“As nossas empresas estão sujeitas a uma série de exigências que não fazem sentido”, diz presidente da APICER
Em entrevista ao CONSTRUIR, o presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Cerâmica (APICER) sublinha os pontos fortes da industria e das empresas do sector em Portugal e aponta o dedo aos “custos de contexto” que travam a competitividade das empresas. José Luis Sequeira adianta ainda quais as linhas orientadoras do seu mandado. Fazendo uma… Continue reading “As nossas empresas estão sujeitas a uma série de exigências que não fazem sentido”, diz presidente da APICER
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Em entrevista ao CONSTRUIR, o presidente da Associação Portuguesa da Indústria de Cerâmica (APICER) sublinha os pontos fortes da industria e das empresas do sector em Portugal e aponta o dedo aos “custos de contexto” que travam a competitividade das empresas.
José Luis Sequeira adianta ainda quais as linhas orientadoras do seu mandado.
Fazendo uma radiografia sobre o actual estado do sector, quais são os grandes pontos fortes e as debilidades da indústria cerâmica neste momento?
No que respeita ao subsector de pavimentos e revestimentos, continuam a ser pontos fortes a qualidade e disponibilidade das matérias primas nacionais, os conhecimentos técnicos dos quadros das empresas, e o elevado nível tecnológico de que a maioria das empresas do sector dispõe.
Uma legenda importante do subsector de pavimentos e revestimentos cerâmicos portugueses, é a enorme flexibilidade das empresas para produzirem o que o cliente gosta e quer, em qualquer mercado.
Sendo uma indústria altamente dependente da componente energética, os actuais custos da energia têm sido nos últimos anos um factor negativo para a competitividade das empresas, assim como os chamados “custos de contexto” resultantes da “carga” legal, fiscal e burocrática a que a generalidade das industrias nacionais está sujeita.
De facto, as nossas empresas estão sujeitas a uma série de exigências que não fazem sentido, e só se entendem por excessivo apego à letra da lei que por sua vez, e na maioria dos casos, está mal feita por desconhecimento da realidade da indústria e do país. Tudo isto provoca um enorme ruído de fundo, com o qual temos que conviver na expectativa de que alguém descomplique!
A dificuldade de conseguir o reconhecimento dos produtos portugueses e o seu valor, é também um dos pontos de debilidade.
Apesar destas contrariedades, a cerâmica portuguesa caracteriza-se, essencialmente e no seu conjunto, pela sua forte vertente exportadora (632,5 milhões de euros de exportações em 2014), com presença em 158 mercados internacionais, gerando um saldo de comércio positivo de 527,0 milhões de euros e uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 600,1% (dados provisórios de 2014, INE – Estatísticas do Comércio Internacional de Bens).
As exportações de produtos cerâmicos (capítulo 69 da NC) representaram em Portugal 1,31% do total das exportações de bens no ano de 2014.
De referir também que, de entre produtos que constituem os 99 capítulos da NC, os produtos cerâmicos correspondem ao 4.º melhor desempenho em termos de taxa de cobertura das importações pelas exportações e ao 7.º melhor desempenho em termos do saldo de comércio internacional obtido.
De acordo com o indicador de vantagem comparativa revelada, que estabelece a comparação do peso das exportações de um sector/produto no total das exportações de um país, com o peso relativo das exportações desse mesmo sector/produto no mercado mundial, conclui-se também que a cerâmica constitui um dos sectores mais especializados em Portugal. O grau de especialização da cerâmica portuguesa no ano de 2014 representou 4,6 vezes a especialização que a cerâmica apresentou a nível mundial.
Os produtos cerâmicos correspondem, designadamente, a pavimentos e revestimentos, louça de mesa e decorativa, cerâmica para usos sanitários, telhas e tijolos, produtos refractários e cerâmica para usos técnicos.
Portugal foi, em 2014, o 11.º exportador mundial de produtos cerâmicos, com 1,56% do total das exportações mundiais (para o conjunto de bens, Portugal foi, no mesmo ano, o 51.º exportador mundial com 0,34% do valor total das exportações mundiais).
No que diz respeito à cerâmica de mesa em faiança, grés e barro comum (NC 6912), Portugal é o 1.º produtor e exportador da UE e o 2.º exportador mundial. Em cerâmica de mesa em porcelana (NC 6911), Portugal é o 13.º exportador mundial. Nas estatuetas e louça ornamental (NC 6913), Portugal é o 5.º exportador mundial. Em pavimentos e revestimentos não vidrados (NC 6907), Portugal é o 5.º exportador mundial. Nos pavimentos e revestimentos vidrados (NC 6908), Portugal é o 10.º exportador mundial. Relativamente à louça sanitária (NC 6910), Portugal é o 7.º exportador mundial. Quanto às telhas cerâmicas (NC 6905), Portugal é o 8.º exportador mundial.
Do ponto de vista da inovação, é possível caracterizar a importância e o peso da industria nacional no contexto Europeu?
A inovação no sector resulta fundamentalmente do desenvolvimento interno das empresas, assente no conhecimento dos mercados, nas tendências e na identificação dos mercados potenciais.
Sendo a oferta extensa, e sendo o peso das importações europeias relevante quando comparado com o consumo, é essencial para o sector o desenvolvimento de soluções inovadoras que possibilitem a criação de valor.
A cerâmica portuguesa no seu conjunto e portanto no subsector de pavimentos e revestimentos cerâmicos, apresenta soluções inovadoras em vários domínios da tecnologia, da gestão e dos produtos.
Daí poder entender-se a razão de os produtos portugueses serem seleccionados para revestimento e/ou decoração de ambientes exigentes em termos de funcionalidade e requinte, em locais de grande visibilidade como são as estações de metro por todo o mundo.
As nossas empresas conseguem ser competitivas numa lógica internacional? Quais são os seus factores diferenciadores?
A competitividade das empresas portuguesas ainda está muito assente no relação preço-qualidade-serviço que oferecem, e na confiança que os mercados depositam na indústria. O custo das matérias-primas e dos recursos humanos ( este infelizmente ) são ainda factores que contribuem para a competitividade, mas que no curto prazo o deixarão de ser, pelo que os factores diferenciadores terão que ser cada vez mais de natureza estratégica, de posicionamento nos mercados e do já referido esforço de criação de valor pela diferenciação da oferta.
Olhando para as implicações que as medidas governativas podem ter nas indústrias, como é que a APICER olha para o Orçamento de Estado de 2016 e que medidas entendem prioritárias para apoio a este sector?
Olhamos para o Orçamento de Estado não só do ponto de vista do produto em si e das condições facilitadoras da concorrência internacional, mas olhamo-lo também do ponto de vista da confiança que induz para o mercado interno e para o impulso que é necessário a medidas de fundo nas vertentes da construção e da reabilitação de edifícios.
Estou em crer que sem medidas que apostem decididamente nos mercados da construção, do arrendamento e da reabilitação, como factores decisivos para o crescimento da economia e do emprego, qualquer orçamento de estado nos parece aquém do que é necessário para vermos o País a crescer.
Quanto a medidas específicas, teremos sempre a redução dos custos energéticos, sobretudo pela carga fiscal associada, por forma a equalizar esses custos com a realidade dos concorrentes europeus.
A relevância dos custos energéticos para o sector de cerâmica não reside apenas no preço da energia em si mesma, mas também em todos aqueles custos que são colados à energia como fonte de receitas para tudo e para todos.
É ainda necessário um grande esforço nacional, para que a promoção do sector por qualquer via, nomeadamente por via da AICEP, possa levar ao conhecimento dos mercados a valia dos produtos.
Assumiu a liderança da APICER no final do ano passado. Quais são as grandes prioridades do seu mandato?
As grandes prioridades do mandato desta Direcção, situam-se em quatro vertentes principais:
Por um lado, o cumprimento da Missão estatutária da APICER no que respeita à defesa dos interesses do sector e das empresas associadas, libertando-as o mais possível de todos os ruídos que prejudicam a sua actividade centrada em produzir, vender e cobrar.
Esta preocupação também se exerce na procura de medidas activas que facilitem as estratégias empresariais, insistindo junto da governação e da administração pública na adopção de políticas publicas consistentes nos domínios da construção no mercado interno, do comércio internacional e da legislação nacional aplicável ao sector, nomeadamente nas áreas do ambiente, da energia.
Outra prioridade consiste no reforço do associativismo como forma de superar dificuldades de vária ordem, criando nas empresas e nos empresários um sentimento de pertença a uma associação que os representa em termos sectoriais.
Conhecemos o que se passa a nível do associativismo noutros países, e procuraremos fomentar o orgulho de estar associado numa entidade que é especificamente dos empresários de cerâmica portuguesa, que procura esforçadamente defender os seus interesses empresariais e definir uma estratégia para o sector.
Esta estratégia será tanto mais forte e sustentada, quanto maior for a proximidade e a participação dos associados com a APICER;
Por outro lado, e tendo consciência de que as decisões que mexem com as empresas, e que as obrigam ou as libertam, têm a sua raiz em posições tomadas a nível europeu, reforçar a nossa intervenção nessas decisões, participando activamente nas comissões e nos trabalhos que acontecem regularmente em Bruxelas.
Temos razões para acreditar que podemos influenciar tomadas de posição que interessam a toda a indústria de cerâmica europeia, pelo que queremos reforçar a nossa participação no plano europeu.
Por fim, teremos que mobilizar meios e esforços para fortalecer a comunicação do sector.
No âmbito da imagem do sector, precisamos que ela corresponda não só à sua importância económica e social, mas que traduza também a realidade de um sector tradicional que se modernizou, e que é suficientemente inovador para continuar a encontrar novos mercados e ser competitivo em todos eles.
Este trabalho vai para além do nosso mandato, mas queremos sobretudo cumprir a nossa parte, e deixar alicerces que permitam continuar e melhorar o trabalho sério e empenhado a que nos propusemos.