “um apelo instantâneo” e que o principal desafio se tornara a criação de um estúdio artístico “ideal” enquadrado na arquitectura vernacular desta estrutura. A inversão do telhado de duas águas do referido celeiro duplicou a altura do espaço para a produção artística e armazenamento, proporcionando, também, ventilação e iluminação naturais, bem como uma visão panorâmica da propriedade. De acordo com a Mork-Ulnes Architects, o novo celeiro terá a mesma “pegada” que o existente e consiste numa estrutura de madeira com elementos de aço. Esta estrutura permite as “grandes aberturas e vãos utilitários” necessários para a manobra de tractores e para a entrada e saída de obras de arte do edifício, sem deixar de proporcionar condições de iluminação naturais “óptimas” para os artistas. Neste sentido, Casper Mork-Ulnes salienta que os proprietários, noruegueses, estimam a madeira como material de construção, o que leva à utilização de pedaços de madeira – com 100 anos – da parede do celeiro como revestimento exterior, “reflectindo o carácter agrário do edifício anterior”, enquanto os condicionamentos orçamentais e funcionais levaram à utilização de contraplacado para o revestimento interior. As madeiras da estrutura antiga serão ainda utilizadas para marcenarias. O telhado foi construído com os elementos de aço enferrujado da cobertura e das paredes do edifício anterior.
Segunda fase do projecto: Amoeba
No início do ano transacto, Richardson e Carlsen pediram ao atelier de Casper Mork-Ulnes para criar um novo espaço na sua propriedade, com o intuito de receberem visitantes, numa “suave” ligação ao exterior. Uma cozinha e um salão de jantar crescem agora a partir do estúdio. Alcunhado de Amoeba, este espaço proporciona “um solto e orgânico contraponto para a estrutura mais rigorosa do celeiro, da qual se expande”. “Abraça incondicionalmente a natureza e o exterior, capturando literalmente a paisagem para criar um verdejante jardim interior com ínhame-dos-Açores, uma figueira e bambu que, de forma suave, separam a cozinha do salão e jantar”, explica Mork-Ulnes. De acordo com o mesmo, “Lars queria uma cozinha e um salão ao ar livre que pudesse utilizar todo o ano”. “A ideia foi deixar a paisagem sangrar dentro e fora do edifício”, continua, explicando que o cliente imaginou o espaço “como uma selva, com plantas exóticas”. A estrutura tem paredes de cimento com oito polegadas de espessura e em forma de S, cuja “considerável massa térmica mantém a divisão fresca no Verão e quente em dias mais frescos”. O telhado inclinado consiste em madeira exposta, com vigas traçadas, com uma “grande e difusa iluminação natural, que transporta a luz para o centro do edifício”, banhando pessoas e plantas. Apesar de a sua forma e os seus materiais poderem parecer “estranhos”, as suas paredes foram formadas por camadas de cimento Shotcrete aplicadas em painéis da madeira reciclada que anteriormente compunha as paredes do celeiro existente. Uma vez seco o betão, as tábuas foram removidas, expondo a “textura amadeirada familiar”, e reutilizadas como vedação.
Sustentabilidade através de reutilização
Para este projecto, os arquitectos utilizaram estratégias de reutilização adaptáveis para uma grande parte dos materiais de construção, minimizaram envidraçados desnecessários onde possível, utilizaram caixilhos de janelas termicamente danificados, isolamento sem formaldeído, madeira certificada e minimizaram a utilização de novos materiais para reduzir os resíduos. Para aquecimento, foi instalado piso radiante, tendo o empreiteiro ainda incorporado partes das fundações demolidas para elementos paisagísticos.