Figuras públicas assinam manifesto para “avaliar alternativas” ao aeroporto no Montijo
“Será muito difícil, no século XXI, pedir que se encontre uma localização adequada para o aeroporto de Lisboa que não tenha efeitos desproporcionados nos ecossistemas e na saúde das pessoas?”, perguntam as 60 personalidades da vida política e cultural que assinaram este manifesto
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Garcia Pereira, António Pedro Vasconcelos, Eunice Muñoz, Macário Correia ou Viriato Soromenho Marques são algumas das personalidades que assinaram o manifesto que propõem a uma maior intervenção da sociedade civil no que dizem ser a necessidade de “correcção de um projecto insensato” como dizem ser o da instalação de um aeroporto alternativo ao da Portela no Montijo.
Designado manifesto “Poupem o Montijo”, o documento defende um “aeroporto sustentável para Lisboa” por considerarem, os seus subscritores, que a opção cuja Avaliação de Impacto Ambiental está em consulta pública até dia 19, pode condicionar a vida dos portugueses durante os próximos 40 anos. “É essencial avaliar as diferentes alternativas de modo a seleccionar aquela que responde, não às exigências das companhias ‘low-cost’ e da multinacional Vinci, mas às necessidades de segurança aérea, de promoção da saúde pública e da biodiversidade, de integração na rede ferroviária e de mitigação e adaptação às alterações climáticas.”
“Será muito difícil, no século XXI, pedir que se encontre uma localização adequada para o aeroporto de Lisboa que não tenha efeitos desproporcionados nos ecossistemas e na saúde das pessoas?”, perguntam as 60 personalidades da vida política e cultural que assinaram este manifesto, para quem a decisão tem de ser tomada “de forma sistemática, recorrendo a uma avaliação ambiental estratégica, como prevê a legislação nacional e comunitária”, lembrando que a expansão do aeroporto da Portela, em Lisboa, não foi alvo de Avaliação de Impacte Ambiental. O manifesto recorda, ainda, a decisão do Governo britânico de abandonar a ideia de construir em Londres, em 2014, um novo aeroporto numa zona de estuário, “por representar um risco desproporcionado para os passageiros aéreos e ser difícil de compaginar com as normas europeias de conservação da natureza”.
Sobre a escolha do Montijo para a construção de um novo aeroporto, os subscritores, que divulgaram o documento no jornal Público, chamam à atenção para os “três milhões de voos de aves no corredor de aproximação à pista norte”, registados durante um ano, assim como a poluição sonora e os efeitos das alterações climáticas, nomeadamente a subida do nível do mar, com impacto no estuário do Tejo, que “colocará em risco a viabilidade da infraestrutura aeroportuária”. “O estudo de impacte ambiental torna evidente que os impactos negativos são mais significativos que os impactos positivos, pelo que é expectável o chumbo do projecto pela APA, mas, mesmo que a decisão fosse favorável, os promotores teriam de realizar um estudo mais completo sobre o risco de colisão com aves”, referem os signatários.
Além da localização do Montijo, o manifesto critica o projecto de expansão do actual aeroporto de Lisboa, interrogando-se sobre o futuro do turismo, da mobilidade e do direito à habitação e à cidade. “As estatísticas mostram que, na última década, os aeroportos de Paris, Madrid, Munique e Roma transportaram mais passageiros com menos aviões. Se a melhoria da qualidade de vida para todos permitir receber mais turistas, é possível fazê-lo mantendo ou reduzindo o tráfego aéreo”, é adiantado no manifesto, propondo outras formas de mobilidade, inclusive o transporte ferroviário.