Cidade e arquitectura no contexto das diversidades
Autor: Patrícia Santos Pedrosa Arquitecta, investigadora, feminista, professora, activista e mãe (não necessariamente por esta ordem). Foto: FrameIt Convidarem-nos a escrever sobre os desafios da profissão é sempre uma tarefa complexa e de difícil síntese. Ainda assim, aceite o repto, é fundamental restringir o caminho escolhido para a reflexão. Com as questões políticas, sociais e… Continue reading Cidade e arquitectura no contexto das diversidades
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Autor:
Patrícia Santos Pedrosa
Arquitecta, investigadora, feminista, professora, activista e mãe (não necessariamente por esta ordem).
Foto:
FrameIt
Convidarem-nos a escrever sobre os desafios da profissão é sempre uma tarefa complexa e de difícil síntese. Ainda assim, aceite o repto, é fundamental restringir o caminho escolhido para a reflexão. Com as questões políticas, sociais e económicas que a contemporaneidade levanta, pensar a profissão, ou as muitas profissões da profissão, num contexto alargado de diversidades surge como inevitável. De modo necessariamente redutor, colocaremos a questão das diversidades em duas esferas complementares. Por um lado, a da prática profissional. Se nunca fomos verdadeiramente uma unidade, somo-lo cada vez menos. A democratização do acesso à profissão, mas também a circulação internacional alargada de estudantes e profissionais são parte desta realidade. Por outro lado, a dos territórios e dos lugares de acção. A complexidade dos contextos nos quais agimos é crescente e a necessidade de saber trabalhar de modos plurais é fundamental. Metodologias de reflexão e acção, junto com uma necessária consciência das falsas neutralidades aplicadas aos sujeitos que habitam e reconfiguram os espaços diversos – domésticos, públicos, edifícios públicos e privados, etc. –, encontram-se em momento de inevitável questionamento e proposição.
Desenvolvendo o primeiro ponto encontramos uma questão de fundo que organiza a ideia do que é ser-se arquitecto/a: a existência de uma suposta autonomia – quase isolamento – da disciplina e de quem a pratica, tanto em relação aos seus pares, como aos futuros habitantes destes múltiplos espaços produzidos. Se sabemos que nem sempre é praticada assim, a imagem do arquitecto-herói com mais ou menos pretensões a starchitect, com a sua âncora numa história da profissão que, em Portugal, se filia no arquitecto-artista, transporta em si um auto-centramento e uma hierarquia pesada no interior da prática. Este isolamento e esta condição – pensada, sentida e agida como autonómica – sabotam a diversidade do que somos, enquanto grupo profissional, mas, mais importante, sabotam também o potencial criativo e crítico que essa mesma diversidade representa. A multiplicidade do que somos, dos percursos e opções que tomamos, das formas de fazer as arquitecturas e as cidades, se compactadas e reduzidas num sentido de via única profissional – ainda alimentada pela maioria das universidades – é uma opção aniquiladora da profissão.
Relativamente aos contextos humanos, espaciais e geográficos em que actuamos, as estratégias sustentadas por uma pretensão a um conhecimento absoluto, de inspiração renascentista, capaz de saber responder a quaisquer problemas que espácio-socialmente se nos colocam, necessitam estar, de modo inevitável, em extinção. A ideia de respostas construídas a partir de uma suposta distância intelectual ou simples simplificação dos problemas tem-se demonstrado fazedora de más respostas espaciais e de construção de cidades. As diversidades complexas dos problemas que arquitectos/as e urbanistas recebem nas suas mãos não podem ser resolvidas no plano da subjectividade estética e da fotogenia, ou no potencial premiável das arquitecturas propostas, nem no reduto do escritório.
O desfasamento desta ideia semi-heróica e auto-suficiente do profissional, em contraponto com a densidade das questões tratadas pelo mesmo, mas também das crescentes complexidades e das inevitáveis diversidades em presença no fazer cidade e arquitectura, apontam como necessárias as alterações metodológicas do projecto. Contra as narrativas históricas hegemónicas e as suas genealogias oficiais é necessário responder com a consciência da complexidade de ambas, mas também com uma amplitude efectiva do que alimenta o acto de projectar. Contra os exercícios ego-alimentadores, é fundamental construírem-se múltiplas formas de se concretizar a prática, do fazer espaço e das possibilidades dos diálogos complexos que implicam. A única boa concretização, a única boa solução, é a que é permeável ao seu contexto diverso, tanto humano e social, como espacial e urbano. Ou seja, um caminho para a dissolução da autoria concretizada em paralelo com o espaço para as vozes, já não silenciadas, de quem reconstrói habitando.
NOTA: A TRAÇO manteve a grafia original do artigo