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    Engenharia

    “A engenharia portuguesa não está unida”

    Não haverá, na história da engenharia portuguesa, um profissional tão condecorado como Armando Rito. Aos 80 anos, o engenheiro que foi já distinguido a nível internacional com a Medalha Freyssinet e o Prix Albert-Caquot, entre outros, afirma que a engenharia nacional não está “unida” e que se encontra actualmente desprestigiada

    Pedro Cristino
    Engenharia

    “A engenharia portuguesa não está unida”

    Não haverá, na história da engenharia portuguesa, um profissional tão condecorado como Armando Rito. Aos 80 anos, o engenheiro que foi já distinguido a nível internacional com a Medalha Freyssinet e o Prix Albert-Caquot, entre outros, afirma que a engenharia nacional não está “unida” e que se encontra actualmente desprestigiada

    Pedro Cristino
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    Pedro Cristino
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    Não haverá, na história da engenharia portuguesa, um profissional tão condecorado como Armando Rito. Aos 80 anos, o engenheiro que foi já distinguido a nível internacional com a Medalha Freyssinet e o Prix Albert-Caquot, entre outros, afirma que a engenharia nacional não está “unida” e que se encontra actualmente desprestigiada. Em entrevista ao Construir, Rito atribui a queda do prestígio da engenharia ao critério do preço mais baixo nos concursos públicos e explica que um verdadeiro engenheiro “sente a engenharia” e é capaz de “ver a estrutura a funcionar no espaço”

    É, neste momento, o engenheiro português que mais distinções recebeu. Quais dessas distinções destaca?
    Há prémios referentes a obras, como o da Régua, da Vasco da Gama e o Secil, e há prémios que são essencialmente de carreira. Destes últimos, os mais importantes são o da FIP – que depois se transformou em FIB [Fédération Internationale du Beton] -, a Medalha Freyssinet e o Prix Álbert-Caquot. A Medalha Freyssinet é atribuída pelo Presidium da FIB, de quatro em quatro anos, apenas em congresso. A Medalha FIP/FIB é atribuída nos outros três anos, nos simpósios. Em 1998 recebi a medalha FIB, e foi a única atribuída a um português. São decisões do Presidium, composto por nove membros. Já a Medalha Freyssinet é o prémio mundial mais importante no campo das estruturas de betão e é atribuída sem concurso. É uma escolha de um núcleo muito restrito de pessoas. Portanto, para mim, as mais importantes são a Medalha Freyssinet e o Prix Álbert-Caquot, cuja atribuição alterna entre um engenheiro francês e um engenheiro estrangeiro cada ano.

    Para si estas são provas do reconhecimento da capacidade da engenharia portuguesa?
    Lá fora, sim. Aqui, infelizmente…

    Acha que não é reconhecido o seu valor dentro de portas?
    Os engenheiros portugueses têm uma característica que é uma séria falta de união. Não se juntam e não defendem a classe. Olhe os arquitectos: quando o Siza ou o Souto de Moura são galardoados no panorama internacional, isso prestigia a classe. Portanto, mesmo que não gostem uns dos outros, juntam-se, porque é importante. E, efectivamente, a engenharia portuguesa, que desde há muitos anos atrás fez coisas notáveis não está unida. Muitas vezes explicava – e continuo a explicar – aos meus colegas estrangeiros que quem está por trás da grande evolução da regulamentação das estruturas do betão é o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Nós estamos por trás disso tudo, fomos fundamentais: fizemos barragens, tínhamos uma tecnologia de barragens, tínhamos uma tecnologia de pontes que fazia inveja a qualquer país. E nunca explorámos isso.

    De que forma não foi explorado?
    Já fiz notar isso. A Embaixada Portuguesa em Maputo decidiu fazer uma exposição sobre a obra do arquitecto Souto de Moura, comissariada pelo adido cultural. Com que intenção? Essencialmente de promover a arquitectura portuguesa na África do Sul e na região. Podiam fazer uma exposição sobre a engenharia portuguesa, comissariada por um adido cultural. Mas veja lá se fizeram. Os arquitectos fizeram. Mexem-se. Sabem fazê-lo.

    Mas na sua opinião, essa desunião…
    Não é desunião, é “não-união”. Cada um trata da sua vida e não entendem que prestigiar uma pessoa, prestigia a profissão.

    E o país…
    E o país, também!

    Acha que o trabalho dos engenheiros ocorre nos bastidores?
    Não é nos bastidores. Quando eu ensinava e quando fazia conferências costumava dizer que as pessoas se esquecem de uma coisa simples: por trás de qualquer acto da sua vida, está um engenheiro. A engenharia está por trás de tudo. Um arquitecto, se quer fazer uma casa, precisa de um engenheiro. Um engenheiro, se quiser, faz uma casa.

    Essa noção de que há engenharia por trás de tudo não está inculcada na sociedade?
    Não é sentida porque os engenheiros não colocam a coisa clara. Enquanto que os arquitectos comunicam as suas obras, têm a atenção dos jornais, controlam o meio cultural, os engenheiros não. Estão quietinhos, cada um no seu cantinho.

    E como se poderia fazer sentir essa noção?
    Fazendo o mesmo que fazem os outros.

    Unirem-se e promoverem-se?
    Promoverem-se. Fundamentalmente, actualmente é preciso é fazer propaganda pura e simples.

    Tem já um percurso de carreira bastante longo, trabalhou com engenheiros de renome, como Edgar Cardoso…
    Aliás, foi com ele que fiz o meu estágio. Depois convidou-me e trabalhei com ele, mas foi um tempo relativamente curto. Éramos duas personalidades muito marcadas, mas demo-nos sempre muito bem. Ele queria que eu ensinasse mas eu sempre achei que a minha carreira era ser engenheiro e não professor.

    Tem algumas referências a nível de pessoas e de obras?
    Uma das minhas grandes referências é o engenheiro Freyssinet. Tenho também como referência o Edgar Cardoso, por aquilo que me transmitiu. Não conheci Freyssinet, mas li-o. As referências são as suas obras. A minha escola de engenharia, essencialmente – tirando a escola do Edgar Cardoso – é a escola francesa, na engenharia de pontes. É a noção de que, tal como dizia Freyssinet, a dedicação à profissão são 48 horas por dia, senão não se vai a parte alguma.

    Continua a achar que é assim, actualmente?
    É. Vou fazer agora 80 anos e estou aqui.

    Mas isso é uma questão de saúde…

    Mas há alguns cuja única coisa que os preocupa é quando se conseguem reformar. Depois vão para gestores, fazer aquilo que é o maior desastre que existe actualmente na sociedade, que é a folha Excel. Para esses, tudo se resume a uma folha de Excel e o resultado está à vista.

    É necessária vocação para se ser engenheiro?

    Sim. Quando comecei a carreira, cada engenheiro que fosse mesmo engenheiro tinha os seus segredos – certos cálculos e certas formas de resolver os problemas. Agora vai-se ao centro comercial, compra-se o computador, com o programa. Há um dito muito antigo que os americanos tinham sobre os computadores que é “junk in, junk out”.

    Entra e sai lixo?
    Se a pessoa, quando tem os resultados, acredita no “deus” computador e não sabe interpretar, depois sai asneira. Uma das críticas que o Edgar Cardoso me fazia era que eu usava computadores e eu disse-lhe que usava computadores porque me permitiam fazer as contas muito mais rapidamente. É só isso: permitem-me fazer coisas que antigamente só poderia fazer com análise experimental, com os modelos. Mas é uma ferramenta, não é deus, não é a verdade. E as pessoas acreditam no que a ferramenta lhes diz e não têm espírito crítico. Se forem necessárias pessoas que façam cálculos, vai-se ali à porta do Técnico e elas estão lá e sabem fazer cálculos que eu já nem faço ideia de como se fazem. Agora, engenheiros? Contam-se pelos dedos da mão.

    Mas o que necessitam de ter para serem engenheiros?
    É sentirem a engenharia, serem capazes de ver a estrutura a funcionar no espaço e olhe que nem toda a gente consegue ver uma obra no espaço. Quando quisemos fazer a Ponte de Vasco da Gama, havia aquela “fantasia” das certificações de qualidade e surgiu um inglês, que vinha ver se tínhamos a qualidade necessária e só se preocupava com o circuito dos papéis. E eu perguntei-lhe quem é que garantia a qualidade do meu trabalho. Respondeu-me que era com o chefe, com o verificador. Eu respondi-lhe que era ele o certificador de qualidade. Depois, quisemos fazer uma certificação de qualidade porque estava na moda e disseram-me que eu tinha de fazer um procedimento para a concepção. Respondi que o meu procedimento era o seguinte: levanto-me, vou tomar um duche e enquanto tomo o duche, penso na obra. Isto não é uma fábrica de salsichas. Numa fábrica de salsichas pode haver procedimento. Na concepção, é aquilo que me vem à cabeça. E é por isso que é gravíssimo aquilo que estão a fazer, que são os concursos de projecto.

    Porque é gravíssimo?
    No concurso de projecto, o Estado e os senhores do Tribunal de Contas dizem que a adjudicação será feita pela proposta mais favorável ao Estado, isto é, a de menor custo. E eu perguntei-lhes como avaliavam a qualidade do meu trabalho pelos meus honorários. Houve uma altura em que um secretário de Estado disse, relativamente à Ponte do Arade, em Portimão, ao director de pontes, que a minha proposta era muito cara. Eu respondi que se o senhor secretário de Estado pensava que levava um projecto por mil contos, estava completamente enganado. Leva é mil contos de projecto.

    E qual foi a resposta?
    Não tive porque não se pronunciou. E já agora explico-lhe: o que faço é seguir escrupulosamente as tabelas de honorários do Estado, que estavam bem pensadas. Depois entrou-se neste rateio de andar a fazer concursos. O professor Edgar Cardoso respondia que não ia a concursos de projecto e perguntava sempre: “se você tiver de fazer uma operação, vai contratar o médico mais barato ou o melhor que o seu bolso pode pagar?” E isto é a mesma coisa. O resultado é este. O contabilista – não digo gestor, porque não gere coisa nenhuma – quando pensa no projecto, pensa em honorários. E depois tem um mau projecto e tem custos brutais logo no início da obra que vai fazer, porque o projecto foi muito mal pensado. Chamo a isto não só ser contabilista, como ser estúpido e, ainda por cima, não ter cultura nenhuma, não saber escolher. E disse isto aos senhores do Tribunal de Contas, que acham que o que defende melhor os interesses do estado são os honorários mais baixos. Eu vou pôr dinheiro do meu bolso para fazer uma boa obra, ou para estar aí a encarar alternativas e a fazer estudos, mesmo admitindo que sou capaz de fazer um bom projecto?

    Isso pode ser uma questão que advém da falta de conhecimento técnico de quem decide…
    Está à espera que um gestor tenha conhecimento de quê? Sabe – e mal, provavelmente – trabalhar com a folha Excel, não tem cultura, não tem entendimento em mais nada.

    Faltará, porventura, o engenheiro nessa equação?
    Mas antigamente, quando a nossa engenharia foi grande, a Junta Autónoma de Estradas era dirigida por engenheiros e não por gestores nem economistas. E os engenheiros tomavam decisões. Que tivessem, agora que há gestores, um gestor para os aconselhar nas questões financeiras, tudo bem. Agora, entregar a Junta, entregar um hospital, etc, a um contabilista? Estão a gozar comigo e o resultado está bem à vista.

    Referiu que o engenheiro Edgar Cardoso não ia a concursos. Posso depreender que a questão dos preços baixos já é antiquíssima?
    Não. Isto começou já no fim dos anos 90, provavelmente. Não quer dizer que o ajuste directo seja sempre a solução, porque é evidente que permite o compadrio. Mas a transparência não é só não deixar haver concorrência, é também saber escolher na concorrência. Durante anos e anos, em quatro ou cinco concursos, respondia a um, em que ficava em último lugar porque levava as tabelas de honorários. Era só para marcar posição. Agora, meterem-me no mesmo saco – como me metiam muitas vezes – com os outros concorrentes, fazendo muitas vezes os concursos limitados com cinco, eu respondo que me estão a insultar. Se querem entregar a outros projectistas, entreguem, mas não façam de mim lebre, porque já sabiam que eu ia com o preço mais alto, mas tinham que respeitar a lei. A mania de que isso permite a transparência não é verdadeira, contudo, todas as leis podem ser dribladas. É a estupidez e a arrogância da pessoa ao pensar que, lá por ter um grau académico é capaz de fazer tudo. Não é, não tem o bom senso de perguntar a quem sabe, a alguém que explique que não é o preço mais baixo, mas sim quem oferece a melhor qualidade.

    Daí, a necessidade de pessoas com conhecimento na área junto dos decisores, ou como decisores?
    Mas quantos engenheiros estão no Governo? Eu dizia aos meus colegas, já no fim dos anos 90, princípio de 2000, que o que estava a acontecer era que os engenheiros passavam a maus gestores e os gestores a maus engenheiros.

    Os engenheiros não podem dar bons gestores?
    Podem. Eu tive muitos que estagiaram comigo. Sabe que isto de fazer engenharia é trabalhoso. Um arquitecto pode fazer os maiores disparates imagináveis, a obra pode ir para três ou quatro vezes o custo e ele é um “artista, que foi mudando de ideias”. Um engenheiro que faça uma asneira é responsável. Cai uma ponte e é uma chatice.

    A ideia do arquitecto enquanto artista já não é nova…
    Exacto. Faça a porcaria que fizer. Mas o problema que se coloca é o seguinte: a profissão de engenheiro é extremamente exigente, dá muito trabalho, é mal paga e, ainda por cima, envolve responsabilidades imensas. Portanto, não vale a pena. Ainda por cima, acabou por se desprestigiar.

    Ultimamente?
    Sim. Nos últimos anos, tem-se desprestigiado. Para já, não houve aquelas escandaleiras que fizeram da JAE, que era “tudo uma cambada de ladrões” e, ao fim e ao cabo, parece que ninguém foi preso, que eu saiba. Mas nesse caso, as razões políticas que estiveram por trás, não interessam. O resto, depois, foi o que se viu e, infelizmente, a engenharia não se defendeu capazmente. Depois, houve as questões de Entre os Rios, quando caiu a ponte. Quem é que queriam condenar? Os engenheiros. Viu algum condenado? Não viu. Foram os engenheiros que foram tirar a areia? Não. O que andavam os políticos a fazer? Eu fui entrevistado na altura e disse o que tinha a dizer. Depois houve ainda todo este disparate de não se programar capazmente o desenvolvimento do país, de sermos comandados pela banca, que quer fazer o dinheiro de imediato. E, a seguir, em vez de termos o trabalho escalonado e pensado, fizemos trabalho excessivo, obras inúteis, espatifámos o dinheiro todo e, de repente, fechámos a loja, e a engenharia portuguesa desmantelou-se.

    Ou foi lá para fora…
    Ou foi lá para fora, sim, mas vai lá para fora, não vai fazer engenharia. Vai ser empregado. Tive vários engenheiros que trabalhavam comigo e foram lá para fora, mas são funcionários. Não foram para lá ser autónomos, nem fazer, eles próprios, engenharia.

    E, em Portugal, não há muitas empresas de engenharia com dimensão?
    Não há e as que havia com grande dimensão, foram vendidas. A COBA foi vendida aos angolanos, a Cenor foi vendida à TPF… As empresas pequenas, a maior parte fechou e algumas vão sobrevivendo. O desprestígio e as dificuldades que se atravessam levaram a que haja pouca gente a matricular-se em engenharia civil e isso vai ter consequências graves para o país porque, quando precisámos deles, não temos.

    É um reflexo do desprestígio da classe?
    É também. É mal paga, desprestigiada, sujeita a um mercado de trabalho miserável, que procura, com as dificuldades, pagar mal e exigir responsabilidades. Chegámos a um ponto em que uma actividade que tinha as capacidades que teve está neste estado. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil [LNEC] luta com falta de apoio. Eu acho espantoso que se considere, num Governo, seja ele qual for, que um laboratório de engenharia, em vez de ser avaliado pelo que produz, é avaliado pelo que gasta e talvez tivesse até de dar lucro. Não é para dar lucro, assim como um hospital. Mas, na realidade, começa-se a querer empurrar para lá. Nos tempos do Manuel Rocha e do Ferry Borges, o LNEC desenvolveu trabalho de investigação para tudo quanto era sítio, tinha um prestígio mundial notável e não tinha o Estado a regatear-lhe a verba, porque a gastava onde devia gastar. Sabe o que acontece nos tempos que correm? As pessoas têm um salário, e para trabalharem têm que lhes pagar mais. Têm que lhes pagar os incentivos, aquelas habilidades contabilísticas que dão lucros onde os prejuízos são perfeitamente alucinantes, que é para, depois, ter a minha comissão porque fui um bom gestor.

    Isso é um mundo de banca?
    Infelizmente não é banca. O que vê agora nas empresas públicas? Não é isso? As pessoas a receberem porque têm lucros, quando nós sabemos que a empresa está endividada em milhares de milhões? E, a seguir arranjam um lucro de 70 ou 80 milhões e, no fim, então, o gestor foi um belíssimo gestor e recebe uma comissão. Sou pago porque tenho emprego e, depois, recebo por cima para trabalhar.

    Regressando ao tema dos concursos, o próprio custo do projecto, dentro do orçamento de uma obra, é significativo?
    Não tem significado nenhum. Repare: as tabelas de honorários antigas tinham quatro classes de dificuldade e davam percentagens do custo final da obra entre 1% e 4%, se não me engano. Acha que 4% é alguma coisa? Já expliquei isto aos empreiteiros e ouvia “você está a pedir-me 200 mil euros ou 100 mil euros pelo projecto? Vou ali entregar o projecto àquele senhor que faz isto por 50 mil”. Eu costumava responder que o senhor não sabia fazer contas porque, provavelmente, o projecto que lhe iam fazer, em vez de custar 50 milhões de euros, vai custar 100 milhões, mas o senhor fica contente porque poupou 50 mil euros. Cada um tem o seu quintal. As empresas, a partir de uma certa altura, passaram a ter as unidades de negócio. Há um responsável pelo negócio da área de projectos, outro responsável pelos equipamentos, etc, e cada um tem e gere a sua verba, e quer chegar ao fim e apresentar resultados. Sabe que, se os resultados forem favoráveis, tem comissão. Portanto, está-se completamente nas tintas para que o projecto seja bom ou mau. Interessa é que ele geriu o seu projecto e mostrou resultados. O tipo da obra é que se trama e paga as asneiras do que tomou decisões porque, infelizmente, depois não se ouvem entre eles, não dizem o que correu mal e porquê. Uma vez propus que deveriam fazer o seguinte: analisar as obras, verem o custo de adjudicação da obra e verem o custo final, para saberem o que têm de trabalhos a mais, e o que houve de asneiras, e esses senhores são escovados, pura e simplesmente. Porque, se em Portugal, se accionassem os seguros, a maior parte deles não tinham sequer porta aberta.

    Mas os seguros têm um limite…
    Sim, mas era quanto bastava. Porque depois, quem quer que os fosse contratar já pensaria duas vezes. É como um automobilista. Se começa a bater demasiadas vezes, o seguro já não o cobre. Mas claro está que não o quiseram fazer.

    Accionar os seguros?
    Não. Avaliar e dizer que “este, este e este, antendendo à sua má prestação do trabalho, não são mais escolhidos, são afastados!”.

    Ficavam referenciados numa base de dados?
    Exactamente. É simples. E estabeleciam-se níveis de competência para cada um. Eu fiz sempre questão de não ter trabalhos a mais e não tive. Isso é extremamente importante. Um trabalho a mais não significa que houve um erro de projecto. Pode ser, mas também pode querer dizer que a obra acabou por custar eventualmente o preço pela qual deveria ter sido adjudicada, se o projecto tivesse sido logo pensado como deve de ser, se não tivesse havido falhas. Isto é completamente diferente de dizer que se aquele projecto é que era o adequado. Eu posso escolher uma má solução e ter um projecto eficaz, sem trabalhos a mais, mas, uma solução boa, faria com que a obra custasse muito menos. São duas coisas diferentes e é aí que está a questão dos honorários. Este é capaz de fazer um projecto que é realmente o adequado e o outro não é, e faz um, mas que, do ponto de vista do cálculo, dos desenhos e da pormenorização está eficaz e não teve trabalhos a mais. Mas se, para aquele projecto, começa a haver trabalhos a mais, são erros de projecto e isso quer dizer que, efectivamente, numa boa parte das vezes, é incompetência. Outras vezes são circunstâncias que não foram previstas, essencialmente nas fundações, ou circunstâncias fortuitas que não se esperavam e que muito provavelmente não se poderiam prever.

    Como acidentes relacionados com o clima?
    Sim, às vezes, imprevisíveis como cheias. Quando fazemos uma ponte sobre um rio, fazemos uma análise das cheias mas, de vez em quando, aquilo excede. Eu não posso estar a dimensionar estruturas que resistam a tudo. Tenho é que garantir que não colapsam. Agora, se ficam arruinadas, paciência. Não haveria dinheiro suficiente para fazer estruturas dessas [que resistem a tudo]. Agora, a preocupação de não haver trabalhos a mais é fundamental porque, se eu não penso o meu projecto capazmente e não tenho tudo previsto, o empreiteiro pode fazer uma análise de projecto e dizer “isto vai precisar de mais isto e mais aquilo” e distorce os preços de início. E, a seguir, vai cobrar o que quer, inclusive até em coisas que são trabalhos que não foram concursados mas que tiveram de ser feitos. Eu acho que é fundamental para o cliente, que é o dono da obra – o Estado ou o empreiteiro, no caso das concessões – que este processo foi a concurso e custa 100 e vai ficar por 100. Por isso é que eu digo que, se não há trabalhos a mais, se todo o meu projecto está preparado, dimensionado e estudado de maneira a que haja um caderno de encargos extremamente exigente, que não dê margem ao empreiteiro para fugas, aquilo é aquilo, custa aquilo e acabou. Acho que é um ponto de honra que todos os engenheiros deveriam fazer.

    Mas não é algo comum nesta área?
    Há muitas falhas.

    Como vê a dinâmica de negócios no sector da engenharia em Portugal?
    Não há trabalho, ponto final. Irá haver na parte de reabilitação mas a reabilitação que se vai fazendo consiste em dar uma pintura por fora e disfarçar. A seguir, quem vier atrás que feche a porta.

    Mas, por exemplo, o Estado anunciou investimentos na linha férrea…
    Sim. Aí haverá. Nas estradas, é algo difícil. Infelizmente, há pedaços de auto-estrada que não ligam a coisa nenhuma. Faltam acabar ligações. Tenho obras, ali no Pinhal Interior que deviam ter sido feitas e que foram cortadas. A ligação a Coimbra não foi feita. Quem toma decisões destas é, mais uma vez, um mero contabilista porque se a estrada já ia render pouco, assim ainda rende menos. Falta um bocadinho de investimento e corta-se. Porquê? Porque tem de se cortar cegamente. Ao menos que haja a inteligência de se perceber o que se corta e porque se corta. Aliás, vai ali ao Alentejo e vê aquelas obras. Estão lá todas penduradas e depois vai tudo para o lixo.

    E no mercado externo?
    É complicado. Tenho muitas e grandes obras em Angola mas o problema, neste momento, é que Angola está sem dinheiro. Parou novas contratações, o dinheiro que devia, continua a devê-lo, vão desvalorizando o kwanza – portanto, aquele dinheiro vale cada vez menos – e não se está a ver muito bem o fim da situação e a recuperação. Moçambique nunca foi um mercado muito interessante e, mais uma vez, é a mesma história: as pessoas ficam convencidas que fazem concessões e o concessionário pensa que vai ter que ter as coisas a durar durante o tempo da sua concessão. A seguir, não duram. Quando era o Estado que fazia as obras, sabia que era o dono. No nosso caso, aqui, o Estado demitiu-se completamente, inclusive de fiscalizar aquilo que é seu, que é meu e, ao fim ao cabo, nós é que pagámos. É nosso e, portanto, devíamos fiscalizar para ver se é bom ou mau mas não, quem construiu é que se autofiscalizou.

    É uma prática corrente?
    Foi o que fizeram cá. É uma prática que se faz, muitas vezes, lá fora. Eu fiz obras com franceses, inclusive aqui, no IP3. Todos os meses, vinha cá uma equipa de franceses e fiscalizavam-se a eles próprios.

    Não há aí conflito de interesses?
    Não. Têm outra cultura. É um problema cultural. São exigentes consigo próprios! E isto não é dizer que vamos adoptar a legislação deste ou daquele países, porque está escrito no papel. Quando isto começou, almocei com os responsáveis da Enor e disse que isto de nos autofiscalizar-nos ia dar problemas porque o engenheiro de obra diz assim: “é uma chatice andar na obra, tenho de me levantar muito cedo, tenho que andar de botas, chove-me em cima, ando na lama, eu quero é subir e ter resultados para subir”. O director de produção diz: “eu quero é resultados para ir para administrador”. O administrador quer é resultados. Todos eles querem resultados para trepar. Portanto, um belíssimo engenheiro de obra passa a ser um mau director de produção, o director de produção – bom director de produção – passa a ser um mau administrador e o administrador está-se nas tintas porque, daqui a um ano, como teve uma gestão com retorno, vai ser convidado por outro onde vai ganhar mais. Enquanto que, no caso dos franceses, os directores de obra eram bem pagos mas a sua carreira era feita em obra, não iam para gestores nem para administradores. Por isso eram excepcionais, do melhor! Aqui não. Eu posso ser muito bom a fazer obra mas vou dar um mau administrador de certeza.

    O que é que não pode faltar num projecto de uma ponte?
    A concepção é a base. Um cálculo competente e algumas coisas que procuro sempre: uma memória clara – coisa que infelizmente é cada vez mais difícil, porque as pessoas não sabem escrever – que diga o que esteve na sua cabeça na origem do projecto, como o encara, ou como se vai desenvolver a obra, uns desenhos extremamente detalhados e competentes, e um caderno de encargos em que tudo esteja previsto, que não dê hipóteses para que empreiteiro possa vir renegociar seja o que for. E também umas medições que reproduzam correctamente as quantidades e as qualidades de trabalho que vão ser executadas.

    Guarda algumas das suas obras com especial carinho?
    Acho que as obras que definem bem, que cristalizam, o meu pensamento e tudo o que desenvolvi e introduzi de diferente na engenharia portuguesa são a ponte do Arade, a ponte Miguel Torga na Régua e o viaduto do Pranto. É uma coisa com quase 2 quilómetros de extensão que, efectivamente, junta tudo o que desenvolvi na parte de fundações, na parte de tabuleiros, etc. São três obras representativas do trabalho, do conhecimento e das coisas diferentes que fui introduzindo na concepção estrutural do país.

    A que se refere?
    São conceitos. Uma das coisas com que eu embirro é quando vou a uma conferência, ou a uma apresentação e ouvir as pessoas dizerem que fizeram uma inovação. Inovações surgem duas ou três em cada século, o resto são desenvolvimentos. O caso da estaca-pilar, por exemplo. Se eu preciso de um pilar de 2 metros, para aguentar a carga do meu tabuleiro, porque não faço uma estaca com exactamente o mesmo diâmetro e, quando chega cá acima, meto-lhe uma cofragem e continua como pilar. Assim, só tive de fazer uma estaca, não tive de fazer o maciço de encabeçamento, não tive de fazer escavações, nem ensecadeiras. Introduzi esse conceito e, a partir daí, é o que se usa em Portugal.

    O que o atrai tanto nos projectos de pontes?
    A ponte é uma estrutura limpa. É estrutura e a verdade do seu funcionamento está perfeitamente à vista. Numa conferência que fiz lá fora, referi que a ponte é um objecto que, além de ser utilitário – um edifício também é um objecto utilitário! – é um acto simultaneamente de arquitectura e de engenharia, mas extremamente mais difícil porque, enquanto que, num edifício, posso disfarçá-lo, posso orientá-lo, numa ponte tenho aquele traçado que é o traçado óptimo. A verdade estrutural está à vista. Num edifício não está. A estrutura que lá está dentro, sabe qual é? Sabe se está boa, se está má, se está bem feita, se está bem pensada? Não sabe. Na ponte sabe. A estrutura está. Portanto, é, simultaneamente, um objecto de arquitectura e de engenharia e a engenharia tem a sua verdade estrutural bem à vista. Também dizia que uma obra mal concebida, por muito que eu tente disfarçar, não há disfarce que consiga esconder o que está mal pensado, porque está à vista.

    Com base na sua experiência, e olhando para o estado actual do sector da engenharia, que conselho pode dar aos jovens engenheiros que acabam de sair das universidades?
    Se não conseguirem empregar-se cá, vão lá para fora, porque lá fora precisam. Aliás, quando se estava a conduzir a ponte do Arade, os meus colegas franceses, que estavam lá, e eles já se queixavam – em 1991 – que começavam a ter muita falta de engenheiros em França, porque as pessoas não querem ir para Engenharia. É um problema na Europa e de país desenvolvido.

    Porque já estão infra-estruturados?
    Não é isso só. É a questão das exigências, das responsabilidades, do pagamento mau. Lá fora, os alemães têm falta [de engenheiros], os franceses não terão tanto, porque têm um meio muito forte, devido ao facto de terem tido grandes nomes na engenharia. Tiveram, realmente, nomes muito grandes, que eram louvados, acarinhados e publicitados. Eram homens que receberam honras. O seu país reconheceu-os. Vai ler uma biografia de um Freyssinet, de um Caquot….efectivamente, o seu país reconheceu o contributo que deram à engenharia. Aqui, o Edgar Cardoso não foi reconhecido. Depois de morto lá lhe conseguiram arranjar o nome de uma rua – não sei o que é que isso adianta – e nunca foi reconhecido.

    Ao mesmo tempo, o nome de Edgar Cardoso é reconhecido dentro da sociedade da engenharia portuguesa…
    É, porque fazia aquela barulheira toda e a televisão gostava era do escândalo. Era mais conhecido pelo seu mau feito.

    Mas, a nível internacional, a engenharia portuguesa é reconhecida?
    É. Não é por acaso que eu tenho o reconhecimento que tenho. São sete prémios estrangeiros e quatro portugueses. Mas isto é tipicamente português.

    Mas isso também é uma demonstração da qualidade da engenharia portuguesa…
    Isso é! Quando recebi a Medalha Freyssinet, quando agradeci disse que era um reconhecimento e, aqui, quando me perguntaram, referi que era o reconhecimento de que a engenharia portuguesa vale o que vale.

    Como vê hoje o ensino da engenharia?
    Temos bom ensino. Mas, por exemplo, em França, continuam a ter os professores de carreira e depois vão escolher as pessoas com maior nome nos referidos campos para serem convidados e darem aulas. Porque uma ponte tem vários tipos de conhecimento mas, depois, a execução, o pensamento e a concepção tem de vir de quem tenha feito, não é dos livros. Mas nós não fazemos muito isso. Temos muito a preocupação com a carreira [de professor] e isso acaba por se reflectir um pouco no ensino. Porque há uma geração de engenheiros que eram professores e já se reformaram, e que fizeram [obra] e, neste momento, deixa de haver trabalho. Os que fizeram, ou estão muito velhos como eu ou estão a caminho disso e, portanto, não vão transmitir conhecimento e experiência. Esse é o problema que pode ser grave: a transferência do conhecimento prático, da execução do trabalho. Agora, no conhecimento teórico, não há esse problema.

    Não havendo obra, não há como ter prática…
    Esse é o problema. Depois, acaba por se produzir aquilo que antigamente, quando eu era novo, era o calculista, que é quem faz os cálculos mas que, se não se tem experiência de obra, falta-lhe o resto, o filtro. Mas eu acho que eles [jovens engenheiros] têm muito boas hipóteses de ter trabalho, mas, nesta fase, terão mesmo de escolher ir lá para fora.

    Essa experiência no estrangeiro pode ser importante?
    É. Até porque sair daqui do nosso cantinho abre muito as vistas a muita gente. Somos desenrascados.

    O desenvolvimento tecnológico em Portugal tem feito, nos últimos anos, contribuições importantes para a área da engenharia?
    Em Portugal fizeram. Como houve um volume muito grande de obras, era, efectivamente, necessário encontrar sistemas adequados e modificações que dessem resposta à urgência e à quantidade de execução. Aqui em Portugal houve um desenvolvimento importante com o Pedro Pacheco, da Universidade do Porto, na parte dos cimbres, que deriva de uma tese de doutoramento que fui acompanhando, até fui membro do júri. Dei-lhe a sugestão de que aquela tese [que resultou no Sistema OPS] era muito adequada para uma coisa que é utilizar pré-esforço nos cimbres. Ele desenvolveu aquilo. Há anos que ando a tentar convencer uma pessoa, que é notável nas estruturas metálicas, para a aplicação do pré-esforço nos cimbres para os tornar mais ligeiros e mais capazes.

    O contributo do LNEC para a engenharia tem sido importante?
    Tem, sim senhor. Depois da ponte do Tejo, a parte de observação de obras praticamente parou e, com a ponte de Fagilde, a primeira ponte de avanços com um projecto português, convenci a Junta Autónoma de Estradas e, a partir daí, recomeçou-se a instrumentação de obras e a observação e, aí, houve contributos muito importantes no comportamento dos betões a longo prazo, no comportamento das estruturas, com ensaios de carga e, nisso, o LNEC teve um grande contributo. No resto, nas barragens e hidráulica e no resto, teve sempre também um grande contributo. Com a parte da reabilitação, também muita coisa foi pedida ao LNEC para instrumentar e observar, e foi dado um impulso muito importante. Pessoalmente, acho que o LNEC foi sempre uma instituição fundamental no desenvolvimento da engenharia nacional e tenho muita pena das várias tentativas de estrangulamento e de subfinanciamento que a casa tem sofrido. O Estado, e todos nós, temos que pensar que há instituições que não está aqui para dar lucro. A única coisa que acho admissível é que se peçam contas do investimento, agora, cortar o investimento? Haja maneiras!

    O número de vagas nos cursos de Engenharia Civil poderá levar-nos a uma situação de falta de engenheiros no futuro?
    Vamos ter falta a relativamente curto prazo porque, como em tudo, o nosso parque de pontes, de edifícios, de tudo, começa a ter idade e a precisar de reabilitação. Independentemente de a reabilitação ser um campo específico de engenharia, há o campo geral – faço uma reanálise estrutural, faço uma adaptação, faço uma análise de risco para ver realmente em que estado está a obra, quanto mais tempo dura e se vale a pena mexer. Mas, para isso, são realmente necessários engenheiros civis.

    E como pode ser combatida esta situação?
    Convencendo as pessoas de que vale a pena irem para Engenharia e as empresas que têm de fazer coisas em condições, que têm de haver responsabilidades, que têm de pensar que, se pagarem capazmente às pessoas, o retorno é muito superior porque, se não estiver interessado no seu trabalho, qual é o seu retorno?

    Sobre o autorPedro Cristino

    Pedro Cristino

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    Construção

    Loures investe 22 M€ para novas habitações a custos controlados

    Financiado pelo PRR, o projecto prevê 152 habitações, com uma área total de construção de 14.280 m2, oito blocos, cada um com quatro pisos, num total de 16 edifícios e 152 habitações

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    A Câmara Municipal de Loures anunciou a construção de um conjunto habitacional a custos controlados na freguesia de Camarate. O projecto, com 152 habitações, conta com um investimento que ascende aos 22 milhões de euros, financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

    O projecto urbanístico e arquitectónico tem assinatura do Focus Group, que havia ganho o concurso público promovido pela Câmara Municipal de Loures e assessorado pela Ordem dos Arquitectos – Secção Sul. A as obras deverão iniciar ainda em 2024.

    Com uma área total de construção de 14.280 m2, conjunto é constituído por oito blocos, cada um organizado em dois edifícios contíguos, com quatro pisos, num total de 16 edifícios e 152 habitações. Em termos de tipologias, o projeto prevê 56 T1, 45 T2, 48 T3 e 4 T4.

    Cada bloco é composto por dois edifícios, com acessos independentes, e dois ou três apartamentos por piso. Todos os pisos térreos de embasamento dos lotes do conjunto habitacional destinam-se a habitação, à excepção de um dos edifícios em que está prevista para a instalação de comércio ou serviços, estando garantida também a existência de 174 lugares de estacionamento exteriores.

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    A caminho da “Construção & Logística 5.0”

    Um tema “provocativo” num encontro que irá abordar a crescente digitalização do sector e o processo de transformação que o acompanha, para o qual é inevitável a maior digitalização de processos. Com organização da Cegid, o encontro, que terá lugar dia 18 de Abril, irá reunir especialistas e empresas do sector

    A crescente transformação digital na Construção e na Logística serve de pretexto ao encontro organizado pela Cegid, dona, entre outras, da bracarense Primavera, e que terá lugar no dia 18 de Abril, na Fundação Cupertino de Miranda, no Porto.

    “Construção & Logística 5.0” é o tema, assumidamente “provocativo”, onde se irá discutir os desafios que enfrentam as empresas do sector. “À semelhança de edições anteriores em que focamos as áreas da Produção e Logística, quisemos dar continuidade a este tipo de eventos sectoriais, onde o que se pretende é criar um momento de networking para partilhar experiências, exemplos e soluções tecnológicas para o sector da Construção e a área da Logística, através de oradores convidados, clientes e parceiros da Cegid. O evento “Construção & Logística 5.0” foi criado para reunir as empresas de construção – ou que comercializam materiais de construção – e lançar debates construtivos e estratégicos à volta da digitalização deste sector”, justifica Felicidade Ferreira, directora da unidade de negócio small & midmarket (pequenas e médias empresas) na Cegid para os mercados de Portugal e Cabo Verde.

    Apesar das (reconhecidas) vantagens da digitalização dos processos, para as players do sector este é um momento desafiante já que “muitas empresas ainda dependem de processos manuais, o que prejudica a eficiência e a capacidade de resposta. É importante mostrar às empresas que a implementação de soluções digitais permite gerir os projectos de forma integrada e em tempo real, melhorando assim a coordenação e a produtividade”, explica Felicidade Ferreira.

    Já na Logística, “as empresas enfrentam uma crescente exigência por entregas mais rápidas e serviços mais personalizados, graças ao crescimento do comércio online. A tecnologia é um grande aliado para enfrentar este desafio, uma vez que os sistemas de gestão permitem optimizar as entregas, gerir os stocks de forma eficaz e melhorar o serviço ao cliente”, adianta a responsável. “Por outras palavras, a digitalização dos processos é um desafio transversal a estas duas áreas que, até há pouco tempo, eram bastante resistentes à mudança. É por isso que convidamos especialistas para falar sobre isto e explicar às empresas como devem iniciar a sua jornada de transformação digital, dando exemplos concretos de empresas que passaram por este processo de digitalização”, consubstancia Felicidade Ferreira.

    Soluções no mercado
    A processo transformador que a Construção e a Logística enfrentam hoje, encontra paralelo no caminho já percorrido por outros sectores do ponto de vista da digitalização. “A Cegid conta com uma oferta de soluções de software de gestão empresarial muito abrangente, que dá resposta às necessidades de empresas de qualquer dimensão e a área de negócio. Desde a gestão da área financeira, contabilidade, tesouraria, conformidade legal e fiscal, gestão de recursos humanos, até aos departamentos sectoriais”, inúmera Felicidade Ferreira. Acresce que a “integração da antiga Primavera na Cegid criou um universo de possibilidades para os nossos clientes em Portugal. Integramos novos produtos no nosso portfolio e temos hoje uma maior capacidade de desenvolvimento e inovação, que nos permite incorporar a melhor tecnologia nos nossos produtos. Actualmente, somos um líder europeu de soluções de gestão na cloud e contamos com uma vasta oferta de soluções de gestão para empresas de todas as dimensões e sectores de actividade. O nosso objectivo é apoiar o tecido empresarial português a digitalizar os seus processos e a aproveitar o potencial da Inteligência Artificial para tornarem os seus negócios mais eficientes e competitivos no mercado”.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Projecto brasileiro ‘Moréias’ quer atrair compradores portugueses

    Localizado no Ceará, o empreendimento acaba de ser lançado no mercado português pela Athena Advisers, que além dos investidores nacionais pretende captar o interesse de outros mercados europeus, nomeadamente norte-americanos

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    Os portugueses são o principal público que a Athena Advisers quer atrair para o projeto imobiliário Moréias, localizado no Ceará, Brasil, e que a consultora acaba de lançar no mercado português. No âmbito europeu, a Athena Advisers vai também comercializar o projeto nos mercados britânico e francês, onde tem uma forte presença, assim como em Espanha e Itália. Do outro lado do Atlântico, além dos brasileiros, a aposta será nos investidores norte-americanos, que constituem actualmente uma parte expressiva dos seus clientes.

    Com princípios e práticas “fortemente ecológicas e sustentáveis”, a Fazenda Moréias está implantada em 2 500 hectares de área preservada que abriga 10 biomas naturais e se estende ao longo de oito quilómetros de praias na região costeira de Tatajuba (entre Barra Grande e Preá), conhecida por ser um dos melhores destinos de kitesurf do mundo. No empreendimento está já em funcionamento o restaurante de gastronomia local Orós e uma escola de kitesurf, além de um hotel que abriga quatro bungalows em operação há dois anos.

    A próxima fase do projeto, com o nome Barvalento, já arrancou com a construção e será composta pelo Vilarejo Moréias com 12 casas chave-na-mão (mobiladas e equipadas) e a Morada Moréias, com 27 lotes de terreno para a construção de bungalows e moradias, também no modelo chave-na-mão.

    O Vilarejo Moréias é inspirado na arquitectura tradicional do Ceará numa interpretação contemporânea e, como tal, o planeamento urbano segue os preceitos do design biomimético, que imita os processos e estruturas naturais encontrados no meio ambiente. As suas casas, todas de tipologia T2 com piscina, têm áreas de 150 m² e estão implantadas em terrenos de 400 metros quadrados (m2).

    Os lotes da Morada Moréias compreendem áreas entre os 1 500 m e 2 400 m para a construção de bungalows de tipologia T1 e T2, e moradias de tipologia T2 e T4, todas com os quartos em suite.

    Na concepção destes espaços, que se caracterizam por promover o slow living em conexão com a natureza quase intacta da região e respeitar a comunidade local envolvente, trabalha uma equipa de arquitectos constituida por Carlos Motta, Gui Mattos e o atelier DEF Projetos, responsáveis pelo design dos bungalows e moradias, e Dani Fromer, que teve a cargo a concepção do Vilarejo.

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    Power to Build avança em Angola

    Angola foi um dos primeiros mercados a receber uma impressora 3D da Cobod (a 6ª, a nível mundial), ainda em 2020. O objectivo foi de entrar no mercado da habitação, o que deverá acontecer agora com o lançamento das primeiras unidades em Luanda

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    A Cobod, a empresa dinamarquesa criada por Henrik Lund-Nielsen, responsável pelo desenvolvimento da impressora 3D utilizada em Portugal pela empresa Havelar, está em expansão pelo mundo. Actualmente existem 75 impressoras em países como o México, Canadá, Guatemala, Austrália, Irlanda, França, Tailândia, Kuwait, Japão, Malásia, etc. e nem todos têm como estratégia abordar o segmento residencial. Por exemplo, nos Estados Unidos a General Electric, que recentemente se tornou accionista da Cobod, está a desenvolver turbinas eólicas utilizando o betão impresso, conseguindo com este novo sistema alcançar novas alturas e com isso gerar mais energia.

    Angola foi um dos primeiros mercados a receber uma impressora 3D (a 6ª, a nível mundial), ainda em 2020. O objectivo foi de entrar no mercado da habitação, “motivado pela fraca oferta existente e pelo crescimento acelerado da população angolana, face a mercados como o português ou europeu”, conta Bruno Carlos. O empresário português com ligações ao mercado na área da tecnologia é um dos fundadores da empresa angolana Power to Build, cujo investimento superior aos cinco milhões já realizados pela Havelar em Portugal, está prestes a materializar o primeiro condomínio com casas impressas do país. Localizado no Morro Bento (Luanda) o condomínio é composto por oito unidades.

    “O projecto tem tido uma boa receptividade, mas o momento económico do país não tem sido o melhor e o projecto tem levado mais algum tempo”, refere o empresário. Os últimos quatro anos, com a pandemia pelo meio, serviram para preparar o negócio, formar recursos humanos e construir os primeiros protótipos “para ganhar alguma fluidez técnica”, só o ano passado foi feito o lançamento comercial. Entretanto, a empresa angolana tem aproveitado para ajudar a Cobob a testar a próxima geração de impressoras, bem como os novos compostos usados na impressão.

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    O futuro da habitação é 3D

    A Havelar apresenta-se ao mercado com uma tecnologia inovadora capaz de imprimir uma casa de 90 m2 em menos de 24h e por um baixo custo. A empresa pretende romper com o formalismo da arquitectura, ao mesmo tempo que procura ser, ela mesmo, uma resposta sustentável à emergência climática que vivemos

    A manufactura aditiva prepara-se para revolucionar o sector da construção e é ela que está na base da Havelar, a empresa criada há cerca de um ano por Patrick Eichiner, Rodrigo Vilas-Boas e José Maria Ferreira, os três com um passado que se interliga: Patrick no imobiliário (The Cobble Capital), Rodrigo na arquitectura (fundador da OODA), e José Maria Ferreira (fundador da OTIIMA, ECOSTEEL e da ARTWORKS), e um nome incontornável da indústria da construção portuguesa.

    E é difícil não sucumbir ao entusiasmo com que os três nos recebem no estaleiro da Havelar, que ocupa parte das instalações do INCONS em Vila do Pinheiro, na Maia. É lá que encontramos a primeira casa impressa com tecnologia 3D desenvolvida pela dinamarquesa Cobod e que a Havelar trouxe para o mercado português com a intenção de contribuir com uma solução para a crise de habitação que o país atravessa.

    Rapidez de construção, optimização de recursos, materiais e humanos, e qualidade são os três fortes argumentos com que se apresenta ao mercado. A tecnologia utilizada permite uma redução de 80% nos resíduos e é 70% mais rápida que a construção tradicional.
    O protótipo, de tipologia T2 com 90 m2, demorou 18 horas a construir e foram precisos apenas duas semanas para completar a habitação (telhado, portas, janelas e demais carpintarias) e torná-la pronta a habitar.

    “Esta foi a primeira casa desenhada por nós com o intuito também de aprender como é que é imprimir uma casa. Desenhamos uma casa com umas métricas e uma matriz muito fixas, que permite combinar a liberdade do desenho que a tecnologia 3D oferece, com um sistema misto de pré-fabrico de construção”, explica Rodrigo Vilas-Boas. O custo de construção fica à volta dos 150 mil euros, um preço baixo face ao m2 praticado em muitas zonas do país. Mas o objectivo da Havelar é escala, não só por uma maior racionalidade do negócio e capacidade de redução de custos/tempo, mas também porque só assim a Havelar pode cumprir um dos seus propósitos, “responder ao desafio da habitação em Portugal”.

    Nesse sentido, e com várias demonstrações de interesse em negociação, nos próximos meses a empresa conta avançar com o seu primeiro projecto em Portugal.

    “Estamos prontos para ir para o mercado e acredito que deveremos construir um mínimo de 30 a 40 casas em 2024”, confirma o arquitecto. Um número muito próximo à capacidade de produção da impressora 3D, a BOB, acrónimo de Building on Demand, que ronda as 50 unidades/ano, em média.

    O betão na base de tudo
    O betão é o material usado para imprimir as casas, camada sobre camada, numa mistura que tem de ser simultaneamente fluída para ser impressa, e firme para que não escorra por entre as camadas. A composição desta mistura é algo que não é fixa, aliás o facto da tecnologia da Cobod ser open source, permite que não haja uma só solução, antes uma abertura à utilização de matérias-primas locais na composição da mistura de betão.

    Em Portugal, a Havelar está também a fazer o trabalho de investigação e desenvolvimento dos diferentes componentes e a estudar diferentes materiais. Paralelamente, a empresa tem trabalhado com a indústria, designadamente com a Saint-Gobain, experimentado o betão verde na impressão 3D. “Estamos à procura destas novas materialidades e a Saint-Gobain é nosso parceiro no desenvolvimento de algumas argamassas”, confirma Patrick Eichiner, outro dos fundadores da Havelar.

    Longe de ser um exclusivo do mercado nacional, a estratégia de ligação à indústria cimenteira em alguns dos mercados onde a tecnologia da Cobod está presente (como a CEMEX no México ou a Holcim, em França) tem contribuído para a afirmação internacional da empresa de origem dinamarquesa.

    A revolução na arquitectura
    A preocupação com a forma e a importância da arquitectura é algo que está bem vincado na estratégia da Havelar. Nesse sentido, foram convidados vários arquitectos, num exercício de “democratização da arquitectura”, para se juntarem na criação de novos modelos de habitação com base no novo sistema construtivo.

    “É muito difícil que pessoas tenham dinheiro para construir a sua casa, quanto mais que peçam a um arquitecto para desenhar a sua casa. O que achamos é que as crises da habitação em Portugal são resolvidas com pouco pensamento estrutural e muitas vezes deixamos um património construído nas cidades de que depois não nos orgulhamos. Entendemos que seria interessante trazer arquitectos que pensam nestas matérias e de renome internacional para connosco desenhar casas para o mercado acessível”, explica Rodrigo Vilas-Boas.

    “Este desenho de comunidades tem como pressuposto haver um desenho de alta qualidade arquitectónica que permaneça nas nossas cidades e no nosso tecido urbano e que seja um garante da qualidade da habitação acessível”, sintetiza o arquitecto que é um dos fundadores do atelier OODA.

    O desafio que a construção aditiva e esta nova tecnologia trazem constituiu um desafio ao qual estes ‘pesos pesados’ da arquitectura mundial – Glória Cabral, Manuel Aires Mateus, Francis Kéré, Siza Vieira e Kengo Kuma – não conseguiram resistir.

    “O desenho da arquitectura para esta tecnologia não é um desenho normal e temos de aprender como é que a tecnologia funciona e quais as suas condicionantes e as vantagens que oferece e com isso desenhar tendo por base um sistema construtivo muito descomplexado e muito simples. E isto é muito interessante. Até hoje o caminho da construção foi muito no sentido de complicar e agora estamos a regressar ao passado a descomplicá-lo”, argumenta Rodrigo Vilas-Boas.

    A construção desta casa assenta em vazios e não em fundações. O sistema tem por base a impressão de uma parede exterior e uma parede interior, que não se tocam, e o seu interior é preenchido com material isolante. A cortiça, pelas suas propriedades isolantes mas também sustentáveis, foi o material escolhido, obedecendo à lógica da sustentabilidade.

    A construção aditiva permite uma maior liberdade na forma que as paredes podem tomar, mas apresenta também algumas limitações, por exemplo, em altura (até três andares), pelo menos por enquanto, porque este é um sistema construtivo e uma tecnologia em permanente desenvolvimento.

     

     

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Perspectivas e desafios da habitação em debate na Universidade de Aveiro

    O encontro, que conta com os seminários “Habitação – Enquadramento, problemas e desenvolvimento futuro” e “Habitação – Construção e Reabilitação”, tem lugar dia 19 de Abril, na Universidade de Aveiro

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    Em conjunto, a Associação de Antigos Alunos da Universidade de Aveiro (AAAUA) e a Keller Williams (KW) Área Aveiro, organizam o encontro “Habitação – Perspectivas e Desafios” conta com os seminários “Habitação – Enquadramento, problemas e desenvolvimento futuro” e “Habitação – Construção e Reabilitação”.

    Marcado para a manhã de sexta-feira, dia 19 de abril, no auditório do edifício III, da Universidade de Aveiro, o encontro segue a filosofia de encontros anteriormente realizados pela Associação: fomentar o debate de temas de interesse para os sócios e para a sociedade em geral, reforçando simultaneamente a sua ligação à região e aos territórios.

    Consciente da relevância da habitação no âmbito nacional, os organizadores seleccionaram o tema “Habitação – Perspectivas e Desafios” para o encontro de 2024. Com este encontro, e tal como em edições anteriores, esperam contribuir para o debate informado sobre um tema que consideram sensível e de primordial importância no quotidiano das famílias, sem esquecer a ligação da comunidade dos antigos alunos aos territórios.

    O encontro conta com dois seminários, “Habitação – Enquadramento, problemas e desenvolvimento futuro”, que conta com a participação de Fernanda Rodrigues, a anterior secretária de Estado da Habitação, Ricardo Guimarães, director da Confidencial Imobiliário, Marco Tairum, CEO da Keller Williams Portugal e Romeu Vicente, coordenador da Unidade de Investigação Risco; e “Habitação – Construção e Reabilitação”, com a presença de Hugo Rodrigues, coordenador do Colégio de Engenharia Civil da Região Centro, de Artur Varum, CEO da Civilria, de Gonçalo Martins, CEFA na Perfisa e Margarida Ferreira, coordenadora do Núcleo Alumni de Engenharia Civil.

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    Grupo Everybody Wins aposta num parque fotovoltaico de 110 painéis

    O parque foi instalado na sua sede, um edifício de cinco pisos, localizado na Quinta da Beloura, Sintra. O investimento permite ao Grupo reduzir os seus consumos em 95% na factura da energia

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    O Grupo Everybody Wins, o maior grupo de franchising do país, a que pertencem as marcas RE/MAX, MELOM e Querido Mudei a Casa Obras, MaxFinance Portugal e LeaseCapital, anuncia a instalação de um parque fotovoltaico de 110 painéis na sua sede, um edifício de cinco pisos, localizado na Quinta da Beloura, Sintra, que permitem a produção de energia de fonte renovável. Com esta instalação, o Grupo prevê reduzir os seus consumos em 95% na factura da energia. Esta instalação é mais uma das apostas do Grupo em medidas sustentáveis, que visam a optimização energética e um maior compromisso com o ambiente.

    Em Dezembro do ano passado, no acordo alcançado na Cimeira do Clima – COP28, que decorreu no Dubai, foi aprovado uma transição para o abandono dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos “de forma justa, ordenada e equitativa”, acelerando a acção nesta década para atingir as emissões zero de gases com efeito de estufa em 2050. Na lista de intenções saídas da COP28 estão também triplicar a produção de energia renovável a nível mundial e duplicar até 2030 a taxa média anual global de melhoria da eficiência energética, bem como acelerar os esforços no sentido da eliminação progressiva da produção de energia a partir do carvão.

    O Grupo Everybody Wins tem vindo a diminuir os consumos, através da utilização de iluminação LED e equipamentos que permitem reduzir os consumos, tendo em Julho de 2023, instalado mais de seis mil lâmpadas led. O Grupo reduziu, nessa fase, os seus consumos em 65% na factura da energia.

    “Todos nós temos um papel a desempenhar na protecção do nosso planeta. Juntos, podemos construir um futuro onde a sustentabilidade seja a norma e não a excepção. Temos muito orgulho em ser um Grupo amigo do ambiente e acreditamos na premissa que pequenos gestos possam efectivamente mudar o mundo, sendo possível alcançar resultados tangíveis, através de acções concretas”, conclui Manuel Alvarez, presidente Grupo Everybody Wins.

     

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    Andreia Garcia, arquitectura e curadora

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    ‘Fertile Futures’ ou uma viagem através de sete territórios da água

    A presença portuguesa na Bienal de Veneza em 2023 percorre os caminhos da água em diferentes hidrogeografias. Identificadas pela importância que representam para o território, como pelas problemáticas ecológicas, sociais, económicas e políticas que têm levado à sua deterioração

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    ‘Fertile Futures’ expressa o entendimento sobre o “Laboratório do Futuro”, tema proposto por Lesley Lokko para a 18ª Exposição Internacional de Arquitectura – Bienal de Veneza 2023, que convoca, “mais do que a oportunidade de produzir conhecimento sobre um conjunto de temas urgentes à sociedade e ao planeta, também um modo específico de fazer”, discutindo e propondo estratégias para a gestão, reserva e transformação de água doce.

    Contribuindo para uma discussão que é comum e global, ‘Fertile Futures’ problematiza a escassez e gestão deste recurso, a partir do território português. Com foco em sete hidrogeografias, ‘Fertile Futures’ apresenta no Palácio Sinel de Cordes, em Lisboa, os resultados desta investigação multidisciplinar, uma iniciativa coordenada por Andreia Garcia e explicada em entrevista à TRAÇO.

    Os sete casos em estudo exemplificam a acção antropocêntrica sobre os recursos hídricos na Bacia do Tâmega, Douro Internacional, Médio Tejo, Albufeira do Alqueva, Perímetro de Rega do Rio Mira, Lagoa das Sete Cidades e nas Ribeiras Madeirenses.

    De regresso a Lisboa

    Um ano depois, ‘Fertile Futures’ regressa a Lisboa para partilhar, para além da exposição principal que esteve em Veneza, os conhecimentos acumulados ao longo das Assembleias de Pensamento, disseminadas pelo País, e do Seminário Internacional de Verão, realizado no Fundão.

    Inaugurada em Janeiro, a exposição irá manter-se no Palácio Sinel de Cordes até 27 de Abril, onde se encontram expostos os trabalhos realizados pelas equipas artísticas Corpo Atelier, Dulcineia Santos Studio, Guida Marques, Ilhéu Atelier, Pedrêz, Ponto Atelier e Space Transcribers, bem como contributos que decorreram das Assembleia de Pensamento.

    Andreia Garcia recebeu a TRAÇO neste espaço, onde nos fez uma visita guiada através dos territórios ali representados permitindo-nos conhecer uma versão “mais completa” da exposição.

    Que tipo de exposição temos aqui?

    Esta exposição não é exactamente a mesma que esteve em Veneza. É uma exposição mais completa. Além de todos os conteúdos que estiveram expostos no Palácio Franchetti desde Maio de 2023 em Veneza, conta, ainda, com a dimensão da segunda fase do laboratório, que correspondeu ao Seminário Internacional de Verão, situado no Fundão, onde, durante 15 dias, estivemos com alunos dos cinco Continentes a trabalhar, em contexto real e sobre a problemática da escassez de água doce com as mesmas sete equipas de arquitectura que estiveram representadas.

    Mais do que mostrarmos projectos acabados, foi importante explicarmos as reflexões multidisciplinares que, aqui na exposição, estão representadas por imagens, textos e maquetes, assim como pelo documentário, desenvolvido pelo canal 180, com a direcção do Joaquim Mora, que nos acompanhou desde o início do projecto.

    O Seminário, no fundo, foi o culminar do laboratório?

    O Seminário foi a segunda fase deste laboratório, que contou ainda com cinco Assembleias de Pensamento que aconteceram no decurso do projecto. Exatamente um ano depois da primeira Assembleia de Pensamento, inauguramos aqui no mesmo espaço a itinerância da exposição. Por isso, esta exposicão, para nós, é muito importante, porque apresenta o culminar desse processo laboratorial que procurou ser inclusivo e aberto. Além de montarmos um projecto com equipas de trabalho multidisciplinares, procurámos representar todo o País e, onde estão, pela primeira vez, ambas as ilhas – arquipélago dos Açores e o arquipélago da Madeira.

    É expectável que este ciclo tenha continuidade?

    A itinerância pode trazer consigo outros momentos, outra produção de conhecimento, que naturalmente poderão depois verter noutras configurações e noutras mostras, noutros perfis e até noutras geografias. Esta é a ideia. Neste momento existem alguns convites para pensar o futuro do projecto noutros contextos, mas está tudo em aberto. Importará referir que têm sido muitas as investigações de carácter mais académico que se têm debruçado sobre os conteúdos desenvolvidos pelo Fertile Futures.

    Aliás, para mim uma curadoria é isso. É a produção de conhecimento, e mais do que o resultado, importa o processo a partir da investigação.

    Numa perspectiva de continuidade considera ser possível alargar este laboratório a outros territórios?
    O projecto foi pensado nestes contextos a partir de sete hidrogeografias específicas, mas, como disse, há outros projectos de investigação que já derivam deste trabalho. Nesse sentido, poder-se-ia considerar que estamos a caminhar para uma nova fase. Ou seja, num curtíssimo espaço de tempo já há quatro dissertações de mestrado e uma tese de doutoramento que se focam no projeto ‘Fertile Futures’. Portanto, há uma contaminação positiva, de certa forma, e uma sensibilização para estas questões a vários níveis, também académicos.

    Entendemos a Arquitectura como entidade mediadora, capaz de atentar a um problema, de o contextualizar e estudar e, depois, recorrer a múltiplas estratégias de acção algumas das quais a partir de cenários eventualmente ficcionáveis

    Que mensagem pretendem passar com este projecto?

    Aquela que será talvez a maior é alertar e sensibilizar para as consequências do consumo desenfreado, da extracção, da errada distribuição dos recursos hídricos, e de certas medidas politicas, que tendencialmente demonstram mais enfoque no capital do que na salvaguarda do nosso território.

    O facto de entretanto percebermos que estas questões estão a despertar a atenção politica, mesmo que a um nível regional, é também positivo, porque nos dá a esperança de que possa haver permeabilidade para o diálogo entre as várias partes envolvidas, o que, aliás, foi o que sempre se pretendeu com o projecto.

    Nesse sentido, importa referir, por exemplo, que algumas das equipas de arquitetura estão já a trabalhar com os municípios para pensar em estratégias que possam contribuir para a reversão de alguns dos problemas enunciados a partir de trabalhos de campo multidisciplinares.

    Essa profunda preocupação é também importante para percebermos que precisamos de chamar até à arquitectura outros conhecimentos, outras áreas de especialidade com o propósito de trabalharmos em conjunto e, por isso, de um modo mais informado. No caminho que temos percorrido com esta Bienal de Veneza também conseguimos perceber que para encontrarmos mais respostas para os problemas enunciados, teremos de ensaiar novas perguntas capazes de complexidades múltiplas.

    Que papel pode ter a arquitecto neste alerta?

    Entendemos a Arquitectura como entidade mediadora, capaz de atentar a um problema, de o contextualizar e estudar e, depois, recorrer a múltiplas estratégias de acção algumas das quais a partir de cenários eventualmente ficcionáveis, mas que nos sugerem que, na prática, há ainda muito a fazer na ponderação da relação da humanidade com os escossistemas naturais.

    Nesta exposição fica claro que a arquitectura também é política. E que os arquitectos devem ter um papel no planeamento do território e na gestão dos seus recursos, para lá de interesses meramente económicos.

    Temos consciência que a arquitectura, individualmente, não tem capacidade para actuar sozinha na resolução dos problemas e, por isso, convocámos igualmente especialistas das áreas da geografia, da engenharia hidráulica, do paisagismo, da sociologia, da antropologia, da economia, entre outras áreas de conhecimento.

    Com este projecto pretendemos alertar e sensibilizar para as consequências do consumo desenfreado, da extracção, da errada distribuição dos recursos hídricos, e de certas medidas politicas, que tendencialmente demonstram mais enfoque no capital do que na salvaguarda do nosso território

    Porquê ter como ponto de partida diferentes hidrogeografias?

    As diferentes hidrogeografias representam diferentes territórios onde é evidente a acção humana sobre os recursos hídricos. Os sete casos em estudo contam-nos sete histórias sobre o país. Às equipas de projecto foi pedido que se debruçassem sobre cada uma das problemáticas dessas histórias e ensaiassem futuros mais férteis.

    Sendo caso específico do território português, podem, no entanto, ter múltiplos paralelos com outros semelhantes em outros pontos do Mundo. Lendo as hidrogeografias em Portugal e a partir do território português, percebemos claramente que queríamos apontar questões globais.

    Quem está no poder politico actualmente está mais sensível a estas questões?

    Naturalmente, há metas internacionais e essas metas apontam-nos objectivos concretos. Hoje em dia, se não mudarmos as nossas práticas, seja a nível científico ou profissional, ou até doméstico, essas metas não vão ser cumpridas. Definem-se muito objectivos, mas com o objectivo de os alcançarmos assistimos à implementação de medidas contraditórias que muitas vezes levam à exploração desmedida do solo e à errada distribuição dos seus recursos. O poder político necessita de uma prática consciente, focada no longo prazo e na preservação dos ecossistemas. Nenhuma prática é isenta de erros no seu caminho, mas terá de ambicionar fazer melhor e não repetir equívocos.

    Lagoa das Sete Cidades (Ilhéu Atelier)

    A Lagoa das Sete Cidades é o maior reservatório natural de água doce do arquipélago dos Açores e também uma das sete maravilhas naturais de Portugal. Apesar de romantizada, a atividade agropecuária é responsável pela degradação acelerada dos ecossistemas no território da bacia e na água das lagoas. O desmedido uso de fertilizantes para a produção de pastagens dá origem a processos de eutrofização, causando significativas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, bem como a deterioração do equilíbrio bio-físico-químico da água, inviabilizando a sua utilização. A proposta explora a (re)imaginação utópica da região, combatendo o principal foco de poluição das lagoas açorianas, ao reconsiderar criticamente o uso do solo, em direta articulação com as dimensões sociais, culturais, patrimoniais e naturais que definem a paisagem dos Açores.

    Para repor a qualidade da água, o modelo propositivo apresentado considera remover do território o elemento poluidor das lagoas, ponderando todos os impactos em articulação interdisciplinar, de modo a garantir oportunidades mais sustentáveis. Manipulando as (in)tangibilidades do futuro, os diferentes discursos complementam-se e contribuem para outras visões do lugar, especulando sobre cenários fictícios. O granel, reconhecido elemento da arquitetura vernacular das Sete Cidades, é descontextualizado para albergar o símbolo da indústria agropecuária – a vaca. O arquétipo, tradicionalmente identificado como protetor dos bens agrícolas do solo, vê o seu propósito ironicamente invertido, para proteger o território dos efeitos nefastos da agropecuária.

    Ribeiras Madeirenses (Ponto Atelier)

    A repetida ocorrência das aluviões nas Ribeiras Madeirenses evidencia o preço a pagar pela urbanização rápida e não planeada do território, agravada pelos cada vez mais frequentes picos de precipitação, fruto das alterações climáticas, cuja responsabilidade redobrada caberá também ao desenfreado e carbonizado sector da construção. O desafio implica a reflexão crítica sobre o trauma associado a estes eventos, desenvolvendo hipóteses de revitalização das linhas de água, hoje fortemente artificializadas, recuperando a resiliência entretanto perdida.

    A partir de uma releitura crítica das Ribeiras Madeirenses, quatro atos expectantes evocam quatro temporalidades que sinalizam transformações nas ribeiras da Madeira em resultado da ação antrópica. Unidos pela linha do desenho do corpo da água, esses atos reinscrevem: a imagem de um tempo pretérito em que a natureza vibrante das ribeiras participava verdadeiramente na vida da cidade; a imagem do tempo catastrófico das aluviões que, vindo do passado, atravessa o presente e ameaça o futuro; a imagem de um presente contínuo em que a vibração dessa vida urbana foi erradicada das ribeiras, numa tentativa de apagamento; e, por fim, a imagem de um tempo futuro que poderá existir e que procura recuperar o potencial latente destes corpos de massa líquida. Procurando na leitura territorial a possibilidade da experimentação de espaços de contenção, retenção e (re)condução para o redesenho do caminho da água, ensaiam-se, a várias cotas, construções topográficas de reconciliação entre o ser humano e a água.

    Bacia do Tâmega (Space Transcribers)

    A água da Bacia do Tâmega, outrora base de culturas de regadio, é hoje o principal recurso de uma das maiores instalações de energia hídrica verde da Europa. O Sistema Eletroprodutor do Tâmega, conhecido como Gigabateria, trouxe transformações significativas a esta região, tornando evidente o contraste entre dois modos de gerir água: como recurso e bem comum local e enquanto produto mercantil para a criação de energia. Ao explorar formas de articulação entre diferentes escalas e tempos presentes neste território, ativa-se o diálogo, a partir da capacidade mediadora da arquitetura, procurando mitigar o impacto da metamorfose do território, flora, fauna e da vida humana locais.

    Uma hidro-metodologia, materializada em práticas espaciais críticas, combina a análise imersiva e o jogo performativo como proposta arquitetónica para reimaginar o conceito de comuns na gestão hídrica do Tâmega. A investigação analítica, aqui denominada de hipertexto do Tâmega, potencia os contrastes e as ligações entre arquiteturas hídricas da região, os distintos modos da sua gestão e as suas relações com humanos e não-humanos. Recorrendo a hidro-artefatos, a play tour – performada e jogada em Março de 2023 e registada em filme documental – revela métodos poéticos que procuram reconciliar tensões hídricas existentes, enquanto aponta caminhos para o desenho de diálogos que antecipam futuros mais comuns sobre o Tâmega e além.

    Douro Internacional (Dulcineia Santos Studio)

    A investigação concentra-se na cota alta das margens do Douro Internacional, região paradigmática da relação de dependência e partilha entre Portugal e Espanha, sublinhando a relevância da água na conservação do solo e dos ecossistemas, para além do seu uso enquanto recurso energético e bem essencial para consumo humano. Contribuindo para o combate à desertificação de uma zona crescentemente despovoada, propõe-se a reaprendizagem de técnicas ancestrais e sistemas naturais, e a recuperação da dimensão simbólica dos elementos naturais.

    Uma visão para a preservação da água doce é contada através das raízes da árvore de um Freixo, sobre as quais peças cerâmicas foram moldadas para dar a ver o corpo invisível do chão, trazido aqui por meio de um substituto – um tapete de terra. O solo é o reservatório do futuro, para água e vida: um conceptáculo vivo, mineral e orgânico, onde raízes de árvores se entrelaçam num diálogo de formas que se complementam e desaceleram, espalham e infiltram a água. Trata-se de um sistema complexo e inteligente, de estrutura esponjosa e em permanente mudança, engendrado localmente, e cuja expressão resulta das forças dos diferentes ecossistemas coabitantes, na luta por comida e reprodução da espécie. O “chão como reservatório” é a lição do Douro Internacional para outros lugares, e a evidência de que apenas um saber local, partilhado e multidisciplinar, poderá conseguir ler e reconhecer o potencial de cada chão, daquilo de que é feito e de que precisa.

    Médio Tejo (Guida Marques)

    O impacto da indústria mineira é manifesto na região do Médio Tejo, nomeadamente na contaminação da água do rio Zêzere e lençóis freáticos de modo alargado. A constatação do elevado nível de metais pesados, acima do máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde, é particularmente grave num momento em que se considera a hipótese do seu transvase, para aumentar o caudal do rio Tejo e garantir o abastecimento de água na área metropolitana de Lisboa. Repensando as políticas e prioridades do extrativismo, a proposta defende a renaturalização progressiva da paisagem, num processo- -manifesto de recuperação e descontaminação, a partir das ferramentas políticas e ativistas da arquitetura.

    A Arquitetura também se faz de manifestos e da coragem para reparar. A partir de registos escritos e performativos, expressa-se uma forte relação de proximidade e intimidade com o território, sensível ao passado e preocupada com um futuro expectante, na urgência de uma nova ação sobre o mundo. A partilha ambiciona unir dispositivos e formas, memórias, inquietações e angústias, para sensibilizar o pensamento e o corpo de quem lê, ouve e vê: a palavra também constrói, o corpo também é lugar. Pela partilha do sensível, reativa-se o afeto.

    Albufeira do Alqueva (Atelier Pedrêz)

    Apresentada politicamente como caso exemplar, a Albufeira do Alqueva é responsável pela transformação extrema de uma paisagem – de sequeiro a regadio –, com a criação do maior lago artificial da Europa. A sua água permite dar resposta às necessidades energéticas emergentes, incentivar a crescente atratividade turística e, sobretudo, contribuir para a alta produtividade do agronegócio instalado, simultaneamente responsável pela contaminação e superexploração dos solos. Operando sobre as consequências desta alteração e atenta aos impactos na diversidade dos ecossistemas, estruturas patrimoniais e desigualdades sociais, a proposta explora a dimensão operativa e técnica da arquitetura, no desenvolvimento de dispositivos de descontaminação e produção de solo, na antevisão do futuro daquela região.

    De forma ficcional, encena-se um futuro próximo onde a albufeira do Alqueva deixará de existir, dando lugar a um barreiro deserto rodeado por uma floresta exuberante de características únicas: um manto vegetal, formado por um tecido de bolsas circulares de vegetação capazes de reter quantidades de água equivalentes à que existiu outrora no lago. Artefacto para regeneração do solo é um invento construído em aço pela Pedrêz que, a partir da transformação de resíduos decorrentes da agro-indústria em energia térmica, hidrogénio, e carvão, possibilita a purificação da água e a produção de biofertilizante. A resposta concreta de regeneração social e ambiental, através da ação simples e continuada do ser humano na paisagem, reposiciona-o como elemento consciente e gerador de fertilidade.

    Perímetro Rega do Rio Mira (Corpo Atelier)

    O Rio Mira é envolvido por um largo perímetro de rega atualmente dominado por investimentos e interesses exógenos, impostos aos modelos de exploração agrícola instalados, de menor escala ou ambição. Tirando proveito das redes preexistentes, as explorações de alto rendimento contribuem para o desigual acesso aos recursos hídricos, bem como para a contaminação de solos e água, pela introdução de agroquímicos aceleradores. Ao mesmo tempo, a sua viabilidade assenta na superexploração de trabalhadores imigrantes, agentes ocultos, sujeitos a condições precárias de trabalho e habitação. A proposta advoga o potencial político da arquitetura, a partir da denúncia das situações de exploração e sobreposição, alertando para a ausência de regulação deste sistema.

    Aceitando a incapacidade da Arquitetura para encontrar uma resposta à complexidade desta problemática, avança-se uma instalação-denúncia que, pela sua dimensão poética, procura sensibilizar a consciência global para as questões sociais, ecológicas, administrativas e económicas em debate. Enquanto símbolo da distribuição desejavelmente democrática da água pelo território e pela população que o habita, o aqueduto, aqui incompleto, partido e fragmentado, evidencia a sua própria disfuncionalidade e despropósito. Este objeto mobilizador procura esclarecer a matriz da problemática no acesso à água nestas paisagens, imaginando três momentos distintos: junto à barragem de Santa Clara; num território natural e indefinido; e junto à foz do Rio Mira, onde a grande parte das explorações agrícolas de alto rendimento se aglomeram.

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    Leroy Merlin lança podcast dedicado à sustentabilidade

    “Nem de propósito” é o nome do primeiro podcast da Leroy Merlin, que se estreia neste formato para promover conversas sobre sustentabilidade

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    O podcast “Nem de Propósito” nasce do propósito da Leroy Merlin em garantir que a sustentabilidade está no centro do seu negócio. Determinada a ser a voz da mudança, a empresa especializada na venda de soluções para a casa abre agora as portas a um espaço que visa promover conversas sobre temas relevantes para o consumidor dentro da esfera da sustentabilidade – social, económica e ambiental – e sensibilizar a sociedade para cada um deles.

    Com um total de sete episódios, cada um deles aborda um tema diferente, mas com o mesmo objectivo: o de partilhar informações valiosas que os ouvintes possam aplicar nas suas vidas. Os sete temas que dão corpo a cada um dos sete episódios previstos são os seguintes: sustentabilidade, o tema base dos episódios; pobreza habitacional, um dos principais problemas do país; transição energética; resíduos; pegada de carbono; consumo responsável e sustentabilidade social.

    “A sustentabilidade está no centro da actividade da Leroy Merlin e é palpável em inúmeras iniciativas que desenvolvemos. O lançamento do podcast. “Nem de propósito” surge como uma extensão do trabalho que temos vindo a fazer internamente, mas achamos necessário e útil trazer estas conversas para o espaço público para que a mudança possa ser pensada e realizada por todos. Chegou o momento e não podíamos estar mais entusiasmados!”, afirma João Lavos, líder de Impacto Positivo na Leroy Merlin Portugal.

    Conduzido por Isabel Silva, o podcast terá como convidados Catarina Barreiros, a organização Just a Change, com quem a Leroy Merlin colabora para combater a pobreza habitacional, Tiago Lagoa, engenheiro do ambiente, Rita Tapadinhas, fundadora do projecto de sustentabilidade “Plant a Choice”, Tânia Martins, arquitecta de profissão e criadora de conteúdos de casa e decoração, procurando inspirar a casas mais eficientes, Joana Joes fundadora de uma marca de roupa eco-friendly; e ainda Capicua.

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    CCDR-Norte apresenta Prémio Arquitectura do Douro 2024

    A apresentação da iniciativa acontece por ocasião do Dia Internacional dos Monumentos e Sítio, no Museu do Douro, no Peso da Régua. Podem concorrer intervenções de construção, conservação ou reabilitação de edifícios ou conjuntos arquitectónicos, bem como intervenções de desenho urbano em espaço público

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    A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte apresenta, esta quinta-feira, dia 18 de Abril, a oitava edição do Prémio Arquitectura do Douro.

    A apresentação da iniciativa acontece por ocasião do Dia Internacional dos Monumentos e Sítio, marcado pela entidade com uma conferência dedicada ao tema “Economia, Paisagem e Arquitectura: O Alto Douro vinhateiro, património e futuro”, no Museu do Douro, no Peso da Régua.

    Podem concorrer intervenções de construção, conservação ou reabilitação de edifícios ou conjuntos arquitectónicos, bem como intervenções de desenho urbano em espaço público.

    Lançado em 2006 por ocasião das comemorações dos 250 anos da Região Demarcada do Douro, o Prémio de Arquitectura do Douro tem uma periodicidade bienal e destina-se a promover a “cultura arquitectónica e as boas práticas” do exercício da arquitectura numa “paisagem cultural evolutiva e viva” como o Douro vinhateiro. A atribuição das distinções nas edições anteriores distingue intervenções arquitectónicas exemplares num território dinâmico classificado pela UNESCO.

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