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    Engenharia

    “A engenharia portuguesa não está unida”

    Não haverá, na história da engenharia portuguesa, um profissional tão condecorado como Armando Rito. Aos 80 anos, o engenheiro que foi já distinguido a nível internacional com a Medalha Freyssinet e o Prix Albert-Caquot, entre outros, afirma que a engenharia nacional não está “unida” e que se encontra actualmente desprestigiada

    Pedro Cristino
    Engenharia

    “A engenharia portuguesa não está unida”

    Não haverá, na história da engenharia portuguesa, um profissional tão condecorado como Armando Rito. Aos 80 anos, o engenheiro que foi já distinguido a nível internacional com a Medalha Freyssinet e o Prix Albert-Caquot, entre outros, afirma que a engenharia nacional não está “unida” e que se encontra actualmente desprestigiada

    Pedro Cristino
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    Pedro Cristino
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    Não haverá, na história da engenharia portuguesa, um profissional tão condecorado como Armando Rito. Aos 80 anos, o engenheiro que foi já distinguido a nível internacional com a Medalha Freyssinet e o Prix Albert-Caquot, entre outros, afirma que a engenharia nacional não está “unida” e que se encontra actualmente desprestigiada. Em entrevista ao Construir, Rito atribui a queda do prestígio da engenharia ao critério do preço mais baixo nos concursos públicos e explica que um verdadeiro engenheiro “sente a engenharia” e é capaz de “ver a estrutura a funcionar no espaço”

    É, neste momento, o engenheiro português que mais distinções recebeu. Quais dessas distinções destaca?
    Há prémios referentes a obras, como o da Régua, da Vasco da Gama e o Secil, e há prémios que são essencialmente de carreira. Destes últimos, os mais importantes são o da FIP – que depois se transformou em FIB [Fédération Internationale du Beton] -, a Medalha Freyssinet e o Prix Álbert-Caquot. A Medalha Freyssinet é atribuída pelo Presidium da FIB, de quatro em quatro anos, apenas em congresso. A Medalha FIP/FIB é atribuída nos outros três anos, nos simpósios. Em 1998 recebi a medalha FIB, e foi a única atribuída a um português. São decisões do Presidium, composto por nove membros. Já a Medalha Freyssinet é o prémio mundial mais importante no campo das estruturas de betão e é atribuída sem concurso. É uma escolha de um núcleo muito restrito de pessoas. Portanto, para mim, as mais importantes são a Medalha Freyssinet e o Prix Álbert-Caquot, cuja atribuição alterna entre um engenheiro francês e um engenheiro estrangeiro cada ano.

    Para si estas são provas do reconhecimento da capacidade da engenharia portuguesa?
    Lá fora, sim. Aqui, infelizmente…

    Acha que não é reconhecido o seu valor dentro de portas?
    Os engenheiros portugueses têm uma característica que é uma séria falta de união. Não se juntam e não defendem a classe. Olhe os arquitectos: quando o Siza ou o Souto de Moura são galardoados no panorama internacional, isso prestigia a classe. Portanto, mesmo que não gostem uns dos outros, juntam-se, porque é importante. E, efectivamente, a engenharia portuguesa, que desde há muitos anos atrás fez coisas notáveis não está unida. Muitas vezes explicava – e continuo a explicar – aos meus colegas estrangeiros que quem está por trás da grande evolução da regulamentação das estruturas do betão é o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Nós estamos por trás disso tudo, fomos fundamentais: fizemos barragens, tínhamos uma tecnologia de barragens, tínhamos uma tecnologia de pontes que fazia inveja a qualquer país. E nunca explorámos isso.

    De que forma não foi explorado?
    Já fiz notar isso. A Embaixada Portuguesa em Maputo decidiu fazer uma exposição sobre a obra do arquitecto Souto de Moura, comissariada pelo adido cultural. Com que intenção? Essencialmente de promover a arquitectura portuguesa na África do Sul e na região. Podiam fazer uma exposição sobre a engenharia portuguesa, comissariada por um adido cultural. Mas veja lá se fizeram. Os arquitectos fizeram. Mexem-se. Sabem fazê-lo.

    Mas na sua opinião, essa desunião…
    Não é desunião, é “não-união”. Cada um trata da sua vida e não entendem que prestigiar uma pessoa, prestigia a profissão.

    E o país…
    E o país, também!

    Acha que o trabalho dos engenheiros ocorre nos bastidores?
    Não é nos bastidores. Quando eu ensinava e quando fazia conferências costumava dizer que as pessoas se esquecem de uma coisa simples: por trás de qualquer acto da sua vida, está um engenheiro. A engenharia está por trás de tudo. Um arquitecto, se quer fazer uma casa, precisa de um engenheiro. Um engenheiro, se quiser, faz uma casa.

    Essa noção de que há engenharia por trás de tudo não está inculcada na sociedade?
    Não é sentida porque os engenheiros não colocam a coisa clara. Enquanto que os arquitectos comunicam as suas obras, têm a atenção dos jornais, controlam o meio cultural, os engenheiros não. Estão quietinhos, cada um no seu cantinho.

    E como se poderia fazer sentir essa noção?
    Fazendo o mesmo que fazem os outros.

    Unirem-se e promoverem-se?
    Promoverem-se. Fundamentalmente, actualmente é preciso é fazer propaganda pura e simples.

    Tem já um percurso de carreira bastante longo, trabalhou com engenheiros de renome, como Edgar Cardoso…
    Aliás, foi com ele que fiz o meu estágio. Depois convidou-me e trabalhei com ele, mas foi um tempo relativamente curto. Éramos duas personalidades muito marcadas, mas demo-nos sempre muito bem. Ele queria que eu ensinasse mas eu sempre achei que a minha carreira era ser engenheiro e não professor.

    Tem algumas referências a nível de pessoas e de obras?
    Uma das minhas grandes referências é o engenheiro Freyssinet. Tenho também como referência o Edgar Cardoso, por aquilo que me transmitiu. Não conheci Freyssinet, mas li-o. As referências são as suas obras. A minha escola de engenharia, essencialmente – tirando a escola do Edgar Cardoso – é a escola francesa, na engenharia de pontes. É a noção de que, tal como dizia Freyssinet, a dedicação à profissão são 48 horas por dia, senão não se vai a parte alguma.

    Continua a achar que é assim, actualmente?
    É. Vou fazer agora 80 anos e estou aqui.

    Mas isso é uma questão de saúde…

    Mas há alguns cuja única coisa que os preocupa é quando se conseguem reformar. Depois vão para gestores, fazer aquilo que é o maior desastre que existe actualmente na sociedade, que é a folha Excel. Para esses, tudo se resume a uma folha de Excel e o resultado está à vista.

    É necessária vocação para se ser engenheiro?

    Sim. Quando comecei a carreira, cada engenheiro que fosse mesmo engenheiro tinha os seus segredos – certos cálculos e certas formas de resolver os problemas. Agora vai-se ao centro comercial, compra-se o computador, com o programa. Há um dito muito antigo que os americanos tinham sobre os computadores que é “junk in, junk out”.

    Entra e sai lixo?
    Se a pessoa, quando tem os resultados, acredita no “deus” computador e não sabe interpretar, depois sai asneira. Uma das críticas que o Edgar Cardoso me fazia era que eu usava computadores e eu disse-lhe que usava computadores porque me permitiam fazer as contas muito mais rapidamente. É só isso: permitem-me fazer coisas que antigamente só poderia fazer com análise experimental, com os modelos. Mas é uma ferramenta, não é deus, não é a verdade. E as pessoas acreditam no que a ferramenta lhes diz e não têm espírito crítico. Se forem necessárias pessoas que façam cálculos, vai-se ali à porta do Técnico e elas estão lá e sabem fazer cálculos que eu já nem faço ideia de como se fazem. Agora, engenheiros? Contam-se pelos dedos da mão.

    Mas o que necessitam de ter para serem engenheiros?
    É sentirem a engenharia, serem capazes de ver a estrutura a funcionar no espaço e olhe que nem toda a gente consegue ver uma obra no espaço. Quando quisemos fazer a Ponte de Vasco da Gama, havia aquela “fantasia” das certificações de qualidade e surgiu um inglês, que vinha ver se tínhamos a qualidade necessária e só se preocupava com o circuito dos papéis. E eu perguntei-lhe quem é que garantia a qualidade do meu trabalho. Respondeu-me que era com o chefe, com o verificador. Eu respondi-lhe que era ele o certificador de qualidade. Depois, quisemos fazer uma certificação de qualidade porque estava na moda e disseram-me que eu tinha de fazer um procedimento para a concepção. Respondi que o meu procedimento era o seguinte: levanto-me, vou tomar um duche e enquanto tomo o duche, penso na obra. Isto não é uma fábrica de salsichas. Numa fábrica de salsichas pode haver procedimento. Na concepção, é aquilo que me vem à cabeça. E é por isso que é gravíssimo aquilo que estão a fazer, que são os concursos de projecto.

    Porque é gravíssimo?
    No concurso de projecto, o Estado e os senhores do Tribunal de Contas dizem que a adjudicação será feita pela proposta mais favorável ao Estado, isto é, a de menor custo. E eu perguntei-lhes como avaliavam a qualidade do meu trabalho pelos meus honorários. Houve uma altura em que um secretário de Estado disse, relativamente à Ponte do Arade, em Portimão, ao director de pontes, que a minha proposta era muito cara. Eu respondi que se o senhor secretário de Estado pensava que levava um projecto por mil contos, estava completamente enganado. Leva é mil contos de projecto.

    E qual foi a resposta?
    Não tive porque não se pronunciou. E já agora explico-lhe: o que faço é seguir escrupulosamente as tabelas de honorários do Estado, que estavam bem pensadas. Depois entrou-se neste rateio de andar a fazer concursos. O professor Edgar Cardoso respondia que não ia a concursos de projecto e perguntava sempre: “se você tiver de fazer uma operação, vai contratar o médico mais barato ou o melhor que o seu bolso pode pagar?” E isto é a mesma coisa. O resultado é este. O contabilista – não digo gestor, porque não gere coisa nenhuma – quando pensa no projecto, pensa em honorários. E depois tem um mau projecto e tem custos brutais logo no início da obra que vai fazer, porque o projecto foi muito mal pensado. Chamo a isto não só ser contabilista, como ser estúpido e, ainda por cima, não ter cultura nenhuma, não saber escolher. E disse isto aos senhores do Tribunal de Contas, que acham que o que defende melhor os interesses do estado são os honorários mais baixos. Eu vou pôr dinheiro do meu bolso para fazer uma boa obra, ou para estar aí a encarar alternativas e a fazer estudos, mesmo admitindo que sou capaz de fazer um bom projecto?

    Isso pode ser uma questão que advém da falta de conhecimento técnico de quem decide…
    Está à espera que um gestor tenha conhecimento de quê? Sabe – e mal, provavelmente – trabalhar com a folha Excel, não tem cultura, não tem entendimento em mais nada.

    Faltará, porventura, o engenheiro nessa equação?
    Mas antigamente, quando a nossa engenharia foi grande, a Junta Autónoma de Estradas era dirigida por engenheiros e não por gestores nem economistas. E os engenheiros tomavam decisões. Que tivessem, agora que há gestores, um gestor para os aconselhar nas questões financeiras, tudo bem. Agora, entregar a Junta, entregar um hospital, etc, a um contabilista? Estão a gozar comigo e o resultado está bem à vista.

    Referiu que o engenheiro Edgar Cardoso não ia a concursos. Posso depreender que a questão dos preços baixos já é antiquíssima?
    Não. Isto começou já no fim dos anos 90, provavelmente. Não quer dizer que o ajuste directo seja sempre a solução, porque é evidente que permite o compadrio. Mas a transparência não é só não deixar haver concorrência, é também saber escolher na concorrência. Durante anos e anos, em quatro ou cinco concursos, respondia a um, em que ficava em último lugar porque levava as tabelas de honorários. Era só para marcar posição. Agora, meterem-me no mesmo saco – como me metiam muitas vezes – com os outros concorrentes, fazendo muitas vezes os concursos limitados com cinco, eu respondo que me estão a insultar. Se querem entregar a outros projectistas, entreguem, mas não façam de mim lebre, porque já sabiam que eu ia com o preço mais alto, mas tinham que respeitar a lei. A mania de que isso permite a transparência não é verdadeira, contudo, todas as leis podem ser dribladas. É a estupidez e a arrogância da pessoa ao pensar que, lá por ter um grau académico é capaz de fazer tudo. Não é, não tem o bom senso de perguntar a quem sabe, a alguém que explique que não é o preço mais baixo, mas sim quem oferece a melhor qualidade.

    Daí, a necessidade de pessoas com conhecimento na área junto dos decisores, ou como decisores?
    Mas quantos engenheiros estão no Governo? Eu dizia aos meus colegas, já no fim dos anos 90, princípio de 2000, que o que estava a acontecer era que os engenheiros passavam a maus gestores e os gestores a maus engenheiros.

    Os engenheiros não podem dar bons gestores?
    Podem. Eu tive muitos que estagiaram comigo. Sabe que isto de fazer engenharia é trabalhoso. Um arquitecto pode fazer os maiores disparates imagináveis, a obra pode ir para três ou quatro vezes o custo e ele é um “artista, que foi mudando de ideias”. Um engenheiro que faça uma asneira é responsável. Cai uma ponte e é uma chatice.

    A ideia do arquitecto enquanto artista já não é nova…
    Exacto. Faça a porcaria que fizer. Mas o problema que se coloca é o seguinte: a profissão de engenheiro é extremamente exigente, dá muito trabalho, é mal paga e, ainda por cima, envolve responsabilidades imensas. Portanto, não vale a pena. Ainda por cima, acabou por se desprestigiar.

    Ultimamente?
    Sim. Nos últimos anos, tem-se desprestigiado. Para já, não houve aquelas escandaleiras que fizeram da JAE, que era “tudo uma cambada de ladrões” e, ao fim e ao cabo, parece que ninguém foi preso, que eu saiba. Mas nesse caso, as razões políticas que estiveram por trás, não interessam. O resto, depois, foi o que se viu e, infelizmente, a engenharia não se defendeu capazmente. Depois, houve as questões de Entre os Rios, quando caiu a ponte. Quem é que queriam condenar? Os engenheiros. Viu algum condenado? Não viu. Foram os engenheiros que foram tirar a areia? Não. O que andavam os políticos a fazer? Eu fui entrevistado na altura e disse o que tinha a dizer. Depois houve ainda todo este disparate de não se programar capazmente o desenvolvimento do país, de sermos comandados pela banca, que quer fazer o dinheiro de imediato. E, a seguir, em vez de termos o trabalho escalonado e pensado, fizemos trabalho excessivo, obras inúteis, espatifámos o dinheiro todo e, de repente, fechámos a loja, e a engenharia portuguesa desmantelou-se.

    Ou foi lá para fora…
    Ou foi lá para fora, sim, mas vai lá para fora, não vai fazer engenharia. Vai ser empregado. Tive vários engenheiros que trabalhavam comigo e foram lá para fora, mas são funcionários. Não foram para lá ser autónomos, nem fazer, eles próprios, engenharia.

    E, em Portugal, não há muitas empresas de engenharia com dimensão?
    Não há e as que havia com grande dimensão, foram vendidas. A COBA foi vendida aos angolanos, a Cenor foi vendida à TPF… As empresas pequenas, a maior parte fechou e algumas vão sobrevivendo. O desprestígio e as dificuldades que se atravessam levaram a que haja pouca gente a matricular-se em engenharia civil e isso vai ter consequências graves para o país porque, quando precisámos deles, não temos.

    É um reflexo do desprestígio da classe?
    É também. É mal paga, desprestigiada, sujeita a um mercado de trabalho miserável, que procura, com as dificuldades, pagar mal e exigir responsabilidades. Chegámos a um ponto em que uma actividade que tinha as capacidades que teve está neste estado. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil [LNEC] luta com falta de apoio. Eu acho espantoso que se considere, num Governo, seja ele qual for, que um laboratório de engenharia, em vez de ser avaliado pelo que produz, é avaliado pelo que gasta e talvez tivesse até de dar lucro. Não é para dar lucro, assim como um hospital. Mas, na realidade, começa-se a querer empurrar para lá. Nos tempos do Manuel Rocha e do Ferry Borges, o LNEC desenvolveu trabalho de investigação para tudo quanto era sítio, tinha um prestígio mundial notável e não tinha o Estado a regatear-lhe a verba, porque a gastava onde devia gastar. Sabe o que acontece nos tempos que correm? As pessoas têm um salário, e para trabalharem têm que lhes pagar mais. Têm que lhes pagar os incentivos, aquelas habilidades contabilísticas que dão lucros onde os prejuízos são perfeitamente alucinantes, que é para, depois, ter a minha comissão porque fui um bom gestor.

    Isso é um mundo de banca?
    Infelizmente não é banca. O que vê agora nas empresas públicas? Não é isso? As pessoas a receberem porque têm lucros, quando nós sabemos que a empresa está endividada em milhares de milhões? E, a seguir arranjam um lucro de 70 ou 80 milhões e, no fim, então, o gestor foi um belíssimo gestor e recebe uma comissão. Sou pago porque tenho emprego e, depois, recebo por cima para trabalhar.

    Regressando ao tema dos concursos, o próprio custo do projecto, dentro do orçamento de uma obra, é significativo?
    Não tem significado nenhum. Repare: as tabelas de honorários antigas tinham quatro classes de dificuldade e davam percentagens do custo final da obra entre 1% e 4%, se não me engano. Acha que 4% é alguma coisa? Já expliquei isto aos empreiteiros e ouvia “você está a pedir-me 200 mil euros ou 100 mil euros pelo projecto? Vou ali entregar o projecto àquele senhor que faz isto por 50 mil”. Eu costumava responder que o senhor não sabia fazer contas porque, provavelmente, o projecto que lhe iam fazer, em vez de custar 50 milhões de euros, vai custar 100 milhões, mas o senhor fica contente porque poupou 50 mil euros. Cada um tem o seu quintal. As empresas, a partir de uma certa altura, passaram a ter as unidades de negócio. Há um responsável pelo negócio da área de projectos, outro responsável pelos equipamentos, etc, e cada um tem e gere a sua verba, e quer chegar ao fim e apresentar resultados. Sabe que, se os resultados forem favoráveis, tem comissão. Portanto, está-se completamente nas tintas para que o projecto seja bom ou mau. Interessa é que ele geriu o seu projecto e mostrou resultados. O tipo da obra é que se trama e paga as asneiras do que tomou decisões porque, infelizmente, depois não se ouvem entre eles, não dizem o que correu mal e porquê. Uma vez propus que deveriam fazer o seguinte: analisar as obras, verem o custo de adjudicação da obra e verem o custo final, para saberem o que têm de trabalhos a mais, e o que houve de asneiras, e esses senhores são escovados, pura e simplesmente. Porque, se em Portugal, se accionassem os seguros, a maior parte deles não tinham sequer porta aberta.

    Mas os seguros têm um limite…
    Sim, mas era quanto bastava. Porque depois, quem quer que os fosse contratar já pensaria duas vezes. É como um automobilista. Se começa a bater demasiadas vezes, o seguro já não o cobre. Mas claro está que não o quiseram fazer.

    Accionar os seguros?
    Não. Avaliar e dizer que “este, este e este, antendendo à sua má prestação do trabalho, não são mais escolhidos, são afastados!”.

    Ficavam referenciados numa base de dados?
    Exactamente. É simples. E estabeleciam-se níveis de competência para cada um. Eu fiz sempre questão de não ter trabalhos a mais e não tive. Isso é extremamente importante. Um trabalho a mais não significa que houve um erro de projecto. Pode ser, mas também pode querer dizer que a obra acabou por custar eventualmente o preço pela qual deveria ter sido adjudicada, se o projecto tivesse sido logo pensado como deve de ser, se não tivesse havido falhas. Isto é completamente diferente de dizer que se aquele projecto é que era o adequado. Eu posso escolher uma má solução e ter um projecto eficaz, sem trabalhos a mais, mas, uma solução boa, faria com que a obra custasse muito menos. São duas coisas diferentes e é aí que está a questão dos honorários. Este é capaz de fazer um projecto que é realmente o adequado e o outro não é, e faz um, mas que, do ponto de vista do cálculo, dos desenhos e da pormenorização está eficaz e não teve trabalhos a mais. Mas se, para aquele projecto, começa a haver trabalhos a mais, são erros de projecto e isso quer dizer que, efectivamente, numa boa parte das vezes, é incompetência. Outras vezes são circunstâncias que não foram previstas, essencialmente nas fundações, ou circunstâncias fortuitas que não se esperavam e que muito provavelmente não se poderiam prever.

    Como acidentes relacionados com o clima?
    Sim, às vezes, imprevisíveis como cheias. Quando fazemos uma ponte sobre um rio, fazemos uma análise das cheias mas, de vez em quando, aquilo excede. Eu não posso estar a dimensionar estruturas que resistam a tudo. Tenho é que garantir que não colapsam. Agora, se ficam arruinadas, paciência. Não haveria dinheiro suficiente para fazer estruturas dessas [que resistem a tudo]. Agora, a preocupação de não haver trabalhos a mais é fundamental porque, se eu não penso o meu projecto capazmente e não tenho tudo previsto, o empreiteiro pode fazer uma análise de projecto e dizer “isto vai precisar de mais isto e mais aquilo” e distorce os preços de início. E, a seguir, vai cobrar o que quer, inclusive até em coisas que são trabalhos que não foram concursados mas que tiveram de ser feitos. Eu acho que é fundamental para o cliente, que é o dono da obra – o Estado ou o empreiteiro, no caso das concessões – que este processo foi a concurso e custa 100 e vai ficar por 100. Por isso é que eu digo que, se não há trabalhos a mais, se todo o meu projecto está preparado, dimensionado e estudado de maneira a que haja um caderno de encargos extremamente exigente, que não dê margem ao empreiteiro para fugas, aquilo é aquilo, custa aquilo e acabou. Acho que é um ponto de honra que todos os engenheiros deveriam fazer.

    Mas não é algo comum nesta área?
    Há muitas falhas.

    Como vê a dinâmica de negócios no sector da engenharia em Portugal?
    Não há trabalho, ponto final. Irá haver na parte de reabilitação mas a reabilitação que se vai fazendo consiste em dar uma pintura por fora e disfarçar. A seguir, quem vier atrás que feche a porta.

    Mas, por exemplo, o Estado anunciou investimentos na linha férrea…
    Sim. Aí haverá. Nas estradas, é algo difícil. Infelizmente, há pedaços de auto-estrada que não ligam a coisa nenhuma. Faltam acabar ligações. Tenho obras, ali no Pinhal Interior que deviam ter sido feitas e que foram cortadas. A ligação a Coimbra não foi feita. Quem toma decisões destas é, mais uma vez, um mero contabilista porque se a estrada já ia render pouco, assim ainda rende menos. Falta um bocadinho de investimento e corta-se. Porquê? Porque tem de se cortar cegamente. Ao menos que haja a inteligência de se perceber o que se corta e porque se corta. Aliás, vai ali ao Alentejo e vê aquelas obras. Estão lá todas penduradas e depois vai tudo para o lixo.

    E no mercado externo?
    É complicado. Tenho muitas e grandes obras em Angola mas o problema, neste momento, é que Angola está sem dinheiro. Parou novas contratações, o dinheiro que devia, continua a devê-lo, vão desvalorizando o kwanza – portanto, aquele dinheiro vale cada vez menos – e não se está a ver muito bem o fim da situação e a recuperação. Moçambique nunca foi um mercado muito interessante e, mais uma vez, é a mesma história: as pessoas ficam convencidas que fazem concessões e o concessionário pensa que vai ter que ter as coisas a durar durante o tempo da sua concessão. A seguir, não duram. Quando era o Estado que fazia as obras, sabia que era o dono. No nosso caso, aqui, o Estado demitiu-se completamente, inclusive de fiscalizar aquilo que é seu, que é meu e, ao fim ao cabo, nós é que pagámos. É nosso e, portanto, devíamos fiscalizar para ver se é bom ou mau mas não, quem construiu é que se autofiscalizou.

    É uma prática corrente?
    Foi o que fizeram cá. É uma prática que se faz, muitas vezes, lá fora. Eu fiz obras com franceses, inclusive aqui, no IP3. Todos os meses, vinha cá uma equipa de franceses e fiscalizavam-se a eles próprios.

    Não há aí conflito de interesses?
    Não. Têm outra cultura. É um problema cultural. São exigentes consigo próprios! E isto não é dizer que vamos adoptar a legislação deste ou daquele países, porque está escrito no papel. Quando isto começou, almocei com os responsáveis da Enor e disse que isto de nos autofiscalizar-nos ia dar problemas porque o engenheiro de obra diz assim: “é uma chatice andar na obra, tenho de me levantar muito cedo, tenho que andar de botas, chove-me em cima, ando na lama, eu quero é subir e ter resultados para subir”. O director de produção diz: “eu quero é resultados para ir para administrador”. O administrador quer é resultados. Todos eles querem resultados para trepar. Portanto, um belíssimo engenheiro de obra passa a ser um mau director de produção, o director de produção – bom director de produção – passa a ser um mau administrador e o administrador está-se nas tintas porque, daqui a um ano, como teve uma gestão com retorno, vai ser convidado por outro onde vai ganhar mais. Enquanto que, no caso dos franceses, os directores de obra eram bem pagos mas a sua carreira era feita em obra, não iam para gestores nem para administradores. Por isso eram excepcionais, do melhor! Aqui não. Eu posso ser muito bom a fazer obra mas vou dar um mau administrador de certeza.

    O que é que não pode faltar num projecto de uma ponte?
    A concepção é a base. Um cálculo competente e algumas coisas que procuro sempre: uma memória clara – coisa que infelizmente é cada vez mais difícil, porque as pessoas não sabem escrever – que diga o que esteve na sua cabeça na origem do projecto, como o encara, ou como se vai desenvolver a obra, uns desenhos extremamente detalhados e competentes, e um caderno de encargos em que tudo esteja previsto, que não dê hipóteses para que empreiteiro possa vir renegociar seja o que for. E também umas medições que reproduzam correctamente as quantidades e as qualidades de trabalho que vão ser executadas.

    Guarda algumas das suas obras com especial carinho?
    Acho que as obras que definem bem, que cristalizam, o meu pensamento e tudo o que desenvolvi e introduzi de diferente na engenharia portuguesa são a ponte do Arade, a ponte Miguel Torga na Régua e o viaduto do Pranto. É uma coisa com quase 2 quilómetros de extensão que, efectivamente, junta tudo o que desenvolvi na parte de fundações, na parte de tabuleiros, etc. São três obras representativas do trabalho, do conhecimento e das coisas diferentes que fui introduzindo na concepção estrutural do país.

    A que se refere?
    São conceitos. Uma das coisas com que eu embirro é quando vou a uma conferência, ou a uma apresentação e ouvir as pessoas dizerem que fizeram uma inovação. Inovações surgem duas ou três em cada século, o resto são desenvolvimentos. O caso da estaca-pilar, por exemplo. Se eu preciso de um pilar de 2 metros, para aguentar a carga do meu tabuleiro, porque não faço uma estaca com exactamente o mesmo diâmetro e, quando chega cá acima, meto-lhe uma cofragem e continua como pilar. Assim, só tive de fazer uma estaca, não tive de fazer o maciço de encabeçamento, não tive de fazer escavações, nem ensecadeiras. Introduzi esse conceito e, a partir daí, é o que se usa em Portugal.

    O que o atrai tanto nos projectos de pontes?
    A ponte é uma estrutura limpa. É estrutura e a verdade do seu funcionamento está perfeitamente à vista. Numa conferência que fiz lá fora, referi que a ponte é um objecto que, além de ser utilitário – um edifício também é um objecto utilitário! – é um acto simultaneamente de arquitectura e de engenharia, mas extremamente mais difícil porque, enquanto que, num edifício, posso disfarçá-lo, posso orientá-lo, numa ponte tenho aquele traçado que é o traçado óptimo. A verdade estrutural está à vista. Num edifício não está. A estrutura que lá está dentro, sabe qual é? Sabe se está boa, se está má, se está bem feita, se está bem pensada? Não sabe. Na ponte sabe. A estrutura está. Portanto, é, simultaneamente, um objecto de arquitectura e de engenharia e a engenharia tem a sua verdade estrutural bem à vista. Também dizia que uma obra mal concebida, por muito que eu tente disfarçar, não há disfarce que consiga esconder o que está mal pensado, porque está à vista.

    Com base na sua experiência, e olhando para o estado actual do sector da engenharia, que conselho pode dar aos jovens engenheiros que acabam de sair das universidades?
    Se não conseguirem empregar-se cá, vão lá para fora, porque lá fora precisam. Aliás, quando se estava a conduzir a ponte do Arade, os meus colegas franceses, que estavam lá, e eles já se queixavam – em 1991 – que começavam a ter muita falta de engenheiros em França, porque as pessoas não querem ir para Engenharia. É um problema na Europa e de país desenvolvido.

    Porque já estão infra-estruturados?
    Não é isso só. É a questão das exigências, das responsabilidades, do pagamento mau. Lá fora, os alemães têm falta [de engenheiros], os franceses não terão tanto, porque têm um meio muito forte, devido ao facto de terem tido grandes nomes na engenharia. Tiveram, realmente, nomes muito grandes, que eram louvados, acarinhados e publicitados. Eram homens que receberam honras. O seu país reconheceu-os. Vai ler uma biografia de um Freyssinet, de um Caquot….efectivamente, o seu país reconheceu o contributo que deram à engenharia. Aqui, o Edgar Cardoso não foi reconhecido. Depois de morto lá lhe conseguiram arranjar o nome de uma rua – não sei o que é que isso adianta – e nunca foi reconhecido.

    Ao mesmo tempo, o nome de Edgar Cardoso é reconhecido dentro da sociedade da engenharia portuguesa…
    É, porque fazia aquela barulheira toda e a televisão gostava era do escândalo. Era mais conhecido pelo seu mau feito.

    Mas, a nível internacional, a engenharia portuguesa é reconhecida?
    É. Não é por acaso que eu tenho o reconhecimento que tenho. São sete prémios estrangeiros e quatro portugueses. Mas isto é tipicamente português.

    Mas isso também é uma demonstração da qualidade da engenharia portuguesa…
    Isso é! Quando recebi a Medalha Freyssinet, quando agradeci disse que era um reconhecimento e, aqui, quando me perguntaram, referi que era o reconhecimento de que a engenharia portuguesa vale o que vale.

    Como vê hoje o ensino da engenharia?
    Temos bom ensino. Mas, por exemplo, em França, continuam a ter os professores de carreira e depois vão escolher as pessoas com maior nome nos referidos campos para serem convidados e darem aulas. Porque uma ponte tem vários tipos de conhecimento mas, depois, a execução, o pensamento e a concepção tem de vir de quem tenha feito, não é dos livros. Mas nós não fazemos muito isso. Temos muito a preocupação com a carreira [de professor] e isso acaba por se reflectir um pouco no ensino. Porque há uma geração de engenheiros que eram professores e já se reformaram, e que fizeram [obra] e, neste momento, deixa de haver trabalho. Os que fizeram, ou estão muito velhos como eu ou estão a caminho disso e, portanto, não vão transmitir conhecimento e experiência. Esse é o problema que pode ser grave: a transferência do conhecimento prático, da execução do trabalho. Agora, no conhecimento teórico, não há esse problema.

    Não havendo obra, não há como ter prática…
    Esse é o problema. Depois, acaba por se produzir aquilo que antigamente, quando eu era novo, era o calculista, que é quem faz os cálculos mas que, se não se tem experiência de obra, falta-lhe o resto, o filtro. Mas eu acho que eles [jovens engenheiros] têm muito boas hipóteses de ter trabalho, mas, nesta fase, terão mesmo de escolher ir lá para fora.

    Essa experiência no estrangeiro pode ser importante?
    É. Até porque sair daqui do nosso cantinho abre muito as vistas a muita gente. Somos desenrascados.

    O desenvolvimento tecnológico em Portugal tem feito, nos últimos anos, contribuições importantes para a área da engenharia?
    Em Portugal fizeram. Como houve um volume muito grande de obras, era, efectivamente, necessário encontrar sistemas adequados e modificações que dessem resposta à urgência e à quantidade de execução. Aqui em Portugal houve um desenvolvimento importante com o Pedro Pacheco, da Universidade do Porto, na parte dos cimbres, que deriva de uma tese de doutoramento que fui acompanhando, até fui membro do júri. Dei-lhe a sugestão de que aquela tese [que resultou no Sistema OPS] era muito adequada para uma coisa que é utilizar pré-esforço nos cimbres. Ele desenvolveu aquilo. Há anos que ando a tentar convencer uma pessoa, que é notável nas estruturas metálicas, para a aplicação do pré-esforço nos cimbres para os tornar mais ligeiros e mais capazes.

    O contributo do LNEC para a engenharia tem sido importante?
    Tem, sim senhor. Depois da ponte do Tejo, a parte de observação de obras praticamente parou e, com a ponte de Fagilde, a primeira ponte de avanços com um projecto português, convenci a Junta Autónoma de Estradas e, a partir daí, recomeçou-se a instrumentação de obras e a observação e, aí, houve contributos muito importantes no comportamento dos betões a longo prazo, no comportamento das estruturas, com ensaios de carga e, nisso, o LNEC teve um grande contributo. No resto, nas barragens e hidráulica e no resto, teve sempre também um grande contributo. Com a parte da reabilitação, também muita coisa foi pedida ao LNEC para instrumentar e observar, e foi dado um impulso muito importante. Pessoalmente, acho que o LNEC foi sempre uma instituição fundamental no desenvolvimento da engenharia nacional e tenho muita pena das várias tentativas de estrangulamento e de subfinanciamento que a casa tem sofrido. O Estado, e todos nós, temos que pensar que há instituições que não está aqui para dar lucro. A única coisa que acho admissível é que se peçam contas do investimento, agora, cortar o investimento? Haja maneiras!

    O número de vagas nos cursos de Engenharia Civil poderá levar-nos a uma situação de falta de engenheiros no futuro?
    Vamos ter falta a relativamente curto prazo porque, como em tudo, o nosso parque de pontes, de edifícios, de tudo, começa a ter idade e a precisar de reabilitação. Independentemente de a reabilitação ser um campo específico de engenharia, há o campo geral – faço uma reanálise estrutural, faço uma adaptação, faço uma análise de risco para ver realmente em que estado está a obra, quanto mais tempo dura e se vale a pena mexer. Mas, para isso, são realmente necessários engenheiros civis.

    E como pode ser combatida esta situação?
    Convencendo as pessoas de que vale a pena irem para Engenharia e as empresas que têm de fazer coisas em condições, que têm de haver responsabilidades, que têm de pensar que, se pagarem capazmente às pessoas, o retorno é muito superior porque, se não estiver interessado no seu trabalho, qual é o seu retorno?

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    Pedro Cristino

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    Savills e DLA Piper lançam ‘Guia de Investimento Imobiliário’ para o mercado nacional

    Trata-se uma ferramenta que tem como objectivo “apoiar os investidores nacionais e internacionais no seu processo de tomada de decisão relativamente ao mercado imobiliário nacional”

    A Savills e a sociedade de advogados DLA Piper lançaram a primeira edição do ‘Guia de Investimento Imobiliário’, uma ferramenta que tem como objectivo “apoiar os investidores nacionais e internacionais no seu processo de tomada de decisão relativamente ao mercado imobiliário nacional”.

    Através da disponibilização de uma visão geral do mercado assim como do enquadramento jurídico actual, esta ferramenta oferece aos investidores um “panorama actual do País” tendo em conta as oportunidades de investimento existentes.

    Este Guia de Investimento Imobiliário compila informação relevante, que se distribui em quatro diferentes tópicos. Primeiramente, o “Real Estate Market Overview”, onde é apresentada uma análise do mercado imobiliário nacional a par das principais tendências para este ano que fazem do país um caso único de investimento, o “The Legal Perspective”, um tópico que destaca temas como leasing, planeamento e licenciamento, financiamento e enquadramento fiscal, a “Sustainability as a Driven Force”, que coloca a sustentabilidade enquanto força motriz para a inovação na economia que oferece inúmeras oportunidades para uma transição verde. Por fim, o “Green Leases”, um capítulo que apresenta a importância das designadas cláusulas verdes no sector imobiliário, que se asseguram que os imóveis são construídos e utilizados de forma sustentável.

    “O actual panorama nacional mostra-nos que Portugal continua a figurar no topo dos destinos de eleição por parte dos investidores internacionais que, ao longo dos anos, têm vindo a reconhecer a existência de sólidos fundamentos de mercado no país”, destaca Paulo Silva, head of Country da Savills Portugal.

    Este trabalho conjunto com  a sociedade de advogados DLA Piper, permite-nos oferecer uma ferramenta completa e integrada que visa apoiar os processos de tomada de decisão dos investidores e particulares, reafirmando em simultâneo, Portugal enquanto um dos melhores destinos para viver, trabalhar e investir”.

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    Dom Pedro Old Course Golf Club

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    Dom Pedro Golf Vilamoura conquista prémio ‘Resort de Golfe do Ano’

    Este é o primeiro galardão recebido desde que a Details – Hospitality, Sports, Leisure assumiu a gestão do Dom Pedro Golf em Vilamoura e que reconhece o trabalho que a empresa tem desenvolvido em todo o portfólio de Golfe e Hotéis Dom Pedro em Vilamoura desde a sua aquisição pela Arrow Global Group no ano passado

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    O Dom Pedro Golf Vilamoura ganhou o prémio de Golf Resort do Ano em Portugal nos prémios International Association of Golf Travel Operators (IAGTO) 2024.

    Este é o primeiro galardão recebido desde que a Details – Hospitality, Sports, Leisure assumiu a gestão do Dom Pedro Golf em Vilamoura e que reconhece o trabalho que a empresa tem desenvolvido em todo o portfólio de Golfe e Hotéis Dom Pedro em Vilamoura desde a sua aquisição pela Arrow Global Group no ano passado.

    Um total de 660 operadores turísticos de golfe em todo o mundo votaram nos melhores campos de golfe, resorts e destinos que oferecem um serviço excepcional aos seus clientes, com o resort do Algarve a destacar-se no panorama internacional.

    Actualmente, estão em curso desenvolvimentos “significativos” em todo o portfólio Dom Pedro em Vilamoura, procurando assim confirmar-se a posição deste destino como um dos melhores resorts de golfe da Europa.

    Desenhado por Frank Pennink, o Old Course, que é o segundo mais antigo de Portugal, está neste momento a sofrer mudanças significativas numa tentativa de atrair golfistas para este destino de golfe único.  Oferecendo aos hóspedes fácil acesso a múltiplas instalações de golfe num raio de 4 km entre si, o resort possui ainda os campos Laguna, Millennium, Pinhal e Victoria, sendo que este último, que recebeu o Portugal Masters do European Tour entre 2007 e 2022, está actualmente fechado para renovação e reabrirá em 2025.

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    Preços no mercado residencial de luxo tem crescimento médio de 4.1%

    De acordo com o Knight Frank Prime Global Cities Index, que analisou um total de 44 mercados, Lisboa incluída, esta é a taxa de crescimento mais forte desde o terceiro trimestre de 2022

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    O crescimento médio anual dos preços da habitação no segmento de luxo aumentou 4,1% nos 12 meses até Março de 2024, um valor acima do aumento de 3,2% registado no último trimestre de 2023. De acordo com o Knight Frank Prime Global Cities Index, que analisou um total de 44 mercados, Lisboa incluída, esta é a taxa de crescimento mais forte desde o terceiro trimestre de 2022.

    Numa base trimestral, o crescimento dos preços também mostrou sinais de fortalecimento, com um aumento de 1,1% no primeiro trimestre de 2024, acima do crescimento de 0,3% no último trimestre do ano passado.

    Considerando os 44 mercados analisados a propósito deste relatório, a equipa de research da Knight Frank destaca que 78% estão a registar um crescimento anual dos preços, enquanto 19% assinalam descidas. Assim, o ritmo de descida de preços abrandou: se há um ano, no primeiro trimestre de 2023, nove mercados registavam quedas anuais de preços de mais de 5%, no primeiro trimestre deste ano apenas um mercado, Frankfurt, mostra um comportamento semelhante (-6,9%).

    No top da tabela, que tem em conta os 44 mercados já mencionados, está Manila, com 26,2% de crescimento anual. Segue-se Tóquio com 12,5% e Mumbai com 11,5% na segunda e terceira posição, respetivamente. A completar o top 5: Perth (11,1%) e Deli (10,5%).  As cidades indianas estão com um forte crescimento, com os dados do relatório a confirmarem também a resiliência dos principais mercados australianos.

    A capital portuguesa figura na 28ª posição dos 44 mercados analisados pela Knight Frank através do seu Prime Global Cities Index. Lisboa regista um crescimento anual de 1,8%, de 0,9% a seis meses e de 0,4% a três meses, à frente de cidades como Paris, Viena, Genebra, Londres ou o principado do Mónaco.

    Francisco Quintela, CEO da Quintela e Penalva, parceira em Portugal da Knight Frank, desde 2021, afirma que “estes dados mostram que o mercado nacional tem sido muito resiliente e continua a estar na mira dos investidores internacionais, o que é muito positivo para o setor e para a dinâmica da economia nacional”.

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    AEP e ACP apelam para que Aeroporto Francisco Sá Carneiro não fique esquecido

    Em comunicado conjunto as duas associações “congratulam a decisão do Governo” sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, mas apelam para a realização de obras de ampliação e melhoramento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro

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    A Associação Empresarial de Portugal e a Associação Comercial do Porto consideram que as infraestruturas de conectividade com o exterior, como os aeroportos, as ligações ferroviárias e rodoferroviárias, assumem um papel fundamental para o processo de internacionalização da economia portuguesa (por forma a atingir a meta da intensidade exportadora para, pelo menos, 60% do PIB até 2030, aproximando Portugal de países europeus de dimensão semelhante) e, consequentemente, para o crescimento e desenvolvimento económico do país.

    As duas associações congratulam o Governo português pela decisão de avançar com uma solução para ultrapassar os constrangimentos da infraestrutura aeroportuária da capital, mas apelam ao Governo “para não ignorar a importância estratégica que o Aeroporto Francisco Sá Carneiro tem para o país, servindo em particular as regiões portuguesas mais industrializadas, fortemente exportadoras e que geram excedentes na sua balança comercial, bem como a euro-região do Norte de Portugal e Galiza”.

    Em comunicado conjunto, a AEP e a ACP defendem que “o Governo deve reavaliar, em termos estratégicos, o importante papel do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, que tem ainda um potencial de crescimento por custos mínimos, e avançar de imediato com os investimentos que, por diversas vezes, a AEP e a ACP sinalizaram, juntamente com outras entidades, públicas e privadas, nomeadamente no âmbito do Grupo de Trabalho para a Conectividade Aérea da Região Norte”.

    “O investimento em obras de ajustamento necessário, ampliação e melhoramento desta importante infraestrutura aeroportuária, que é o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, é fundamental, por forma a desempenhar um papel mais relevante nas ligações de Portugal com o mundo.

    Este é um investimento claramente reprodutivo e multiplicador do crescimento económico, assumindo um caráter ainda mais premente e de complementaridade, ao permitir aumentar a capacidade de resposta do país durante o período de construção do novo aeroporto, que o Aeroporto Humberto Delgado não permite assegurar, tendo em conta a saturação da sua capacidade de resposta à crescente procura.”

    Assim, “para a AEP e a ACP, está na altura de se avançar com uma reavaliação do potencial de complementaridade do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, tendo em conta a sua disponibilidade, com alguns ajustamentos já equacionados e projectados”.

     

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    NBS Summit com descarbonização do sector imobiliário na agenda

    O tema servirá de mote à intervenção de Francisco Rocha Antunes, presidente da gestora de cooperativas de habitação, MOME, que irá abordar nature-based solutions no modelo cooperativo

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    A MOME, a empresa gestora de cooperativas de habitação vai marcar presença na NBS Summit para dar a conhecer a importância da descarbonização do sector imobiliário. O evento, que decorre nos dias 23 e 24 de maio, na Super Bock Arena, no Porto, irá reunir especialistas, investigadores e profissionais de diversos sectores com o objectivo de debater o papel das nature-based solutions (soluções baseadas na natureza) no desenvolvimento urbano sustentável.
    Francisco Rocha Antunes, fundador e presidente da MOME participa no painel “Building Sustainable Cities”. O especialista dará a conhecer a gestora profissional de cooperativas de habitação, assim como os eixos de sustentabilidade, intrinsecamente ligados aos projectos da empresa.

    Francisco Rocha Antunes

    Actualmente, a MOME conta com dois empreendimentos de habitação de carácter cooperativo, Pedras.coop, em Lavadores, Vila Nova de Gaia, e o Hera.coop, no Carvalhido, Porto, que representam um investimento cooperativo conjunto de cerca de 40 milhões de euros. Num horizonte de cinco anos, a MOME pretende construir cerca de 1.500 novas casas, dinamizando entre quatro e cinco novas cooperativas por ano a partir de 2024, num total de investimento cooperativo de 700 milhões de euros.

    A sustentabilidade assume um estatuto imperativo nos projectos da MOME, os quais privilegiam a utilização de métodos modernos de construção, como a construção off-site e o uso de materiais sustentáveis, e a implementação de práticas e princípios ESG em todas as fases do processo. Na sua intervenção Francisco Rocha Antunes abordará o modelo cooperativo e a construção sustentável de habitação a preço de custo. O foco estará na implementação de nature based solutions (soluções com base na natureza) capaz de materializar benefícios na eficiência dos imóveis e no bem-estar da comunidade a quem servem, gerando um impacto positivo na comunidade e no planeta.

    A MOME é membro do Urban Land Institute Portugal, do BCSD, Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável, e subscreveu o Pacto do Porto para o Clima. É igualmente membro da ANCV (Associação Nacional das Coberturas Verdes) e da APEE (Associação Portuguesa de Ética Empresarial).

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    Nova loja do Lidl recupera antiga gare rodoviária

    Com um investimento de 14 milhões de euros, a nova loja foi implementada na antiga gare rodoviária, datada de 1970, que se encontrava em avançado estado de degradação

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    No seguimento do investimento que tem vindo a fazer na cidade de Lisboa, onde muito recentemente abriu uma loja no estádio do Restelo, o Lidl inaugurou esta quinta-feira, dia 16 de Maio, uma nova loja na Avenida Casal Ribeiro, na zona do Saldanha, sob um conceito de maior proximidade. Com um investimento de 14 milhões de euros, esta é a 17ª loja na cidade de Lisboa.

    A nova loja foi implementada na antiga gare rodoviária, datada de 1970, que se encontrava em avançado estado de degradação, a loja respeita as características urbanas do bairro e a preocupação foi levada ao detalhe no sentido de reduzir ao mínimo o impacto no funcionamento na zona.

    De acordo com Pedro Almeida, director geral da Regional Centro do Lidl Portugal, “Esta é a segunda loja que o Lidl abre em Lisboa em menos de um mês, reabilitando espaços que outrora estavam degradados ou inutilizados”.

    Com uma área de quase 1200 metros quadrados (m2), a loja apresenta um design arquitectónico funcional, com três pisos de estacionamento, para 123 lugares, e dois pisos acima do solo completamente modernizados, com áreas amplas.

    Permitindo poupança de tempo, disponibiliza ainda, para além das caixas convencionais, seis caixas com sistema self-checkout, de pagamento rápido, para os clientes que preferem esta opção.

    Reforçando o compromisso da empresa com a sustentabilidade, a loja está equipada com iluminação LED e painel fotovoltaico, e no parque de estacionamento disponibiliza dois postos de carregamento de viaturas eléctricas.

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    ‘Meet Up’ Lisboa

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    Zome organiza debate sobre manutenção de talento nas empresas no âmbito da 2ª Meet Up Zome

    Iniciativa decorre no âmbito do segundo ciclo de conferências ‘Meet Up Zome, que já passou por Lisboa, e chega agora a Braga, para depois passar pelo Porto, Coimbra e Albufeira

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    A Zome prepara-se para realizar o seu segundo “Meet Up”, parte de um ciclo de conferências com o mesmo nome, de forma a celebrar o quinto aniversário da marca. Agendado para 22 de Maio, em Braga, sob o título “Mimar, Apreciar e Cuidar, o evento irá decorrer no Auditório do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA). A manutenção do talento no centro das organizações”, este encontro pretende reflectir sobre “as soluções que as empresas devem adoptar para captar e manter talento, num mercado de trabalho cada vez mais competitivo”.

    A compor o painel de oradores estarão Sofia Manso, CEO da Academia da Felicidade e Rosana Barros, coordenadora de Voluntariado da Cruz Vermelha Portuguesa e André Vieira de Castro, CEO da Fábrica de Chocolates Not Guilty, especialistas com percursos distintos, que partilharão as suas visões sobre modelos de recrutamento e as melhores soluções para reter e premiar o talento interno, enquanto analisam o panorama actual do sector de recursos humanos. A moderação estará a cargo de Ana Fernandes, chief financial officer da Zome.

    Carlos Santos, CEO da Zome, sublinha que “esta conferência é de particular relevância, pois as pessoas são o elemento central da Zome e o desenvolvimento do seu talento é um factor crítico para o nosso sucesso”.

    O ciclo de “Meet Ups” vai percorrer o País ao longo dos próximos meses, debatendo uma variedade de temas relevantes para o sector.

    A 26 de Junho, o Porto recebe o tema “Ser um líder é como andar de bicicleta ou reaprendemos a sê-lo, todos os dias?”. Depois, a 23 de Outubro, em Coimbra o debate incide na “Tecnologia de A a Z: o que nos traz o futuro, agora?” e o último deste ciclo está agendado para 13 de Novembro, em Albufeira, com o tema “Empreendedorismo: Mais do que um desígnio, uma mentalidade necessária”.

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    Luísa Matos assume liderança da Cleanwatts

    Co-fundadora e, até agora chief innovation and product officer da climate tech de Coimbra, Luísa Matos é a nova CEO da Cleanwatts

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    Luísa Matos é a nova CEO da Cleanwatts, empresa climate tech de Coimbra, pioneira na implementação e gestão de Comunidades de Energia Renovável em Portugal. Co-fundadora da Cleanwatts e, até agora, chief innovation and product officer da empresa, Luísa Matos tem trabalhado activamente na transformação verde e digital para desenvolver e fornecer soluções de ponta para um sector de energia mais descarbonizado, descentralizado, digitalizado e democratizado.

    “É com enorme prazer que aceito esta missão para, em conjunto com a nossa equipa de mais de 80 profissionais distribuídos por diferentes geografias, responder aos desafios relacionados com a energia, de forma local e através de tecnologia digital avançada”, afirma. “Através da nossa experiência e tecnologia proprietária, que é um dos factores que nos diferencia no mercado, procuramos criar valor económico sustentável e ter um impacto positivo na sociedade. Enquanto pioneiros na implementação e gestão de Comunidades de Energia Renovável em Portugal, estamos cientes dos desafios deste modelo, como é o caso da integração na rede eléctrica e a importância das baterias, o seu financiamento e a participação de mais pessoas que possam usufruir de energia limpa e mais barata”, nota a nova responsável.

    Com mais de 15 anos de experiência, Luísa Matos foi responsável pela gestão de mais de 65 projectos de inovação, investigação e desenvolvimento de produto, entregando soluções para Virtual Power Plants (VPPs), cidades inteligentes e eHealth. Assessorou e avaliou muitos projectos de inovação disruptiva, inclusivamente para a Comissão Europeia.

    Formada em Economia, com mestrado e MBA em Gestão da Inovação, tendo ainda frequentado uma pós-graduação em Estratégia e Inovação na Saïd Business School, na Universidade de Oxford, Luísa Matos está a concluir o doutoramento em Estratégia e Marketing, com trabalhos de investigação sobre mercados locais de energia. Tem investigação publicada na área dos modelos de negócios dos mercados locais de energia e liderou o desenvolvimento de produtos para Comunidades de Energia Renovável.

    Nova sede em Coimbra
    Além da nomeação de Luísa Matos como nova CEO, a Cleanwatts muda em Maio a sede para a Incubadora do Instituto Pedro Nunes (IPN), em Coimbra, instituição privada sem fins lucrativos, que visa promover a inovação e a transferência de tecnologia, estabelecendo a ligação entre o meio científico e tecnológico e o tecido produtivo.
    A incubadora do IPN é um espaço privilegiado de apoio ao empreendedorismo e à inovação, que visa ajudar startups e empresas em fase de crescimento a desenvolver os seus negócios de maneira mais rápida e eficiente.

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    APIMA Internacionaliza “Portugal Home Week” para a Coreia do Sul

    Em 2023, as exportações do cluster do mobiliário e afins cresceram 10%, atingindo o melhor resultado de sempre, superando a fasquia dos dois mil milhões de euros em vendas ao exterior. Os números traduzem uma estratégia de aposta na qualidade e no design da indústria portuguesa e de conquista de mercados exteriores. A Europa ainda concentra o grosso das vendas, mas a indústria pisca os olhos aos EUA e à Ásia. Em entrevista ao CONSTRUIR Gualter Morgado, director executivo da APIMA fala sobre o percurso do sector e as apostas que foram sendo feitas 

    A indústria portuguesa do mobiliário e afins vai bem e recomenda-se. A aposta na qualidade e no design português tem conquistado mercados e colocado as marcas portugueses em concorrência directa com as principais marcas europeias. “Os italianos levam-nos um avanço de mais de 30 anos, mas nós não vamos precisar de 30 anos para estar ao lado deles, certamente, porque estamos a evoluir muito mais rapidamente. O caminho está a ser feito”, considera Gualter Morgado, director executivo da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA). Com 90% das vendas concentradas no mercado exterior, a indústria pauta-se por estar presente nas principais feiras internacionais, que ainda são o principal veículo de entrada em novos mercados. Para além das marcas, a APIMA prepara-se para internacionalizar o conceito “Portugal Home Week”. Já com três edições, o evento internacional, exclusivo para profissionais e abrangendo todas as indústrias de mobiliário e afins ligadas à Fileira Casa Portuguesa, irá realizar-se na Coreia do Sul em 2025

    As vendas da indústria do mobiliário portuguesa voltaram a bater recordes em 2023. Foi assim?

    Em 2023 atingimos os 2,2 mil milhões de euros de exportações, valor que foi, até ao momento, um recorde absoluto, com um crescimento de 10% relativamente ao ano anterior. Sendo que corresponde praticamente ao mesmo crescimento registado no, até agora, melhor ano de sempre, que foi em 2019, pré-pandemia. Além de uma recuperação, foi uma superação relativamente aos números anteriores.

    Este crescimento foi em linha em todos os mercados?

    Não. Houve mercados que tiveram um crescimento adicional. Por exemplo, o mercado francês, que atravessa uma recessão, mesmo assim, crescemos quase 8%. No mercado espanhol, que atravessa também um período conturbado, crescemos 14% e na Alemanha, tivemos um crescimento extraordinário de 26%, sendo o nosso terceiro melhor mercado.

    O que ditou este crescimento?

    Diferentes razões. Por exemplo, França vai receber este ano os Jogos Olímpicos, o que fez com que a quebra do mercado doméstico fosse compensada, em parte, com o crescimento dos contratos para o sector da hotelaria e restauração, que aproveitando o evento, entrou numa onda de renovações e remodelações. Mas é verdade estamos em contraciclo em alguns mercados que vivem algumas dificuldades económicas. Contudo, não vendemos um produto de baixa qualidade, mas sim de média e alta qualidade e, como tal, quem compra o nosso produto são pessoas com poder de compra e, por isso, menos afectadas pela crise.

    Por outro lado, o facto de se baixarem os volumes de encomendas, alguns mercados internacionais deixam de ser competitivos e a procura é canalizada para mercados onde é possível encomendar séries mais pequenas, como é o caso do mercado nacional.

    No geral diria que, tirando o mercado norte americano, continua a haver uma concentração muito grande das vendas do sector na Europa, e esse facto deve-se à qualidade do nosso produto e ao

    desenvolvimento das marcas portuguesas. O “made in Portugal”, gera um valor acrescentado que, antes, não tínhamos. Até há seis ou sete anos atrás o “made in Portugal” tirava valor, neste momento acrescenta valor.

    Este crescimento no volume de negócio tem sido acompanhado pelo surgimento de novas empresas, novos players? Ou pelo reforço das marcas já existentes?

    Temos as várias situações. Temo micro e pequenas empresas com projectos novos que se estão a lançar com ideias originais, com muito trabalho ligado ao design, por um lado, e outras empresas muito ligadas ao aproveitamento das artes tradicionais portuguesas que, devido àquilo que temos de exclusivo e único enquanto país, são integrados no mobiliário. Como por exemplo, técnicas do azulejo ou técnicas de vidro, ou seja, vários componentes. Também o têxtil, onde somos fortes há muitos anos, começa a ter esta integração principalmente na área do estofo. O estofo tem crescido de uma forma extraordinária ao longo dos anos, acompanhando as alterações na forma como vivemos e o que privilegiamos nas nossas casas. E a indústria tem que se adaptar àquilo que as pessoas necessitam e àquilo que elas procuram.

    Este tecido empresarial é composto por quantas empresas?

    Nós estamos a falar, no mobiliário são cerca de 1800 empresas, desde a mais pequenina às maiores. Grandes empresas só temos 5 empresas, mas voltando um bocadinho atrás, este crescimento tem a ver com as novas empresas, que mal contam para os números, mas aquilo que está a acontecer é que as pequenas empresas estão a passar a médias, e algumas médias caminham para se tornarem grandes. Mas este é um caminho que tem vindo a ser percorrido nas últimas décadas. Nos últimos 12 anos, duplicamos as exportações do sector. Isso é efectivo!

    A mobilidade do tecido empresarial português

    Voltando aos mercados. França lidera o ranking?

    A França, a seguida da Espanha e da Alemanha. Mas Alemanha, os Estados Unidos e o Reino Unido vão trocando posições segundo a conjuntura de cada ano. O sistema de compras da Alemanha é feito por centrais de compras. Ora, se as centrais de compras se viram para um mercado nacional, naquele ano temos um boom, mas no ano a seguir podemos cair consideravelmente. Ou seja, estas variações de 15% a 20% para cima e para baixo, acontecem. O que significa que temos de ter uma capacidade extraordinária para estar em diferentes mercados, para quando quebra num lado, compensarmos imediatamente no outro.

    E tudo isto tem acontecido num período em que houve guerra em mercados que eram importantes para as empresas portuguesas: o mercado russo e o mercado ucraniano ficaram indisponíveis para podermos continuar a vender, o que obrigou as empresas a reagir e reinventar. Temos agora uma situação no Médio Oriente, que obrigou a que as empresas que tinham uma grande aposta naquela área geográfica se tivessem que adaptar rapidamente.

    O tamanho aí é uma vantagem?

    O facto do nosso tecido empresarial ser constituído fundamentalmente por PME facilita esta nossa mobilidade, somos mais adaptáveis, conseguimos responder rapidamente às crises e isto tem demonstrado um nível extraordinária de resiliência da nossa indústria. Repare que apenas há uns anos o mercado angolano era quase o nosso primeiro mercado. Agora desapareceu. Perdemos o mercado angolano, surge agora no oitavo lugar das nossas exportações, mas houve anos em que nem aparecia no top 10. E claro, teve que haver essa adaptação e investimento noutras áreas. Só que o mundo está a mudar tão rapidamente… e a esta conjuntura acrescem ainda as restrições de acesso a mercados, como o da América do Sul…

    Na América Sul estamos a falar de que mercados? Brasil?

    O Brasil, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Chile, são mercados em que as taxas à entrada mais que duplicam o valor do produto, o que torna muito difícil a entrada do produto português

    Como é que abordam estes mercados então?

    Via Miami. Porque Miami é a cidade mais latina dos Estados Unidos. É onde estão quase todas as grandes famílias, ou as famílias com grandes posses que acabam por ter uma casa de férias ou onde têm uma residência temporária. E acabam por comprar lá. E depois, a partir daí, já não é uma exportação nossa.

    O mercado americano tem despertado o interesse das empresas, apesar de ser conhecido como um mercado de difícil acesso. Este é um dos argumentos?

    Na nossa abordagem olhamos para cada cidade, cada estado, como olhamos para um país diferente.

    O gosto de Nova York não é o gosto de Miami. O gosto de Miami ou de Nova York não é o mesmo de Boston, ou de Chicago, ou de Los Angeles. Cada uma destas cidades tem praticamente a dimensão do nosso mercado nacional. E com o poder de compra muito mais elevado.

    O que o torna atractivo, apesar das dificuldades…

    Se fosse fácil já lá estávamos todos. Agora, tem sido um mercado com um grande crescimento. É o primeiro mercado mundial em termos de destino. Toda a gente lá quer estar. Mas também é um mercado maduro e é preciso tempo. Enquanto na Europa somos portugueses, enquanto na Ásia somos portugueses, nos Estados Unidos somos europeus. Só agora nos estão a descobrir, muito fruto também do aumento do turismo. Mas o nosso trabalho tem de ser feito cidade a cidade, estado a estado. Já temos algumas empresas com presença directa e outras que, inclusive, já estão a expandir a sua presença.

    Falou da instabilidade dos mercados. De que forma essa instabilidade afecta as perspectivas do negócio para 2024?

    O mercado já tem estado instável há algum tempo, a única questão é que de um momento para o outro andamos aqui com instabilidades contínuas ainda não terminou uma e já estamos com outra questão. O que adicionalmente cria condicionantes nos transportes internacionais. Os transportes ficam mais caros e condiciona a nossa presença principalmente nos mercados asiáticos, mas, por outro lado, também torna o produto que vem de lá menos competitivo, o que é uma vantagem para nós.

    É um sector sustentável?

    Somos um sector que teve um cuidado extraordinário nos últimos anos em ser um sector não poluente. Há um estudo europeu que foi encomendado também pela Direcção-Geral do Ambiente, pensando que o nosso sector era um sector muito poluente, mas que revelou afinal que o sector do mobiliário em Portugal não só é um dos menos poluentes, como tem a maior taxa de aproveitamento dos recursos que utiliza, onde a taxa de desperdício é inferior a 7%. É a menor taxa de desperdício da Europa dentro da indústria imobiliária.

    Agora, acontece outra coisa, é que a legislação europeia trata todos por igual, os bons e os maus, e o que acontece é que por culpa dos maus criam-se legislações que são autênticas aberrações.

    Uma delas, estamos agora, mais uma vez, a prestar a informação aos nossos associados, que tem a ver com a origem da madeira. Só usamos madeira certificada e controlada, só que a comunidade europeia agora quer uma georreferenciação da madeira, ou seja, querem saber de onde é que vem cada tábua, onde é que ela nasceu, onde é que ela foi cortada. O problema é que essa georreferenciação é uma carga burocrática muito grande, que alguns fornecedores poderão não estar dispostos a fazer, e depois deixam de nos vender a nós e vão vender aos países asiáticos e a outros mercados que não têm este nível de exigência.  Quando exportamos para esses países, ou estamos num segmento de luxo, ou estamos num segmento de reconhecimento de marca, ou de design, ou então dificilmente conseguimos concorrer porque não estamos a concorrer em pé de igualdade.

    “Nenhuma feira se pode fazer uma vez isoladamente”

    Terminámos agora um ciclo de feiras, França, Espanha e Itália. Qual é a importância desta presença internacional? O que podemos esperar até ao final do ano?

    Começámos em Janeiro com a Maison&Objet, levámos 50 empresas e correu muito bem, melhor que as expectativas. Depois estivemos em Espanha e Itália, em Abril com 40 marcas nacionais na feira de referência Salone del Mobile, em Milão, onde em termos de área devemos ser ou a segunda ou a terceira nacionalidade. Já em Maio vamos estar ICFF [The International Contemporary Furniture Fair] em Nova Iorque. Uma feira muito focada naquela região apesar de contar com visitantes também da Flórida e do Canadá. E depois a partir de Setembro vamos ter uma série de feiras: as segundas edições da Maison&Objet, em Paris, e da Intergift, em Madrid. Estaremos também numa feira dirigida para o sector da hotelaria em Miami. Depois em Outubro vamos a Singapura, no regresso à Ásia com uma feira na que é considerada um dos principais hubs para a Ásia. E esta feira tem a curiosidade de ser organizada por italianos que nos convidaram a estar com eles e que contará com as principais marcas internacionais. Então vamos estar neste posicionamento.

    Em Novembro temos um certame no Dubai, de nicho, de alta decoração, onde são as principais marcas internacionais. E terminamos o ano novamente em Paris com a Equiphotel, que é a principal feira a nível europeu da área de hotelaria.

    Este roteiro de feiras é pensado para cada ano?

    Nenhuma feira se pode fazer uma vez isoladamente. Temos que ter uma estratégia no mínimo de três anos consecutivos num determinado mercado. Depois temos as feiras plataforma, o caso da Maison&objet, o Salão de Milão, ou mesmo o Dubai, que servem também a abordagem e os contactos para outros mercados. Tal como Miami é influência para outros países da América do Sul e Singapura para os mercados da Malásia, de Tailândia, ou Vietnam.

    Que novidades se perspectivam neste domínio?

    O próximo ano vamos começar o ano em Fevereiro com a Coreia do Sul. Onde teremos uma presença muito forte. Vamos internacionalizar o conceito Portugal Home Week, que este não se realiza exactamente para concentrar estas fichas de investimento na internacionalização do evento e fazê-lo fora de portas.

    Como surgiu esta oportunidade?

    Houve um convite que nos deu imensas condições para que o evento pudesse ser feito lá. Então vamos internacionalizar, vamos levar lá as empresas e não só. Vamos levar também decoradores, arquitectos de interiores, porque eles querem saber como é que fazemos a decoração, como é que pensamos a casa, porque o coreano não tinha este conceito de casa. Devido às dificuldades de habitação várias famílias viviam em pequenos apartamentos, não se cozinhava em casa e come-se na rua. Ou seja, o conceito de vida deles era completamente diferente, só que o poder de compra foi aumentando e mudou os hábitos e a forma de viver, sobretudo nas cidades.

     

     

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Imobiliário

    Há mais de 1000 hotéis à venda em Portugal

    Entre Janeiro e Março estavam à venda em Portugal 1038 unidades hoteleiras. Número que representa um crescimento de 31% face ao período homólogo. As contas foram feitas pela plataforma imobiliária Casafari num estudo realizado sobre o mercado hoteleiro em Portugal  

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    O número de unidades hoteleiras disponíveis para venda e para arrendamento no mercado nacional cresceram nos primeiros três meses deste ano, face ao período homólogo (+31% e +48%, respectivamente). Os números são avançados pela plataforma imobiliária Casafari que analisou os dados disponíveis na plataforma, comparando o primeiro trimestre de 2024 a igual período do ano anterior, procurando avaliar o comportamento mais recente destes activos, tanto ao nível da venda como do arrendamento

    Na análise, Faro, Lisboa e Porto surgem como as regiões com maior número de hotéis, tanto para venda como para arrendamento.

    No que diz respeito ao preço por m2, o valor médio dos hotéis para venda em Portugal subiu +18%. Em sentido inverso, o valor médio por m2 para arrendamento registou uma quebra de -43%. Cascais destaca-se com o preço médio por m2 mais elevado do país de hotéis disponíveis, quer para venda quer para arrendamento.

    Sintra com maior crescimento no número de unidades disponíveis para venda

    Nos primeiros três meses de 2024 estavam à venda 1.038 hotéis em Portugal, um aumento de +31% face aos 791 registados no período homólogo. A nível regional, Faro, Porto e Lisboa apresentavam o maior número de unidades hoteleiras disponíveis para venda (289, 120 e 96, respectivamente). Em sentido contrário, existem várias regiões com apenas 1 unidade hoteleira disponível para venda, como Trofa, Penafiel, Paredes, entre outras.

    Sintra, Lourinhã e Matosinhos destacam-se como as regiões do país com as maiores subidas percentuais, com a oferta a septuplicar, por exemplo, em Sintra, enquanto Odivelas, Baião e Coimbra apresentavam variações negativas.

    O preço médio por m2 de hotéis para venda em Portugal ascendia a 3.319 euros no primeiro trimestre deste ano, uma subida de +18% face aos 2.818 euros registados em igual período do ano passado. A nível regional, Cascais, Sintra e Lisboa apresentam o preço médio por m2 mais elevado do país (7.213 euros, 6.995 euros e 6.175 euros, respectivamente). Em sentido inverso, Paredes, Amarante e Penafiel apresentavam os preços médios por m2 mais baixos no território nacional.

    A nível percentual, Lourinhã, Madeira e Guarda surgem com as maiores subidas. Já Marco de Canaveses, Castelo Branco e Beja apresentam variações negativas do preço médio por m2 no primeiro trimestre de 2024.

    Arrendamento: oferta cresce +48%, mas preço médio por m2 cai -43%

    Nos primeiros três meses de 2024 existiam 62 hotéis disponíveis para arrendamento, número que representa um aumento de +48% face aos 42 registados em igual período do ano passado.

    A nível regional, Lisboa, Faro e Porto apresentavam o maior número de unidades hoteleiras disponíveis para arrendar (18, 12 e 11, respectivamente). Em sentido inverso, Aveiro, Santarém, Viseu, Viana do Castelo, Beja, entre outras, apresentam apenas 1 unidade hoteleira disponível para arrendamento.

    Cascais, Porto e Lisboa evidenciam-se com as maiores subidas percentuais, enquanto Sintra, Matosinhos e Évora apresentavam variações negativas no primeiro trimestre de 2024.

    O preço médio por m2 de hotéis para arrendamento em Portugal ascendia a 24 euros no primeiro trimestre deste ano, uma quebra de -43% face aos 41 euros registados em igual período do ano passado.

    A nível regional, Cascais, Leiria e Oeiras são as regiões com o preço médio por m2 mais elevado do país (425 euros, 196 euros e 26 euros, respectivamente). Por outro lado, Bragança, Viseu e Aveiro apresentavam os preços médios por m2 mais baixos.

    A nível percentual, Vila Real, Setúbal e Coimbra registaram as maiores subidas. Mas Aveiro, Santarém e Leiria apresentavam variações negativas do preço médio por m2 no período em análise.

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