“BMB” inova em Portugal com a Recipav
Pela primeira vez em Portugal uma mistura betuminosa obtém um parecer técnico favorável, registado num Documento de Aplicação (DA) emitido pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), face ao seu […]

Carina Traça
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Pela primeira vez em Portugal uma mistura betuminosa obtém um parecer técnico favorável, registado num Documento de Aplicação (DA) emitido pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), face ao seu uso em camadas de pavimentos rodoviários e aeroportuários. A Recipav muito contribuiu para que tal acontecesse. Paulo Fonseca, director-geral da empresa, avança ao Construir os principais desafios da solução ao nível da técnica, das características, dos custos, impactos no terreno, entre outros aspectos relevante face ao projecto.
Construir: Como surgiu a ideia de desenvolver o Betume Modificado com Borracha reciclada de pneus em Portugal?
Paulo Fonseca: Trouxemos a ideia dos Estados Unidos da América, que tem já hoje cerca de 40 anos de experiência de utilização, nomeadamente nos Estados de Arizona, Califórnia, Texas, Flórida, entre outros. Isto porque tivemos conhecimento que o Betume Modificado com Borracha é considerado um produto inovador e, por isso resolvemos tentar perceber o que é que o diferenciava dos outros materiais. A ideia começou a ser desenvolvida em 1999, com a criação da Recipav, uma vez que em Portugal ainda não existia este tipo de reutilização dos resíduos de pneus para a pavimentação de estradas. Para além disso, a entrada da nova legislação, em 2001, sobre os resíduos de pneus, que proíbe a colocação dos pneus em aterro, e a definição de novas metas para a reciclagem deste tipo de materiais, veio potenciar o nosso projecto.
E, no que consiste o projecto?
PF: O projecto consistiu na criação das empresas Recipneu e Recipav. A Recipneu dedica-se à produção da matéria-prima que é o granulado de borracha proveniente da reciclagem de pneus em fim de vida através de um processo ciogénico, também ele inovador. A Recipav utiliza essa matéria-prima (granulado de borracha) para a modificação dos betumes utilizados na pavimentação de estradas, conferindo-lhe características únicas. Para além de introduzirmos o Betume Modificado com Borracha reciclada de pneus em Portugal, fomos pioneiros na introdução da solução também em Espanha, Alemanha e Áustria.
Mas especificamente o que é o BMB?
PF: O BMB, que é uma solução com características diferenciadoras, resulta da adição em condições específicas de 20% de granulado de borracha a um betume base convencional. Este produto ecológico é menos sensível às altas temperaturas, é mais elástico e tem uma resistência ao envelhecimento superior aos betumes tradicionalmente utilizados. Por sua vez, a incorporação do BMB numa mistura betuminosa, em quantidades com cerca do dobro de que é habitualmente usado, torna essas misturas mais flexíveis, com maior resistência à fadiga e à propagação de fendas, aumentando também o seu período de vida útil, tendo também em conta, a sua elevada resistência ao envelhecimento. Por outro lado, a incorporação de cerca de 9,5 por cento de BMB numa mistura betuminosa confere-lhe uma óptima resistência às deformações plásticas dessa mistura.
Em termos de engenharia civil, quais são as mais-valias da solução?
PF: Uma das mais-valias é o facto de incorporar uma matéria-prima que provém do material reciclado na origem. A segunda vantagem tem a ver com o aumento da resistência à fadiga das misturas betuminosas, ou seja, com a incorporação do BMB as misturas betuminosas resistem mais ao aparecimento e à propagação das fissuras geradas pela aplicação das cargas. Esta solução com BMB permite ainda um aumento do atrito, com a consequente redução da distância de travagem e um maior conforto para os condutores, já que a capacidade de escoamento das águas pluviais reduz drasticamente o efeito de spray em situação de chuva.
Por outro lado, há a questão do ruído, já que está testado, através de estudos efectuados pelas Auto-estradas do Atlântico – a concessionária da A8 – que, com a utilização das misturas betuminosas com BMB se conseguem reduções de 5 a 6 dBA. A título de referência, para se obter uma redução de circulação de 3 dBA, teria que se reduzir em 50 por cento o tráfego de uma determinada estrada.
Mas este resultado é alcançado sem a utilização de barreiras acústicas?
PF: Ao actuarmos ao nível do contacto pneu/pavimento conseguimos reduzir os 5 a 6 dBA permitindo, muitas vezes, eliminar ou reduzir as barreiras acústicas, de forma a que o ruído não ultrapasse os níveis previstos por lei.
E ao nível da aplicação do produto, como funciona?
PF: A Recipav dipõe de equipamento importado dos Estados Unidos, para produzir o BMB de acordo com as especificações do produto. O BMB é depois fornecido aos clientes que o incorporam no fabrico das misturas betuminosas e que procedem à sua colocação em obra.
A solução foi também certificada pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil pela primeira vez em Portugal…
PF: Desde o início da nossa actividade – mesmo antes de fazer qualquer pavimentação em Portugal – tivemos o cuidado de testar a solução junto do LNEC, tendo inclusivamente pedido a este laboratório independente que efectuasse testes de desempenho das misturas betuminosas para validarmos as suas características e compararmos com as misturas produzidas nos Estados Unidos já há cerca de 40 anos.. Desde então, o LNEC, a Universidade do Minho e a Universidade de Madrid têm vindo a avaliar essas características das misturas bem como do produto BMB. Não obstante, resolvemos durante 2006 solicitar ao LNEC a publicação do primeiro Documento de Aplicação concedido em Portugal para misturas betuminosas a aplicar na pavimentação de estradas e aeroportos (DA 3)
E o que define este parecer técnico?
PF: O Documento de Aplicação do LNEC dá um parecer favorável à utilização da mistura betuminosa desde que sejam verificados os procedimentos que nele constam. Para além disso, estão definidas no mesmo documento, as propriedades de desempenho estruturais (fadiga e resistência à deformação permanente) e funcionais (atrito e macro-textura) da mistura betuminosa com BMB. No documento pode verificar-se que esta mistura betuminosa tem uma elevada resistência à fadiga, a qual, em situações normais, tende a ser dez vezes superior quando comparada com uma mistura betuminosa convencional.
Onde é que o BMB foi aplicado pela primeira vez em Portugal?
PF: Foi aplicado pela primeira vez na EN 104 , entre Trofa e Vila do Conde e na EN 105, entre Travagem e Santo Tirso. Neste momento temos já cerca de 350 quilómetros de estradas e auto-estradas pavimentadas em Portugal com BMB.
E o impacto da utilização tem sido positivo? PF: Sim. O LNEC tem feito várias visitas às nossas obras com o objectivo de verificar o impacto da aplicação do produto, por exemplo para confirmar os níveis de atrito das estradas. Foram também recolhidas lajes das primeiras obras, para serem analisadas no laboratório, com o objectivo de avaliar o seu desempenho após 7 anos em serviço. Desta análise, o LNEC concluiu que a mistura apresentava ainda elevados níveis de resistência à fadiga e às deformações permanentes, permitindo concluir que essas misturas irão suportar muitos mais anos em serviço.
Por outro lado, os donos de obra têm vindo a reconhecer as vantagens diferenciadoras desta solução, o que tem vindo a permitir um crescimento sustentado.
Para além disso, foi recentemente publicado um despacho conjunto dos ministérios do Ambiente e das Obras Públicas, que refere que, a partir de Março de 2007, os cadernos de encargos das obras públicas devem incluir, pelo menos uma solução de pavimentação com Betume Modificado com Borracha na pavimentação de vias rodoviárias.
Um projecto de reabilitação de uma estrada com o BMB dura quanto tempo?
PF: Em Portugal, um projecto de reabilitação de uma estrada é concebido para durar dez anos. Actualmente, com obras em utilização já há oito anos, e, com os dados obtidos pelo LNEC – e já referidos – permite-nos estar optimistas e acreditar que a vida útil desses pavimentos vai ultrapassar largamente os objectivos estipulados pelos donos de obra.
Quais têm sido os vossos principais desafios?
PF: Actualmente, o maior desafio é o teste que está a ser feito na pista da super classificativa do rali de Portugal, no Estádio do Algarve. Neste caso específico foi desenvolvida, a partir dos nossos serviços de engenharia, uma mistura betuminosa para suportar condições de utilização completamente distintas daquilo que é normal numa estrada convencional. Foi um desafio completamente novo, porque as questões de atrito e do ruído, neste âmbito, não são, neste caso, primordiais. De acordo com o solicitado, formulámos uma mistura betuminosa que se adaptasse às condições extremas de utilização do rali de Portugal, de forma a proporcionar espectáculo.
E ao nível dos custos, pode-se considerar uma solução cara para o mercado?
PF: Não faria sentido comercializar este produto em Portugal se uma solução de pavimentação que incorpore BMB não tivesse, no mínimo, um custo de construção idêntico ou mesmo menor do que uma solução convencional. A Recipav pretende continuar a apostar nesta tecnologia. De que forma?
PF: A Recipav estabeleceu, em 2006, um protocolo com a Universidade do Minho, para investigação e desenvolvimento do produto e das misturas betuminosas com BMB. Neste momento, estamos a desenvolver um BMB que permita baixar a temperatura de fabrico das misturas betuminosas, tendo em vista a diminuição do dióxido de carbono que se liberta durante o seu fabrico. Estamos também a estudar e a formular misturas betuminosas que potenciem, ainda mais, a questão da redução de ruído no contacto pneu/pavimento.
E o produto também já é certificado?
PF: A Recipav dispõe de certificação de qualidade, quer ao nível do fabrico quer em termos de comercialização do betume modificado com borracha. Actualmente temos também este produto certificado com a única norma internacional (americana) existente para o efeito – a ASDN- D6114. Através destas certificações, os clientes da Recipav têm a garantia de receberem produtos conformes com as respectivas fichas técnicas e estáveis ao longo dos ciclos produtivos.