Arnaldo Figueiredo: “Garantias bancárias portuguesas não são aceites lá fora”
Para o responsável da construtora, o processo de internacionalização é “dos mais complexos, de maior risco que as empresas podem fazer”
Pedro Cristino
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O vice-presidente do conselho de administração da Mota-Engil revelou que as empresas portuguesas do sector da construção se estão a debater com o facto de as garantias dos bancos portugueses não serem aceites no contexto internacional.
No âmbito da conferência IECE 2016 – Inovação na Engenharia para a Competitividade Económica, decorrida no Instituto Superio de Engenharia de Lisboa, Arnaldo Figueiredo dedicou a sua intervenção ao tema da internacionalização e destacou a “grande dificuldade” com a qual as empresas portugueses do sector da construção se debatem quando desenvolvem o seu processo de internacionalização. “Já é difícil, hoje, o nosso sistema bancário obter garantias mas, mesmo que as arranje, chegamos lá fora e não valem nada porque não as aceitam”, declarou o responsável da construtora.
Segundo Figueiredo, é difícil, para uma empresa portuguesa, “encontrar, na banca internacional, quem esteja disponível para dar garantias”, um constrangimento “que limita muito a nossa capacidade” e também “pode limitar muito o nosso desenvolvimento”. O vice-presidente da Mota-Engil afirmou que o Governo está “muito preocupado com o tema” e a estudar a forma segundo a qual “poderá eventualmente arranjar um processo em que essas garantias possam existir e que valham alguma coisa, porque, efectivamente, isto pode matar as empresas muito rapidamente, é um instrumento fundamental”.
Sobre o processo de internacionalização da construtora portuguesa, Arnaldo Figueiredo justificou a escolha de mercados como os africanos pela cultura e pela própria situação dos países. “É muito mais difícil para uma empresa de serviços ir para a Ásia do que para outros mercados”, ressalvou, referindo que “em África, não há quem saiba fazer”, enquanto que, na Ásia, “têm tudo: sabem fazer, têm recursos e custos de mão de obra muito baratos”. “Na abordagem que fiz, cheguei à conclusão que as empresas de construção portuguesas não têm hipótese nenhuma de concorrer na Ásia”, explicou.
Por outro lado, a escolha das geografias em que a Mota-Engil pretende actuar prende-se com dois tipos de razões: culturais e objectivas. “Conseguimeos que a nossa capacidade seja aproveitada da melhor maneira e conseguimos ser competitivos [em África], dado que a construção, independentemente das novas tecnologias, é ainda um sector em que a inovação não foi tão determinante assim”, sublinhou.
Relativamente a isto, Figueiredo realçou que as empresas de construção “podem enfrentar novos desafios”, contudo, a construção permanece “um negócio local”. “É evidente que a construção não é um negócio de exportação, mas sim de fazer no terreno, com os recursos e as pessoas do terreno”, acrescentou.
Para o responsável da construtora, o processo de internacionalização é “dos mais complexos, de maior risco que as empresas podem fazer”. É, para Arnaldo Figueiredo, um processo “que tem de ser sempre bem ponderado, bem estudado, bem acompanhado e bem desenvolvido mas, hoje, tal qual o mundo se apresenta, há muitos players e uma competição extrema”. Nesta situação, o que faz a diferença “é o património, o capital que, infelizmente, não abunda em Portugal”.
Segundo o mesmo responsável, “esse é o grande drama que as empresas portugueses enfrentam cada vez mais e estou cada vez mais convencido que os grandes negócios são feitos por quem leva o fato à medida do princípio ao fim, desde a parte do projecto, operação, construção e o dinheiro para financiar isto tudo”.
A questão do financiamento começa “a ser determinante” e acaba também pro ser “a grande fragilidade que as nossas empresas enfrentam em concorrência no mundo global”. Segundo Figueiredo, somente as grandes empresas “conseguem prestar um serviço desta dimensão”.
Neste contexto, o vice-presidente da Mota-Engil citou o exemplo de África. “Quando desenvolvíamos a nossa actividade em África, por volta de 1988, a China não existia em África, não havia nada feito por chineses”, revelou. Todavia, hoje, “a China é o maior investidor de infra-estruturas em África”. “Ultrapassou todos (…) e porquê? Porque leva o dinheiro”, justificou.
De acordo com as suas palavras, “o dinheiro é, neste momento, determinante”. “É o grande desafio que vamos todos que ter de enfrentar, não só para sobrevivermos aqui, mas também para darmos passos em frente, porque, se não prosseguirmos, entrando por esse caminho, prestando esse tipo de serviços ao cliente, a nossa vida vai tornar-se cada vez mais difícil e não é por acaso que há cada vez menos empresas capazes de organizar o esforço para fazer isso”, concluiu.