“Queremos ser mais influentes junto do cliente final”
Em entrevista ao CONSTRUIR, o EcoBuildings Manager da Schneider Electrics explica os desafios que a empresa tem pela frente para responder às alterações verificadas no mercado da Construção nos últimos anos. Fernando Ferreira, que recentemente foi nomeado presidente da Associação KNX Portugal, revela ainda que papel pode ter a tecnologia neste novo paradigma
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Para Fernando Ferreira, EcoBuildings Manager da Schneider Electrics e novo presidente da Associação KNX Portugal, 2017 já será um ano de recuperação do mercado. Segundo aquele responsável, é fundamental que as empresas, de um modo geral, percebam a perspectiva do cliente final e de que modo pode o seu investimento representar uma verdadeira mais valia. Esta actuação, garante, representa não só um desafio como uma oportunidade.
A Schneider é um dos grandes players do mercado na área da automação e da gestão de
energia. Que avaliação se pode fazer do mercado nacional neste momento?
O mercado, desde há dois anos a esta parte, está a sofrer uma transformação na forma como o conhecíamos. Estava bem definido ao nível de especialidades, havia uma cadeia que funcionava bem, que foi optimizada ao longo de 30 anos para um País que estava em franco desenvolvimento do edificado novo e, neste momento, todas as empresas – desde fabricantes, representantes, instaladores, construtores, integradores das áreas tecnológicas – estão a reavaliar os seus mercados, a sua oferta e a sua competitividade. E perceber de que modo se vão reafirmar daqui em diante. A nível do mercado de gestão e controlo, tem um potencial enorme de desenvolvimento. Claro que sofreu, nos últimos anos, com a diminuição de mercado e estamos a enfrentar essa contracção, o que leva a que algumas empresas tenham de se reposicionar.
A propósito dessa contracção, sente que já atingimos o patamar mais baixo?
Pelo que vou percebendo, junto de outros fabricantes ou com outros players do mercado, sente-se que o ano de 2016 foi o ano em que se atingiu esse pico negativo. Resta perceber o que dirão as estatísticas, mas ficamos com a sensação de que 2017 já será um ano de retoma e as empresas estão conscientes da nova forma de actuação. Isso não significa que não haja ainda alterações a fazer, nomeadamente empresas que não se adaptem a esta nova realidade. O mercado dita as regras.
Dizia-me que houve um período de natural contracção…
Houve, as empresas notaram isso e perceberam que a forma como actuavam até então não era suficiente para gerar riqueza e, numa fase inicial, há a inercia de quem está a repensar o futuro. A Schneider, como empresa que funciona muito baseada em parcerias, tentou sempre fazer coaching nas empresas com quem trabalha mas, sem nos metermos na gestão das empresas, temos a noção de que é uma obrigação moral ajudarmos e discutirmos as questões e tentar ajustar essa abordagem ao mercado. Esse trabalho tem sido feito e é com orgulho que verificamos que são já notórios sinais de mudança.
E que sinais são esses?
Por exemplo: o instalador clássico, nesta área da monitorização e controlo, normalmente subcontratava a uma empresa. Alguns deles vão tornar-se instaladores tecnológicos, vão criar competência internamente até mesmo para se distanciarem dos seus competidores directos. Este foi um caminho natural já verificado em mercados europeus mais maduros, nomeadamente no Centro e Norte da Europa. Vê-se, em Portugal, que alguns deles estão a tomar consciência e ir por esse caminho. Por outro lado, existem empresas que só tinham especialidade de engenharia, os chamados integradores, que certamente irão alargar a sua oferta, nomeadamente à instalação ou a ofertas auxiliares, tentando aportar uma mais-valia a todo o seu leque de oferta de modo a reposicionarem-se. Será um exercício interessante, olhar para o mercado daqui a dois ou três anos para percebermos o que mudou. Até os próprios fabricantes e a sua política de estar no mercado terá de ser ajustada.
Nesse particular, como é que a Schneider se está a reposicionar?
Há algo, a nível europeu, que sempre fez parte do seu modelo comercial, que é trabalhar sempre em parcerias. Em todos os países em que estamos representados, a ideia é não estarmos directamente no mercado mas sempre através de parceiros. Esse é um trabalho que, certamente, continua a ser um caminho de futuro, essencial. Mas há um trabalho que fazíamos menos e que é fundamental e que passa pela proximidade ao cliente final de modo a ajudarmos os nossos parceiros no desenvolvimento do seu negócio.
A Schneider ser parte mais activa…
Sermos mais influentes junto do cliente final e o significado disso nas áreas tecnológicas. Notávamos, claramente, essa lacuna mas, como estávamos num processo de expansão e de construção, obviamente nunca olhámos para isso com atenção. Com todo o corpo técnico, desde o prescritor, projectista e tudo mais, com quem trabalhamos, tínhamos as equipas preparadas para essa cadeia o que era mais que suficiente para alimentar todo o negócio. E esse mecanismo funcionava. Neste novo mercado, um mercado com mais qualidade, de renovação de edifícios mais do que construir novo, temos obrigação de apoiar os clientes finais na decisão do seu próprio investimento. E isso muda o paradigma do mercado. Temos de nos tornar mais activos nesse capítulo.
Quais são os desafios que a Schneider tem pela frente, nomeadamente nesse departamento?
Nesta área de monitorização e controlo da área de edifícios de serviços e residencial, o grande desafio que enfrentamos aqui é, por um lado, esta questão de estudar e estar perto do cliente final e entender o que para ele, enquanto investidor, aporta esse investimento. Outro desafio passa pelo acompanhamento do “boom” da Internet das Coisas, um contributo essencial para o desenvolvimento das tecnologias no sector eléctrico. Até agora fazíamos as ditas instalações eléctricas clássicas, conforme os regulamentos, para protecção de pessoas e bens e para o abastecimento de electricidade. É uma área que continua, core da empresa, mas a questão da monitorização e controlo, da própria informação que se tira das instalações do ponto de vista da eficiência – mais do que unicamente a energética – mas eficiência também da exploração dos edifícios. Isto é algo que é já procurado pelos clientes. Precisávamos de entender essas dificuldades e por isso queremos estar mais perto. Um hoteleiro tem uma preocupação que o gestor de um edifício de escritórios não tem. Cada área tem a sua especialidade e importa que percebamos em que podemos ser mais úteis. Um hoteleiro, se tiver um quarto que não está disponível, é um prejuízo que tem, o mesmo se passa com quem explora um edifício de escritório. Todos os aparelhos são comunicantes. O desafio é perceber o que podemos extrair de informação e o que fazer com essa informação, como agrupá-la para tornar esses dados úteis para a exploração e funcionamento do edifício. A tendência é fazer a gestão de ocupação e dos hábitos. A Schneider tem em curso uma investigação sobre uma nova geração de sensores que têm a particularidade de aprender. A ideia é que eles façam a auto-aprendizagem dos costumes e hábitos de determinado ocupante de modo a que tudo o que é necessário de sistemas para que se desenvolva “ali” uma determinada actividade possa ser optimizado. No caso de um hotel, por exemplo, faz todo o sentido, perceber os hábitos de quem ocupa um quarto de modo a optimizar o funcionamento desse quarto para essa pessoa, para que, do ponto de vista da exploração, sejam desencadeadas medidas de conforto e eficiência energética.
Para que tudo funcione, há uma lógica para quem está a montante dessa exploração e que passa pela integração das soluções. É possível traçarmos uma radiografia sobre o ponto em que estamos neste momento? Estamos a falar de uma área com múltiplos protocolos, uns mais complexos que outros ao nível da integração…
A integração levanta questões, nomeadamente as zonas cinzentas e as tecnologias distintas dos sistemas e a forma como se ligam uns aos outros. Hoje em dia, há uma convergência de vários tipos de tecnologias que são comuns a vários players. A facilidade com que se consegue fazer integração entre sistemas distintos tem um grau muito elevado. Devemos andar na ordem dos 70%. Há ainda nichos que, por uma questão estratégica de um determinado fabricante que se quer proteger e blindar, mas a maior parte dos fabricantes estão, no geral, a deixar pontes abertas para se poder fazer mais. O KNX, por exemplo, está nesse caminho e está nesse trilho não só para os fabricantes que adoptam esta tecnologia como, a passos largos, a fazer esse caminho da Internet das Coisas de modo a que, mesmo que sejam outros sistemas que não use esta tecnologia nativamente que tornem fácil a integração com esta tecnologia. Esse é um passo que neste momento é uma realidade. Existem inúmeros fabricantes, nomeadamente a Schneider, que têm já equipamentos que permitem, com facilidade, essa integração usando nativamente essa tecnologia do KNX.
Temos assistido, nos últimos anos, ao aparecimento de novas unidades hoteleiras, nomeadamente em Lisboa e Porto. Sente que a esse crescimento está também associado o crescimento da expressão das ferramentas de gestão?
Há, de facto, quer em Lisboa quer no Porto, um boom das iniciativas de construção e renovação de unidades hoteleiras. Isso é óbvio. Mas existem duas partes do mercado: por um lado, existe uma parte associada aos hostel e à chamada renovação clássica, mais ligada ao embelezamento do edificado e em que estamos a falar do mínimo que a regulamentação exige; e, por outro lado, há uma oferta para outro segmento turístico, superior, e aí sim, há uma ideia para os projectos base e para o próprio investidor que já tem consciência da importância de ser uma oferta diferenciada. A Schneider, por exemplo, está associada ao projecto do SANA Evolution, em que para o gestor, do ponto de vista da exploração, faz todo o sentido este nível de integração com os benefícios da exploração que pode tirar. Até para, ao nível de futuros investimentos, haja uma optimização baseada no comportamento do edifício, dos sistemas e dos clientes. Há dois caminhos distintos quando se fala no crescimento do Turismo.
O que tem o SANA Evolution de tão diferenciador?
Para além da tecnologia e do nível de integração que conseguimos, creio que é importante destacar a aproximação ao cliente final. Entendermos as suas preocupações e, tecnicamente, chegarmos às suas necessidades. Trata-se de um novo paradigma, o de entender as tecnologias e o seu propósito na lógica dos edifícios. Durante muitos anos, a preocupação incidia no CAPEX. Fazia-se o investimento, propunha-se os sistemas aos consultores e eles eram implementados. Se, depois, o proprietário ou o gestor do edifício os usava ou não, já pouco importava a esta franja da industria. Um pouco a lógica do “sell and Forget”. Aqui estamos a falar de uma mudança de mentalidade que vai fazer o sector eléctrico, de certeza absoluta, mudar os seus modelos de negócio. A construção nova, o tal CAPEX de investimento, vai ser menor, o número de projectos vai ser claramente menor e o que vamos ter de fazer é olhar para a exploração, para o ciclo de vida do edifício, para a sua condução e ver o que vamos fazer com isso. Que mais valias vamos aportar com estas ferramentas, seja ao nível da eficiência, do conforto, do que for.
Assumiu, recentemente, o cargo de presidente da direcção da Associação KNX Portugal. Por muito que estejamos a falar de, em alguns casos, trocas de cadeiras, que herança recebeu por parte de Ribeiro da Costa?
A herança em relação ao último mandato foi, essencialmente, a consolidação de uma nova organização da associação. A associação existe em Portugal desde o final dos anos 90, sofreu várias transformações, esteve sempre um pouco limitada a nível dos fabricantes e o que se tentou fazer com o novo contexto jurídico que define a associação passava por libertá-la dessa limitação de apenas suportar fabricantes e começar a abrir o leque a outros actores. Houve três anos necessários de consolidação. O grande desafio que a nova equipa tem agora no novo mandato é conduzir esse alargamento do âmbito de associados. Esse caminho já está a ser percorrido, há já integradores no seio da Associação e temos noção que temos de ser os representantes de todos os que usam esta tecnologia. Consolidada a primeira parte, importa agora criar um corpo de associados mais robusto, de modo a que a nível de influência possamos ser uma voz activa até na relação com alguns órgãos estatais desta área. É importante termos voz, nomeadamente ao nível da legislação.
Que passos vão dar nesse sentido?
Um dos caminhos que temos de percorrer para trazer para a Associação os integradores, uma grande fatia do mercado, os instaladores, projectistas, arquitecto, os que directa ou indirectamente usam esta tecnologia passa pela promoção da Associação. Continuamos a marcar presença em eventos públicos de construção e associados a este sector, e vamos continuar. Por outro lado, a par dos profissionais mais perto desta área e que partilham esta tecnologia, queremos começar a criar grupos de trabalho que os estimule a trabalhar em parceria. Há agrupamentos técnicos que estão já a começar a trabalhar em manuais de boas práticas e um outro conjunto de documentos que atestem este trabalho em parceria.
Algumas dessas necessidades estão já identificadas? Quais vão ser as primeiras medidas a adoptar?
Uma das prioridades passa pela identificação e o estudo das normas e Decretos nacionais nos quais o KNX é uma resposta ao nível dos sistemas de Monitorização e Controlo. Estou a referir, por exemplo o Decreto Lei 118 e algumas normas do género associadas à eficiência e climatização em edifícios de serviços e começámos a explorar algumas notas de boas práticas.
Que vantagens é que eu, enquanto instalador, arquitecto, prescritor, promotor, tenho por ser associado da Associação KNX Portugal?
A grande vantagem passa por fazer parte da associação, participar activamente e contribuir para que esta tecnologia, que é comum a todos, comece cada vez mais a fomentar-se na sociedade e fora do sector técnico. O KNX, até pela sua Natureza, esteve durante muitos anos associado ao sector residencial de luxo. Eu chamo-lhe o segmento “home Premium”. Existem muitos instaladores e integradores, além de fabricantes, que fazem deste mercado a sua actividade. Mas o KNX tem conseguido adaptar-se e fazer face às transformações do mercado. Hoje em dia, o KNX consegue abranger os edifícios de serviços sem qualquer problema, consegue abranger sistemas mais simples. O ETS Inside é disso exemplo e permite ir a um mercado em que o KNX, no seu essencial, não ia. Falamos dos pequenos sistemas de domótica que podem bem ser o “do it yourself”, versões simplificadas da maneira de programar o KNX de modo a que coisas mais básicas que se podem fazer num apartamento, seja nos estores ou iluminação, eu consigo usar esta tecnologia para isso. Não está a entrar em concorrência com o mercado dos integradores, que trabalham em sistemas mais complexos e necessitam de outras ferramentas, como o ETS Professional, que requer conhecimentos de engenharia. Mas aqui já estamos a falar do alargamento para um mercado a que podemos bem chamar de “pré-Domótica”, da automação dos quadros eléctricos e da informação que se pode daí retirar. Existem produtos dentro do KNX que podem chegar, por exemplo, à área da segurança. Há que desmistificar esse carácter rígido.