WTC promove “soluções subterrâneas” para ultrapassar “desafios da superfície”
ITA frisa que, hoje, 54% da população mundial vive em cidades, um número que se prevê que suba para 66% em 2050 e 85% em 2100, de acordo com os dados da OCDE. Neste contexto, a associação considera que o século XXI é, “incontestavelmente o “século metropolitano”, todavia, atrás desta etiqueta, escondem-se grandes alterações e fenómenos que terão consequências directas tanto no ambiente como nas populações”
Pedro Cristino
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“Desafios da superfície, soluções subterrâneas” é o tema do Congresso Mundial de Túneis (WTC), que se realiza entre 9 e 15 de Junho, em Bergen, na Noruega, organizada pela Associação Internacionais de Túneis e do Espaço Subterrâneo (ITA), em parceria com a Sociedade Norueguesa de Tunelação (NFF).
Em comunicado de imprensa, a ITA frisa que, hoje, 54% da população mundial vive em cidades, um número que se prevê que suba para 66% em 2050 e 85% em 2100, de acordo com os dados da OCDE. Neste contexto, a associação considera que o século XXI é, “incontestavelmente o “século metropolitano”, todavia, atrás desta etiqueta, escondem-se grandes alterações e fenómenos que terão consequências directas tanto no ambiente como nas populações”.
De acordo com os organizadores do congresso, todas as grandes cidades no mundo têm desafios à superfície para ultrapassar, especialmente no campo ambiental, ao melhorarem o seu nível de resiliência quando confrontados com várias metas, como a redução da pegada de carbono nas grandes cidades ocidentais, que aumenta através da conjugação de falta de modernização dos transportes públicos com a utilização excessiva de modos individuais de mobilidade urbana.
Nos países em desenvolvimento, “estes desafios podem manifestar-se de outras formas, como a necessidade urgente de desenvolver infra-estruturas básicas como o acesso a água potável (estima-se que 240 milhões de pessoas permanecerão sem acesso a água potável em 2050) ou acesso a saneamento adequado ou energia”.
Neste sentido, a ITA tem defendindo e promovido, há vários anos, a utilização do espaço subterrâneo como “alavanca para implementação de novas políticas de desenvolvimento urbano dentro de uma perspectiva sustentável”. De acordo com a associação, pensar nestas soluções implica mudanças de perspectiva e oferece “uma nova dimensão para imaginar um paradigma urbano diferente, que consistira em viver num mundo a quatro dimensões, onde os túneis e o espaço subterrâneo poderiam proporcionar novas oportunidades para transporte e armazenamento de energia”.
“Quais os limites tecnológicos nos métodos actuais de tunelação? Como tornar a construção de túneis mais amiga do ambiente? Poderemos gerir todo o tipo de riscos?” Estas questões, tal como o impacto visual e a percepção de segurança dos utilizadores de túneis urbanos e o papel do projecto, serão debatidos entre 9 e 15 de Junho, em Bergen.
“Os WTC são um “melting pot” da indústria de tunelação global”, afirma Heidi Berg, explicando que este evento é um ponto de encontro para todos os envolvidos nesta indústria. Neste sentido, a presidente do WTC crê que “sinergias rentáveis irão sempre surgir quando pessoas de diferentes profissões ou de diferentes abordagens á indústria se encontram”.
Indústria cresce em tempo de crise
De acordo com o presidente da ITA, existe já uma crescente consciência, por parte da sociedade, relativamente às vantagens das soluções subterrâneas. “Em alguns casos, a população reagiu muito bem às iniciativas dos governos, quando adoptam soluções subterrâneas para problemas que têm sido considerados factos da vida”, salientou Tarcisio Celestino.
Um bom exemplo disto é, segundo Celestino, o projecto Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, Brasil. “A construção de um túnel tornou possível voltar a ver a espectacular paisagem ribeirinha da Baía de Guanabara e do Pão de Açúcar, a partir da Baixa da cidade”, explicou o responsável da associação, sublinhando que a vista havia estado escondida durante décadas “devido à construção de um viaduto”.
Como resultado, está a decorrer um grande projecto de reabilitação, “com grandes vantagens para o mercado imobiliário e para a população”. Tarcisio Celestino refere também outros casos que considera interessantes neste contexto, nos quais “as próprias pessoas tomaram a iniciativa de procurar soluções subterrâneas para melhorar o seu ambiente urbano”. Caso disso foi a Boston Central Post Office Square, “onde uma consciencialização cada vez maior se reflectiu num aumento da procura por soluções subterrâneas”.
Por outro lado, o recurso a novas tecnologias trouxe, segundo Celestino, “grandes avanços para a fiabilidade e diminuição do tempo de construção de projectos subterrâneos”. Estes aspectos estarão em debate nas sessões técnicas do WTC 2017.
O responsável da ITA sublinha que, mesmo durante os anos mais recentes, “quando o cenário económico global não era o melhor, a indústria da tunelação registou alguma expansão” do negócio. Agora, “há sinais de que estamos a aproximar-nos de um período de significativa expansão para esta indústria”, com o aumento de novas encomendas.
Relativamente à forma de como os túneis e os espaços subterrâneos poderão proteger as populações do aumento do nível do mar, Tarcisio Celestino explica que a forma mais “óbvia” de o fazerem será através do “aumento da capacidade dos túneis de transporte de águas fluviais e da criação de reservatórios subterrâneos para armazenar água durante tempestades”.
“Além do derretimento dos calotes polares, as alterações climáticas trouxeram um aumento significativo na variabilidade da precipitação”, destaca este engenheiro brasileiro, explicando que a ocorrência de cheias e secas tem aumentado. “Na minha cidade natal, São Paulo, choveu mais em apenas algumas horas no início de Abril do que a média histórica para o mês inteiro”, sublinhou, referindo, contudo, que, por outro lado, a cidade teve “o mês de Março mais seco das últimas décadas”. “De forma a mitigar os efeitos das cheias, o papel dos reservatórios e túneis que os ligam para uma melhor gestão é óbvio”, afirma.
No que diz respeito à tecnologia ao dispor desta indústria, Celestino afirma que a evolução das tuneladoras, das perfuradoras e do equipamento de projecção de betão tem sido “notável”. “Em todos estes, a utilização intensiva da tecnologia de informação tem trazido uma melhoria significativa da produtividade e fiabilidade da escavação de túneis.
A utilização de componentes electrónicos no equipamento utilizado neste sector tem aumentado exponencialmente. “Progressos semelhantes ocorreram também na fiscalização dos trabalhos de construção subterrâneos com a utilização de fibra óptica e de informação obtida através de satélites”, esclarece o presidente da ITA.
O caso norueguês
O presidente da Sociedade Norueguesa de Tunelação explica que, “há 100 anos, a Noruega era um dos mais pobres países na Europa e era absolutamente necessário encontrar melhores e mais eficientes soluções para sobreviver”. Contudo, o facto de ser um país muito chuvoso consistiu uma oportunidade para energia hidroeléctrica e, agora, a Noruega é auto-suficiente neste cenário, com “100% de energias renováveis”.
Contudo, segundo Fröde Nilsen, construir centrais hidroeléctricas na Noruega é um “desafio” que tem obrigado à escavação de muitos túneis. De acordo com o presidente da NFF, foram construídos “incontáveis túneis e estradas” no país, que agora tem já “quase 7 mil quilómetros de túneis escavados”.
Heidi Berg, por sua vez, considera que deveria haver uma maior cooperação entre o sector da tunelação e o sector mineiro, que envolvesse também a transferência de informações de uma indústria para a outra.
“Por outro lado, existem também diferenças significativas entre uma indústria e outra: a indústria da tunelação usa o buraco e dispensa a massa que é retirada, enquanto que a indústria da mineração utiliza a massa e dispensa o buraco”, explica a presidente do congresso.
De acordo com Berg, actualmente, os fornecedores de materiais estão presentes em ambos os sectores, contudo “os projectistas e donos de obra iriam obter benefícios de uma cooperação mais próxima e de menos barreiras”. Neste sentido, o WTC é aberto a todos os envolvidos nos trabalhos subterrâneos, o que “prepara a arena para a partilha de competência e de conhecimentos que deveria beneficiar ambas as indústrias”.
Boas vindas à Nigéria
Esta edição do congresso servirá também para dar as boas vindas ao mais recente membro da ITA, a Associação de Tunelação da Nigéria. Para o presidente desta associação, “existem várias razões para o desenvolvimento de infra-estruturas subterrâneas na Nigéria”. Segundo Abidemi Agwor, prevê-se que a Nigéria se torne o terceiro país mais populoso do mundo, atrás da China e da Índia e, perante este cenário, existe a necessidade de uma base infra-estrutural para “acomodar o rápido crescimento demográfico previsto” no país. “As nossas cidades estão sob grande pressão e não são, actualmente, capazes de acomodar a expansão projectada”, admite.
“Assim, o desenvolvimento intensivo da nossa infra-estrutura é a principal prioridade dos governos nigerianos e isto reflecte-se no investimento público dos últimos dois anos”, explica Agwor, revelando que os nigerianos estão consciencializados de que as consequências de “não acautelar o futuro de forma adequada” podem ser nefastas. Neste sentido, o desenvolvimento de infra-estruturas subterrâneas é “um dos factores chave para assegurar que temos cidades mais sustentáveis e amigas do ambiente”.