Recuperar a história em Santa Clara
O projecto é de Manuel Aires Mateus, mas o cunho pessoal do dono de obra está bem patente no Santa Clara 1827, um projecto que pretende trazer um pouco do ambiente familiar caseiro ao panorama turístico de Lisboa
Pedro Cristino
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O projecto é de Manuel Aires Mateus, mas o cunho pessoal do dono de obra está bem patente no Santa Clara 1728, um projecto que pretende trazer um pouco do ambiente familiar caseiro ao panorama turístico de Lisboa
João Rodrigues pretendia um projecto “que durasse através do tempo”, contando, no caminho, a história dos artesãos que aí deixaram o fruto do seu saber. Foi esta uma das premissas em que assentou a reabilitação de um edifício do século XVIII, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, para dar lugar ao Santa Clara 1728, um projecto turístico que pretende assumir-se como uma casa de família numa das zonas mais tradicionais da capital portuguesa.
Para dar vida à sua ideia, o dono de obra recorreu ao arquitecto Manuel Aires Mateus. “A última coisa que eu quis foi fazer um projecto e replicar um bocadinho de dezenas de outros projectos de “hostels” e “guest houses” em Lisboa”, afirma João Rodrigues ao CONSTRUIR, explicando a sua intenção de fazer algo “que fosse diferente e marcasse pela qualidade, pela originalidade do projecto”. Neste sentido, o Santa Clara 1728 pretende recuperar “um pouco do espírito pombalino, de olharmos através dos vãos”, ao mesmo tempo que segue o conceito de Maniuel Aires Mateus, relacionado com “a memória dos espaços”, isto é, segundo João Rodrigues, a forma “como recordamos uma casa do antigamente”. O resultado são seis suítes, divididas por dois pisos deste edifício, com orientação para o Campo de Santa Clara e todas as vantagens que daí resultam, a nível de luz e da paisagem. Nesta viagem pela memória, a utilização de materiais locais foi vista como indispensável para o objectivo final, o que levou o dono de obra e o arquitecto a optarem pelo pinho, nos soalhos, pela lioz e pelos azulejos, “coisas tipicamente portuguesas”, segundo João Rodrigues.
Segundo os engenheiros responsáveis pela fiscalização o edifício estava, inicialmente, em avançada degradação. “O edifício já tinha tido uma intervenção anterior, havia já uma caixa de elevador e umas lajes em betão que foram todas removidas para se conseguir fazer o projecto que o dono de obra e o arquitecto pretendiam”, explicam ao CONSTRUIR, referindo que foram aproveitadas as cantarias na sua totalidade. O resto, “foi completamente demolido” – as vigas em madeira, a caixa de elevador existente, o soalho – um a vez que as madeiras já se encontravam deterioradas pela água. Para a estrutura do edifício, foi executada uma gunitagem de parede existente, composta por picagem dos revestimentos existentes, grampos Ø 16 galvanizados, incluindo furação e selagem, malha de rede de aço distendido T11/60 galvanizado e lâmina de microbetão com 6 centímetros de espessura, em duas camadas. “Como não era possível fazer muros, armou-se uma malha quadrada e, depois, projectou-se o betão para fazer o suporte dos edifícios contíguos”, refere a equipa ao CONSTRUIR, revelando ainda a utilização de materiais não cimentícios, como as tintas à base de silicato, um revestimento mineral com base em cal aérea, no sentido de preservar a memória da época original do imóvel. Segundo a memória descritiva, a obra envolveu a demolição parcial de algumas estruturas interiores do edifício, preservando-se as paredes exteriores e interiores resistentes, consolidando-as e reforçando-as. A intervenção de reabilitação e reforços pontuais nos pavimentos existentes no primeiro piso envolveu a introdução de reforços nos pavimentos, incrementando a rigidez e resistência das estruturas de madeira existentes. Procedeu-se também à substituição das estruturas interiores por estruturas novas nos pavimentos dos pisos superiores, incluindo cobertura nova em estrutura metálica. Apesar de existir já uma caixa de elevador de uma intervenção anterior, esta foi demolida e foi construída uma nova caixa de elevador em betão armado. Removida a anterior caixa, pode reaproveitar-se o espaço do logradouro, que deu origem a uma área ajardinada.
Segundo a memória descritiva do projecto, a intervenção no edifício de habitação existente incluiu o respectivo logradouro e envolveu a demolição parcial de algumas estruturas interiores do edifício, preservando as paredes exteriores e interiores resistentes, paralelamente reforçadas e consolidadas. No primeiro piso, procedeu-se à intervenção de reabilitação e a reforços pontuais nos pavimentos existentes, com a introdução de reforços nos pavimentos, “incrementando a rigidez e resistência das estruturas de madeira existentes”. As estruturas interiores foram integralmente substituídas por estruturas novas nos pavimentos dos pisos superiores, incluindo a cobertura nova em estrutura metálica. Apesar da demolição da caixa de elevador existente, resultante de uma intervenção anterior, foi introduzida uma nova caixa de elevador em betão armado. Ao mesmo tempo, procedeu-se ao reaproveitamento dos espaços do logradouro.
Edifício existente
O edifício, de implantação aproximadamente rectangular, desenvolvia-se em três pisos, com cobertura em telhado de duas águas, com o logradouro estabelecido aproximadamente à cota 2.60 relativamente à cota de soleira. No decurso da intervenção anterior, foram substituídas as estruturas dos pavimentos dos pisos elevados – em alguns casos, foram apenas montados os vigamentos de madeira para os pavimentos – e executadas estruturas em betão armado nos pisos superiores, incluindo pórticos sobre as paredes de empena, que permitiriam apoiar a nova estrutura da cobertura. Esta intervenção originou demolições no interior do edifício, no que concerne às paredes de tabique e de frontal, edifício esse que se encontrava sem cobertura, “restando apenas as paredes exteriores e interiores resistentes em alvenarias de pedra”. No logradouro adjacente foi construído um edifício anexo contíguo, com três pisos, constituído por uma estrutura porticada metálica sobre a qual apoiam os pavimentos constituídos por lajes de vigotas com aligeiramentos formalizados por abobadilhas cerâmicas. “No essencial, as paredes exteriores e interiores resistentes do edifício apresentavam espessuras variáveis e estavam profusamente fenestradas, sendo constituídas por alvenaria de pedra irregular ligada com argamass de cal”, destaca a memória descritiva, explicando que os pavimentos eram assegurados por estruturas de madeira, sendo constituídos por vigamentos de madeira com secções e afastamentos diversos – sobre os quais assentavam as tábuas de solho, “descarregando nas paredes exteriores e nas paredes interiores”.
Intervenção proposta
A intervenção iniciou-se com os trabalhos de demolição da construção existente no logradouro e por demolições pontuais para adaptação das estruturas existentes no interior do edifício. Os novos pavimentos foram constituídos por vigamentos de madeira lamelada colada, da classe de resistência GL24h, com secções de 10 centímetros, por 20 centímetros e 12 centímetros por 24 centímetros, sobre os quais foram colocadas placas de OSB 3, com 22 milímetros de espessura, e uma tela pitonada fazendo de barreira de isolamento e uma camada de betonilha leve com 3 centímetros de espessura.
O acabamento dos pavimentos foi formalizado com um soalho montado sobre a camada de betonilha. Nas zonas das novas instalações sanitárias, os vigamentos de madeira lamelada colada foram substituídos por perfis enformados a frio do tipo cassete ETRAM 500, com 1,5 milímetros de espessura.
Com vista a preservar a “reversibilidade da intervenção”, os novos pavimentos foram apoiados, na periferia, em cantoneiras de aço fixadas às paredes através de chumbadouros, selados em furos previamente executados nas paredes reforçadas. “Na definição das novas soluções estruturais, residiu sempre o cuidado de preservar os elementos estruturais e arquitectónicos relevantes”, frisa a memória descritiva.
Segundo a mesma fonte, no primeiro piso foram aproveitados os vigamentos de madeira que se encontravam no edifício, sendo, em alguns casos, os vigamentos originais e, noutros, vigamentos já substituídos no decurso das anteriores obras de remodelação. Assim, “face às novas exigências de conforto requeridas para o imóvel, estes pavimentos foram reforçados através do emparelhamento de vigamentos de madeira reaproveitados do terceiro piso do edifício, “ou mesmo através do emparelhamento com perfis enformados a frio”. “Nos maiores vãos a vencer, estes reforços têm por finalidade aumentar a capacidade de carga e limitar a deformação da estrutura”, explica o documento.
As paredes interiores e as faces interiores das paredes foram alvo de consolidação e reforço, através da aplicação de duas camadas de 3 centímetros de microbetão projectado, incluindo uma rede de metal distendido, pregada com chumbadouros, selados com grout em furos previamente executados nas paredes de alvenaria. Na abertura de novos vãos em paredes de alvenaria foram colocados reforços com perfis metálicos colocados a par.
Foi prevista a consolidação e reforço das faces exteriores das paredes exteriores no caso de estas apresentarem fissuras mais evidentes ou mostrarem sinais de evolução. Assim, para fissuras com abertura inferior a 5 milímetros foi prevista a injecção simples de grout. Para fissuras com abertura superior a 5 milímetros, foi recomendado o preenchimento com grout, adicionando material pétreo ou cerâmico resultante das demolições, e grateamento através de grampos galvanizados.
A execução da nova cobertura passou pela montagem de quatro pórticos longitudinais de duas águas, formados por perfis HEA220, apoiados sobre as paredes de fachada e tardoz. Estes pórticos englobaram duas travessas, colocadas na base dos mesmos e a meia altura, permitindo o apoio aos pavimentos do terceiro piso e do novo quarto piso. Os pórticos encontram-se afastados no máximo de 6,1 metros, apoiando as madres em perfis IPE180 afastadas de 1,25 metros.