A “Continuidade” da obra de Souto de Moura está na Garagem Sul
São 7 obras e quase todas representam uma primeira vez de Eduardo Souto de Moura: o primeiro Estádio de Futebol (Braga), a primeira torre (Burgo), o primeiro projecto a Sul (Casa das Histórias) e as primeiras janelas (Casa da Arrábida)
Ana Rita Sevilha
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Eduardo Souto de Moura volta ao CCB quase 40 anos depois, para uma exposição que em jeito de retrospectiva mostra a “Continuidade” da sua obra em sete projectos distintos. A mostra é composta por maquetas e vídeos do japonês Takashi Sugimoto, porque, como explicou o arquitecto aos jornalistas na inauguração, “também gosto de ser espectador das minhas coisas. Obriga-me a pensar”. Relativamente à sua obra, “algumas casas são bonitas mas têm vidro a mais, tira-lhes privacidade”, comenta Eduardo Souto de Moura, explicando depois que “hoje preocupo-me muito mais com as pessoas e a vida delas do que com o lado estético. Quando tenho de optar entre forma e função, escolho as pessoas e antigamente sacrificava-as mais”. Sobre o nome da exposição comissariada por António Sérgio Koch e André de França Campos, Souto Moura assume que gosta do nome mas remete para os comissários a sua explicação. Contudo, lembra o Poema Contínuo do seu poeta favorito, Herberto Helder, fazendo uma analogia com a sua obra e a continuidade da mesma.
Exposição
Na Garagem Sul, as obras sucedem-se. Em pequenos auditórios com bancos de cortiça (a Amorim é a patrocinadora da mostra) assiste-se a pequenos filmes da sua obra. A do Tua (em curso), o Estádio do Braga (2004), o Metro do Porto (2001), a Torre do Burgo (2007), a Casa das Histórias Paula Rego (2008), a Casa na Arrábida (1994) e a Casa em Moledo (1991). Quase todas representam uma primeira vez de Eduardo Souto de Moura: o primeiro Estádio de Futebol (Braga), a primeira torre (Burgo), o primeiro projecto a Sul (Casa das Histórias) e as primeiras janelas (Casa da Arrábida). Todas elas obras em território português, porque, admite Souto de Moura “a qualidade dos meus projectos portugueses é maior”. Para além disso, “prefiro trabalhar por cá, mas para manter o escritório tenho de trabalhar lá para fora também”. À excepção da Suiça, para onde, admite entre risos, gostar de trabalhar, tudo o resto tem como único objectivo ganhar dinheiro. “Os portugueses são muito individualistas mas almoçam juntos muitas vezes. Existe trabalho em equipa e comunicação”, refere Souto de Moura, sublinhando também a relação com o cliente que é mais fácil de estabelecer por cá. Quanto ao País, é o berço de 22 mil arquitectos, muitos de uma geração mais nova que não consegue mostrar obra. “O País está feio porque os arquitectos não conseguem trabalhar”.
As obras e as polémicas
“Arquitectura sem ser polémica é miraflores”. É assim que iniciamos a visita pela obra no Tua, à qual se segue o projecto para o Estádio do Braga, um trabalho que Souto de Moura elege como uma das obras que mais gosta, deixando cair por terra a ideia de que os projectos são como filhos e que de todos se gosta por igual. “Se calhar, por não perceber nada de futebol, percebi que o estádio é feito para a televisão e o futebol é um espectáculo onde os jogadores são como actores num palco. Por isso fiz um palco com iluminação vertical, como num teatro”, descreve aos jornalistas. “Discutiu-se pouco orçamentos, foi rápido, à portuguesa. Agora gostava que me pagassem. Pagaram-me duas partes e falta mais uma, mas vão pagar”. Recorde-se que o processo está em Tribunal, tem a Câmara de Braga como arguida e o resultado deverá ser conhecido em Outubro. Sobre o Metro do Porto, o arquitecto destacou a dimensão mas a atenção ao detalhe e chegados à Torre do Burgo chegamos também ao seu edifício mais alto (23 pisos). “Até aqui só tinha desenhado casas de 1 piso e nunca tinha desenhado um elevador” refere. O projecto que se segue é a Casa das Histórias de Paula Rego, uma obra que bebeu inspiração a Raul Lino e que “correu bem”, diz Souto Moura relatando que com a pintora falou ao todo apenas 3 ou 4 horas. Continuamos a Sul, na Casa da Arrábida, a primeira em que Eduardo Souto de Moura teve de desenhar janelas. “Passei a vida a fugir dos buracos nos muros”. “Comecei a minha vida como arquitecto depois do 25 de Abril e na altura ser moderno era conotado com ser comunista”, contextualiza. “Fui educado num certo neo-realismo em que, quando precisava de luz, cortava a parede”. Acabamos a visita em Moledo, numa casa que se funde com a paisagem. “Gosto de fazer arquitectura anónima – a fingir que é anónima, que isto deu uma trabalheira. Não há mentira mais declarada que esta”.
A exposição estará patente na Garagem Sul, no Centro Cultural de Belém até ao próximo dia 18 de Setembro, mas dias antes, a 12 de Setembro, Eduardo Souto de Moura fará o encerramento oficial da mostra proferindo uma conferencia no Grande Auditório do CCB.A Corticeira Amorim, através da sua empresa Amorim Isolamentos, é o patrocinador principal da exposição, numa parceria que se concretizou com a cedência de mais de 2200 blocos de aglomerado de cortiça expandida, um material 100% natural. No total, são 330 m3 de cortiça, de diferentes dimensões, um material com uma longa tradição de utilização na arquitectura e que marca não só o espaço expositivo interior, como dá vida à praça criada no exterior do Centro Cultural de Belém.