“É urgente recuperar a visão do que é uma cidade”
“Qual o futuro das cidades no próximo século?” é o tema da segunda edição do Mês da Arquitectura da Maia, no ano que a cidade comemora 500 anos do Foral Manuelino. Oito ateliers e quatro críticos de arquitectura foram convidados por Andreia Garcia, curadora do projecto, a reflectir sobre os grandes desafios das cidades do… Continue reading “É urgente recuperar a visão do que é uma cidade”
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“Qual o futuro das cidades no próximo século?” é o tema da segunda edição do Mês da Arquitectura da Maia, no ano que a cidade comemora 500 anos do Foral Manuelino. Oito ateliers e quatro críticos de arquitectura foram convidados por Andreia Garcia, curadora do projecto, a reflectir sobre os grandes desafios das cidades do futuro, numa exposição patente no Fórum da Maia, de 1 a 31 de Março
Texto: Cidália Lopes (clopes@construir.pt)
Andreia Garcia, arquitecta, professora universitária e curadora do Mês da Arquitectura da Maia, fala em entrevista à TRAÇO sobre o futuro das cidades e de como o ambiente e a mobilidade vão alterar a forma de olhar o urbanismo. Mas, mais do que mudar as cidades, “o que poderá mudar é a forma como o passaremos a usar”, revela.
Com gabinetes de arquitectura de diferentes zonas do país e com especialistas de diferentes geografias o que se pode esperar do futuro da Maia?
Este é um assunto à escala global. O que se poderá esperar, através da leitura das abordagens presentes nesta exposição, é com certeza uma série de perturbações que afectarão vários níveis da questão. Caberá ao arquitecto do futuro a construção das respostas. Os cenários aqui antevistos poderão antecipar a reflexão e provocar um trabalho participado com vários agentes de especialidade no sentido de evitar a reacção por improviso, por vezes fenómeno comum no que concerne a acontecimentos últimos de contexto mais catastrófico.
A referida reflexão ‘profética’ de que falam tem como base que pressuposto?
No sentido da antevisão. No sentido do que se prevê. É só conseguirmos observar os últimos acontecimentos para percebermos que qualquer um tem a capacidade de se tornar um profeta. Basta resistir à apatia, e por oposição assumir uma posição de particular inquietude, e observar o mundo e as suas mudanças – sociais, culturais, económicas, ambientais, tecnológicas, etc.
Quando se fala em projectar uma cidade há que abordar em conjunto diferentes aspectos. Tal como é referido no projecto há que conjugar o urbanismo, mobilidade, tecnologia, gentrificação, alterações sociais e ambientais. Numa sociedade ideal é possível conjugar todos estes elementos de forma equilibrada?
Não só possível como deveria ser obrigatório. Uma sociedade só é equilibrada se conseguir conjugar estes elementos de forma igualmente equilibrada. São estas várias camadas da cidade que lhe permitem a construção da sua colecção reveladora da sua identidade. Há que introduzir o novo do novo sem distâncias à memória, num sentido agregador, mas sem uniformizações ou standardizações. Tem de haver espaço à liberdade de acção dos interstícios do tempo que moldam os esquemas funcionais das cidades. Mas é urgente recuperar a visão do que é uma cidade.
Ou enquanto arquitectos há a tendência de se valorizar mais uns em detrimento de outros?
O curso de arquitectura introduz-nos como pilares várias áreas disciplinares incontornáveis à nossa formação, enquanto arquitectos. Sabemos que todos esses pilares não definem uma grelha, mas antes um puzzle, mais ou menos regular. Para o sucesso de qualquer projecto de arquitectura, ou de cidade, sabemos que todas as partes do puzzle são necessárias. É importante que qualquer estratégia parta desta noção de interdisciplinaridade, no sentido em que cada um dos intérpretes e detentores do conhecimento nas determinadas áreas possa ser considerado.
De uma forma mais generalista vamos ter no futuro cidades futuristas ou a tendência do futuro será voltar ao básico?
Pessoalmente parece-me que o novo mundo não será muito diferente do que conhecemos hoje. Acredito que o cenário será o mesmo. O que poderá mudar é a forma como o passaremos a usar.
Quais sãos os grandes desafios urbanísticos do futuro?
Acredito que o ambiente e a mobilidade serão as áreas que apresentam os maiores desafios com reflexo nos planos urbanísticos. Quando pensamos na subida do nível de água pensamos imediatamente na nossa orla costeira. Mas como iremos fazer o tratamento de águas se as estações de tratamento de águas residuais ficarem submersas, mesmo que inicialmente por períodos mais curtos? E o que mudará no nosso dia-a-dia se, de facto, nos passarmos a movimentar a velocidades de 1.200km/h, como o hyperloop promete? Será que iremos regressar ao uso da praça como lugar de encontro? Será que vamos reduzir o número de horas laborais a 4? Nesta exposição podemos reflectir sobre o impacto de medidas que já são provocantemente anunciadas e que, nos fazem pensar sobre a cidade que queremos no agora.
Que balanço faz da 2ª edição do MAM e, em particular, da temática deste ano?
Reflectimos, na primeira edição, sobre o presente com um olhar sobre o já construído. Desta vez reflectimos sobre o presente com um olhar sobre o que há por construir. A indefinição do que é futuro e a dimensão do desconhecido que a ele convoca, e que é tão estimulante ao novo, assim como a noção de descontrole sobre a medida de tempo, são para mim duas das dimensões mais interessantes desta exposição. Não sai desta exposição um caderno de encargos que nos permita resolver todos os problemas do mundo e da humanidade a partir da Maia, mas reúne-se com certeza a base de uma reflexão sobre cidades e a construção de um reservatório mental que será subconscientemente consultado talvez em breve.
“Qual o futuro das cidades no próximo século?”
Reveja aqui as propostas dos oito ateliers convidados para a 2ª edição do MAM, assim como dos quatro críticos, convidados a pensar o futuro do território
Skrey – Estruturas de Transição
A instalação infere sobre a necessidade premente das infraestruturas e estruturas habitacionais urbanas serem adaptadas a um novo modelo de funcionamento, onde factores que foram outrora tidos como estáveis, são hoje questionados perante o cenário de incerteza que caracteriza as circunstâncias em que vivemos, o que lhes confere um papel determinante.
Os espacialistas – D ́OBRA ABERTA
Nesta d`Obra Aberta, Os Espacialistas têm na cabeça a Pedra Partida de Ardegães, transformada numa Reacção Poética do Corpo e do Espaço, que reabilita o valor escultórico da Palavra, responde às alterações climáticas do corpo e garante a subida do nível médio da criatividade humana, à medida que o tempo Escala. Qual o papel arqueológico da Memória, no desenho do Passeio Público da Imaginação desta Cidade-Jardim é a medi(t)ação. Ser Humano em 2119, continuará a ser de longe, a principal doença do animal político que somos, apesar de todas as distopias de controlo que habitarmos. O colectivismo é o corpo entreaberto, transformado em arma/zen.
Branco del Rio – 10 h/semana
O pós-trabalho acabou com as deslocações diárias e libertou a cidade, que se focou na qualidade de vida e acumulou espaços para todas as formas de lazer. O pós-trabalho valorizou o tempo e a energia, que alteraram drasticamente a organização da vida. O pós-trabalho enalteceu o intangível, o conforto, os interesses, a comunidade, a partilha, a família, o desporto, a leitura, o debate, intensificando as atividades e possibilidades de escolha desde o isolamento ao encontro social. O pós-trabalho multiplicou as opções de vida, desvaneceu as fronteiras entre trabalho e lazer, entre natural e construído. O pós-trabalho democratizou a centralidade e possibilitou a escolha entre o urbano e suburbano, claramente diferenciados. A Maia entendeu estas possibilidades, estruturando-se para as abraçar.
Inês Moreira
Ilustração “Preocupação” de Pedro Figueiredo, acompanha o texto Fornalha Nacional: História, Contra-histórias e Preocupação” de Inês Moreira
FALA – país das maravilhas
Exploramos a arquitectura com foco na escala do fragmento, partindo de um vocabulário muito limitado. Temos paixões íntimas por certos edifícios e uma sedução constante pelos seus elementos. Lutamos para evitar repetições óbvias e remover coisas que sejam essencialmente desinteressantes, chegando a colecções de figuras muitas vezes ambíguas. Tais elementos são o que estudamos, multiplicamos, ampliamos e combinamos em acções de sobreposição e justaposição. Estudando a relação entre cada elemento isoladamente e o todo, inevitavelmente referimo-nos ao conceito de composição no qual nos dedicamos a uma tentativa de exuberância, não de banalidade. Na Maia encontramos combustível para nossa imaginação.
Corpo Atelier – Não Monumentos Futuros Monumentos
De um percurso pedonal crítico e fantasioso pela Maia de 2018 e, simultaneamente, pela Maia imaginada de 2118, resultaram ambas as realidades temporais, a actual/concreta e a futura/possível, sobrepuseram-se depois, gráfica e narrativamente, sobre a forma de registos que combinam fotografia, desenho e texto, especulando acerca da capacidade de um território manifestamente suburbano e industrializado gerar marcos construídos de relevância histórica. Grandes complexos fabris, amplas fábricas e armazéns, estações de metro, pontes rodoviárias, chaminés industriais e bombas de gasolina parecem, na sua acidental monumentalidade, querer celebrar a futura memória da Maia.
Arteria – Ensaio para o Futuro
ENSAIO PARA O FUTURO é uma experiência para pensar uma cidade tão diversa quanto os projectos de vida dos seus habitantes, estimulando a mudança através da qual os cidadãos se envolvem, observam, habitam e, por extensão, moldam a sua cidade. A partir do Direito à Cidade de Lefebvre, do Non-Plan de Cedric Price, e da Cidade Policêntrica de Saskia Sassen lançamos um ensaio geral para desenhar a dimensão colectiva da cidade da Maia. Sugerimos hoje a criação de uma ferramenta de planeamento para o séc. XXII activando a cidadania e convidando os maiatos a participar.
Ana Aragão – As ruínas temporárias do futuro
Se eliminarmos, sistematicamente, o inconclusivo, as célebres ruínas do rigor da ciência deixam de ser possibilidade, pois tudo coincidirá. Num terminal, escolher a bifurcação errada pode causar muitas dúvidas mas, sobretudo, fazer perder muito tempo. As bifurcação e os jardins são coisas do passado. Importa chegar rápido ao destino. O mais rápido possível, sempre. A mobilidade alarga a nossa geografia corporal, preenchendo-a de pontos. O problema é se a geografia existencial terá a elasticidade suficiente para acompanhar a rapidez dos movimentos. As poéticas promessas de mobilidade numa estrutura tremendamente imóvel: eis as ruínas do futuro.
Summary – O Túnel
As infraestruturas rodoviárias assumem um papel primordial no desenvolvimento e no crescimento das cidades. Contudo, se por um lado são importantes elos de ligação com a envolvente, por outro funcionam muitas vezes como “cicatrizes” internas, cortes no território que separam efectivamente pontos que estão próximos geograficamente. É na constatação deste paradoxo que revisitamos o projecto para o túnel da N14 desenvolvido em 2004 por João Álvaro Rocha. Fazemo-lo de forma prospectiva e provocatória, porque continua a ser necessário (ou urgente) unir as duas margens da Maia actualmente separadas por esta estrada. O projecto apresentado, consiste numa actualização e compatibilização desse desenho com as transformações que ocorreram naquele território até aos dias de hoje.