“A legislação portuguesa foi muito bem feita na área do auto-consumo”
A SolarWorld está no mercado português desde 2009. O mercado é pequeno, complexo, muito competitivo mas, como competimos pela qualidade, temos alguns retornos interessantes.
Pedro Cristino
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Peer-Olav Schmidt é consultor da SolarWorld em Portugal, país onde o grupo alemão opera desde 2009, na área das instalações fotovoltaicas. Para este responsável, o mercado nacional tem um potencial muito grande neste campo e tornou-se ainda mais interessante com a legislação referente ao auto-consumo
Em que se centra o vosso modelo de negócio?
Somos o maior fabricante europeu de painéis fotovoltaicos. Temos acesso, na Alemanha, a toda a cadeia de valor, desde o início até ao fim. Dentro do nosso ramo, é algo raro. Há poucas empresas mundiais que têm tudo “em casa”. Trabalhamos unicamente com painéis poli e monocristalinos e produzimos dois tipos de células em duas fábricas na Alemanha. Temos também uma fábrica nos Estados Unidos. Dentro dos nossos módulos, não há nenhum componente asiático. Esta é a nossa diferença para outros concorrentes no mercado. Somos fabricantes “premium” no mercado. Temos uma experiência de 40 anos dentro de casa. Comprámos vários fabricantes, começando pela Siemens Solar, que começou a sua produção em 1975, e ainda hoje temos pessoas nas fábricas que começaram aí, e comprámos também a Shell Solar. Mas a nossa empresa, como SolarWorld, começou em 1998. A última aquisição foi a Bosch Solar.
A Siemens e a Bosch venderam os seus negócios na área de solar porque, na altura, não era rentável este negócio na Alemanha?
A margem que o fotovoltaico tinha não era condizente com a filosofia das empresas. São todas empresas de electricidade, combustível, maquinaria e de energias fósseis, que estavam habituadas a outras margens. Nós temos margens entre 5% e 20% e estes grupos estavam habituados a margens de 1000%, por isso, este negócio do solar não era interessante para eles.
As margens no sector da energia solar são baixas?
Muito baixas.
O que leva então as empresas a apostar neste campo?
É preciso acreditar no fotovoltaico e que esta área é boa. Já não é o futuro, é o presente. Acho que este é o caminho correcto, apesar de todos os problemas e lutas que temos.
Têm muita concorrência na Alemanha?
Não temos concorrência. Temos empresas que fazem coisas parecidas. Concorrência real, em termos de qualidade, temos pouca. Uma mão cheia, no mundo. As outras empresas não fazem a mesma coisa. É como o sector automóvel: há muitos fabricantes, mas as marcas “premium” são uma mão cheia. No fotovoltaico é parecido, embora o mercado ainda não tenha percebido isso. Para muita gente, os painéis fotovoltaicos são todos a mesma coisa, e isso não é verdade. A qualidade é diferente, a capacidade é diferente, os componentes são diferentes, etc.
O que é que difere?
Principalmente a nível da qualidade e da performance – a produção no fim do ano. Nos primeiros anos, todos os painéis produzem algo. Infelizmente, isso faz com que a má qualidade só comece a manifestar-se entre o terceiro e sexto anos. A partir daí surge uma queda brutal da produção.
Qual é o tempo de vida de um painel?
Temos uma linha com 25 anos de garantia, e outra com 30 anos de garantia. 25 anos e garantia é o padrão no mercado.
Qual o mercado com mais peso na vossa actividade?
Neste momento, o principal mercado é os Estados Unidos. A Alemanha já era, porque este mercado sofreu um ataque político brutal contra as renováveis. É um mercado maduro, mas em estagnação. O mercado italiano é interessante, Portugal também está a tornar-se interessante, a Turquia está a começar em força, no Reino Unido, a actividade está a baixar um pouco, e em França também.
O que torna interessante o mercado português?
A nova legislação de auto-consumo. Em toda a Europa, verificamos uma mudança de paradigma brutal. Até final de 2013, o fotovoltaico era, em toda a Europa, um produto puramente financeiro. Era como uma aplicação no banco. Investias “X” numa instalação fotovoltaica, tinhas um tarifário garantido de “Y”, com isso, fazias as contas e sabias que ias receber, nos próximos 15 anos, “Z” de facturação e, com isso, consigo ter um retorno de investimento, rentabilidade, de “W”. Agora, o mercado mudou para tornar o fotovoltaico um produto de eficiência energética, poupança de energia e estabilização do preço da energia a longo prazo. Agora, as instalações não são feitas em função do tarifário, mas sim em função de consumo do local, isto é, tenho de analisar o perfil de consumo do meu cliente e esta é a base para dimensionar um sistema fotovoltaico que vai produzir, mais ou menos, a energia que o meu cliente consome. Já não vendo para a rede, mas substituo o consumo para fazer a minha produção própria, e dimensiono a instalação em função da linha de consumo do cliente. Assim, vou produzir, quando a energia é mais cara, e vou consumir a energia sem pagar.
Quem são os vossos clientes finais?
Principalmente a indústria e o comércio. Com a actual legislação, faz mais sentido apostar em clientes cujo consumo ocorre durante o dia. Também temos os pequenos kits, até seis painéis, que totalizam 1,5KW, para o sector doméstico, que também tem interesse. Mas nesta área, o consumo decorre de manhã e à noite e a produção é durante o dia. Como não podemos fazer uma conta de energia, a rentabilidade não é a mesma. Depois, há um vazio até aos 10-15KW e, a partir daí, temos os clientes industriais, comércio, serviços, hotelaria, restauração, etc. São estes os nossos principais clientes.
Os clientes têm em conta os benefícios do fotovoltaico?
Explicar esses benefícios é o nosso trabalho. Em certas circunstâncias, o fotovoltaico nunca foi tão bom como é agora porque o preço do material baixou drasticamente e a rentabilidade não estava tão alta como neste momento. Antigamente era igual para todos. Agora tem de se estudar o cliente e há certas circunstâncias em que o fotovoltaico é muito mais rentável do que era antigamente. Já estivemos em situações em que o retorno do investimento era inferior a cinco anos. Mas é uma situação mais complexa, neste momento.
Porquê?
Porque a venda, agora, é uma venda técnica. Exige engenharia e um contacto muito mais próximo do cliente, que tem de nos dar a sua informação. É um processo muito mais complexo.
Quando entraram no mercado português?
A SolarWorld está no mercado português desde 2009. O mercado é pequeno, complexo, muito competitivo mas, como competimos pela qualidade, temos alguns retornos interessantes. Não é fácil, é uma luta, mas é um mercado que vale a pena. Até há pouco tempo éramos dependentes de subsídios mas, agora, entrámos no mercado livre, no mercado natural. Neste mercado somos uma alternativa económica para as energias com base nos combustíveis fósseis. Antigamente existia um limite de instalação, por potência instalada, por ano e por país. A legislação portuguesa, nos últimos 10 anos, foi muito bem feita. Em retrospectiva, a legislação foi complicada mas, em Portugal, era difícil entrar mas, quando entravas, cumpriram. Em Espanha era relativamente fácil entrar e quando tinhas o investimento feito, cortavam os tarifários com retroactividade e mataram as empresas, mandando um sinal muito mau para os investidores dos mercados internacionais, porque se tratava de um contrato com o Estado, que não cumpriu o que estava acordado. Em Portugal, isso nunca sucedeu. Agora, entrámos num jogo completamente diferente, o mercado é livre, e estamos a aprender, a criar os novos modelos de negócio, já fizemos as primeiras instalações industriais, estamos em vias de fazer mais e acho que 2016 vai ser um ano bom. 2014 foi o ano da mudança de legislação, com confusão total e 2015 foi um ano de aprendizagem. A partir de 2016 podemos navegar em velocidade de cruzeiro.
Como está Portugal em termos de instalações fotovoltaicas?
Nos últimos 15 anos, foram instalados cerca de 500 MW de fotovoltaico. É pouco. Há potencial para muito mais. Em termos de potencial natural, Portugal é um dos maiores países da Europa. 1KW instalado na Alemanha, produz entre 900 e mil KWh por ano. Em Portugal, a instalação mais fraca produz 1.300KWh por ano e, no Algarve, conseguimos produções de 1.700KWh. São entre 30% e 70% mais do que na Alemanha.
Como tem sido a vossa experiência nos Estados Unidos?
Está a começar. Foi muito difícil entrar neste mercado, embora tenhamos há 40 anos produção neste país. Curiosamente, os primeiros painéis foram produzidos nos Estados Unidos e vendidos na Europa, porque havia produção neste país. Agora, é um dos grandes mercados para nós, como o Japão. Estão muito virados para a qualidade. No Japão, não se consegue vender produtos com baixa qualidade. Toda a América do Sul será também um grande mercado. O Brasil tem uma legislação excelente para o fotovoltaico, por exemplo. É “Net Metering” [Sistema de Compensação de Energia Eléctrica] puro. Neste país, podes produzir num sítio e consumir no outro. Tens um armazém em Santos, como ponto da produção. E consomes a energia no escritório, em São Paulo.