ASCE publica códigos estruturais para garantir segurança dos edifícios em caso de tsunami
Conhecida como ASCE 7-16, esta edição é a primeira a incluir um capítulo sobre perigo de maremoto, tendo já incluídos os padrões relativos a sismos, furacões e cheias
Pedro Cristino
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A American Society of Civil Engineers (ASCE) desenvolveu e publicou um conjunto de parâmetros de construção que visam mitigar o risco para as estruturas dos edifícios na ocorrência de um maremoto, ou tsunami.
Segundo a Oregon State University (OSU), quando o próximo grande tsunami atingir a costa ocidental dos Estados Unidos, as pessoas que se encontrarem dentro ou perto de algumas das estruturas costeiras recentemente construídas estarão mais seguras graças aos padrões nacionais de construção anunciados pela ASCE, que irão considerar “o risco devastador causado pelos tsunamis”. Este é o primeiro conjunto de parâmetros de segurança face a maremotos que os EUA publicam.
Conhecida como ASCE 7-16, esta edição é a primeira a incluir um capítulo sobre perigo de maremoto, tendo já incluídos os padrões relativos a sismos, furacões e cheias. Os padrões referentes a tsunamis destinam-se apenas aos edifícios em betão armado reforçado com aço em “zonas de inundação”. De acordo com a OSU, estas zonas poderão, no futuro, ser mais “fortes e seguranças” com apenas um moderado aumento no custo. Todavia, estes padrões não se aplicam a estruturas de madeira.
Os padrões basearam-se, em parte, no trabalho desenvolvido no laboratório Hinsdale Wave Research, da universidade, segundo Dan Cox, professor de engenharia civil na Faculdade de Engenharia da OSU e um dos 20 engenheiros que integraram o sub-comité da ASCE responsável por desenvolver estes parâmetros.
De acordo com Cox, o sub-comité consistiu num conjunto de engenheiros e de investigadores de todo o país e começou a trabalhar no final de 2010, uns meses antes do terramoto e do tsunami que afectou o Japão, em 2011.
“Não estávamos a reagir”, declarouy Cox”, explicando que a equipa estava a tentar precaver situações como a que afectou o Japão. Após o evento de 2011, o interesse relativo à forma de construir de forma segura numa zona sujeita a maremotos aumentou e foi “importante que o sub-comité fosse formado por pessoas que conheciam o funcionamento dos códigos e por investigadores académicos que trouxeram os mais recentes avanços tecnológicos”.
A equipa recorreu, como ponto de partida a um documento publicado em 2008 pela Federal Emergency Management Agency (tradução livre, Agência Federal de Gestão de Emergência), um “guia para projectar estruturas que permitam evacuação vertical”.
O gerador de ondas de grande dimensão no laboratório teve um papel assinalável na produção dos dados utilizados para desenvolver os padrões para maremotos, explicou Cox, anterior director do laboratório de Hinsdale e agora líder do Programa Cascadia Lifelines – um consórcio de investigação que trabalha para mitigar danos infra-estruturais na zona do Pacífico Noroeste causados por um terramoto.
A OSU iniciou, com oito parceiros, cinco projectos de investigação, com um financiamento de 1,5 milhões de dólares (1,3 milhões de euros). Os parceiros, que financiaram a investigação, pertenciam tanto ao sector público como privado.
Para Cox, um dos grandes projectos desenvolvidos era relativo aos destroços. “Que força têm os resíduos e como conseguimos construir uma coluna para manter um edifício no seu lugar, se os resóduos a atingirem?” questionou o investigador, explicando que, actualmente, “existem equações para utilizar no dimensionamento dessa coluna de forma a que a mesma resista ao impacto de um pedaço de resíduos de grandes dimensões, como um contentor”.
No âmbito dos códigos agora desenvolvidos, Cox e outros membros da equipa foram ao Japão após a tragédia de 2011 para estudar o que tinha, e não tinha, funcionado. “Temos informação suficiente para estimar as forças hidráulicas e entender padrões de danos, e utilizámos isso para validar o que estamos a fazer”, explicou o professor. Segundo o próprio, verificar se a sua abordagem era válida consistiu numa “experiência independente”. “Estes padrões são feitos através de trabalho de laboratório, trabalho de campo e prática de engenharia. Utilizámos todas as ferramentas disponíveis para fazer estes parâmetros”, assegurou.
Segundo a OSU, os códigos do ASCE 7-16 são “bons para os próximos seis anos” e tornar-se-ão parte do Código de Construção Internacional. Nos Estados Unidos, caberá a cada estado decidir a adopção destes novos códigos na sua totalidade, parcialmente num formato modificado, ou simplesmente não os aplicar. No Oregon, a Divisão de Códigos de Construção é responsável por rever estes novos padrões.
“O estado do Oregon devia observá-los de forma muito cuidadosa”, sugeriu Cox, acrescentando que “os olhos de muitos engenheiros têm estado a observar isto e os padrões são consistentes com a prática de projecto de engenharia”. “Se, em seis anos, obtivermos melhores informações, poderemos alterá-los”, assegurou o engenheiro.
Por sua vez, os responsáveis da OSU afirmaram que se comprometeram em satisfazer – ou ultrapassar – todos os padrões de construção, engenharia e de segurança, incluindo os novos códigos relativos aos maremotos. Neste sentido, Dan Cox ressalva que estes códigos terão maior impacto para engenheiros que projectem e construam estruturas com menos de cinco pisos de altura. Acima de cinco pisos, os códigos de construção mais fortes terão primazia sobre os códigos que visam proteger estruturas mais pequenas dos tsunamis.
Outro ponto destacado pela universidade consiste no facto de, apesar dos novos códigos significarem um aumento do custo de um edifício de dois ou três pisos, o valor adicional será “comparativamente pequeno”. “O custo estrutural de um edifício é menor que 10%”, afirmou Cox, referindo que, com os novos códigos, a construção será mais dispendiosa mas “o custo não triplica”. “Quando se constrói um edifício com o dobro da segurança, este não tem o dobro do custo”, reforça.
O engenheiro assegura ainda que estes novos padrões poderão também ser utilizados em projectos de “retrofit”. “Agora podemos aplicar padrões consistentes ao longo de todas as catástrofes”, declarou, explicando que isto “permite-nos utilizar uma metodologia consistente, um conjunto consistente de códigos, para que possamos projectar tendo em conta múltiplas catástrofes [naturais]”.