Universidade de Coimbra cria algoritmo para mitigar inundações em zonas urbanas
Uma equipa de investigação da Universidade de Coimbra desenvolveu um algoritmo para gestão dos sistemas de drenagem de águas pluviais, para evitar ou mitigar inundações em zonas urbanas
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Uma equipa de investigadores dos Departamentos de Engenharia Informática e Engenharia Civil da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) desenvolveu um algoritmo inteligente para gestão dos sistemas de drenagem de águas pluviais, por forma a evitar/mitigar inundações em zonas urbanas.
Na prática, a solução desenvolvida, recentemente distinguida com o “Best Paper Award” na 4th Experiment@International Conference, destina-se ao controlo de caudais em condutas subterrâneas existentes para a drenagem das águas provenientes das chuvas.
A partir da recolha de dados fornecidos em tempo real por vários udómetros – sensores de precipitação – instalados em diferentes pontos geográficos da malha urbana, este algoritmo “avalia a situação e, de forma autónoma, activa barreiras que controlam o fluxo da água, evitando ou mitigando a ocorrência de inundações. Dependendo da intensidade de precipitação e do caudal gerado, e considerando a capacidade de retenção do sistema de tubagens existente, é tomada a decisão adequada, sem intervenção humana”, explica Alberto Cardoso, coordenador deste projecto.
Alberto Cardoso explica que “o objectivo deste trabalho foi contribuir para a capacidade de reter água nas condutas existentes de transporte de água pluvial para as zonas mais baixas de uma cidade, como Coimbra, usando barreiras e aproveitando a infra-estrutura já existente para fazer essa retenção”. Segundo aquele responsável, “dessa forma tentamos evitar a ocorrência de inundações nas zonas mais baixas, atrasando a propagação da água para essas mesmas zonas. O algoritmo foi desenvolvido para encontrar a melhor forma de controlar essas barreiras, garantindo que a própria infra-estrutura consegue reter a água de forma adequada tentando, em algumas circunstâncias, garantir que não ocorrem inundações nas zonas mais baixas”.
Além disso, esta ferramenta informática “considera também ambientes naturais envolventes para onde a água pode ser desviada temporariamente. Foi um grande desafio desenvolver este algoritmo porque a água tem um comportamento imprevisível” acentua o docente e investigador da FCTUC.
O controlo em tempo real (RTC) de redes de drenagem de águas pluviais é uma temática bastante actual, que tem sido objecto de diversos estudos, nomeadamente o projecto europeu CENTAUR (Cost Effective Neural Technique for Alleviation of Urban Flood Risk), que envolve equipas de investigadores do Departamento de Engenharia Civil da FCTUC e a empresa Águas de Coimbra (AC).
Cheias de 2016
Coimbra é um dos casos mais flagrantes de cidades afectadas por inundações frequentes. As cheias do rio Mondego que em Janeiro de 2016 inundaram Coimbra poderiam ter sido evitadas ou minimizadas caso a gestão da barragem da Aguieira, explorada pela EDP, tivesse sido cumprida de acordo com o plano.
A conclusão é do relatório encomendado à Ordem dos Engenheiros (OE) sobre a inundação, apresentado um ano depois das cheias. No documento pode ler-se que, “analisada a metodologia adoptada na operação do sistema Aguieira-Raiva, durante o período de evento de cheia, concluiu-se” que “as normas de exploração da albufeira da barragem da Aguieira não foram cumpridas”. O trabalho adianta que a cheia de 11 de Janeiro do ano passado “poderia ter sido evitada/minimizada, caso se tivesse adoptado outro esquema operativo do sistema”.
Várias entidades, como autarquias e Direcção Regional da Cultura do Centro (DRCC), tinham já referido este como um dos factores decisivos para a subida das águas, responsabilizando a gestão da EDP.
Os caudais provenientes do sistema Aguieira-Raiva “influenciaram directamente os caudais que chegaram à zona ribeirinha da cidade de Coimbra”, refere o documento, mas as inundações foram também “influenciadas pela acumulação de sedimentos no leito do rio”. Aqui, a instalação de pontes e pilares no rio tem também um papel, aumentando a “resistência ao escoamento”. O relatório realizado por académicos das universidades de Coimbra e do Minho considera necessária a elaboração de um documento onde “estejam sistematizados os procedimentos de exploração em situação de cheia” e que fiquem “inequivocamente estabelecidas as respectivas entidades responsáveis”. É ainda recomendada a actualização tecnológica do sistema de previsão de forma a permitir a “adopção de medidas operacionais mais adequadas ao sistema.”
As cheias causaram mais de 2 milhões de euros em prejuízos no património municipal e o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha precisa de um restauro no valor de meio milhão de euros. As águas do Mondego inundaram também casas e vários estabelecimentos comerciais.
Em relação ao mosteiro, o relatório indica que, caso a porta instalada nas passagens inferiores estivesse “devidamente fechada”, “não permitiria a circulação franca da água através dela e poderia ter tido um efeito de minimização da inundação” no monumento.
Desassoreamento avança
A iniciativa é conhecida numa altura em que o Governo assinou já o auto de consignação do desassoreamento da albufeira do Açude-Ponte, em Coimbra, entregue à Mota-Engil.
Os trabalhos de desassoreamento visam “repor o leito do rio Mondego em níveis próximos dos registados em 1985, ano da construção do Açude-Ponte de Coimbra”, refere a autarquia conimbricense, acrescentando que esta “era uma intervenção necessária há muitos anos e que se tornou ainda mais urgente desde as cheias e inundações registadas em Janeiro e Fevereiro de 2016, que levaram o actual executivo a diligenciar no sentido de acelerar ainda mais este processo”.
Com a obra prevê-se a retirada de um volume de 700 000 metros cúbicos de sedimentos, numa extensão de 3,5 quilómetros contados a partir do Açude-Ponte em direcção a montante, o que permitirá “o abaixamento dos níveis de cheia ao longo da albufeira, reduzindo os riscos de cheias e/ou inundações, ao mesmo tempo que cria condições adequadas de utilização do leito para navegação e desportos náuticos”.
Os inertes retirados do rio serão, depois, depositados a jusante da ponte de Açude, ao longo de uma área de 5,8 quilómetros, que “actualmente apresenta um défice sedimentar e/ou necessita de reconstrução das margens”, adianta o Município. Antes disso, os dragados serão conduzidos para o estaleiro e área de armazenamento temporário, que se situará na margem esquerda, junto aos pilares da ponte Rainha Santa Isabel.
Na cerimónia de consignação da obra, que contou com a presença de diversas entidades de Coimbra e concelhos vizinhos, bem como do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra congratulou-se referindo que “este acto tem uma relevância simbólica muito forte, uma importante obra que serve directamente mais de 250 000 pessoas que vivem nas margens ribeirinhas do Mondego (Coimbra, Montemor-o-Velho, Soure e Figueira da Foz)”.