“Cascais está para Lisboa como os Hamptons para Nova Iorque”. A ideia pode não ser óbvia aos olhos de todos, nem é isso que se pretende, mas a zona balnear de luxo norte-americana serviu de inspiração à remodelação levada a cabo no Cascais Shopping. A intervenção de 14 milhões de euros permitiu dar uma imagem mais contemporânea e depurada ao Centro, que assim ficou “mais em linha com o estilo de vida dos habitantes da zona de influência” (Cascais, Estoril e Sintra). Jorge Morgadinho, director do departamento de Conceptual Design & Architecture da Sonae Sierra, levou o CONSTRUIR por uma visita guiada ao Shopping que, adiantou a título de curiosidade, é o mais antigo do universo Sonae e o que mais sofreu alterações, expansões e remodelações. “Esta foi a quarta desde a sua inauguração, em Maio 1991”.
A experiência para além da compra
Muito tem mudado naqueles que são os conceitos que norteiam os Centros Comerciais nos últimos anos. Se no passado bastavam existir para atrair clientes, hoje têm de se esforçar para os manter e passear sem comprar, deixou de ser visto com má cara para ser encarado como objectivo. Jorge Morgadinho lembra que no passado “a atitude era bastante passiva porque não era necessário fazer muito mais e havia uma série de posturas – e não estou a criticá-las porque elas faziam sentido na altura – que eram mal vistas e que hoje em dia encaramos de uma forma muito positiva. Por exemplo, estudantes ou pessoas a passear sem intenção de comprar mas que se sentem bem no espaço, são exemplos que antes não se estimulavam nada e que agora se estimulam imenso”. O director do departamento de Conceptual Design & Architecture da Sonae Sierra recorda: “As zonas de descanso, a que chamamos de ‘Sitting Áreas’, são hoje em dia zonas que se sabe que não se pode deixar de fazer, mas que no início do Cascais Shopping eram evitadas a todo o custo, porque uma pessoa parada não está a comprar. Isso foi uma grande alteração”. Outra grande alteração no paradigma destes Centros, que hoje são mais de Lazer, é a de criar “a máxima variedade de zonas de estar/sentar e de conforto, para que as pessoas não venham apenas comer como conveniência e não se sintam mal em fazer uma reunião de negócios, estudar ou apenas permanecer”. Para Jorge Morgadinho, “ganhar um cliente custa dinheiro, mas manter um cliente custa muito mais. Ser diferente e fazer com que a pessoa não prefira estar no sofá de sua casa e queira vir para uma zona de comer ou de estar sem intenção de comprar, é uma grande diferença no paradigma dos Centros Comerciais”.
Como exemplo no Cascais Shopping desta nova abordagem ao cliente e da mudança de atitude e conceito, o responsável destaca o Cascais Kitchen. Segundo o director do departamento de Conceptual Design & Architecture da Sonae Sierra, existe uma nova geração de Food Courts e Food Halls que se caracterizam por actuar em três vertentes: “um desenho inspirador, cativante e confortável; diferenciação na oferta e activação – porque tem de existir uma programação, para que o espaço esteja ocupado o dia todo”.
Jorge Morgadinho acrescenta ainda o que considera serem complementos indispensáveis e que passam por ter “óptimas casas-de-banho, boa acústica, paisagismo cuidado e facilidade de estacionamento. Tudo isto somado e feito de uma forma integrada é o que proporciona a boa experiência”.
Mais luz, menos saturação
No “novo” Cascais Shopping houve dois níveis de actuação: “o que o cliente vê e o que não vê mas usa e percebe a diferença”. Ao CONSTRUIR, Jorge Morgadinho conta que, “por todas as gerações de remodelações a que foi sujeito, o Centro estava muito carregado, tinha muita cor, muitos desenhos e não batiam uns com os outros”. Foi também da necessidade de limpar essa saturação que partiu a intervenção. As cores deram lugar aos tons de branco, pérola e cinza leves, o pavimento passou a grés cerâmico numa imitação da madeira – “o que lhe deu um ar mais sofisticado”, explica Jorge Morgadinho -, houve todo um projecto de paisagismo implementado em várias zonas e de maneiras diferentes, tendo sido conservadas todas as árvores adultas, os tectos subiram um metro, as claraboias tornaram-se maiores e foram retiradas as barreiras físicas dos corredores – como os elevadores e as escadas de gravidade. Esta conjugação de novos elementos conferiu ao Cascais Shopping um ambiente mais luminoso, espaçoso, mais simples e sofisticado. Jorge Morgadinho acrescenta ainda as preocupações ao nível da acústica e a reformulação das casas-de-banho ,“que tinham como objectivo passar um ambiente de casa-de-banho de lobby de hotel de cinco estrelas”.
Tematização
A inspiração para a intervenção “é muito rebuscada”, começa por dizer Jorge Morgadinho. “Na Sonae Sierra sempre acreditámos muito na tematização dos Centros Comerciais. Os projectos têm uma época e uma história e têm muito valor por causa disso. Mas enquanto no Colombo são os Descobrimentos e no Vasco da Gama são os Oceanos, aqui fomos buscar uma história que nos ajudasse a tomar decisões, mas que não é nada literal ou óbvia para quem cá entra”. O director do departamento de Conceptual & Design Architecture recorda: “Quando estávamos a idealizar isto, eu e o João Pedro Santos, que foi o arquitecto que liderou o projecto, pensámos que Cascais estava para Lisboa como os Hamptons estão para Nova Iorque. Pela proximidade física e por ser zona de fim-de-semana e balnear para gente abastada de Lisboa. Fizemos disto um paralelismo”. A inspiração está nos detalhes, como as métricas utilizadas ou a recriação de casas de praia nos fraldários e zonas de amamentação. “Não estamos à espera que as pessoas identifiquem esta ligação. Foi uma base de trabalho para tomarmos decisões”, esclarece Jorge Morgadinho.