A «Casa Ideal» vista por arquitectos
O Construir propôs a alguns arquitectos que desenhassem a casa ideal dos portugueses com base num estudo realizado pela União de Crédito imobiliário. As propostas apoiam-se nos parâmetros lançados pelo estudo, como por exemplo a boa organização de espaço, mas juntam-lhe alguns critérios próprios. A sustentabilidade é um deles A União de Crédito Imobiliário (UCI)… Continue reading A «Casa Ideal» vista por arquitectos
Ana Baptista
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O Construir propôs a alguns arquitectos que desenhassem a casa ideal dos portugueses com base num estudo realizado pela União de Crédito imobiliário. As propostas apoiam-se nos parâmetros lançados pelo estudo, como por exemplo a boa organização de espaço, mas juntam-lhe alguns critérios próprios. A sustentabilidade é um deles
A União de Crédito Imobiliário (UCI) apresentou durante o mês de Fevereiro o estudo «A Compra de Casa em Portugal», cujo objectivo era o de se ficar a conhecer as motivações das pessoas aquando da compra da sua casa. Entre várias conclusões, o estudo mostra que existem dois factores importantes que pesam na escolha de uma casa: que sejam afastadas do local de trabalho e que sejam numa zona tranquila e segura. Ao mesmo tempo, o estudo revela, de certa forma, qual a casa ideal ou de sonho dos portugueses.
«As caracterÃÂsticas mais importantes são a luz natural, a boa organização de espaço e o facto de ter uma sala espaçosa. Seguem-se como factores mais importantes a insonorização, a área em metros quadrados, o número de divisões e a transmissão de sensação de espaço. O facto de gostar da cozinha só aparece depois de todos estes factores», conclui o estudo. Com base nestes parâmetros, a casa ideal dos portugueses «tem 136 metros quadrados, quatro divisões e duas casas de banho», no entanto existe uma percentagem significativa de pessoas que preferem cinco ou mais divisões.
Foi com base neste estudo que o Construir solicitou a alguns arquitectos que desenhassem a «Casa Ideal dos Portugueses». Os ateliês bfj arquitectos, de Francisco e José Pólvora e Bernardo Campos, assim como o Atelier Cidade Aberta, de Vasco Massapina, apresentam sugestões daquilo que poderia ser considerada a casa ideal dos portugueses, tendo em conta o estudo da UCI. No entanto, às caracterÃÂsticas avançadas por aquele documento, os arquitectos adicionaram outras como as linhas arquitectónicas, tanto interiores como exteriores, os espaços amplos e o aproveitamento da luz e ventilação natural. Estes são alguns dos factores que estes responsáveis, enquanto arquitectos, privilegiam na concepção de uma casa.
Projecto da bfj arquitectos
«A nossa proposta procura responder a estas necessidades [apresentadas no estudo] tendo como princÃÂpios estruturantes duas categorias de critérios que entendemos que irão estar na base das futuras preocupações dos agentes imobiliários: a qualidade arquitectónica e inovação espacial e por outro lado a aplicação de conceitos de sustentabilidade», explica Francisco Pólvora. Aliás «a aplicação deste conceito na construção deixou de ser uma ideologia para se converter numa das exigências práticas a ter em consideração na concepção do projecto», repara, acrescentando, que «a sua aplicação vai ser em breve um dos principais factores de decisão na aquisição de novas habitações por parte dos consumidores».
Assim, o projecto concebido pelo arquitecto Francisco Pólvora, a nÃÂvel de desenho, consiste num edifÃÂcio de apartamentos constituÃÂdos por três quartos, sendo um deles principal e dispondo de uma suite com varanda; uma sala de estar espaçosa, e ainda uma cozinha e uma sala de refeições acopladas. Estas últimas três divisões estão seguidas geometricamente e são acompanhadas, no exterior, por um terraço de áreas generosas, de modo a que privilegiem de luz natural, um critério tão procurado pelos compradores portugueses. CaracterÃÂstica que se consegue através da existência de portas de vidro ao logo das três divisões referidas. Existem ainda duas casas-de-banho e uma arrecadação com passagem pela cozinha, bem como uma pequena sala para tratamento de roupa.
Para a concepção destas casas, Francisco Pólvora baseou-se em vários conceitos, um deles o do design universal, que estabelece regras de funcionalidade e de livre movimento para todos (neste caso aplicados às casas-de-banho, com espaço para acolher pessoas em cadeiras de rodas). A inovação espacial foi outro dos critérios tomados em conta, através do qual a proposta oferece «habitações diferenciadas no mesmo edifÃÂcio, variando os valores de pé-direito nos diferentes pisos (entre 2.40 metros ao nÃÂvel do piso 1 e 3.30 metros no piso 4), com as consequentes diferenças nas proporções, relação de escala, qualidade de iluminação e custo». Ao mesmo tempo, privilegiou-se a flexibilidade, uma vez que a vida das pessoas está sujeita a evoluções.
Neste sentido, a proposta contempla amplas áreas nos quartos e compartimentação amovÃÂvel entre a cozinha, zona de refeições e sala de estar. Contempla ainda a adaptação da habitação a futuras utilizações imprevisÃÂveis, pelo que a construção dos canos foi pensada com «áreas folgadas e de fácil acesso permite uma manutenção mais fácil dos sistemas de infra estruturas, facilitando também a sua renovação e eventual adaptação a novas utilizações», refere-se na descrição do projecto sugerido.
Critérios de sustentabilidade
A sustentabilidade foi um dos factores que Francisco Pólvora decidiu incluir neste edifÃÂcio de «apartamentos ideais». Desta forma, optou-se por um sistema de redução do consumo de água potável através da utilização de dispositivos economizadores de água (torneiras) e da criação de duas redes diferenciadas de distribuição. A primeira seria potável (cozinha, banhos) e a segunda não-potável (sanitas e rega), sistema ao qual se juntariam duas redes diferenciadas de esgotos, uma para águas cinzentas e outra para águas negras, sendo que as primeiras seriam depuradas e reutilizadas.
Em simultâneo, no projecto pretendem utilizar-se as energias renováveis, aproveitando a energia solar, quer pela utilização de painéis solares nas coberturas e fotovoltaicos nas fachadas, quer através de princÃÂpios de arquitectura bioclimática. Optou-se assim, por «vãos envidraçados orientados de forma a obter uma franca exposição solar» e ainda pela instalação de elevadores «movidos por motores do tipo compacto, com disco de ligação directa, que consomem apenas uma fracção da energia dispendida nos elevadores convencionais».
A nÃÂvel dos materiais, apostou-se nos recicláveis e «amigos do ambiente» e das pessoas (não tóxicos) e escolheram-se por isso, vidros duplos de baixa emissividade para as salas de estar e refeições e para a cozinha; pedras naturais para a cozinha; tintas naturais e soalhos em madeira para os quartos; revestimentos e pavimentos em linóleo, madeiras, ou tintas de água; paredes divisórias e vidro laminado para isolamento sonoro. Por fim, a preocupação com os resÃÂduos traduz-se na criação de local de tratamento de resÃÂduos sólidos orgânicos através de compostagem (na própria habitação em local especialmente concebido para o efeito).
Projecto do Atlelier Cidade Aberta
Vasco Massapina é o arquitecto responsável deste ateliê e também da segunda proposta de casa ideal, que contempla o caso de uma moradia unifamiliar e também de um apartamento. Ambas situações onde se privilegia tanto a luz natural como a linguagem e linhas arquitectónicas. O primeiro caso, da moradia, trata-se de um projecto baseado num programa de tipologia habitacional T4 com áreas amplas, mas cujo destaque vai para a estrutura da casa e consequente receptividade de luz natural. Para o efeito, esta foi desenhada de forma a ter as melhores exposições solares (quadrante Norte/Sul e Sul/Poente) para as áreas sociais e dos quartos.
Para o segundo caso o arquitecto apresentou duas sugestões distintas. Uma delas corresponde a um programa funcional baseado num edifÃÂcio de cinco pisos e mais dois em subsolo para estacionamento onde os fogos organizam-se, àsemelhança do projecto do ateliê bfj arquitectos, pela separação da dita zona «social» (sala de estar, cozinha, sala de refeições) da chamada zona «ÃÂntima» (quartos e casa de banho). Desta forma, criam-se espaços úteis amplos e reduzem-se ao mÃÂnimo, as áreas de circulação. O destaque desta proposta vai para os fogos do rés-do-chão onde se optou por implementar um espaço de terraço diferenciado pelo pavimento.
Existem, no entanto, algumas caracterÃÂsticas, a nÃÂvel do desenho arquitectónico exterior, que diferenciam esta proposta de outras. É o caso de uma espécie de «molduras envolventes das fachadas que se transformam nas fachadas laterais dos topos num plano de revestimento evidente; e do soco dos edifÃÂcios que em conjunto com ligeiro recuo do plano dos vãos do rés-do-chão, assume a caracterÃÂstica de elemento dissuasor de aproximação e de protecção de intrusão», refere-se na descrição da proposta.
Outra sugestão baseia-se em mais um edifÃÂcio de apartamentos, mas que se destaca pela sua composição arquitectónica baseada em princÃÂpios «minimalistas», ou seja, com uma linguagem simples e sem recurso a adereços. Neste caso foi realçada a luz natural e aproveitadas as sombras provocadas como elementos da própria composição; e ainda a definição rigorosa dos espaços e volumes, a maneira como os mesmos se relacionam, o cromatismo e os materiais.
Casa ideal ou não?
Para Francisco Pólvora, «a casa ideal não existe». «Não pode existir [uma casa ideal] no sentido em que somos todos diferentes e temos anseios e expectativas também distintas. Mesmo a concretização da casa ideal para determinada pessoa ou famÃÂlia, num dado momento, tem o seu estado de graça a prazo, uma vez que com o crescimento e evolução dessa famÃÂlia, as necessidades também se vão modificar tendo implicações na estrutura fÃÂsica e espacial da casa. Muitas vezes, a simples mudança de emprego para uma zona mais distante pode trazer a necessidade de mudança de habitação na expectativa de melhoria da qualidade de vida. Assim, existem muitas variáveis que podem influenciar a concretização da chamada casa ideal, muitas delas dinâmicas e variáveis com o tempo», explica ainda.
Na verdade, e segundo fonte da UCI, este estudo reflecte apenas alguns parâmetros que os portugueses consideram mais significativos significativos e determinantes enquanto escolhem uma casa para viver, logo não pode de forma alguma ser tido como uma regra ou se calhar definida como «ideal». «Neste momento, esta pode ser considerada apenas como a casa ideal», remata a mesma fonte.