“Mantiveram-se as políticas para poupar recursos”
Ao CONSTRUIR, o investigador do Instituto Superior Técnico assume a inevitabilidade de poupar recursos em operações de manutenção no período de intervenção da Troika. Mário Lopes lamenta, contudo, que “não só não houve reversão destas políticas e de recuperação das infra-estruturas e equipamentos, mas, pior do que isso, mantiveram-se essas políticas para poupar recursos”
CONSTRUIR
Grupo IPG coloca no mercado 51 mil m2 de activos logísticos e industriais
Ordem dos Arquitectos debate cinco décadas de habitação em democracia
Pestana Hotel Group com resultado líquido superior a 100M€
‘The Nine’ em Vilamoura comercializado a 50%
‘Rethinking Organizations: as diferentes visões sobre o Futuro das Organizações no QSP SUMMIT 2024
Sindicato dos Arquitectos reúne com objectivo de aprovar “primeiras tabelas salariais”
FEP traz a Portugal economista David D. Friedman
António Fragateiro assume direcção de Real Estate para Portugal do Numa Group
Habitação: Mais de 200 ideias integram nova versão da Carta Municipal
Bison Bank lança solução de crédito à habitação para não residentes
“Uma situação insustentável, cujos sintomas começam a estar bem visíveis”. É desta forma que Mário Lopes classifica o estado a que chegámos ao nível da manutenção de equipamentos e infra-estruturas, mesmo depois de ultrapassado, no contexto da Economia do País, o complexo período que coincidiu co a intervenção da Troika. Para o investigador do Instituto Superior Técnico, “devido à crise económica, em particular em 2011, na situação de pré-bancarrota em que estávamos, em que o Estado estava quase a chegar ao ponto de não poder pagar salários, pensões, compromissos com o estrangeiro, etc., era necessário reduzir despesas para evitar o colapso económico”. Segundo revela o docente ao CONSTRUIR, “cortar na manutenção de equipamentos, infra-estruturas, etc., era obviamente uma possibilidade, justificável porque a alternativa de uma bancarrota ainda teria efeitos piores nessas mesmas operações de manutenção”, sublinhando, no entanto, que era “fundamental minimizar a duração dessas políticas, sob pena de haver consequências ao nível da segurança, da qualidade do serviço ou até da capacidade dos equipamentos desempenharem as funções a que se destinam, incluindo as estradas”. O problema é que passado o período pior, essencialmente até à saída da Troika ou pouco depois, “não só não houve reversão destas políticas e de recuperação das infra-estruturas e equipamentos, mas, pior do que isso, mantiveram-se essas políticas para poupar recursos e investir naquilo que dá votos no curto prazo, ou seja, as devoluções de rendimentos”, acrescenta.
Responsabilidade pública
O Presidente da República agudizou a discussão, nos últimos dias, em torno da tragédia que vitimou cinco pessoas em Borba, após a derrocada de uma pedreira que arrastou consigo uma estrada municipal. Para Marcelo Rebelo de Sousa, não existem dúvidas sobre a responsabilidade do Estado na tragédia de Borba, assegurando ser evidente de que há “responsabilidade pública”. “A lei é clara quanto à responsabilidade por funcionamento anómalo de serviço público e é um funcionamento anómalo uma estrada cair, nos termos em que caiu”, disse Marcelo. Mário Lopes duvida que o que sucedeu no Alentejo a 19 de Novembro represente um ponto 0 para um conjunto mais incisivo de medidas preventivas em obras de engenharia. “Essas medidas preventivas envolvem trabalhos de engenharia, mas promover esses trabalhos passa primeiro por decisões políticas”, revela ao CONSTRUIR, acrescentando que “o passado recente indica que isso dificilmente se fará se não der votos aos decisores políticos, o que não acontecerá enquanto a opinião pública continuar no desconhecimento da existência destes problemas e do que pode ser feito para os resolver”. “Quando o problema de Borba desaparecer dos media, lá se vai o incentivo aos políticos para melhorarem as medidas preventivas. Depois, quando os desastres acontecem, o que se faz é desviar as atenções, como se viu claramente na Comunicação Social após o desastre de Borba: os responsáveis tentam sempre desviar as atenções das causas e dirigir toda a discussão pública apenas para as consequências, como se estas não tivessem causas”, aponta o professor do Instituto Superior Técnico. No entender de Mário Lopes, “para os responsáveis políticos nunca é hora de discutir responsabilidades, é sempre hora de solidariedade com as vítimas e as suas famílias, o que obviamente é importante mas não contribui para que as catástrofes não se repitam. Veja-se novamente o caso de Borba: a preocupação das autoridades era com o resgate dos cadáveres das pessoas que morreram, é só sobre isso que queriam falar, mas fogem como o diabo da cruz de falar das causas. Preocupam-se imenso com o resgate dos corpos das pessoas cujas mortes não tentaram evitar”.
Armadilhas mortais
“E um ponto de situação, uma radiografia, é possível traçar?”, perguntámos. Mário Lopes afirma não ter informação suficiente para traçar essa radiografia, mas salienta que “ao nível do reforço sísmico, aplica-se ainda mais o que referi na resposta à pergunta anterior: como não dá votos, e as consequências só se verão quando ocorrer um sismo forte, a prevenção é desprezada”. “O caso mais paradigmático deve ser a reabilitação de edifícios em Lisboa: vendem-se andares de edifícios reabilitados a mais de 3000, 5000, 10000 euros por metro quadrado, mas poupam-se 50, 100, ou 150 euros por metro quadrado no reforço sísmico”, aponta, acrescentando que “se enchem edifícios com pessoas, autênticas armadilhas mortais, com a cumplicidade activa do Estado, que promove a legislação que torna tudo isto legal”.