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    Aposta nos Açores é primeiro passo para a diversificação

    Em pleno ano da crise, em 2013, a Level Constellation decidiu investir em Portugal, antevendo a recuperação que hoje se regista. Focados na reabilitação, a promotora já investiu cerca de 70 milhões de euros e espera duplicar este valor com os projectos que tem em pipeline. Pedro Vicente, director-geral, falou ao CONSTRUIR sobre a estratégia da empresa

    Cidália Lopes
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    Aposta nos Açores é primeiro passo para a diversificação

    Em pleno ano da crise, em 2013, a Level Constellation decidiu investir em Portugal, antevendo a recuperação que hoje se regista. Focados na reabilitação, a promotora já investiu cerca de 70 milhões de euros e espera duplicar este valor com os projectos que tem em pipeline. Pedro Vicente, director-geral, falou ao CONSTRUIR sobre a estratégia da empresa

    Cidália Lopes
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    O mercado internacional é o responsável por mais de 70% do volume de negócios da Level Constellation, mas o número de clientes nacionais tem vindo a aumentar. Pedro Vicente, director-geral da Level Constellation explica como estão a olhar para esses indicadores.

    Sendo uma empresa com investidores chineses conte-nos um pouco como começou esta parceria e porquê Portugal?

    Portugal entrou no radar dos investidores internacionais, em particular desde 2013, ano de crise profunda, mas que permitia antever a recuperação que registamos. Acresce a este factor a atractividade do País, com todas as qualidades e vantagens que lhe são reconhecidas internacionalmente.

    Os actuais sócios da Level Constellation identificaram essa oportunidade e decidiram constituir a empresa, avançando com investimentos no sector imobiliário.

    O core business da Level Constellation é, essencialmente, a reabilitação para habitação. Como se posicionam no mercado neste sentido?

    O core business da empresa tem sido, efectivamente, a reabiltação para habitação. Neste campo, temos já entregues, com muito sucesso, 27 unidades no PARK AVENUE – Rua Padre António Vieira, 27, Rua Rodrigo da Fonseca, 139, encontrando-se em construção o OURO GRAND, na Baixa de Lisboa, com 57 unidades e em fase final, e o off Liberdade, na Rua do Salitre, com 14 unidades. No próximo ano, apresentaremos o CLASSICA, com 23 unidades, na Avenida da República, 40 e, pelo menos, mais dois projectos, que revelaremos mais tarde.

    Consideram que o mercado da reabilitação ainda tem muito para crescer?

    Sem dúvida. Este mercado passará, no entanto, a abranger novas áreas de intervenção, passando a focar-se não só nos centros históricos de Lisboa e Porto, mas também em bairros limítrofes e zonas históricas de algumas das mais relevantes cidades do País.

    Que alterações ao nível da reabilitação poderia favorecer esse crescimento?

    A manutenção dos incentivos fiscais e a estabilidade e previsibilidade das políticas públicas são indispensáveis para manter e fazer aumentar o grau de atractividade que Portugal tem registado nos últimos anos. Exigirá, no entanto, da parte do poder político responsabilidade e bom senso.

    E além da reabilitação, existe a possibilidade de investir em algum projecto de construção nova?

    Estamos atentos à construção nova. No devido momento, poderemos avançar.

    Em que outros segmentos, além da habitação, ponderam também investir?

    Acabamos de anunciar a compra do Hotel Monte Palace, na Lagoa das Sete Cidades, São Miguel, Açores. Trata-se do primeiro passo no âmbito da diversificação dos nossos investimentos, que contamos poder vir a reforçar.

    Os clientes estrangeiros representam uma grande parte do vosso negócio.  Qual a percentagem que representa para a vossa empresa o mercado internacional?

    O mercado internacional tem vindo a perder peso nas nossas vendas, tendo começado, em 2014, a representar 90% das vendas, sendo hoje não mais de 70%. A retoma económica do país não é alheia a este registo.

    Que tipo de habitação procuram os estrangeiros em Portugal?

    Trabalhamos, neste momento, com 23 nacionalidades diferentes. Os nossos clientes, apesar de muito diversificados, procuram, essencialmente, produtos de investimento. Alguns, acabam por se deixar seduzir por Portugal e optam por ocupar os apartamentos que adquirem.

    Até ao momento qual o montante investido nos projectos que já desenvolveram?

    Executámos, até ao momento, investimentos de cerca de 70M€.

    Entraram numa segunda fase dos vossos investimentos. Qual o orçamento previsto para 2018?

    Os projectos que temos em pipeline poderão significar um investimento de montante similar ao até agora investido.

    Além dos projectos em Lisboa, adquiriram recentemente o Hotel Monte Palace. Trata-se de uma localização totalmente diferente daquela em que costuma investir. Porquê os Açores?

    Os Açores são para nós uma prioridade. Trata-se de uma parte privilegiada do território nacional, pelas suas características naturais únicas. As 9 ilhas têm conhecido um crescimento sem paralelo e, em particular, um crescimento do turismo na casa dos dois dígitos, que não podem passar despercebidos. Será, sem dúvida, um investimento de sucesso.

    O imóvel vai manter no novo projecto a sua antiga função?

    Sim, manterá. Será apresentado oficialmente em 2018, em conjunto com as autoridades.

    Ponderam investir em alguma outra cidade do País?

    Estamos atentos a todo o território nacional e acreditamos no valor do investimento em Portugal. Como tal, não enjeitamos que venha a acontecer.

     

    Projectos em desenvolvimento

    Off Liberdade

    Na Rua do Salitre, perto da Avenida da Liberdade. Encontra-se em construção pela Gabriel Couto e estará concluído em Agosto de 2018. Projecto de arquitectura é da responsabilidade de Manuel Cottinelli Telmo Pardal Monteiro.

    OURO Grand

    Resulta da união de quatro edifícios de origem Pombalina, constituindo o maior projecto residencial da Baixa de Lisboa. Em fase final de construção. Catarina Almada Negreiros é a arquitecta responsável pelo projecto.

    Classica

    Edifício de 1910. O projecto, de Frederico Valssasina, irá manter os actuais pormenores arquitectónicos preservados em perfeita consonância com aspectos de conforto de excepção: piscinas e Jacuzzi privativos, lareiras, jardins, espaços exteriores e bicicletas eléctricas.. Encontra-se em fase de licenciamento.

    Hotel Monte Palace

    Reabilitação do hotel com o mesmo nome que se encontra ao abandono desde 1990. Irá manter o mesmo uso, embora não haja ainda projecto de arquitectura. Está previsto o seu lançamento em meados de 2018.

    Sobre o autorCidália Lopes

    Cidália Lopes

    Jornalista
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    Engenharia

    Siemens e a digitalização ‘taylor made’ da indústria

    A Siemens promoveu, durante dois dias, um périplo por unidades industriais de diversas áreas do ‘food and beverage’, em Espanha, promovendo assim um conjunto de soluções à medida voltadas para a digitalização e informatização dos processos industriais. Os modelos escolhidos, distintos entre si até mesmo ao nível das dimensões, atestam a versatilidade do portfolio da Siemens no domínio da digitalização do chão de fábrica

    Ricardo Batista

    Por mais que muitas organizações já tenham a noção da importância da recolha e análise de informações, algumas empresas ainda têm dificuldades em entender como realmente aplicar esse conhecimento e assentar a estratégia em dados concretos. “O futuro será sustentável e digital”. Quem o garante é José Ramon Castro, o director geral de Digital Industries da Siemens para Portugal e Espanha que, numa iniciativa que reuniu dezenas de jornalistas em Espanha, recordou a pressão que existe sobre o tecido industrial, muito graças ao preço das matérias e ao preço da energia, abrindo assim portas à importância de encontrar formas de responder aos desafios. “Mais não fosse porque o consumidor está, também ele, mais desperto para a pegada ecológica”, sublinha, assegurando que a “pressão sobre a indústria é cada vez mais evidente e os dados são ferramentas fundamentais para se poder agir”. “Mas não basta obter dados”, acrescenta aquele responsável da Siemens. “É importante dar-lhes expressão, contexto, e encontrar formas de assegurar a melhor tomada de decisão”, conclui José Ramon Castro.

    Produção indoor de lúpulo
    O mote serviu de base para um circuito por várias unidades industriais da área alimentar e de bebidas, repartidas por Madrid, Sevilha e Córdoba, fábricas essas que contam com o apoio estratégico da Siemens.
    Na primeira paragem, ficou claro que a dimensão do negócio pode ser um conceito subjectivo quando falamos de digitalização e automação. Fundada por Ana Sáez, Antonio Rojas, Inés Sagrario e Javier Ramiro, esta start-up está agora numa “missão para salvar as cervejas do Mundo”. Pioneira no vertical farming em Espanha, começaram há 5 anos a trabalhar nos cultivos hidropónicos mais típicos da agricultura em ambiente controlado – alfaces e ervas aromáticas, mas após vários anos de pesquisa em diferentes abordagens, decidiram experimentar algo que nunca havia sido feito. Após realizar diversos testes com cultivos de alto risco climático, a equipa da Ekonoke conseguiu optimizar o cultivo hidropónico do lúpulo em um ambiente 100% controlado, unindo tecnologia e conhecimento científico para proporcionar resiliência climática e sustentabilidade a uma espécie gravemente ameaçada pela emergência climática. O lúpulo, a par do malte e da cevada, é um dos ingredientes chave no fabrico de cerveja. Além de contribuir para o sabor amargo da cerveja é ainda importante para a formação de uma boa espuma e para evitar a deterioração da bebida, evitando a formação de microrganismos devido ao seu poder antisséptico.

    Resumindo, sem lúpulo não há cerveja… pelo menos como a conhecemos. O lúpulo é uma planta trepadeira, que pode chegar aos 15 metros de altura, embora o mais comum seja medir entre quatro e nove metros. Consegue resistir a temperaturas de até 30 graus negativos, mas é a meio do Verão que cresce mais rapidamente: até 50 centímetros por semana. As alterações climáticas estão a colocar em risco o cultivo do lúpulo, considerando que se trata de uma planta com características e exigências especiais. Inés Sagrario, co-fundadora da Ekonoke e CEO da empresa, explica que “necessita de muita luz no Verão, temperaturas amenas e muita água”, sublinhando que as alterações climáticas já levaram, por exemplo a quebras de produção na Alemanha na ordem dos 28%, remontando a dados de 2022 (Alemanha, a par dos Estados Unidos, é responsável por 80% da produção Mundial de lúpulo). E pior: as quebras de qualidade da matéria final rondam os 60%. Tendo estes dados em consideração, a Siemens é parceira da Ekonoke no desenvolvimento de um sistema vertical de cultivo das trepadeiras de lúpulo, recorrendo a sensores ligados às folhas, raízes e caules das plantas trepadeiras que medem vários parâmetros, desde a humidade até aos níveis de CO2, enquanto diferentes comprimentos de onda das luzes LED fazem os armazéns parecerem uma discoteca.

    O cultivo de lúpulo em interiores cumpre este conjunto de requisitos ao combinar a renúncia aos pesticidas, a proximidade das cervejarias e a independência das condições climáticas. Este método de cultivo leva a um consumo de água até 95 por cento menor e ao uso exclusivo de energia renovável. A estratégia concertada com a Siemens também melhora a eficiência: enquanto no exterior é possível uma colheita por ano no campo, no cultivo indoor podem ser alcançadas até quatro colheitas por ano, um salto que, a par da qualidade da matéria-prima, desperta o interesse das cervejeiras um pouco por todo o Mundo. A Estrella Galicia já recorre ao lúpulo produzido pela Ekonoke.

    Coca Cola
    A Coca-Cola Europacific Partners (CCEP) é o maior engarrafador independente Coca-Cola Company. Produz, comercializa e distribui os seus produtos na Europa Ocidental, Austrália, Indonésia e Ilhas do Pacífico. Todo o grupo tem dois milhões de clientes em 29 países diferentes. A Unidade de Negócios Iberia da CCEP, que inclui Espanha, Portugal e Andorra, possui sete fábricas engarrafadoras de refrigerantes e quatro fábricas de água mineral. Em Espanha, a CCEP tem mais de 270.000 clientes, atendendo a mais de 130 milhões de consumidores potenciais. Em 2022, a CCEP gerou vendas de 17,3 milhões de euros, um aumento de 26 por cento em comparação com o ano anterior. No âmbito do clima, a CCEP definiu o objectivo de se tornar uma empresa neutra em carbono até 2040 em toda a sua cadeia de valor na Europa, dez anos antes do objectivo da União Europeia. Para alcançar este objectivo, a CCEP estabeleceu uma trajectória que inclui a redução da sua pegada de carbono em todas as áreas de actividade através do controle do consumo de energia, água, matérias-primas e, claro, a redução de CO2. A Coca Cola Europacific Partners tem aumentado seus investimentos em soluções capazes de monitorar e reduzir os gastos com energia e água. A unidade de Sevilha, que a comitiva visitou, mantém, desde 2019, valores similares de consumo desses dois insumos nos processos de engarrafamento mesmo após a expansão da sua linha.

    “São bons números, porque nós temos uma nova linha de embalagens retornáveis, que consome mais água e electricidade, e pudemos incluir essa nova tecnologia sem consumo extra desses insumos”, diz Belén Barreiro, directora geral da fábrica da CCEP em Sevilha. A fábrica de Sevilha possui, ao todo, 12 linhas de produção para o enchimento de garrafas retornáveis, PET, latas e outras. O software Energy Manager PRO da Siemens foi implementado para monitorizar o consumo de energia na unidade de Sevilha, o que permite monitorar os KPIs relevantes, possibilitando uma análise de mercado completa do local. A gestão da empresa pode, assim, analisar esses dados directamente, assim como monitorizar os consumos de água, energia eléctrica, vapor, gás natural, CO2 e ar comprimido. Em última instância, esses dados vão permitir aos responsáveis da fábrica uma melhor gestão de cada uma das linhas, reorganizando o ciclo de bebidas como a Coca-Cola, Aquarius, Fanta pela linha mais eficiente. O primeiro passo foi modernizar e digitalizar a fábrica de Sevilha, tendo para isso sido instalados 225 pontos de medição na fábrica. Esta tecnologia também está a ser implementada em parte da Alemanha e do Benelux. O objectivo do sistema de gestão de energia é obter dados estratégicos para tomar decisões lucrativas e sustentáveis para a empresa. Para isso, a Siemens oferece serviços ao cliente que incluem um serviço de design abrangente, suporte de ferramentas e análise de dados. O objectivo é fornecer as melhores soluções de digitalização detectando anomalias atempadamente e assim permitir uma gestão eficaz dessas anomalias.

    “Na Coca-Cola Euro Pacific Partners (CCEP) [em Sevilha], a Siemens está a implementar o seu Energy Manager Pro Software que monitoriza os consumos energéticos e de água para alcançar poupanças significativas – aqui em Espanha, convencemos o cliente através de um projecto-piloto, uma prova de conceito, que ao utilizar este software poderia alcançar uma redução do consumo na ordem dos 10%”, contextualiza José Ramón Castro. “Com base nisso, estão a avançar para a aplicação desta tecnologia em mais de 30 instalações na Europa [Portugal incluído]. Bom para Espanha, bom para a Siemens, que nos permite mostrar ao mercado que somos capazes de alcançar esta poupança.”

    Digital é como o azeite
    Começando por uma start-up e passando por uma multinacional, por onde passou ainda o percurso? Passou por Córdoba, também no Sul de Espanha, para se perceber o papel da digitalização numa indústria mais tradicional como a da produção de azeite. A Deoleo, tal como a Coca-Cola tem preocupações ao nível da eficiência energética e consumo de água. Sem grande expressão em Portugal, a Deoleo é actualmente o maior produtor, engarrafador e comercializador internacional de produtos de azeite do Mundo. A empresa comercializa marcas como Bertolli, Carapelli, Carbonell, Koipe e Figaro e emprega mais de 600 pessoas em todo o Mundo. Em 2022, a Deoleo gerou vendas de 827 milhões de euros, aumentando as vendas em 18 por cento em comparação com o ano anterior. Os objetivos de sustentabilidade e fabricação da Deoleo requerem um sistema digital eficiente que forneça uma plataforma centralizada para analisar e comparar as diferentes variáveis ao longo de toda a cadeia de valor.

    Para atender a esse requisito, a Deoleo implementou o software Opcenter do portfólio Siemens Xcelerator. Além disso, o produtor de azeite utiliza o software Siemens Opcenter RD&L (Pesquisa, Desenvolvimento e Laboratório) como plataforma para agilizar, optimizar e alinhar toda a gestão de dados para produtos formulados e permitir uma transição perfeita dos dados e definições do produto ao longo de todo o processo de fabricação, integrando laboratórios de P&D com plantas. A Deoleo tem uma sólida trajetória em melhorias de sustentabilidade. Como resultado de seu compromisso contínuo e da implementação da tecnologia da Siemens, a empresa reduziu suas emissões de dióxido de carbono (CO2) de Escopo 1 e 2 em mais de 2.350 toneladas em 2022 em comparação com o ano anterior. Isso representou uma redução de 66 por cento. A Deoleo continua comprometida em liderar o desenvolvimento sustentável em seu sector, destinando 36 por cento de seus investimentos a iniciativas de sustentabilidade em 2022.

    *O jornalista viajou a convite da Siemens

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
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    Construção

    ABB constrói nova escola de Saúde de Setúbal

    A obra, desenhada pela VHM, deverá estar concluída no prazo de 18 meses, e vai implicar um investimento de 7,7 milhões de euros. O Instituto Politécnico de Setúbal, enquanto promotor da obra, procura dar resposta à necessidade de consolidação funcional de um polo universitário excepcional do ponto de vista histórico, cultural e de serviço à comunidade

    Ricardo Batista

    A Alexandre Barbosa Borges (ABB) foi a construtora escolhida para a construção da nova Escola Superior de Saúde de Setúbal, um investimento estimado em 7,7 milhões de euros que tem um prazo de execução a rondar os 18 meses.
    O projecto, promovido pelo Instituto Politécnico de Setúbal, é assinado pela VHM e pretende “dar resposta à necessidade de consolidação funcional de um polo universitário excepcional do ponto de vista histórico, cultural e de serviço à comunidade, proporcionando aos seus estudantes as condições necessárias para o seu melhor desempenho académico”.
    Segundo a descrição dos trabalhos, o IPS pretende contribuir, de uma forma ainda mais expressiva, para a “efectiva igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior e à sociedade do conhecimento, respondendo mais eficazmente às necessidades e expectativas dos estudantes, das instituições e da sociedade. Desta forma, o Instituto contribui de forma significativa para o alargamento da base social do ensino superior, a integração social e académica, o sucesso escolar e a transição para o mercado de trabalho de uma população académica cada vez mais diversa”.

    Necessidades específicas
    O projecto apresentado destina-se a uma Escola Superior de Saúde, pertencente ao Instituto Politécnico de Setúbal, com 2 pisos acima da cota de soleira e 1 piso abaixo da cota de soleira. O edifício organiza-se em 3 pisos, que se interconectam de maneira fluida e funcional. Cada piso foi projectado para atender às necessidades especificadas do programa educacional, garantindo uma circulação eficiente e uma distribuição lógica dos espaços. O edifício será localizado num terreno com área aproximada de 11.000 m2, no campus da Escola Superior de
    Educação de Setúbal e do Clube Desportivo IPS, enquanto unidade orgânica do IPS. Esta construção incluirá salas de aulas, laboratórios, biblioteca e área de estudo. Cada espaço foi projectado levando em consideração a sua função específica, garantindo o máximo conforto e uma atmosfera propícia à aprendizagem.
    A Escola Superior de Saúde conta com áreas administrativas e de apoio que facilitam a gestão eficiente da instituição. Esses espaços incluem escritórios, salas de reuniões, secretaria, gabinetes e áreas de descanso.
    Para atender às necessidades especificas da área de saúde, o edifício possui instalações especiais, como salas de simulação, laboratórios, salas de enfermagem, entre outras. Esses espaços foram projectados com equipamentos modernos e tecnologicamente avançados, garantindo a excelência no ensino e na prática profissional.
    O projecto da Escola Superior de Saúde foi concebido levando em consideração princípios de sustentabilidade e eficiência energética. Foram adoptadas soluções de design passivo, como orientação solar adequada, uso de iluminação natural e ventilação cruzada, visando reduzir o consumo de energia e promover o bem-estar de todos. A solução construtiva apresentada pretende garantir a unificação do aspecto visual global, apresentando também a preocupação com as questões de durabilidade, comportamento térmico e acústico, assim como o seu impacto no ambiente. Prevê-se a implementação de um sistema de fachada exterior em betão aparente, o isolamento térmico será feito pelo interior com uma forra interior composta por caixa de ar, isolamento térmico e placa dupla de gesso cartonado. Está previsto o modelo de cobertura plana ajardinada, com a colocação de godo na cobertura relacionada a zona técnica.

    Linhas simples e formas elegantes
    De acordo com os autores do projecto, que agora será materializado pela ABB, o edifício adopta uma linguagem arquitectónica com linhas simples e formas geométricas elegantes. O edifício destaca-se pela sua harmonia com a envolvente. “O uso de materiais modernos e sustentáveis contribui para uma estética sofisticada e duradoura. Verifica-se a integração do envolvente como um elemento ligado ao edifício, que transparece nos acessos ao seu interior”, lê-se na descrição da proposta desenhada pela VHM. “Sendo que, são evidentes frentes simples e acessos fluidos que tornam o edificado num só. Desta forma, os alçados são marcados por um desenho simples e delicado, fortalecidos pelo encontro de curvas e contracurvas que desenham e transformam a arquitectura deste construído com uma identidade própria”, acrescentam. “O alçado principal é mostrado por uma testa que completa num desenho limpo e ao mesmo tempo imponente. Contudo, embora se identifiquem três pisos, a arquitectura do edifício procura valorizar a imagem de um conjunto edificado uniforme, enquadrando-se com a envolvente de forma ter um compromisso homogéneo com o espaço”, conclui a equipa projectista.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

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    Aniceto Viegas, CEO da Avenue

    Imobiliário

    “A eficiência que conseguimos no Lumnia e no Sandwoods vamos aplicá-la daqui para a frente”

    A aposta em projectos de grande escala permitiu-lhes testar soluções e ser pioneiros em matérias de consumos energéticos e hídricos, tendo alcançado a primeira certificação Aqua + para o seu projecto de habitação Sandwoods. E este é um ponto sem retorno. O mercado já não pode trabalhar de outra forma. A aposta passa por continuar a “testar soluções, medi-las e depois convertê-las” em realidade, com o objectivo de contribuir para a redução efectiva dos consumos dos edifícios

    Cidália Lopes
    Aniceto Viegas, CEO da Avenue

    (fotos: Frameit)

    O caminho da Avenue fez-se através da habitação, em reabilitação ou construção nova. Mas numa área onde é preciso estar atento às necessidades do mercado, a estratégia levou o Grupo para o segmento de escritórios. E logo em grande escala, para “deixar a sua marca”. A aposta resultou e dois novos empreendimentos com escritórios e habitação, também em grande escala, vão arrancar já em 2024, confirmou Aniceto Viegas, CEO da Avenue em entrevista ao CONSTRUIR. Um será em Lisboa, outro no Porto, que marcará, também, a estreia no mercado de escritórios no Norte do País.

    Estamos no Lumnia. Um dos projectos bandeira da Avenue. Em que fase de encontra o complexo de escritórios?

    O edifício integra o Exeo Office Campus, que conta com três edifícios – o Lumnia, onde estamos, o Aura e o Echo, estes dois desenvolvidos em parceria com o BNP Paribas Real Estate.

    O Lumnia é aquilo que chamamos um multitenant para ocupação de vários inquilinos e já está 100% colocado, sendo que alguns escritórios estão ainda em fase de obra de fit-out. Ou seja, neste momento o Exeo não tem um único metro quadrado disponível de escritórios, restando, apenas, disponíveis as duas lojas que integram este complexo.

    Toda a dimensão das áreas e das especificações técnicas permite estar completamente alinhado com o padrão internacional e que ainda existe pouco no mercado. O Lumnia não é diferente de um edifício de escritórios em Paris ou em Londres, ou até Nova Iorque”

    Tendo a Avenue um histórico de habitação e reabilitação, como é que surgiu a ideia do Exeo, que é não só um edifício de escritórios, mas um campus cuja dimensão marca a diferença?

    Nós começámos a estudar este projecto em 2018 e ele arrancou no final de 2019. Na altura estávamos exclusivamente focados na reabilitação no centro da cidade de Lisboa e no Porto e o nosso trabalho é sempre complexo na medida em que tentamos projectar a três anos o que é que vai ser o mercado. Antecipar e tentar procurar onde vai estar a procura daqui a três anos e, naquela altura, em 2018, havia um nível de desocupação de escritórios extremamente baixo. Ou seja, havia uma escassez clara de escritórios no mercado e quase ninguém estava a olhar para esse segmento e ninguém estava a construir escritórios novos em Lisboa.

    Havia inclusive edifícios de escritórios antigos que estavam a ser reconvertidos em habitação… 

    Exactamente. Havia o fenómeno contrário. E nós acreditámos que tínhamos aqui a oportunidade de poder fazer algo nesse segmento e a fazer queríamos fazer algo diferente e para precisávamos de escala. Obviamente que, a escala tem o seu risco, mas também nos permite ter a oportunidade de fazer algo diferente e mais arrojado. E Exeo vai nesse sentido.

    Lumnia

    O que distingue o Exeo de outros edifícios de escritórios?

    É um campus, com uma escala extremamente difícil de encontrar, estamos integrados na zona por excelência para este segmento e queríamos aqui juntar os espaços interiores com os espaços exteriores. O Exeo tem a particularidade de ter quase 15 mil m2 de jardins, uma parte já está concluída e os outros ficarão em breve. E todos eles com uma temática.

    No primeiro edifício, o Aura, temos o Central Garden, um jardim mais formal, para marcar a entrada do campus. Depois, passamos para um jardim rebaixado, que é o que fica entre o Lumnia e o Echo, que é um jardim com uma quota inferior, tem uma ponte pedonal que passa por cima e os colaboradores podem estar na parte de baixo almoçar, para estarem mais descontraídos. E, finalmente, teremos um anfiteatro natural, ao ar livre, propício a apresentações e eventos e que será o último jardim depois do Echo. E estes três jardins ligam os três edifícios e todo o movimento é feito pelo interior e não pelas ruas. Ou seja, permite que os colaboradores e os visitantes do campus passem pela parte central para ter esta vivência do Campus.

    Depois temos toda a dimensão das áreas e das especificações técnicas, é um edifício moderno, completamente alinhado com o padrão internacional e que ainda existe pouco no mercado. O Lumnia não é diferente de um edifício de escritórios em Paris ou em Londres, ou até Nova Iorque. Inclusive este lobby com 12 metros de altura é extremamente difícil de se fazer. Pode ser visto quase como um desperdício de área, mas não é. A escala do edifício destes, de 30 mil m2, permite fazer isto.

    A questão da sustentabilidade é também uma bandeira deste projecto, no sentido de cumprir com os requisitos mais exigentes a nível ambiental. Quais foram, neste caso, os principais desafios com que se depararam?

    O que posso dizer é que num edifício de escritórios o elemento mais difícil de combater é a exposição solar. Como são edifícios naturalmente envidraçados, eles têm uma incidência solar muito grande nas fachadas e têm uma carga térmica muito importante no interior. Ou seja, as exposições solares a Sul optamos por laminas horizontais para tentar quebrar a incidência do sol no interior e a exposição a Poente já vamos para lâminas verticais, também para quebrar a exposição do sol que será mais baixo e com uma incidência mais na lateral e tentar com isso ter conforto.

    Uma fachada a Norte não tem estas questões, mas se for a Nascente também tem de haver um jogo entre as verticais e as horizontais para tentar proteger o espaço. Este é o primeiro trabalho que deve ser feito. Depois a segunda dimensão são os consumos. E aí é necessário olhar para o edifício no seu todo, sejam ao nível dos consumos de energia, seja nos consumos de água.

    Mais do que um desafio, o controlo dos consumos é hoje uma necessidade. Como se trabalhou essa vertente nestes edifícios?

    Em relação aos consumos de energia é algo já mais comum e que se controla melhor e que tem a ver o nível de iluminação, de eficiência dos equipamentos. Ou seja, pensar que equipamentos é que teremos que ter e que sejam suficientemente eficientes para reduzir os consumos. E depois tentar ter produção de energia, essencialmente através da colocação de painéis fotovoltaicos nas coberturas. Neste aspecto, o Lumnia consegue que 10% das necessidades de energia das áreas comuns seja assegurada pela produção dos painéis fotovoltaicos. O que é bastante bom.

    Em termos de certificação, no Lumnia optamos pelo LEED, no qual temos a LEED Gold e por acaso recebemos o certificado há muito pouco tempo o Lumnia conseguiu ter a pontuação mais elevada para um edifício de escritórios Excelent Core em Portugal na certificação LEED Gold. Nós conseguimos atingir um patamar bastante alto.

    Consegue quantificar quanto este edifício consegue poupar em termos energéticos?

    Esse cálculo é mais complexo nos edifícios de escritórios. Por um lado, temos as partes comuns e depois cada utilizador tem a sua responsabilidade. Apesar de ser uma gestão integrada no edifício, cada empresa tem patamares máximos que não pode ultrapassar, mas existe alguma liberdade na forma como gerem esses consumos. Além da questão energética, temos ainda outra dimensão que é a água. Muito pouca gente fala da água.

    O Lumnia também já tem algumas especificidades nesse sentido?

    Sim. Nós somos dos primeiros no mercado de escritórios a olhar para uma certificação que existe em Portugal e que é muito importante que é o Aqua +. Como tínhamos muita escala o que fizemos foi criar um depósito de água enterrado no subsolo, por isso não há evaporação, que recolhe as águas pluviais e este deposito tem 800 metros cúbicos, ou seja, estamos a falar de 800 mil litros de água que acumulamos e que pode ser utilizada principalmente na rega.

    Neste caso conseguimos medir com mais precisão, mas quase 50% das necessidades de rega dos espaços verdes são assegurados por este depósito. Isto é o que é possível fazer quando temos um edifício com esta escala e dimensão.

    O Sandwoods é o primeiro projecto com a certificação Aqua + classe hídrica A. E o que fizemos foi construir um depósito de água de 150 m3 para regas dos espaços exteriores. Em termos de consumos, medimos uma poupança por ano e por moradia de 700 m3 (700 mil litros). Se multiplicarmos isto por 45 moradias, estamos a falar de 32 milhões de litros que conseguimos poupar”

    Sobre a importância dos consumos da água e sobre a certificação Aqua+ fizeram, igualmente, um grande investimento no empreendimento residencial Sandwoods, em Cascais…

    Efectivamente, o Sandwoods, em Cascais, é o nosso benchmark, aquele projecto em que quisemos levar estas questões do consumo hídrico mais longe. São 40 moradias e mais 5 fracções onde levamos este exercício quase ao limite. Pensamos: O que é que podemos fazer de máximo em termos de sustentabilidade num projecto de habitação?

    No fundo a testar soluções…

    Exactamente. Testar soluções, medi-las e depois convertê-las. No Sandwoods a aposta foi nas dimensões da energia e do consumo de água e, também, na dimensão do bem-estar, que neste caso conseguimos com os cerca de 90 mil m2 de terreno em que construímos em cerca de 20 mil m2 e os 70 mil remanescentes são áreas verdes já existente, com pinhal.

    Sandwoods

    Olhando para a dimensão da energia, para o consumo energético, o Sandwoods tem toda A+, não há uma única fracção que não tenha uma certificação A+ e quando estamos a falar do A+ é quase no limite máximo do que é possível fazer. Para ter uma ideia em termos de emissões, uma moradia terá uma emissão de 100kls de CO2 por ano, comparado com uma fracção de habitação reabilitada no centro da cidade de Lisboa que tenha uma certificação B, o que já não é mau na reabilitação, estamos a falar de uma emissão de CO2 de 1100 kls, ou seja, conseguimos 10x menos. Aqui é que percebemos até onde é que se conseguiu levar o exercício ao extremo.

    No que diz respeito à certificação Aqua +, sendo este o primeiro projecto de escala com a certificação Aqua + classe hídrica A, o Sandwoods tem um depósito de água de 150 m3 para regas dos espaços exteriores, embora tenhamos ali uma floresta já bastante consolidada com necessidades relativamente baixas de água, mas pelo menos assegurar o máximo possível através da recuperação das águas pluviais. Em termos de consumos, medimos uma poupança por ano e por moradia de 700m3 (700 mil litros). Se multiplicarmos isto por 45 moradias estamos a falar de 32 milhões de litros que conseguimos poupar.

    Mesmo que ocorra algum desvio mediante a utilização que cada pessoa fizer da sua casas as variações serão muito pequenas, isto porque nós temos equipamentos de baixo consumo.

    Além do Exeo, que outros projectos vamos ter ainda este ano e qual o pipeline futuro?

    Além da conclusão do Exeo, vamos, ainda, concluir mais dois projectos de habitação – o Villa Infante e o Bonjardim, no Porto (28 mil m2 no centro da cidade). Já o Sandwoods termina a construção no final do próximo ano.

    Prevemos desenvolver 1300 fogos e 97 mil m2 de escritórios. Ou seja, para arrancar já no próximo ano, temos os dois edifícios de escritórios, um em Lisboa e outro no Porto. Estes serão no centro das cidades. de grande escala e estamos a falar de projectos mistos – residencial e escritórios. Só estes dois empreendimentos correspondem a 800 fogos e a 27 mil m2 de escritórios.

    No caso da habitação ainda não conseguimos dar números muito precisos porque ainda estamos numa fase de licenciamento, mas será para construção nova, também, Lisboa e Porto e iremos manter-nos no segmento alto.

    Qual o volume de negócios que alcançaram em 2023?

    Estes números variam porque pode haver a entrega repentina de muitos projectos num ano e noutro estarmos mais em produção, mas em termos médios andamos sempre uma bitola de cerca de 100 milhões de euros de vendas por ano.

    O 5º Porto, que foi finalizado há cerca de um ano, está 98% vendido, o Bonjardim está com cerca de 90% da sua colocação ao nivel da habitação, o Villa Infante está com uma taxa de 55% e o Sandwoods está com 100%.

    E todos os novos projectos vão igualmente apresentar uma grande preocupação com a sustentabilidade e a eficiência?

    Sim, claro. Aliás acho que o mercado já nem consegue abstrair-se dessa questão. A sustentabilidade tem que fazer parte de qualquer projecto imobiliário hoje em dia, independentemente do segmento onde nos situemos. É sempre possível fazer algo para melhorar a eficiência dos edifícios e as soluções que já existem no mercado permitem que estas sejam implementadas em qualquer segmento de mercado. O que é importante é tentarmos fazer experiências e aprender com essas experiências. E implementar essas soluções logo na fase de projecto.

    Dentro destes dois ex-libris, o Lumnia e o Sandwoods, o que foi importante, é que testámos muito bem as soluções a implementar, sabemos que o que representa verdadeiramente uma poupança de consumos, para depois extrair esta experiência e aplicá-la daqui para a frente em projectos de maior escala. São ensinamentos que tentamos sempre aperfeiçoar e que é continuo. Não podemos ficar por aqui.

     

    Pelo que percebi o projectos de escritórios que preveem para o Porto será o primeiro do Grupo nesta cidade. Como olham para as diferenças deste segmento no que diz respeito a Lisboa e Porto?

    É curioso que hoje verifica-se que já não há assim tanta diferença neste mercado nestas duas cidades. E acho que se deve ao grande trabalho que o Porto tem feito e há que dizê-lo, tem sido um trabalho político, em que se procurou perceber o que é que as empresas precisam e trabalhar nesse sentido. A cidade do Porto passou de um mercado onde se transaccionava cerca de 20 a 25 mil m2 por ano para os 60 a 80 mil m2 de take up por ano, ganhando um verdadeiro lugar neste segmento.

     

    E no que diz respeito às novas tendências em termos construtivos?

    Obviamente que temos estado muito atentos. Sabemos que será uma tendência, até para reduzir custos e para termos uma menor incidência da mão de obra, que é uma das dificuldades do sector. Ao nível da pré-fabricação, começamos a ter elementos cada vez mais standardizados, como casas de banho ou cozinhas e carpintarias a ser construídas off-site. Isso interessa-nos e para os nossos próximos projectos estamos a ponderar efectivamente essa alternativa. Contudo, sabemos que para já, ainda não há capacidade de resposta em termos produção. Está a começar e o mercado vai nesse sentido.

    Sobre o autorCidália Lopes

    Cidália Lopes

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    Construção

    Universidade de Lisboa investe 9,5M€ na nova Faculdade de Letras

    A Universidade de Lisboa está já a promover o concurso público com vista à execução dos trabalhos de construção da nova Faculdade de Letras. O programa contempla a substituição do edifício correspondente ao ‘Pavilhão Novo’ por um edifício novo que reúna as condições necessárias à respectiva utilização. O novo Edifício da Faculdade de Letras deverá ser entendido como a primeira fase de um conjunto de edifícios que possam vir a ser construídos na área de intervenção

    Ricardo Batista

    Está em marcha o concurso público para a execução dos trabalhos de construção do novo edifício da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, um investimento estimado em 9,5 milhões de euros para uma obra que deverá estar concluída dentro de ano e meio.
    O projecto, concebido por uma equipa da Faculdade de Arquitectura da universidade, vai ao encontro das pretensões manifestadas pelos responsáveis da instituição, que reclamam que “há muito tempo que precisávamos de mais espaço. Tínhamos um edifício pré-fabricado construído nos anos 70 que teria apenas uma utilidade provisória e, por isso, já estava a rebentar pelas costuras, muito degradado. Precisávamos de espaço para mais salas de aulas e, sobretudo, para gabinetes de professores”.

    Novo edifício
    De acordo com a descrição deste programa, “a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fundada em 1911, é uma instituição do ensino superior que se dedica ao ensino, no campo das humanidades, e que surgiu na continuidade do Curso Superior de Letras de Lisboa, fundado em 1859 por D. Pedro V. A Faculdade de Letras está actualmente direccionada para um conjunto de 3854 alunos, distribuídos por 3 ciclos de ensino, e conta, na prossecução dos seus objectivos, com 237 professores doutorados, 23 dos quais são catedráticos”. As instalações da Faculdade de Letras da ULisboa, integradas no Campus Universitário da Cidade Universitária de Lisboa, incluem o Edifício Original, da autoria de Porfírio Pardal Monteiro, concluído em 1959 (que integra o conjunto monumental constituído pela Reitoria/Aula Magna e pelas Faculdade de Letras e de Direito), o conjunto formado pela Biblioteca e edifício de Anfiteatros (Corpos A e B), inaugurado em 2000 e o Pavilhão Novo, construído em 1975”. A área de intervenção é de 10.832,50 m2, (sendo a área ocupada por toda a Faculdade de Letras de 49.684,09m2) onde deverá ser previsto um futuro edifício para expansão da FLUL. A área de implantação agora proposta para o “Novo Edifício da Faculdade de Letras da Ulisboa” é de 2.286,80 m2 e o futuro edifício disporá de um polígono de implantação com 1.439,00m2. “O objectivo da presente intervenção é pois o da substituição do edifício correspondente ao ‘Pavilhão Novo’ por um edifício novo que reúna as condições necessárias à respectiva utilização. O novo Edifício da Faculdade de Letras deverá ser entendido como a primeira fase de um conjunto de edifícios que possam vir a ser construídos na área de intervenção, não devendo, portanto, inviabilizar outras possíveis intervenções”, reforçam os responsáveis da Universidade. De modo a responder a estas necessidades, “foi considerado que o Novo Edifício disporá de uma área útil total de 3.887,54 m2 e uma área bruta de 4.468,00m2. Considerou-se ainda que os Arranjos Exteriores envolventes do Edifício, que deverão estabelecer a ligação com a envolvente e corresponderão a uma área com cerca de 4.294,00 m2”.

    Soluções mais naturais
    “A crescente consciencialização de questões relacionadas com a sustentabilidade ambiental (tão presente nos discursos actuais) cria oportunidade para iniciativas que promovem soluções mais naturais e que vão ao encontro de estratégias que garantem uma relação custo /benefício adequada aos objectivos a que nos propomos: conforto ambiental passivo, eficiência energética num quadro de economia de recursos”, pode ler-se na descrição do programa de arquitectura, onde os autores do projecto acrescentam que “não pretendemos que o edifício seja apenas inovador e confortável, mas sim um espaço onde, estudantes, professores e funcionários, são convidados a partilhar valores de convívio, discussão de ideias”. É nesse sentido que os espaços exteriores complementam e enquadram as áreas interiores projectadas, assegurando que o local e a sua envolvente foi considerado como protagonista da solução projectada traduzida numa linguagem que vai ao encontro de conceitos expressos em valores essenciais e que permitem realçar a relação entre a vida académica e o ambiente que a rodeia. “A solução ideal poderá estar no equilíbrio, complexo e difícil exercício, entre a conjugação de factores económicos – optimização de custos – que garantam quer sustentabilidade, quer conforto ambiental preferencialmente passivo, eficiência energética e linguagem arquitectónica contemporânea. O novo edifício, pertencente à “Faculdade de Letras” (FL) – será implantado no mesmo local do edifício a demolir, mantendo-se uma cota de soleira ligeiramente acima da actual, isto é 88.92 (actualmente é 88.46)”, lê-se no documento.

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    O Investimento na unidade de Bragança é o mais avultado, na ordem dos 7,3M€

    Construção

    Politécnico de Bragança investe 17,9M€ em três residências para estudantes

    O concurso está repartido em três lotes, nomeadamente o lote de Bragança (ao qual está destinada uma verba na ordem dos 7,3 milhões de euros), de Mirandela (5,1 milhões de euros) e Chaves (que deve implicar um investimento na ordem dos 5,5 milhões de euros)

    Ricardo Batista

    Está formalmente lançado o concurso público com vista à execução dos trabalhos de construção de três residências estudantis da responsabilidade do Instituto Politécnico de Bragança, um investimento estimado em 17,9 milhões de euros.

    O concurso está repartido em três lotes, nomeadamente o lote de Bragança (ao qual está destinada uma verba na ordem dos 7,3 milhões de euros), de Mirandela (5,1 milhões de euros) e Chaves (que deve implicar um investimento na ordem dos 5,5 milhões de euros). Os responsáveis pela instituição de ensino explicam que os potenciais interessados poderão manifestar intenção de apresentar propostas para cada um dos lotes ou propostas que envolvam mais do que uma obra.

    Os três projectos de arquitectura são assinados pela equipa da VHM e têm, também eles, prazos distintos de execução. No caso da intervenção em Bragança, é esperada que a obra esteja concluída num prazo de 506 dias, ao passo que no caso de Mirandela e Chaves, os prazos estimados são de 447 dias.
    Supressão de necessidades

    Na descrição dos trabalhos, a equipa projectista explica que com este conjunto de trabalhos o Instituto Politécnico de Bragança pretende “suprir uma necessidade sentida há muito de disponibilizar uma maior oferta de alojamento para os seus estudantes em condições de preço e conforto compatíveis com as suas capacidades económico-financeiras, permitindo-lhes concentrar o foco e a atenção para o desempenho académico”.

    Através deste investimento, acrescentam os responsáveis pelo gabinete liderado por Victor Hugo, o Instituto irá “contribuir de uma forma ainda mais expressiva para a efectiva igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior e à sociedade do conhecimento, respondendo mais eficazmente às necessidades e expectativas dos estudantes, das instituições e da sociedade e contribuindo de forma significativa para o alargamento da base social do ensino superior, a integração social e académica, o sucesso escolar e a transição para o mercado de trabalho de uma população académica cada vez mais diversa”.

    Bragança
    No caso da infraestrutura de Bragança, a nova residência permitirá disponibilizar 200 novas camas. O projecto, sendo orientado pelos princípios da sustentabilidade (ambiental, social e económica), fortalecerá o compromisso do IPB para o desenvolvimento sustentável, em todas as suas dimensões, alinhado com os objectivos da Agenda 2030. Nesse sentido o projecto opta pelo uso de soluções pré-fabricadas, como é o caso das fachadas e das instalações sanitárias dos quartos. O uso destas soluções torna a obra mais sustentável, barata e eficiente, definindo o processo e etapas de construção, permitindo uma obra realizada num prazo mais curto, a redução de mão de obra e manutenção, bem como o desperdício de materiais.

    Mirandela
    O edifício proposto permitirá disponibilizar 120 novas camas aos estudantes deslocados na cidade e também aos visitantes do IPB. Este aumento no número de camas será uma mais-valia, num momento em que os estudantes apresentam cada vez mais dificuldade em encontrar alojamento a preço acessível e com condições de habitabilidade. O edifício desenvolve-se por três pisos, com as comunicações verticais entre os pisos localizadas de forma a garantir uma circulação fluída, bem como as distâncias necessárias para uma correcta evacuação em caso de emergência. O acesso principal ao edifício situa-se no piso 0 com um acesso pedonal á cota da via pública, através de uma zona de entrada e de espera, que por sua vez faz a ligação com os restantes espaços. Existe ainda um acesso secundário que poderá servir mais directamente o pessoal administrativo, funcionários da residência e também pessoas com mobilidade reduzida.

    Chaves
    O edifício de Chaves terá localização num terreno destinado ao “Campus da Água”, da “Escola Superior de Hotelaria e Bem-Estar”, unidade orgânica do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Nas imediações do terreno apresenta-se uma paisagem natural de grande interesse, sendo uma zona de serviços ligadas à educação e formação profissional e ao comércio. A construção da nova residência de estudantes permitirá disponibilizar 120 novas camas aos estudantes e visitantes do IPB.

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    Arquitectura

    “O CCB foi fundamental na construção da nossa identidade”

    A “Cidade aberta” preconizada pelos arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel Salgado há 30 anos, vai ser finalmente concluída. Falamos do Centro Cultural de Belém, hoje Monumento Classificado, e cujo projecto moldou e ainda hoje exerce influência sob a arquitectura do atelier Risco, fundado por Manuel Salgado. Falámos com Tomás Salgado, arquitecto e coordenar geral do atelier português, sobre o projecto e o impacto do legado de Gregotti na definição do que é o Risco

    30 anos volvidos sobre a inauguração do equipamento cultural que é hoje Monumento Classificado, apenas três módulos foram efectivamente construídos: o Centro de Congressos e Reuniões, Centro de Espectáculos e Centro de Exposições. Faltam dois, os módulos 4 e 5, que vão dar origem a duas unidades hoteleiras (um hotel com 161 quartos e um aparthotel com 126 unidades), com comércio e serviços. Um programa em linha com o que foi preconizado pela dupla de arquitectos que concebeu o projecto original, Vittorio Gregotti e Manuel Salgado. Mas há ainda muito para desenvolver como conta ao CONSTRUIR o arquitecto Tomás Salgado.

    30 anos depois a conclusão do Centro Cultural de Belém poderá estar para breve. Será desta?

    Esperamos que sim! Estamos com muita esperança de que o processo se desenvolva, mas o mesmo já teve muitos avanços e recuos e enquanto não houver um vencedor do concurso de subcessão dos direitos de superfície lançado pela Fundação Centro Cultural de Belém (FCCB) não temos a certeza de nada. Eu não estava aqui [no atelier] em 1988 nem em 1992, mas desde 1995 até hoje já acompanhei muitos desenvolvimentos deste processo com diferentes administrações da FCCB e com muitos programas funcionais.

    Este processo tem se estendido no tempo com muitas alterações…

    Fizemos um caderno aqui há uns tempos com as várias propostas e resultou num trabalho bastante interessante. Houve uma fase em que o programa para os módulos 4 e 5 era totalmente dedicado a actividades culturais. Inclua uma biblioteca dedicada às artes do espectáculo, residências para artistas, etc. Mais tarde, com António Mega Ferreira [2006/2012] o programa mudou novamente e pensou-se num terceiro auditório para o CCB. Um auditório de dimensão intermédia entre o grande e o pequeno auditório. Depois, mais à frente, com o professor António Lamas [2012-2016] voltou-se ao programa hoteleiro. Ou seja, houve, ao longo destas décadas, uma série de diferentes opções por parte das diferentes administrações do CCB. Mas a determinada altura tudo aquilo esbarrou em questões administrativas sobre a titularidade dos terrenos que não estavam resolvidas. Só, de facto, com esta última administração [presidida por Elísio Summavielle] estas questões ficaram resolvidas de uma vez por todas e houve uma concretização do programa que vinha de trás, do professor Lamas, que era um programa fundamentalmente de hotelaria. E só agora estão reunidas as condições, até políticas, para este processo avançar em definitivo.

     

    Mas quando foi concebido o programa original para os módulos 4 e 5 era voltado para a hotelaria? 

    Sim, sim. Aliás, em 1988 o programa de concurso já previa que estes últimos módulos fossem dedicados a hotelaria e ao comércio. É interessante que agora, passados 30 e tal anos e muitos programas diferentes, se tenha completado o círculo, tendo-se voltado ao início. A volumetria é um bocadinho diferentes daquela que estava prevista na nossa proposta inicial, em 1988, mas o programa é fundamentalmente o mesmo.

    Quais são as diferenças entre o programa original e este novo traçado?

    Em termos de traçado, quando se olha para a maqueta ou para os desenhos de 1988, os módulos 4 e 5 tinham uma frente virada para a Avenida da Índia, um muro baixinho que fazia de sucalcamento, como acontece nos módulos 1, 2, 3 e que suportam os jardins hoje existentes nestes módulos. Nos módulos 4 e 5, esse muro, na proposta original, era contínuo, muito comprido, com um terraço ajardinado. Por imposição da Câmara Municipal de Lisboa (CML) esse muro teve de ser interrompido por duas vezes, para não haver uma frente com comprimento superior a 100 metros, e isso introduz ali um fraccionamento que não existia na proposta original. Por outro lado, o corpo construído que está em cima dessa plataforma e que, na proposta de 1988, era um corpo baixinho e muito comprido, agora é um corpo partido em três e um pouco mais alto, que vai buscar umas cotas e uns alinhamentos do modulo 3 do CCB, resultando num corpo mais gordo e mais alto, que permite acomodar mais área de construção. Vamos ser claros: esta intervenção, neste momento, também tem o objectivo de ajudar a financiar a FCCB, pretendendo-se com este concurso que está em curso maximizar a renda anual que o subcessionários irá pagar à FCCB e para isso era preciso criar condições para se tornar um negócio interessante, do ponto de vista do investidor.  Esta concepção financeira da operação não era tão clara em 1988.

     

    Mas do ponto de vista do projecto essa alteração faz sentido?

    Acho que do ponto de vista volumétrico não há nada de chocante, não sabemos se vai ser uma unidade ou se vai ser uma, partida em duas. Isso agora vai depender daquilo que os investidores pretenderem.

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    À espera da proposta vencedora

    Quanto do projecto destes módulos está feito e quanto é que vai depender da proposta que vier a vencer o concurso?

    Aquilo que existe neste momento para os módulos 4 e 5 é um Pedido de Informação Prévia (PIP) e um estudo preliminar que foi apresentado à CML, que foi aprovado e que fixa as volumetrias dos módulos 4 e 5, as alturas, os alinhamentos, as profundidades de empena, a posição dos estacionamentos. Isso está fixo. Agora, é preciso haver um vencedor deste concurso que irá herdar o contrato com a Gregotti Associati International e o Risco e, a partir desse momento, iremos começar a trabalhar para adaptar da melhor forma possível o que está determinado neste estudo preliminar àquilo que são as necessidades e os objectivos de negócio do vencedor do concurso. Sabendo que há limites, especificados no PIP, há muita coisa para desenvolver e isso irá permitir fazer “um fato à medida” de quem venha a operar e a explorar aquele empreendimento.

    Olhando de forma crítica para o projecto do CCB neste momento. O projecto continua a fazer sentido? 

    Absolutamente! O CCB tem exactamente essa virtude que é ser quase inquestionável na sociedade portuguesa. Aliás, é curioso que se olhar para os jornais da época e se ler tudo aquilo que se escreveu na altura e as críticas que recebeu…que o projecto era “um atentado” … “que ia destruir a Praça do Império”, “que era uma coisa inconcebível” … e tudo o que se escreveu de negativo. Hoje, há poucos edifícios que se tenham integrado de uma forma tão clara como o CCB. Neste momento serão poucas as pessoas que passam por ali e sintam que aquilo é um corpo estranho. Acho que para a maior parte das visitantes o CCB esteve sempre ali. E isso é o maior elogio que se pode fazer ao projecto. Os módulos 4 e 5 têm a mesma natureza, foram desenhados da mesma forma, pelas mesmas pessoas, pelas mesmas cabeças. Aliás, a sua ausência é uma falha já que estes são fundamentais para garantir a transição entre a Praça do Império e o Bairro do Bom Sucesso que, até hoje, permanece por fazer pelo facto destes módulos nunca terem sido construídos.

     

    O que se sucede agora em termos de calendarização?

    O concurso tem uma série de procedimentos com prazos legais. Eu tenho ideia de que este processo não vai estar concluído em menos de um ano. Nós iremos trabalhar com quem ganhar.

     

    Um projecto que moldou o atelier  

    Este projecto foi determinante para aquilo que é hoje o Atelier?

    Sem dúvida. O Risco, em 1988, quando o meu pai [Manuel Salgado] foi convidado pelo professor Vittorio Gregotti para fazer o concurso, era uma estrutura muito pequena e fazia mais projectos de urbanismo do que projectos de arquitectura, embora tivesse já alguns projectos desenvolvidos. O CCB foi o grande salto do Risco. Estes foram anos de formação extremamente importantes para o meu pai e para o próprio Gabinete.

    Como se dá esta ligação do professor Gregotti ao arquitecto Manuel Salgado?

    Eles conheceram-se depois do 25 de Abril em algum momento.  Depois, tiveram muitos anos sem se ver e em 1988 o professor Gregotti convidou o meu pai a participar neste concurso e seguiram-se anos de uma formação que foi extremamente importante para ele. Foram ensinamentos, uma maneira de ver o território e de fazer a arquitectura que depois passou para uma geração mais nova dentro do Risco, no qual eu me incluo, e na qual se incluem também o Nuno Lourenço, o Jorge Estriga e o Carlos Cruz. Fomos todos, de alguma forma, beber desta fonte de sabedoria que era o professor Gregotti. Muito do que fazemos hoje, em certa medida, é influenciado por esses anos.

     

    E a preferência pela definição de traçados urbanos, pela geometria e a forma e por projectos públicos?

    Olhamos para os desafios na lógica da cidade. Ou seja, por mais encaixado numa zona consolidada que esteja o projecto, procuramos sempre perceber o contexto envolvente, perceber como é que a cidade, como é que o território envolvente, funcionam. Seja ele mais construído ou menos construída, há sempre essa procura de perceber o lugar e de como o edifício em projecto pode ajudar à sua composição. Esta forma de ler os edifícios do ponto de vista da cidade é transversal a tudo o que fazemos e isso é, claramente, um dos ensinamentos do professor Gregotti. E depois há um outro exercício que é o de olhar para topografia, quer seja a existente quer seja a que vai resultar da nossa intervenção, que também é claramente um dos legados do professor. E o CCB nisso é muito evidente. A forma como se criaram aquelas plataformas, a forma como estas se relacionam para fora, a vista que proporcionam em direcção ao rio, mas também a forma como foram construídos os jardins elevados. Tudo isso está relacionado com esta maneira de ver.

    Há um outro tema que é muito comum aos nossos projectos e que, de certa forma, pode encontrar raízes no CCB, que é o rigor do desenho, a procura de uma geometria forte, ter regras de desenho que ajudam a estruturar o projecto é uma coisa que é muito evidente no CCB e que também está muito presente nos projectos que desenvolvemos. O CCB foi fundamental na construção da nossa identidade.

    Quando o concurso foi apresentado foi referido o impacto do projecto na reabilitação desta zona da cidade. É assim?

    Actualmente existe uma quantidade de visitantes na zona de Belém que percorre o passeio da Avenida da Índia para ir desde o Mosteiro dos Jerónimos até à Torre de Belém. Um dos objectivos do projecto inicial é que esse percurso fosse feito pelo CCB, iniciando por baixo do módulo 1, passando à frente das bilheteiras do módulo 3, subindo as escadas em direcção à praça do museu, depois passando por baixo de um arco que há no fim da praça e, por ali fora, atravessando depois o Bairro do Bom Sucesso. O que acontece hoje é que a praça do museu, onde se acede ao MAC CCB, está tamponada, tem uma tenda e ninguém faz esse percurso. A construção destas peças finais do projecto vai viabilizar esse percurso e dar uma nova vida não tanto para o interior dos módulos 1, 2 ou 3, mas para o espaço a poente do CCB, que hoje em dia é um descampado vedado e que vai passar a ter ruas, lojas, cafés, esplanadas e ser um acesso a tudo o que se prolonga a seguir ao CCB. Toda essa zona tem vindo a ser requalificada e com esta abertura vai ganhar uma dinâmica extraordinária.

     

    Este para si é um projecto especial?

    São todos especiais, mas este, em particular, permite honrar a memória do professor Gregotti, que era uma pessoa por quem todos tínhamos uma enorme admiração e que infelizmente já cá não está. Tem essa componente mais sentimental, se quiser. Agora, também vai ser especial porque vai envolver pessoas, como o meu pai, que ainda cá está e de boa saúde, embora já não faça parte da estrutura e do dia-a-dia do atelier há 15 anos. É natural que se este trabalho de facto acontecer, como esperamos que aconteça, que ele venha a estar envolvido porque, ele sim, teve uma participação no projecto muito profunda e vai ser um momento muito importante para ele voltar a trabalhar neste projecto.

     

    O Risco tem em mãos outros trabalhos. O que estão neste momento a desenvolver?

    As coisas mudaram um pouco porque a natureza dos projectos tem sido um pouco diferente daquela que tínhamos no passado. Em termos de projectos de maior dimensão estamos a finalizar um projecto de habitação e escritórios para um promotor privado. Um projecto para a zona do Lumiar, Alameda das Linhas de Torres, que irá criar 450 fogos de habitação e dos edifícios de escritórios. Tem uma escala bastante importante, embora seja um projecto em que não fomos responsáveis pelo desenho urbano porque o nosso cliente, quando adquiriu a propriedade, já existia um projecto de loteamento aprovado. Portanto, estamos a projectar os edifícios previamente concebidos em termos volumétricos pelo autor do projecto de loteamento, Não é a mesma coisa que começar a folha em branco. Estamos a finalizar um projecto muito interessante que já dura há muitos anos que é o Convento do Beato.

    Esse é um projecto com várias fases

    Sim, fizemos o centro de eventos e estamos a concluir a obra da primeira fase residencial, depois vai seguir-se uma segunda fase residencial e a Igreja. É um projecto também bastante importante para o atelier. Estamos a desenvolver a Academia de Futebol do Futebol Clube do Porto, na Maia, para as camadas jovens do FCP.

     

    Que, segundo o FCP está quase pronto…

    É um projecto bastante interessante que está a caminho mais ainda tem ali algum trabalho para fazer. Depois há já alguns anos que temos vindo a desenvolver um trabalho muito interessante com o grupo Luz Saúde, que vai variando entre os hospitais do grupo e as clínicas, variando entre projectos de média e grande dimensão. E temos mais alguns desafios pela frente que o grupo ainda não tornou público, mas é um trabalho interessante porque acaba por ter uma logica sequencial, até nas soluções que se levam de uns para os outros e que se vão melhorando. Também em execução está a fase 3 da Cidade do Futebol para a Federação Portuguesa de Futebol e que engloba um pavilhão de futsal, as instalações definitivas do canal 11, e as instalações da Portugal Futebol School. Ganhamos o concurso para o HUB do Mar (Lisboa) e estamos à espera do visto do Tribunal de Contas para arrancar em força.

     

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    “Acreditamos que a madeira faz parte das soluções construtivas do futuro”

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    Entre Lisboa, Oeiras, Algarve e Comporta, os projectos da Vanguard Properties somam uma área bruta de construção (ABC) de cerca de 1.024 mil m2 acima do solo, num investimento total superior a 1,2 mil milhões de euros. Chegados a este patamar, o Grupo junta a estes números um conjunto significativo de participações em diversas empresas nacionais, estratégia na qual já contabilizam um investimento de cerca de 75 milhões de euros e que visa criar “um verdadeiro cluster no sector da construção” não só para a Comporta, como para outros clientes e mercados. Não obstante o sentimento de incerteza que se gerou com as recentes medidas do Governo, estão a “avaliar o Porto” e “interessa-lhes” a Madeira. Entretanto, em fase de estudo está um “grande” projecto urbano de acordo com novos métodos construtivos.

     

    Terras da Comporta

    Chegados aos 22 projectos, que estratégia antecipam para 2024? 

    Perspectivamos manter a nossa actual estratégia, de promover produtos únicos e serviços de excepção. Em Lisboa, esperamos, iniciar quatro projectos de construção entre finais de 2023 e 2024 que estão, neste momento, na fase final do processo de emissão de licença de construção e uma obra de infraestrutura para posterior construção, da qual também aguardamos licença. Infelizmente, aguardamos há demasiado tempo.

    Vamos agora entrar num processo de reflexão sobre se continuaremos a investir em Portugal. Várias recentes decisões, parecem demonstrar que Portugal está a caminhar para o lado errado, e por isso, surgem dúvidas se queremos estar cá”

    Estarão novos investimentos a surgir brevemente? E em que localizações? 

    Além dos que já referi e que estão em desenvolvimento não detectamos, por ora, novas oportunidades em Lisboa, mas continuamos à procura. Entretanto iremos avançar com um projecto em Oeiras. Trata-se de um terreno de 30 hectares onde vamos ter um projecto com uma arquitectura e construção sustentável.

    Qual o montante de investimento previsto para o próximo ano? 

    Para 2024 contabilizamos um investimento na ordem dos 150 milhões de euros, só em obra. Este montante inclui não só os projectos que esperamos dar início em 2024, mas também em Lisboa, mas também em Oeiras e na Comporta, onde continuamos a desenvolver os nossos três projectos: Muda Reserve, Dunas e Torre.

    A região Norte não vos suscita interesse ou esta é uma localização a ponderar? E as ilhas, nomeadamente a Ilha da Madeira, actualmente muito procurada por estrangeiros também? 

    Estamos a avaliar o Porto e interessa-nos a Madeira. No entanto, vamos agora entrar num processo de reflexão sobre se continuaremos a investir em Portugal. Várias recentes decisões, parecem demonstrar que Portugal está a caminhar para o lado errado, e por isso, surgem dúvidas se queremos estar cá.

    Entre o conjunto de investimentos têm o Riverbank Tejo, aquele cujo segmento mais se aproxima da classe média. Como tem estado a correr esta experiência, tendo em conta o elevado tempo de espera para o seu licenciamento? Pretendem continuar a investir neste segmento? 

    O processo tem sido muito moroso, cerca de quatro anos para licenciar uma infraestrutura. Com as alterações de mercado, nomeadamente, os custos de construção e o aumento das taxas de juro, a que se soma o custo financeiro inerente ao tempo de licenciamento, neste momento, é impossível ali realizar um projecto para a classe média visto que o custo total expectável ultrapassa o valor da venda.

    No entanto, ainda não desistimos de realizar um projecto para a classe média-alta, se conseguirmos encontrar soluções técnicas e de qualidade, equilibradas.

    White Shell

    Embora o residencial seja o vosso core business, que investimentos noutras áreas poderão ter interesse? 

    Eventualmente o turismo e hotelaria. Já temos um primeiro projecto a funcionar no Algarve, o White Shell e na Comporta temos vários loteamentos para desenvolver hotéis e branded-residences. Este é um segmento com grande expansão a nível internacional e ainda pouco conhecidos em Portugal, pelo que consideramos que têm elevado potencial no nosso mercado.

    O futuro da madeira

    Na Comporta, temos vários loteamentos para desenvolver hotéis e branded-residences. Este é um segmento com grande expansão a nível internacional e ainda pouco conhecidos em Portugal, pelo que consideramos que têm elevado potencial no nosso mercado”

    Sobre os projectos Terras da Comporta em que fase se encontram tanto o Torre, como o Dunas? E o que nos pode dizer em relação à comercialização?

    No Dunas terminámos as obras de infraestruturas, inauguramos o Dunas Golf Course no passado dia 5 de Outubro, e vamos agora avançar com as zonas comerciais, administração e vendas, espaço para crianças e os primeiros lotes residenciais. Estamos a negociar a entrada das marcas hoteleiras e de branded-residences.

    No Torre, estamos a cerca de três meses da conclusão das infraestruturas e estamos na fase final da modelação do golfe, previsto abrir no primeiro trimestre de 2025. Esperamos começar as vendas residenciais em 2024.

    Também sobre o Muda Reserve, cujas primeiras casas já começaram a ser construídas, como está neste momento a sua comercialização? 

    Vamos, finalmente, concluir a infraestrutura rodoviária de acesso à aldeia. Estamos a construir as primeiras casas em madeira e a resposta do mercado tem sido muito positiva. Vamos também acelerar a construção da zona comercial, já contratámos as obras de arte do Vhils e estamos a ultimar o projecto da Capela. Muito em breve, lançaremos mais 20 a 30 unidades em venda.

    Muda Reserve – Casa da Chaminé

    Partindo da vossa experiência na Comporta no que diz respeito à mudança de paradigma da construção, para quando essa aposta em projetos mais urbanos e de maior dimensão? Este é algo que está nos vossos planos? 

    Sim. Neste âmbito, vamos apresentar, em 2025, um projecto urbano, de grande dimensão, essencialmente residencial, com alguns serviços e componente turística.

    Industrialização do sector

    Só com a industrialização do sector seremos capazes de vencer os desafios da falta de mão-de-obra, trazer mais mulheres para o sector, aumento da velocidade de execução e desenvolver projectos mais sustentáveis”

    Uma das estratégias do Grupo em relação ao investimento que estão a fazer na região da Comporta prende-se com a aquisição de diversas indústrias. Uma solução encontrada para dar uma resposta mais célere à necessária empreitada que envolve os projectos. No fundo, não são apenas promotores, mas também têm um papel importante na indústria da construção. Esta é uma estratégia para manter a longo prazo? Ou apenas durante o tempo de construção das obras? 

    Só com a industrialização do sector seremos capazes de vencer os desafios da falta de mão-de-obra, trazer mais mulheres para o sector, aumento da velocidade de execução e desenvolver projectos mais sustentáveis.

    Para nós estes investimentos visam criar um verdadeiro cluster no sector da construção, numa primeira fase, produzindo em parte para a Comporta – o nosso futuro showroom – mas visando sempre, outros clientes e mercados, nomeadamente, a exportação. Acreditamos que a madeira faz parte das soluções construtivas do futuro.

    Neste sentido, que outras empresas poderão, entretanto, integrar esta vossa estratégia de acção? E em que áreas? 

    Algumas indústrias na área da industrialização de processos, relacionados com AVAC, Ventilação, Electromecânica, Água e Esgotos, bem como determinados materiais de acabamentos.

    Qual o montante já investido nesta estratégia?

    Estamos a aproximar-nos dos 75 milhões de euros já investidos

    Sobre o autorCidália Lopes

    Cidália Lopes

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    Engenharia

    Alta Velocidade ‘estreia’ PPP em Janeiro

    O primeiro concurso do projecto alta velocidade, em regime de parceria público privada (PPP), será lançado em Janeiro do próximo ano. O lote 1, correspondente ao troço Porto-Aveiro, inclui, para além dos 72 km de extensão da nova via, a construção da nova ponte sobre o rio Douro, a ampliação da estação da Campanhã para nascente e a construção de uma nova estação em Gaia, num investimento estimado de 1.9 M€

    Carlos Fernandes, vice presidente da IP

    Em Janeiro de 2024 será lançada a primeira parceria público-privada (PPP) no âmbito do projecto da Nova Linha de Alta Velocidade que ligará o Porto a Lisboa. A data foi avançada por Carlos Fernandes, vice-presidente do Conselho de Administração da IP, durante uma apresentação do projecto no workshop promovido pela Plataforma Ferroviária Portuguesa (PFP) no final de Setembro. “Temos estado nos últimos 3 anos a actualizar projectos. A primeira fase [que ligará o Porto a Soure] será dividido em dois lotes: Porto-Aveiro e Aveiro-Soure. Para o primeiro Lote temos concluídos os estudos prévios e de impacto ambiental, tendo sido já emitida a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) e o processo pode avançar. No que diz respeito ao segundo Lote os estudos prévios estão concluídos, bem como foram submetidos os estudos de impacto ambiental à Agência Portuguesa do Ambiente, esperamos obter a Dia nas próximas semanas, ou seja, até ao início do 4º trimestre”, referiu Carlos Fernandes.

    No que diz respeito ao investimento, o primeiro lote entre Porto e Aveiro tem um investimento estimado em 1900 milhões de euros, sendo o investimento comunitário nesta primeira fase de 730 milhões de euros, mas este ainda não é um valor fechado. “Esperamos incrementar o valor dos fundos comunitários associados a este investimento”, garantiu o vice-presidente da IP. Já o segundo lote, ainda numa fase preliminar de apuramento final do valor, o investimento deverá rondar 1600 milhões de euros.  Em qualquer dos casos, os valores de investimento sobem face ao que foi apresentado há um ano quando o projecto da nova Linha ferroviária de Alta Velocidade Porto – Lisboa, foi dado a conhecer em maior detalhe. Na altura o Governo estimava um investimento de 1650 milhões de euros para o Lote 1 e de 1300 milhões de euros para o Lote entre Aveiro e Soure, com uma comparticipação dos fundos públicos de 500 milhões de euros para cada um dos lotes.

    O regresso das Parcerias Público-Privadas  

    Perante uma plateia constituída quase exclusivamente por empresários do sector Carlos Fernandes justificou o modelo de parceria público-privada (PPP) a seguir nos dois concursos. “O Projecto de Alta Velocidade é um desafio gigantesco e realizar este projecto da forma tradicional significava parti-lo em múltiplas empreitadas, lançar dezenas de concursos… era ingerível e o que fizemos foi extrair a alta velocidade do pacote tradicional de projecto de empreitada, realizar os estudos prévios e lançar dois grandes lotes ao mercado. Qual é a experiência que Portugal tem nisto? As auto-estradas”, relembrou Carlos Fernandes. Desde 1995 Portugal encetou uma autêntica “revolução” no transporte rodoviário tendo, em poucos anos sido investidos mais de 23.4 MM€ na construção de uma rede de 2,378 quilómetros.

    A revolução esperada na Ferrovia, corre mais lenta e por isso a ênfase na “concretização” e a opção por modelo cujas vantagens, e vicissitudes, melhor se conhecem. Como é que as várias fases do projecto se integram neste modelo de concessão PPP: “Fechámos o estudo prévio, obtivemos a DIA e vamos a concurso. Os privados serão responsáveis pela parte final do projecto de execução, pela sua construção e manutenção. O prazo da concessão deverá ser da ordem dos 30 a 35 anos”, referiu Carlos Fernandes.

    Mas nem todos os investimentos previstos no âmbito do projecto de Alta Velocidade entrarão nas PPP, os chamados projectos complementares, onde se incluem a quadruplicação da Linha do Norte entre Alverca e o Carregado, a ampliação da Gare do Oriente, cujo projecto está a ser elaborado pelo arquitecto Santiago Calatrava, bem como a sinalização, telecomunicações, etc., serão submetidos a concurso público internacional pela “via tradicional”, muitos deles no regime de concepção/construção.

    A primeira PPP deverá, assim, ser lançada em Janeiro do próximo ano, uma vez obtida a DIA falta, segundo explicou o vice-presidente da IP, fechar “a documentação do concurso”. Para além da construção dos 72 quilómetros de nova linha entre a estação da Campanhã Porto e Aveiro, fazem parte do concurso a construção da nova travessia sobre o rio Douro, a ampliação da estação da Campanhã para nascente e a criação de uma nova estação, em túnel, em Vila Nova de Gaia, que fará a ligação com as linhas Amarela e Ruby no Metro do Porto. “Estes 72 quilómetros de extensão terão um comprimento de túneis estimado na ordem dos 11 quilómetros, em termos de pontes uma extensão de cerca de 9,5 quilómetros e 2,8 quilómetros, serão em viaduto”, resumiu Carlos Fernandes.

    Já a segunda PPP, entre Aveiro e Soure, deverá ser lançada até ao final do primeiro semestre de 2024.

    Em estudo está já a fase 2, que ligará Soure ao Carregado. “Estamos a realizar os estudos prévios, o estudo ambiental que contamos submeter à aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente no final deste ano”, adiantou Carlos Fernandes.

    A revolução esperada na Ferrovia, corre mais lenta e por isso a ênfase na “concretização” e a opção por modelo cujas vantagens, e vicissitudes, melhor se conhecem. Como é que as várias fases do projecto se integram neste modelo de concessão PPP: “Fechámos o estudo prévio, obtivemos a DIA e vamos a concurso. Os privados serão responsáveis pela parte final do projecto de execução, pela sua construção e manutenção. O prazo da concessão deverá ser da ordem dos 30 a 35 anos”

    Aprender com os erros do Ferrovia 2020

    Com intervenções a decorrer nas principais linhas da rede ferroviária nacional, por conta dos atrasos que a Ferrovia 2020 já leva, é preciso aprender com os erros do passado recente. “Quanto tempo demora um empreendimento ferroviário? Desde o momento da decisão até à sua abertura são sete anos, se tudo correr bem. Três anos e meio para o projecto e outro tanto para obra. Se tudo tivesse corrido normalmente acabávamos [o Ferrovia 2020] em 2023”, precisou Carlos Fernandes. “Infelizmente tivemos muitos problemas”, constatou o responsável. A pandemia e a guerra na Ucrânia contribuíram para o atraso, agravando a incapacidade das empresas e do mercado em resolver problemas. Hoje “assistimos a um esforço enorme de construção, para o qual o país não tem capacidade instalada para responder”. “Temos muitas obras a decorrer, a um rendimento que está muito abaixo do que é o ideal, o que agrava a capacidade dos empreiteiros de dar resposta” à demanda actual.

    Na base do problema está o ‘pecado original’, o qual na opinião do vice-presidente reside no facto de na resposta aos concursos, as empresas terem “mergulhado” abaixo do preço base do concurso empreitada, o que, agravado com o aumento generalizado de preços dos materiais de construção, concorreu para a paragem de algumas das mais importantes obras em curso. Caso em que a Linha da Beira Alta é pródiga, mas não é filha única. “O corredor sul é outro exemplo ‘magnífico’, em que os empreiteiros vieram 30% a baixo do preço base e agora queixam-se que estão a perder 30%”.

    Data room com informação e expropriações do lado dos privados

    Fazendo a comparação com o novo programa de investimentos financiado pelo novo quadro comunitário, PNI 2030, Carlos Fernandes adiantou que os projectos “estão a correr bem”, para o que contribuíram novos procedimentos. Desde logo, “antecipámos o lançamento dos projectos. O quadro comunitário anterior iniciou em 2014 e só em 2016 arrancámos com os projectos. Acabámos com a pré-qualificação das empresas, antes, passámos a exigir nos posições chave de cada consórcio projectista experiência demonstrada de ‘X’ anos, comprovada com declarações do dono de obra. A sua ausência é motivo de exclusão”, explicou Carlos Fernandes. O mesmo acontece para os consórcios que se afastem mais do que 15% do valor de médio de preços apresentados. Uma alteração que “trouxe propostas a preços razoáveis”, e que contribui para o bom andamento dos projectos.

    Procedimentos que poderão ser observados nos concursos a lançar em breve no âmbito da Linha de Alta Velocidade, sobre os quais Carlos Fernandes adiantou ainda que será criado um “data room” que irá disponibilizar toda a informação técnica, (traçado, o corredor já aprovado, cartografia, sondagens… etc), provavelmente em Outubro, para que os consórcios possam ir preparando as suas propostas. “A ideia é lançar o [primeiro] concurso em Janeiro e estamos a pensar em 5 ou 6 meses para a apresentação de propostas, isso ainda não está fechado”, mas o acesso a informação permitirá às eventuais empresas interessadas adiantarem o seu trabalho.

    O vice-presidente da IP adiantou ainda que as expropriações previstas no âmbito da concretização da Alta Velocidades serão da responsabilidade dos privados. Algo que “talvez assuste um bocadinho os operadores estrangeiros”, mas que a experiência ganha com a construção das auto-estradas em Portugal, cujo modelo é muito semelhante, trouxe capacidade de gestão às empresas nacionais.  “O valor das expropriações na primeira PPP há-de situar-se entre 80 a 100 milhões de euros, estamos a falar de 4 a 5% do valor da empreitada. Os privados têm uma capacidade de gestão que nós não temos”, assegurou Carlos Fernandes.

    O vice-presidente da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes, abriu o encontro com o tema “Investimentos na Ferrovia em Portugal: Desafio do Planeamento Sustentável” do Workshop da Plataforma Ferroviária Portuguesa (PFP) que decorrer no final de Setembro.

    O projecto da Nova Linha da Alta Velocidade Porto-Lisboa tem como objectivos fulcrais o aumento da capacidade e competitividade do sistema ferroviário, o reforço da conectividade territorial alargada a todo o país e a descarbonização do sector dos transportes.

    A criação de nova ligação ferroviária constituirá um impulso muito significativo para o reforço da capacidade e da qualidade da Rede Ferroviária Nacional, promovendo a coesão territorial, ligando as Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa, promovendo também a sustentabilidade ambiental do sistema integrado dos transportes.

    Será criado um “data room” que irá disponibilizar toda a informação técnica, (traçado, o corredor já aprovado, cartografia, sondagens… etc), provavelmente em Outubro, para que os consórcios possam ir preparando as suas propostas. A ideia é lançar o [primeiro] concurso em Janeiro e estamos a pensar em 5 ou 6 meses para a apresentação de propostas, isso ainda não está fechado”

    1º semestre com “aumento expressivo” de investimento

    No primeiro semestre de 2023, o Grupo IP registou um “aumento expressivo” do volume de investimento realizado nas infraestruturas rodoferroviárias, o qual ascendeu a 227 M€, o que representa um aumento de cerca de 35% face ao período homólogo de 2022. O relatório de contas consolidadas do grupo, referente aos primeiros seis meses do ano, destaca “a execução global dos investimentos incluídos no Programa Ferrovia 2020, que ascenderam a 166,3 milhões de euros no 1º semestre de 2023, mais 26% do que no período homólogo de 2022”. Destacando-se neste capítulo os dois corredores com maior realização no 1º semestre de 2023: o Corredor Internacional Norte, com uma execução de 61 M€ e o Corredor Internacional Sul com uma execução de 57 M€.

    A sul destaque para a nova linha de caminho de ferro entre Évora e Elvas, com um investimento de 47,3 M€ nos primeiros 6 meses do ano. A norte destaque para as intervenções de requalificação e modernização da Linha da Beira alta, com um investimento superior a 60M€.

    Para financiar estes investimentos, a IP recebeu cerca de 101 M€ de fundos comunitários, cerca de mais 30 M€ que em 2022, o que evidencia uma tendência de crescimento na execução de fundos comunitários, em linha com o crescimento na execução do investimento.

    No respeitante aos investimentos rodoviários, destaca-se o investimento associado ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que, no primeiro semestre de 2023, ascendeu a 20 M€, tendo sido integralmente financiado pelos fundos associados a este Mecanismo.

    Em termos de resultados, o Grupo IP registou no período em análise um EBITDA de 230 M€ e um resultado líquido de 4 M€. Quando comparado com o período homólogo, verifica-se uma redução no resultado líquido de cerca de 29 M€ que se justifica pela evolução do resultado operacional e do imposto sobre o rendimento do período, que registaram um decréscimo de 24 M€ e 10 M€, respectivamente, conjugada com o desagravamento de 6 M€ verificado no resultado financeiro.

    Destaca-se ainda o aumento dos gastos com a conservação da rede rodoferroviária, que ascenderam a 94 M€, 4% acima do nível registado no primeiro semestre de 2022, mantendo o esforço de incremento das actividades de manutenção, conservação e segurança. No primeiro semestre de 2023 assistiu-se à redução do stock de dívida financeira em 27 M€, fixando-se este agregado no final de Junho de 2023 em 3.988 M€.

    O resultado financeiro manteve a trajectória de desagravamento, fixando-se em -92 M€, reflectindo o nível elevado de imunização da carteira de dívida a conjunturas de subida das taxas de juro do euro como a que se tem verificado desde o primeiro semestre de 2022.

    Por fim, destaca-se a manutenção da política de financiamento prosseguida pelo accionista de reforço dos capitais próprios da IP através de operações de aumento de capital que, no primeiro semestre de 2023, ascenderam a 936 M€, e que se mantém alinhada com o ciclo de forte investimento.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Imobiliário

    “Pedra Pura” nasce em Chaves para revolucionar o turismo local

     O “Pedra Pura” está a nascer nas encostas das terras altas que delimitam Chaves. Localizado na Quinta do Castelo, o projecto contempla uma unidade hoteleira de 5 estrelas, com 40 alojamentos, spa, restaurante e bar, espaço de eventos e piscina exterior, que se desenvolvem e tiram partido dos mais de 30 hectares de extensão da propriedade. A abertura está agendada para 2024

    O nome deste novo resort advém das encostas das terras altas que delimitam o concelho e a cidade de Chaves, no extremo norte do país, junto à fronteira com Espanha. O “Pedra Pura” contempla quatro dezenas de unidades de alojamento agrupadas em pequenos blocos. O conceito global de arquitectura, que conta com a assinatura do gabinete local de arquitectura “Esboços e Riscos”, insere estas unidades entre enormes “barrocos”, que integram a decoração de cada unidade de alojamento. O projecto hoteleiro contempla ainda spa, restaurante, bar, espaço de eventos com capacidade de evento para 400 pessoas e piscina exterior. O investimento ronda os 2,7 milhões de euros, dos quais acresce 1,38 milhões de euros financiados pelo Turismo de Portugal.

    O empreendimento, que tem como promotor o luso americano Lino Marçal, está localizado na Quinta do Castelo, propriedade do empresário, e que se estende por mais de 30 hectares. Aliás, a natureza fez mais do que influenciar a arquitectura do espaço, antes, é parte integrante de um conceito que pretende retirar partido de uma relação próxima com a natureza, com a agricultura, vitivinicultura e criação de animais, actividades desenvolvidas no dia a dia da quinta.

    Natureza como inspiração
    “Genuinidade e autenticidade, é o que está subjacente a este projecto que tem a natureza como inspiração. A ideia do projecto nasceu há alguns anos, mas torná-lo uma realidade tem demorado por causa da sua complexidade. Desde logo a escolha da localização de cada um dos blocos que albergam entre 8 a 10 unidades de alojamento, por forma a tirar o melhor partido da natureza. Temos quartos que estão “esculpidos” em torno de pedras, “barrocos”, de mais de uma tonelada”, conta Lino Marçal, o empresário que é natural de Chaves, mas que aos 19 anos partiu rumo aos Estados Unidos da América onde fez vida e fortuna na área da construção civil e arquitectura paisagística.

    Por detrás deste projecto está, no fundo, o gosto pela terra natal e a vontade de a mostrar ao mundo. “Por via da minha actividade de construção que desenvolvo nos EUA lido com muitas personalidades, muitas do mundo financeiro de Wallstreet, e o que eles procuram é o que temos aqui: sossego, natureza e a autenticidade. E é isso que pretendemos oferecer. A boa comida regional, feita com os alimentos que aqui produzimos, oferecendo os vinhos feitos na nossa adega, as ervas aromáticas, os chás, as geleias, os produtos de fumeiro, no fundo privilegiando o conceito ‘farm to table’”, inúmera Lino Marçal.

    A sustentabilidade é outro conceito que está subjacente ao projecto, cuja construção utilizou, “o mais possível” os recursos naturais locais. Como a madeira de pinho utilizada nos pavimentos e revestimentos dos quartos, ou os “barrocos” de xisto e granito deslocados e transformados dentro da própria propriedade para dar corpo ao projecto.

    “Este é um projecto ambicioso que pretendemos inaugurar em 2024. Estamos a terminar os últimos blocos de alojamentos, o restaurante e o espaço de eventos e spa estão já concluídos. Pretendemos ainda iniciar a construção de uma greenhouse, onde pretendemos partilhar com os nossos hóspedes alguns conhecimentos, sob a forma de workshops. O nosso ecossistema está ainda ferido das obras, temos ainda várias equipas no local a terminar, vamos deixá-lo repousar estes meses para no próximo ano começarmos a receber reservas”, acrescenta o empresário que vai dividindo o seu tempo entre a actividade da construção imobiliária nos EUA e os projectos em curso na quinta do Castelo.

    “Sou um entusiasta e tenho uma enorme paixão por este projecto que pretende atrair mais investimento e dar a conhecer a região de Trás-os-Montes, criar postos de trabalho e, no fundo, contribuir para a economia local. Mas acabamos por ficar desiludidos com o pouco entusiasmo que encontramos nas autoridades locais e na burocracia de processos”, enfatiza o empresário.

     

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Construção

    “Não acredito tanto nessa falta de confiança por parte do mercado”

    Em entrevista ao CONSTRUIR, a secretária de Estado da Habitação fala do percurso de décadas percorrido até chegarmos à crise na habitação como a conhecemos hoje mas aborda, essencialmente, o caminho que importa percorrer para inverter esse cenário

    Ricardo Batista

    Quando fala dos ajustamentos necessários nas políticas de habitação desenhadas pelos municípios, que ajustamentos são esses?
    O levantamento foi feito pelos municípios em 2018. Nessa altura, identificaram um conjunto de necessidades que apontavam para um volume de 26 mil fogos, que são os que estão previstos no 1º Direito e para cumprir até 2026. A partir daí, as autarquias perceberam que, efectivamente, aquelas necessidades, em muitas situações, não eram realistas. Os seus territórios necessitam de uma maior resposta. Fizeram essa identificação e propuseram ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) a revisão das suas estratégias sugerindo alterações no sentido de cobrirem um maior número de necessidades. É neste sentido que estamos a trabalhar. Basta perceber que esta necessidade de 26 mil fogos, identificados em 2018, quase que triplicou neste momento. Estamos a falar de 77 mil fogos. Daí lhe dizer que o prazo temporal para a concretização destas políticas não pode ser 2026, tem de ir muito além desse prazo. Temos de pensar em políticas estruturais de médio e longo prazo. Mas temos, igualmente, de traçar medidas conjunturais que respondam de imediato às necessidades que as famílias estão a enfrentar. Isso foi o que foi feito no ‘Mais Habitação’, programa que tem já várias medidas implementadas e que estão já a chegar às famílias.

    Considerando que é necessário construir mais, reabilitar mais e conservar mais, o que tem sido feito para que, na prática, isso se veja no terreno?

    Há imensa obra no terreno. Construção nova, reabilitação. Imensa. Praticamente todos os municípios têm o seu parque municipal a ser reabilitado. Isso, em termos de volume de reabilitação, tem uma dimensão imensa. Há, por exemplo, o parque habitacional do IHRU, que ronda os 14 mil fogos, 12 mil em habitação social e perto de dois mil fogos em arrendamento acessível que está a ser reabilitado. Desde 2020, temos 24 milhões de euros de obra no terreno promovida pelo IHRU, 20 milhões já executados e estamos a trabalhar para lançar novos objectivos até final do ano. Isto espalhado por todo o território. Enquanto que uma cidade tem o seu parque municipal concentrado no seu território, o IHRU tem um parque habitacional disperso por todo o País. Claro que em determinadas zonas há uma maior concentração, noutras há uma maior dispersão. A juntar a isso, temos também os imóveis devolutos do Estado, dos quais já conseguimos identificar 1500 edifícios que são colocados numa bolsa, é avaliada a sua viabilidade e as condições de recuperação e são colocados à disposição ou das autarquias ou do próprio IHRU para que sejam realizadas as intervenções necessárias. É um trabalho longo, demorado, que envolve a Defesa, as Infraestruturas de Portugal…Por exemplo, no Entroncamento, 32 habitações que eram património da IP e que faziam parte de bairros dos ferroviários, vão dar lugar a 42 fogos. Há, por todo o País, imóveis e terrenos que vão dar lugar a centenas de habitações e que estão a ser objecto de obras. Temos, depois, o envolvimento dos privados e estamos a aguardar o enquadramento legal para podermos igualmente contar com as cooperativas. O terceiro sector está também já envolvido e os privados estão igualmente interessados em desenvolver projectos de habitação a custos controlados para colocarem no mercado. O Estado não faz nada sozinho. Não temos empresas de construção. Precisamos, sim, do envolvimento de todas as empresas da fileira da Construção, desde quem fornece os produtos e sistemas construtivos, de quem constrói, dos investidores privados que tenham interessem em vir para este ramo. Envolve toda a gente. Não pode ser só o Estado. O Estado tem o compromisso de investir em habitação pública, criar um parque habitacional que chegue, pelo menos, aos 5%. Actualmente, o panorama é muito baixo, anda nos 2%. Podemos sempre achar que não é necessariamente ambicioso. A verdade é que tivemos décadas em que pouco ou nada se fez. Precisamos de todos, do público, do privado, do cooperativo, do social. Todos.

    As metas da Nova Geração de Políticas de Habitação previam, efectivamente, atingirmos os 5% até 2024. Essa meta, ao dia de hoje, é exequível? Para atingirmos os 5% estamos a falar de qualquer coisa como 170 mil fogos…
    Em termos públicos, construir e reabilitar 170 mil fogos é, de facto, difícil. Mas também lhe digo que, neste momento, o número de famílias apoiadas pelo Estado no conjunto de programas de apoio à habitação, anda na ordem das 300 mil pessoas. Entre o apoio à renda, os jovens apoiados pelo Porta 65, o programa 65+, que vai apoiar famílias monoparentais ou famílias que perderam 20% do seu rendimento, o programa do arrendamento para subarrendamento – em que temos em bolsa perto de 400 fogos -…entre todos estes apoios ultrapassamos seguramente os 5%. Agora: termos, em 2024, 5% de parque público construído, reabilitado e habitável, é difícil. Há, no entanto, uma nota que me parece importante sublinhar a este respeito. A própria capacidade de produção do sector da Construção está condicionada. O sector da Construção foi um dos mais afectados pela crise financeira em que estivemos. Muitas empresas desapareceram, perdemos mais de 500 postos de trabalho. Não podemos negar esta evidência. O Sector sofreu muito com esta crise. As próprias escolas de engenharia civil sofreram com isso e enfrentaram uma quebra significativa de novos alunos nos cursos de Engenharia Civil. Hoje, há uma necessidade enorme de engenheiros civis que não existem no mercado. Tudo isto se reflecte na capacidade de produção do sector. Dito isto, temos de pensar em mudar os nossos modos de construção. Com certeza que teremos de passar dos métodos tradicionais, dos processos tradicionais para outro tipo de processo, muito mais offsite e que tem já expressão na Europa. Em Portugal, estamos ainda muito ligados à construção tradicional. A possibilidade de atingirmos os objectivos que traçámos passa, também, por alterações a este nível.

    O próprio contexto concursal tem, também, de ajudar a esse passo?
    Isso já está previsto. O Código da Contratação já prevê concursos de concepção-construção. Em termos concursais não há grande problema. Lançar um concurso para que uma obra seja executada através de processos construtivos ditos tradicionais ou processos construtivos diferentes não tem qualquer problema. Basta que os cadernos de encargos já estejam adaptados a essas metodologias.

    Mas nesse contexto continua a haver um peso significativo do critério preço. Isso não é, logo à cabeça, um factor dissuasor para que, de raiz, uma obra contemple estes novos processos?
    O Código o que diz é que deve ser atendida a proposta mais vantajosa. Claro que o critério do preço mais baixo é o mais transparente, é o que dá maior segurança a quem está a avaliar as propostas, mas podem ser desenhados critérios de avaliação das propostas, de majoração da avaliação das propostas que incidam sobre determinados aspectos e que favoreçam não o preço mais baixo mas outro tipo de parâmetros que caracterizem a proposta e a tornem mais vantajosa. E tudo isto tem de ser feito de forma transparente e objectiva. Nem sempre é fácil mas tem de ser feito e temos de estar munidos de todos os instrumentos para o fazer.

    O problema não está, também, na própria capacidade de quem avalia as propostas e os projectos? As autarquias, por exemplo, têm competências para isso, mas terão capacidade de resposta?
    Quando comecei a trabalhar, as autarquias, sobretudo as mais pequenas, não tinham quadros técnicos suficientes. Actualmente, os municípios já estão bem equipados em termos de técnicos e têm desenvolvido uma grande experiência ao nível da contratação publica. Além disso, podem sempre recorrer a suporte externo, com consultadoria externa que os apoiem. Não vejo que seja por aí.

    “Não havia população para tanta construção”
    Entre 2011 e 2021, foram construídos pouco mais de 110 mil edifícios para habitação enquanto na década anterior se tinha construído cinco vezes mais. Uma quebra significativa explicada, entre outros factores, pela crise…

    E não só. Pela diminuição demográfica, também. Construiu-se em exagero nessas décadas. Todos temos noção disso. Não tínhamos população para encher os edifícios. Se bem se recorda, na época da crise, havia muitos edifícios que não eram vendidos porque simplesmente não havia quem os comprasse. Não tínhamos população para tanta construção. O que provocou grande parte da pressão na habitação não foram propriamente as necessidades demográficas do País mas sim a pressão turística, a pressão da compra de imóveis por estrangeiros e os milhares que temos de população imigrante e a quem temos de dar condições de vida. Se necessitamos deles para trabalhar, temos de lhes dar condições de habitação. Temos de perceber bem as coisas e a estatística ajuda. Construía-se muito, sim, mas chegámos a uma situação complicada de falência de empresas em que os edifícios ficavam sem ninguém que os comprasse. Depois, tivemos uma inversão da população, não pelo facto de termos crescido demograficamente, mas por sermos atractivos em diversos domínios. Isso levou-nos a estas necessidades que temos hoje, a preços especulativos. O mercado de luxo não tem nem nunca teve crise e a classe média não tem capacidade para comprar imóveis de luxo a preços exorbitantes. Todas estas componentes levaram-nos a esta situação. Não nos iludamos. Esta não é uma realidade só nossa. A Europa continua a ser bastante atractiva para se trabalhar, para migrantes, para refugiados e também para outras populações, de outros Continentes. Somos um Continente com boas condições de vida, com grande atractividade para estes fluxos. Todos os Governos estão a trabalhar em medidas e estratégias para fazerem face à crise de habitação.

    Mas considerando que precisamos, de facto, de mais construção, que resposta pode ser dada e que, de certo modo, possa ser também atractiva para os privados?
    Precisamos de respostas para habitação que sejam compatíveis com as nossas famílias. Além do sector cooperativo, o sector privado é essencial e está, igualmente, interessado em construir habitação a custos controlados. Há benefícios para dar às empresas, incentivos fiscais para que as empresas venham para este mercado. E há inúmeras empresas interessadas. Todos podem fazer parte da solução e pode propor-se a fazer construção a custos controlados, certificar essa habitação no IHRU e ter os benefícios que o Estado dá – e que são bastante atractivos – para construírem. É este movimento que tem de se concretizar e que tem de chegar ao mercado. O mercado privado existirá sempre. O arrendamento acessivel é igualmente muito atractivo para os senhorios. Tem de haver por parte do Estado incentivos fiscais para que os senhorios entrem no ‘sistema’. E é fácil fazer as contas. Se eu fosse proprietária, teria todo o interesse em participar em programas como o Arrendar para Subarrendar, uma solução manifestamente segura.

    A Associação dos Promotores Imobiliários tem-se manifestado inúmeras vezes contra as soluções apresentadas e tem sido a voz dessa desconfiança, sublinhando até que os proprietários, que no seu conjunto são responsáveis por 350 mil imóveis em condições para habitar, preferem não os colocar no mercado do arrendamento…
    Confesso que não acredito tanto nessa falta de confiança por parte do mercado. Acho que as pessoas, muitas vezes, não conhecem bem as medidas que foram publicadas e os incentivos que existem. E já falámos de vários, desde o ‘Arrendar para Subarrendar’ ao ‘Arrendamento Acessível’ ou o ‘Porta 65’. Quando as pessoas se informarem bem dos benefícios que vão ter ao aderirem as estes programas, essa desconfiança vai desaparecer. Esses 350 mil fogos devolutos, temos de ver onde é que estão. Uma pessoa que esteja em Lisboa não tem grande interesse em ir para Trás-os-Montes viver. As pessoas querem viver nos sítios onde haja oportunidade de trabalhar. Estamos a tentar responder a essa retórica e acho que tem de haver uma forte comunicação, também da nossa parte, deste tipo de apoios, para que o mercado perca essa insegurança. Estes programas garantem estabilidade. São medidas que vão criar mudança nos comportamentos.

    Discussão enviesada
    Olhando para o histórico desde que foi apresentado o Mais Habitação, não há de facto muitas correntes favoráveis ao que foi apresentado. Têm sido inúmeras as críticas. Estamos a falar de uma insistência ideológica ou um problema de comunicação na forma como foram apresentadas as medidas?

    Essas são as vozes que aparecem na televisão, ou em outros fóruns, mas haverá, com certeza, pessoas que já colocaram o imóvel no mercado de arrendamento. E esses não aparecem a dizer que não são ouvidos. Há que ser ponderado no que dizemos. Relativamente à estratégia ‘Mais Habitação’, comunicada no dia 16 de Fevereiro deste ano, foi objecto de uma consulta pública, de alterações, com uma participação nunca antes vista. Mais de duas mil propostas que chegaram ao Ministério e que nós analisámos e que levou a uma redacção muito diferente da que foi apresentada em Fevereiro. A partir dessa data, enviesou-se muito a discussão, que se focou essencialmente em três pontos: no Alojamento Local, no arrendamento coercivo e nos vistos Gold. A partir daí, ninguém mais se preocupou em evidenciar os aspectos positivos desta política. O diploma, além da consulta pública e das milhares de propostas recebidas, que evidenciam uma participação massiva de todos os sectores, ainda esteve no Parlamento e foi discutida por todos os grupos parlamentares. Há, evidentemente, propostas que agradam mais a uns que a outros. Muito do que foi apresentado inicialmente acabou por sofrer alterações, mas continua-se a querer destruir ou, pelo menos, a não deixar implementar as medidas que foram traçadas e isso parece-me muito pouco positivo. Precisamos de implementar medidas estratégicas que garantam que as pessoas conseguem aceder a habitação de acordo com as suas possibilidades. A casa é a base da nossa vida, é a base para uma criança crescer, estar em pé de igualdade na escola, é ter uma habitação que tenha as condições mínimas de conforto e habitabilidade. O que estamos a construir e reabilitar são habitações de muita qualidade.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
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